quinta-feira, 11 de novembro de 2021

UM NEW DEAL VERDE

 O Geen Deal europeu, deu uma nova orientação à economia da União Europeia: o seu objetivo seria transformar uma economia com elevadas emissões de carbono, numa outra de baixas emissões, mantendo em simultâneo, as condições de vida, aumentando a qualidade de vida, e, melhorando o ambiente natural. Apresentou 50 medidas políticas específicas, e, afirmou a sua intenção de atingir os objetivos do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas. O principal objetivo do Green Deal europeu, ao tornar a Europa neutra em termos climáticos, é ajudar a abrandar o aquecimento global, e mitigar os seus efeitos. O plano prevê aumentar a meta de 2030 da UE, DE reduções de emissões líquidas de 40%, para pelo menos 50%. Ao mesmo tempo, o Green Deal, será a estratégia de crescimento da Europa, criando emprego e melhorando a qualidade de vida. Isto implicará, reduzir as emissões em muitos setores, dos transportes à tributação, da alimentação à pecuária, da indústria à agricultura.  A preservação da biodiversidade também é um objetivo importante.. O que se pretende é que esse esforço catalise um investimento significativo. O Plano de Investimento para uma União Europeia sustentável, anunciado a 14 de Janeiro de 2020, tem como objetivo mobilizar pelo menos um bilião de euros de investimentos relacionados com a sustentabilidade durante a próxima década. Cerca de metade desse valor sairá do orçamento da UE, mas 114milmilhões de euros dos governos nacionais e 279mil milhões de investimento do setor privado, apoiado por garantias de empréstimo do Banco Europeu de Investimento. Outra parte do plano é um Mecanismo para a transição justa, em cujo âmbito, serão reunidos 100mil milhões de euros, com o financiamento do Banco Europeu de Investimento e dinheiro privado, par ajudar os países da Europa Oriental, que defendem mais de combustíveis fósseis, como o carvão. Políticas como estas, precisam de um enquadramento claro e também de alterações obrigatórias do statu quo., Por exemplo para o Green Deal Europeu ser bem sucedido, os governos precisam de reformular amplamente os instrumentos financeiros, o que inclui orientar os bancos públicos, como o Banco Europeu de Investimento, ou bancos nacionais, para o fornecimento de fundos a projetos verdes; usar fundos estruturais que apoiam o desenvolvimento económico em todos os Estados-membros, para promover infraestruturas verdes em vez de projetos "prontos para começar"; e, reestruturar os fundos de investimento e os fundos para pequenas e médias empresas, mais inovadoras que proporcionam soluções verdes. Estão a ser elaboradas propostas para a alteração de políticas. Entre outras medidas principais propostas, contam-se a Estratégia Industrial da UE e uma lei da Economia Circular. Também foi proposto um mecanismo fronteiriço de carbono para determinado setor - uma tarefa sobre produtos proveniente de padrões ambientais inferiores, destinada a cumprir as normas da Organização Mundial do Comércio. Ao iniciar conscientemente, o programa Apollo, como precedente do Green Deal europeu, a srª Von dder Leyen, procurou concentrar a atenção no resultado e não na escala do desafio e convocar o espírito do Apollo para guiar a Europa do século XXI. Durante muito tempo, os governos sobreinvestiram no carbono e subinvestiram nas fontes de energia renováveis. As receitas económicas convencionais de resolução do problema das alterações climáticas, apenas com um imposto do carbono, e, alguns subsídios para I&D, conjugadas com os entraves  de políticas económicas aos impostos do carbono, deixaram -nos com sistemas omissos de impostos do carbono e uma transição verde preocupantemente lenta. Precisamos mais do que meras iniciativas dos governos; as propostas tanto dos Estados Unidos como da UE, não podem funcionar entre setores como a energia renovável, a descarbonização dos veículos ou quaisquer outras iniciativas específicas de setores. Pelo contrário, é necessário uma transformação inovadora em todos os setores, o que constitui uma das maiores mudanças, alguma vez tentadas pelos seres humanos. Será fundamental, reduzir o conteúdo material das indústrias pesadas, como a siderúrgica e introduzir uma economia circular de resíduos em setores, com uma mentalidade de reconverter, reutilizar e reciclar. Isto exige, alterações de materiais que possam produzir roupas mais duradouras, mudanças na nossa alimentação, com uma maior atenção a alimentos de origem local, e uma passagem para técnicas de produção como o fabrico em 3D. Todavia, os mercados não encontrarão sozinhos, uma orientação verde. Os governos têm um papel fundamental a desempenhar, fornecendo um canal estável e consistente de investimento, que garanta que a regulação e a inovação convirjam, segundo uma trajetória verde que enfrente as alterações climáticas. Além disso, os governos não podem recorrer às intervenções costumeiras, como os incentivos fiscais ou os subsídios públicos, que pura e simplesmente, não são suficientes para alimentar as mudanças necessárias. O New Deal Verde tem dimensões verdes, a nível citadino, regional e internacional. As políticas existentes mudam de formas radicais, quando a solução dos problemas é colocada no cerne da estratégia. Isto significa, essencialmente, pôr os objetivos no centro, do modo como é visto o crescimento económico em si, trazendo a orientação da inovação. A Energiwend  representa um grande desafio. Tem por objetivo, a eliminação progressiva da energia nuclear, na Alemanha até 2022, o carvão até 2038, e metas progressivas para a geração da eletricidade renovável. O abandono da energia nuclear tornou mais difícil a implementação da Energiwend, porque o encerramento rápido das centrais nucleares, aumentou a necessidade das outras, alimentadas a carvão. Outro desafio, é a distribuição equitativa da transformação. Uma vez que muita da geração de energia sustentável , ainda beneficia dos subsídios tarifários, generosos da década de 2000, quando sobretudo a energia fotovoltaica solar, era muito cara, os alemães enfrentam sobrecargas significativas nas suas faturas de eletricidade, o que faz com que os preços da energia elétrica na Alemanha, se contem entre os mais elevados da Europa, e, uma vez que algumas indústrias e instalações de utilização intensiva de energia, estão isentas, a responsabilidade recai ainda mais, sobre as famílias, fazendo com que alguns se perguntem se o apoio público ou projeto, irá diminuir. Tudo isto, traz-nos de volta a ideia de que os objetivos sociais são mais difíceis de realizar do que as meramente tecnológicas, porque conjugam mudanças políticas regulatórias e comportamentais. E quanto ao fosso digital? No mundo de hoje, a capacidade de trabalhar com dados e tecnologia digital, é quase um direito humano. Sem ela, não há oportunidades relacionadas com aquilo que a economia do conhecimento e a conectividade digital proporcionam. Embora a tenologia esteja, em teoria disponível para todos, na verdade não o está, e, o confinamento de 2020, provocado pela covid, ampliou e reforçou o fosso digital, uma vez que os alunos tiveram um acesso desigual à tecnologia necessária ao ensino doméstico; muitos viram-se bloqueados sem banda larga ou computadores, tablets ou telemóveis suficientes. Muitos também não tiveram condições para aceder aos recursos de ensino online. O fosso digital é um feixe de diferentes desigualdades que convergem para criar resultados digitais desiguais, não uma mera divisão no acesso à internet, ou a computadores portáteis,  mas uma divisão em relação ao fornecedor de acesso à internet, em relação ao interesse, às oportunidades relevantes online, e ao mesmo tempo de as utilizar, à formação qualidade de ligação e acessibilidade. O fosso digital é um problema mundial. Assim, as principais inovações necessárias, exigem uma melhoria da difusão, democratização, navegação integrada de recursos online e formação, algo que requer a coordenação de políticas que tenham como alvo o acesso a serviços online baratos, sustentáveis, acessíveis  e valor.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

A CRISE ENERGÉTICA GLOBAL

 O petróleo é a peça chave no xadrez geopolítico global. Os mercados energéticos estão em ebulição. Depois dos recordes atingidos recentemente, os contratos futuros do gás natural, aliviaram nos últimos dias, e, o custo grossista da eletricidade também, mas em ambos os casos,, os preços permaneceram historicamente elevados, ameaçando encarecer a fatura da energia, de famílias e empresas na Europa fora, durante o inverno. Como aqui chegámos? E, sobretudo, como vamos sair daqui? O mundo vive em tempestade perfeita na energia: A pandemia e os respetivos confinamentos fizeram descer o consumo de produtos petrolíferos, e com isso, os preços baixaram. Depois acabaram os confinamentos, a atividade económica recuperou, voltámos a viajar, e, com mais procura, o preço do petróleo subiu. E não foi pouco  crise energética que vivemos é uma matrioska de crises, porque as decisões dos grandes produtores de petróleo, condicionam o que sucede no gás. E a evolução do preço do gás, determina o que pagamos pela eletricidade nos mercados grossistas, pois os nossos sistemas elétricos, continuam a depender de centrais de ciclo combinado, alimentadas a gás para produzir, quando as renováveis não dão conta do recado. No petróleo, há projeções que sugerem que o pico da procura, será ainda esta década, e. depois cairá. No curto prazo há uma crise por resolver. O aumento dos preços da eletricidade na Europa é uma notícia para a transição energética e ecológica, tendo em conta que o problema remete à origem, que são as fontes de energias fósseis. Quando temos uma Europa e um mundo decidido em avançar para um processo de transição para uma energia limpa, é inevitável não desanimar perante a corrida às energias fósseis. Portanto, lutamos contra as alterações climáticas, e, assumimos querer fazer melhor. Para defender o clima, precisamos de soluções ativas reguladas que façam a diferença, e, que, efetivamente criem condições para um planeta melhor, que nos ajudem a responder às alterações climáticas e impulsionem a descarbonização.. Outro facto absurdo, é constatar que o problema da matérias-primas é transversal à indústria e ao próprio setor da energia, porque atualmente, o custo das obras de projetos nas renováveis, e, inclusive nos painéis solares, também dispararam significativamente. Seria expectável que o mundo mergulhasse no tema dos preços da eletricidade e, nesta fase, fossem identificadas soluções a curto médio e longo prazo, para que daqui a alguns anos, não estivéssemos a reviver este problema energético. É  preciso exigir respostas e continuar a reforçar a energia verde, até porque as renováveis continuam a ser um dos vetores da descarbonização, em linha com o que está previsto para a neutralidade carbónica, que Portugal se propõe alcançar em 2050. Podemos continuar a percorrer o caminho para aumentar a capacidade renovável, mas importa analisar os custos inerentes às instalações das centrais e da matéria-prima nas renováveis, porque deste modo só estamos a dificultar que a energia renovável permaneça, se lutarmos para uma economia de baixo carbono.  A crise climática é uma bandeira vermelha para a Humanidade. Os líderes mundiais foram postos à prova na Conferências das Nações Unidas sobre as alterações climáticas, mais conhecida como COP26, em Gasglow. Os sinais de alerta são difíceis de ignorar: as temperaturas atingem novos máximos, a biodiversidade regista valores mínimos, e, os oceanos estão a aquecer, a acidificar e a sufocar com resíduos de plástico. O aumento das temperaturas fará com que grandes extensões do nosso planeta, sejam mortas para a Humanidade, até ao final do século. Na verdade, estamos ainda muito longe da meta de 1,5ºC que a comunidade internacional definiu no Acordo de Paris, uma meta que a ciência nos diz ser a única via para garantir a sustentabilidade do planeta. Esta meta ainda é totalmente alcançável, se ao longo desta década reduzirmos as emissões globais em 45%, em relação aos níveis de 2010, se conseguirmos atingir a neutralidade carbónica até 2050, e, se os líderes mundiais chegarem a Glasgow com metas ousadas, ambiciosas e confiáveis para 2030. Todos os países têm de perceber que o velho modelo de desenvolvimento, assente no carbono, é uma sentença de morte para as suas economias e para o nosso planeta. Precisamos de descarbonizar agora, em todos os setores de todos os países. Precisamos de transferir os subsídios dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, e, tributar a poluição, não as pessoas. Precisamos de definir um preço para o carbono e canalizar essas verbas para infraestruturas e empregos resilientes. As empresas precisam de reduzir o seu impacto climático e de alinhar de forma completa e credível as suas operações e fluxos financeiros com um futuro de emissões zero. Todas as pessoas, em todas as sociedades, precisam de fazer escolhas melhores e mais responsáveis sobre como se alimentam, viajam e consomem. Por outro lado, os jovens e os ativistas do clima, devem continuar a exigir aos seus líderes, que tomem medidas e responsabilizá-los. Em todo este processo de mudança, precisamos de solidariedade global para ajudar todos os países.

Os bancos públicos e multilaterais de desenvolvimento, devem aumentar significativamente os portfólios climáticos e intensificar esforços para os ajudar na transição para economias resilientes e neutras em carbono. O mundo desenvolvido deve cumprir com urgência o seu compromisso de garantir pelo menos, 100mil milhões de dólares em financiamento climático anual aos países em desenvolvimento. A Organização das Nações Unidas foi fundada há 76 anos para construir um consenso na ação contra as maiores ameaças que a Humanidade enfrenta, mas raramente enfrentamos uma crise verdadeiramente existencial, que se não for bem gerida, constitui uma ameaça não apenas para nós, mas para as gerações futuras. Um futuro com um aquecimento global abaixo de 1,5ºC é o único futuro viável para a Humanidade, por isso, os líderes mundiais devem continuar a trabalhar em Glasgow.


quinta-feira, 23 de setembro de 2021

A RECUPERAÇÃO ECONÓMICA

 O" desconfinamento" permitiu à economia dar um salto, ao mesmo tempo que a injeção de fundos públicos, parece ter sido bem-sucedida, na proteção do emprego. A retoma continuará a bom ritmo, levando a revisões em alta das previsões de crescimento. Portugal foi das economias mais afetadas pela crise, e é dos 14 países da UE , que ainda não regressou aos níveis de produção de 2019. A recuperação da economia portuguesa, foi impulsionada por um crescimento muito significativo do consumo privado, nomeadamente, no que se refere às componentes de bens e serviços duradouros. No entanto, à medida que as restrições desapareceram, a economia tem maior força para acelerar. Portugal dá o segundo maior salto da Europa( 4,9%). Este dinamismo, conjugado com outros indicadores avançados, está a motivar um maior otimismo sobre o crescimento deste ano., Comissão Europeia e Banco de Portugal, esperam uma variação do PIB, acima dos 5% no próximo ano. No pico da crise, embora tenha sido a segunda maior recessão de sempre (-7,6%), a contração da economia foi inferior às previsões de todas as instituições, inclusivamente do Governo, com apoios públicos ambiciosos, a atividade aguentou-se melhor do que muitos esperavam. Na retoma, o crescimento do segundo trimestre sugere, que em condições de controlo da crise sanitária e ausência  de restrições, a economia tem potencial de crescimento e de regresso ao nível da atividade anterior à crise. Por outro lado, a produção industrial, atravessa dificuldades, devido aos apertos nas cadeias de produção globais, à escassez de inputs ou produtos intermédios.. Na frente externa, as exportações ainda são muito penalizadas pelo turismo e ficaram no segundo trimestre 18,3% abaixo do final de 2019 e 15,3% abaixo do segundo trimestre de 2019.Nos próximos trimestres, a retoma da atividade económica deverá continuar. Apontam -se três razões: primeiro a expansão do consumo, que deverá continuar a beneficiar do elevado nível de poupança acumulado pelas famílias e pela recuperação do mercado de trabalho. A taxa de poupança das famílias atingiu 14,2% no primeiro trimestre de 2021. Uma poupança excedentária que poderá ser libertada progressivamente para consumo.. O segundo fator, é o dinamismo do investimento, que num contexto em que à recuperação cíclica da atividade, se soma a implementação de importantes projetos, ao abrigo de fundos europeus, antecipando uma retoma das exportações. Porém, no caso do investimento- só caiu num trimestre desde o início da crise, e, tem vindo a aumentar desde esse momento. Segundo o BPI, esse bom desempenho é explicado pela intervenção pública. O Estado realizou uma série de investimentos necessários à pandemia, nomeadamente enquadramento médico, ou a aquisição de material informático e escolar. Na relação do País com o exterior, há que apontar duas questões: a primeira é de exportações de mercadorias que, até Julho, já superaram mesmos os valores vendidos em 2019, antes da pandemia. Por outro lado, as exportações de serviços- essencialmente os gastos de turistas estrangeiros- continuam muito longe da pré-crise. Com as viagens e a circulação muito condicionada, a normalidade pode demorar a chegar. Só no mês de Julho as dormidas de turistas estrangeiros estavam 39milhões abaixo de 2019.

O que se passa com o emprego? Talvez a maior surpresa esteja no mercado de trabalho. A taxa de Julho desceu para 6,6%. O mesmo valor de Fevereiro do ano passado, antes do primeiro confinamento. O números do desemprego têm gerado bastante confusão, mas se olharmos para a população empregada, a conclusão ainda é mais impressionante.. ,4,8 milhões de portugueses, têm trabalho; um máximo desde 1998.. São mais 238mil do que no mesmo mês de 2020 e mais 89mil do que em 2019. Como se explica que um país ainda em crise, com uma pandemia ativa e ainda com restrições, no terreno, esteja a bater recordes no mercado de trabalho? Pode-se explicar por políticas públicas de emprego, contratações na indústria, recuperação do turismo, muitos empregos apoiados, e, o facto de ainda não conseguirmos ver os efeitos negativos do fim das moratórias. São esses os motivos para o emprego estar a surpreender. A crise mudou o contexto e levou os governos a colocarem mais funcionários públicos, que estão agora no nível mis elevado de sempre. Além disso há um conjunto de setores que não são considerados da Administração Publica mas que estão correlacionados. Do lado do setor privado, os dados do INE mostram uma indústria a contratar mais 43mil no segundo trimestre e uma construção que não foi travada pela pandemia- é com a banca e o imobiliário, o único setor que cresce face a 2019. O segmento industrial, principalmente a metalomecânica, tem continuado a exportar. Contudo, ainda é cedo para saber se são números sustentáveis. A natureza da crise pandémica arrasta a atividade, por altos e baixos, e, embora Portugal tenha uma das maiores taxas de variação do mundo, o aparecimento de uma nova variante, pode ser suficiente para colocar em causa muito do nosso progresso.. Temos um enquadramento europeu muito favorável. O BCE continua muito ativo no mercado da dívida, mantendo os juros controlados . Qual será o impacto do final das moratórias de crédito? O turismo  regressará à dimensão que tinha em 2019? Algumas questões económicas irão ter de se resolver. Esperemos o fim da pandemia para solucionar algumas questões económicas. É muito difícil prever o futuro, mas é certo que neste século iremos trabalhar menos horas, ter um trabalho mais flexível, ter mais tempo livre, inteligência artificial e robotização. Irão ser criados novos empregos nas áreas de saúde, bem-estar educação e cultura.

Estamos confrontados com a urgência de reforçar o multilateralismo e de apoiar os mais pobres na resposta a três grandes crises- a pandemia( que agravou a pobreza e as desigualdades)as alterações climáticas e as migrações.

O Comité de Ajuda ao Desenvolvimento (CAD) é o guardião das políticas de cooperação e ajuda ao desenvolvimento: mobiliza os recursos financeiros (públicos e privados), para os países mais pobres, e recolhe, analisa e publica dados estatísticos, avalia as políticas nacionais; e aprova os padrões de regras internacionais de cooperação para o desenvolvimento. Foi o CAD que, de forma pioneira, aprovou regras e princípios que hoje são consensualmente considerados como referência internacional, de que são exemplo a obrigatoriedade de ajuda em intuito comercial, o alinhamento dos programas de ajuda com as necessidades dos países de destino, a integração das preocupações com a igualdade de género e com a proteção ambiental, em todos os projetos e programas, ou ainda, a consagração do princípio de coerência entre as políticas de cooperação para o desenvolvimento. Mas, nos últimos anos, muito mudou no panorama de cooperação internacional, Por um lado, surgiram novos doadores governamentais que não são membros da OCDE (como a China, India e Brasil), novas modalidades de ajuda (como a cooperação sul-sul, a cooperação triangular e o financiamento privado), e novos protagonistas não governamentais, setor privado, ONG e fundações). Por outro lado, a agenda de cooperação para o desenvolvimento, teve de se ajustar à nova arquitetura global, que emergiu da aprovação em 2015, da ambiciosa Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, do Acordo de Paris e do Plano de Ação  de Adis Abeba para o financiamento ao desenvolvimento. Finalmente, o sistema de ajuda ao desenvolvimento foi colocado, nos últimos cinco anos, perante uma sucessão de testes de stress; a crise síria, que originou a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, a crise alimentar na região do Sahel, os efeitos devastadores de fenómenos climáticos extremos em vários Estados insulares das Caraíbas, mas também em Moçambique; e finalmente a pandemia, que evidenciou a fragilidade extrema dos países mais pobres. Neste contexto tão exigente, foi crucial demonstrar a validade do CAD, em duas dimensões; em primeiro lugar provou-se mais uma vez a resiliência e a natureza contra cíclica da ajuda pública ao desenvolvimento. Em segundo lugar, domos capazes de desenhar, de negociar e de aprovar, nos últimos cinco anos, ima nova vaga de reformas, ao nível das regras de cooperação para o desenvolvimento. A título de exemplo destaco: a prevenção e o combate ao abuso à exploração e ao assédio sexual; o envolvimento da sociedade civil nas atividades de cooperação para o desenvolvimento; as regras e estratégias para o reforço do financiamento privado(blended finance) e, para o investimento de impacto no desenvolvimento sustentável; o triplo nexus  de ações de desenvolvimento de ajuda humanitária e de esforços de paz.. Temos de assegurar o acesso equitativo às vacinas, liderar a descarbonização da economia, erradicar a pobreza e combater as desigualdades.

O colapso da economia portuguesa em 2020, foi a maior contração anual registada desde a queda da monarquia. Mas, apesar do do prejuízo recorde de mais de 8% no primeiro ano da pandemia, o PIB, deverá regressar ao nível pré-Covid, já durante o ano em curso. A perda acumulada até que o PIB, regresse ao nível de 2019, soma 12,4% muito distante dos 39%, provocados pelas duas crises sucessivas entre 2009 e 2013, juntando a recessão mundial, com a retração provocada pelo resgate da Troika. Com um crescimento real de 4,9%, em 2021, estimado recentemente pelo INE, e uma aceleração da recuperação económica em 2022 acima dos 5%, segundo as diversas previsões existentes, a saída desta crise, provocada pela pandemia, será por isso, relativamente rápida. Nas duas grandes recessões da história portuguesa, desde o início do século XX, os efeitos foram mais longe, e, os problemas na economia também. Mais concretamente, na crise que houve entre 2009 e 2013, o PIB perdeu mais de 39%, e, a recuperação levou uma década. Na depressão entre 1913 e 1918, a economia perdeu 24% , e, o regresso ao nível de 1912, levou também dez anos. A crise de 2020 foi a mais recente num conjunto de 25 quebras anuais do PIB.A saída da crise, só é considerada, quando o PIB regressar ao valor pré -crise e se inicia um período de expansão do produto. Na crise atual, se a projeção para 2022 se confirmar, o PIB começará a expandir-se, ainda este ano. A recuperação mais acelerada agora esperada, deve-se a alterações significativas, em relação ás grandes crises anteriores. Desta vez foi diferente: a ausência de uma guerra mundial como a que devastou a Europa ente 1914- e 1918, onde uma cruel guerra civil do outro lado da fronteira, as medidas de combate à pandemia mais eficazes, a atuação do BCE, na resposta à covid, e a decisão da Comissão Europeia da suspensão das regras do défice e da dívida, por dois anos. No entanto, a aceleração prevista para 2022, está suspensa em pressupostos envoltos, com muita incerteza.  O primeiro é que a pandemia tem os seus dias contados e, o motor do turismo, regressará.. O segundo é que as tensões geopolíticas, não saem do campo da diplomacia, e, não se transformam em novas regras, nas fronteiras da Europa. O terceiro tem a ver com o impacto da inflação média anual da zona euro, para lá do previsto. uma situação, que provocaria problemas económicos, e, obrigaria o BCE a cortar ainda mais e rapidamente os estímulos da recuperação. Desde há 15anos que a a economia mundial vive numa situação de "crise após crise", em que as heranças negativas de cada recessão, uma após outra, se vão "acumulando". O  problema, é que as várias camadas de crises, sanitária, inflacionária, humanitária ( com a maior vaga de refugiados na Europa), geopolítica e stresse de dívida em 60% das economias pobres, se interligam e se influenciam mutuamente. Com o choque provocado pela invasão russa da Ucrânia, e o pacote de medidas financeiras a Moscovo, a economia mundial, irá crescer 3,6%, e da zona euro 2,8% em 2022, ano, em que era suposta uma segunda vaga de expansão económica, depois da crise gerada pela pandemia. A dinâmica do comércio mundial, de que a economia portuguesa também vive, irá cair para metade em 2022, e, o ritmo anual de crescimento, irá abrandar ainda mais: de 10,1% em 2021, caíra a pique até 3,5%, no médio prazo. Este choque "abrupto". como lhe chamou o FMI, provoca ganhadores e perdedores. O invasor ,a Rússia e o invadido, a Ucrânia, vão registar as maiores quebras do ano, mas a subida das matérias-primas vão dar um impulso em muitas economias emergentes e em desenvolvimento. Portugal, naturalmente levou por tabela em relação à previsão para 2022: de um crescimento de 5,1%, previsto em Outubro passado, passou passou para 4%, abaixo da meta de 4,9%, definida na proposta do OE para 2022, apresentada recentemente.

sábado, 12 de junho de 2021

PORTUGAL DEPENDE DO TURISMO?

 Estamos demasiado dependentes do turismo? A resposta é necessariamente sim. O turismo é hoje a nossa maior exportação, no sentido em que nos permite exportar serviços não transacionáveis, ao deslocar o cliente no espaço em vez do bem Ter um setor responsável por uma parte tão grande do nosso rendimento, traz um grande risco. Quando em 2020, o setor do turismo foi mais afetado do que os outros pela pandemia, a riqueza que ele produz caiu mais de metade. Portugal teve das maiores quebras económicas em 2020, na zona euro, e, espera-se que tenha uma das recuperações mais lentas em 2021, em parte porque depende do turismo. Por outro lado, como seria Portugal sem turistas? Talvez a alternativa ao turismo fosse nada.... Nesse caso, estaríamos mais pobres. Ou, talvez sem turismo teríamos talentos portugueses dedicados a ouros setores, com outra dinâmica e, estaríamos hoje, na vanguarda de outras indústrias. Para isso é necessário diversificar a economia sem menosprezar o turismo. Portugal é bom no diagnóstico, mas falta-lhe a implementação de uma estratégia que traga "materialidade" e "robusteça" a economia. O ADN de Portugal "salta à vista" e está no centro de serviços partilhados, que "arrastam formação especializada", como sucedeu com a Autoeuropa e outros clusters industriais, como a celulose ou a saúde e, os centros de competências que nos últimos anos se instalaram em Portugal, são fundamentais para o próprio turismo porque arrastam viagens, mobilidade, estadias e congressos. .A "criatividade" é outro eixo onde" a economia pode ganhar escala".. É necessário apontar algumas soluções para diversificar a economia. O essencial é focar a estratégia e escolher da lista, setores onde Portugal se pode diferenciar . Deve-se fazer o aproveitamento dos programas europeus para dar fôlego a um horizonte estratégico de reciclagem da economia europeia, que está a perder o pé na inovação. Se o país apresentar "projetos solidificados", o investimento estrangeiro, acabará por chegar, diversificando a economia; pois robustecer a economia não significa tirar valor ao turismo. Os estrangulamentos que Portugal enfrenta na burocracia, fiscalidade e justiça, devem ser eliminados com reformas estruturais, para facilitar a vinda das multinacionais e lutar com a concorrência dos países de Leste europeu do Norte de África. Se o país não se mover como um todo, as pessoas só se lembram de Portugal quando vierem de férias.. Para contrariar essa ideia, é preciso seguir uma estratégia de internacionalização, e atração do investimento externo. Um soltar de axiomas, capaz de construir uma estratégia que diversifique a economia, tirando partido dos fatores que tornam Portugal, um país diferenciado: segurança, clima, quadros com formação e línguas, fazem de Portugal um país fantástico na inovação. As receitas de turismo, podem ser usadas por empresários locais, para se lançarem noutros negócios para os quais não tinham capital anteriormente. Os economistas chamam a isto "economias de aglomeração": quando um setor cresce numa região, isto reduz os custos para as outras empresas na mesma região, mesmo em setores diferentes. Estes efeitos positivos do turismo, na economia, não querem no entanto, dizer, que dentro do turismo, não se possa fazer melhor, com mais valor acrescentado, e com menos desgaste dos recursos naturais. Além disso, mesmo dentro do setor do turismo, há espaço para diversificação, com foco em diferentes segmentos do mercado, que visam diferentes recursos e diferentes serviços. E também no turismo há inovação e novas oportunidades que se podem aproveitar.. Por exemplo, se a normalização do trabalho à distância, se concretizar, então talvez surja um novo mercado de turismo de longa duração., com visitas de vários meses, que exigem melhores condições das habitações, e, ligações digitais rápidas e fiáveis. Portugal está dependente  do turismo. Mas, talvez, o turismo contribua de múltiplas formas, para melhorar as hipóteses de sucesso de outros setores. Mais importante do que lamentar a dependência do turismo, é criar as condições para que as ligações benéficas entre o turismo e outros setores floresçam e, para que as empresas de turismo melhorem, se diversifiquem e inovem por si. O Certificado Digital Covide criado para estimular as viagens na a Europa, é um dos aspetos que antecipa um "bom verão". A longo prazo, o objetivo é projetar Portugal, como um dos destinos mais sustentáveis do mundo e  alcançar as metas traçadas para 2027:27 mil milões de euros distribuídos por todo o território, e, ao longo de todo o ano. Como se promove hoje o destino em Portugal? O essencial é incentivar a procura e manter-nos preparados para receber os turistas: acompanhar os operadores, companhias aéreas, agentes de  viagem e obviamente os consumidores finais. Preparar o futuro, em termos em planos de curto e longo prazo, cujo objetivo é permitir em 2027, não só atingir, mas ultrapassar as metas delineadas, inclusive a nível das receitas. O turismo interno tem sido uma boia de salvação. Mas até que ponto, o país aguenta mais um verão, baseado nos consumidores nacionais?. Acredito que o verão vai ser muito positivo, quer a nível nacional, quer a nível internacional, tendo em conta, a evolução a nível da situação pandémica, em Portugal e lá fora, da entrada em funcionamento do Certificado Digital Covid a par do interesse por parte das companhias aéreas e do mercado de proximidade, o espanhol sobre o nosso país. Mas não viemos só do verão. Esse é o grande desafio: manter o ritmo de crescimento que nos permita chegar a 2023 com os mesmos números de 2019. Há aqui alguma incerteza sobre a abertura com outros mercados, a evolução da situação epidemiológica, no nosso país e nos outros, mas temos de traçar cenários, com base no que existe hoje, e as perspetivas são positivas.. Foi lançado o plano de turismo 20-23, assente em quatro pilares essenciais: dinamizar a oferta a nível financeiro, de regulamento, de sensibilização, tornando-o mais sustentável, a nível social e ambiental, qualificar os recursos humanos, estimular os empresários e a força de trabalho que trabalha no turismo, e, promover Portugal, enquanto destino sustentável. o quarto pilar relaciona-se com a quantificação e controle de tudo, com indicadores que permitam avaliar a evolução e como podemos melhorar. O facto de estarmos a apostar na dinamização e promoção da marca Portugal, enquanto destino turístico, e de mostrarmos precisamente essa autenticidade e base na nossa cultura, é algo que  que estimula a vinda de estrangeiros e ajuda a que a recuperação, em todo o território e ao longo de todo o ano, seja mais rápida. Há três áreas fundamentais para trabalhar, se queremos ganhar escala, e recuperar mais rapidamente:. formação e qualificação, sustentabilidade e digital. No futuro, a ligação humana é muito importante, bem como a tecnologia que temos para ajudar e libertar tempo, e, por isso temos de valorizar o país e proteger o que temos cá dentro.  A guerra na Ucrânia beneficia o crescimento do turismo. Portugal é visto como um destino seguro e pode ganhar quota de mercado. O setor do turismo espera uma forte retoma, e, os economistas apontam um contributo positivo para a evolução do Produto Interno Bruto ( PIB). O turismo pode ajudar a salvar o ano. Em Janeiro, hóspedes e dormidas ficaram cerca de 30% abaixo do mesmo mês em 2019, mas quase triplicaram face a Janeiro de 2021. Em Março, os voos nos aeroportos nacionais, foram apenas menos 12% do que no mesmo período de 2019, e, semelhantes aos de Janeiro, pelo que aparentemente, o turismo internacional, ainda não está a ser afetado pelo conflito. O setor em Portugal espera uma retoma forte. Entre os receios associados à subida de preços, há um epifenómeno a emergir, sendo Portugal um refugio para turistas que querem fugir de zonas geográficas mais próximas do conflito. As pessoas estão ansiosas por viajar, mas segurança  e estabilidade são fatores muito importantes. Portugal goza de uma localização privilegiada que, no atual contexto de guerra, é uma vantagem competitiva e poderá contribuir para que os portugueses optem por fazer as férias em território nacional e os estrangeiros escolham Portugal para viajar. Também, os países em desenvolvimento, ainda com problemas de Covid, preferem deslocar-se para países  com distância física de bombardeamentos, sendo a realidade pandémica considerada um entrave menor.

domingo, 2 de maio de 2021

QUE SOLUÇÕES PARA A CRISE?

 São necessárias políticas económicas inovadoras. Esta crise caiu numa economia, em que as relações de muitas pessoas com o trabalho estavam desligadas. Há muitas pessoas com vínculos precários, contratos a prazo, recibos verdes, e, até com uma parte ou a totalidade dos salários pagos informalmente, ou seja, sem qualquer registo de recebimento. É, de referir, que é nos setores de alojamento e da restauração, que mais se encontra este tipo de trabalho.  A economia que surgir da crise pandémica, dificilmente, será a mesma. A dimensão da crise, e, a sua natureza, levará a atividade económica, por caminhos diferentes. É improvável, por exemplo, que o turismo internacional , volte ao que era num futuro próximo. As viagens de trabalho, com o surgimento do teletrabalho, e, a aprendizagem em massa das reuniões à distância, também não vão regressar ao que eram antes da crise pandémica. É necessário encontrar formas não traumáticas, de permitir que a economia se regenere, pelo que passa pelo desaparecimento de algumas empresas. Mas também é desejável que as empresas que são viáveis e podem sobreviver, permaneçam. As políticas de apoios sociais de que dispomos, estão assentes numa série de barreiras, como a necessidade de deslocação aos serviços da Segurança Social, ou ao Instituto de Emprego e Formação Profissional, e, o preenchimento de formulários. Esta burocracia, serve pra perceber, se o rendimento e a riqueza das pessoas, são suficientemente baixos, com o objetivo de afastar dos apoios , quem deles não necessite. No momento de crise em que vivemos, devemos preocupar-nos muito mais, com a probabilidade da ajuda não chegar a quem precisa, do que a de ela chegar a quem não precisa. Não podemos dizer, que não houve inovações nos apoios sociais. O rendimento social de inserção, foi renovado automaticamente, evitando aos beneficiários, uma carga de trabalho burocrático, pouco razoável num período destes.. A edição do Fiscal Monitor do FMI,  de 2020, tinha estimativas de resposta dos países à crise ,divididas entre " acima da linha" "abaixo da linha" e "passivos contingentes." As medidas acima da linha, são aumentos de despesa ou reduções de receita, ou seja, dinheiro que é gasto na economia, ou que não chega a ser retirado. Há uma parte de despesas adiantadas e de receitas atrasadas, o que não é bem ajuda adicional por causa da crise. As medidas abaixo das linhas são injeções de capital em empresas, compras de ativos e dívidas assumidas pelo Estado. A linha que as distingue é que as medidas de cima são fluxos de dinheiro, enquanto as mediadas de baixo têm impacto nos ativos e passivos do setor público. Os passivos contingentes, são garantias dadas pelo Estado, que não custam dinheiro imediatamente, mas podem vir a custar se, por exemplo uma empresa com um crédito garantido, entra em incumprimento. Como aparece Portugal nesta fotografia? Até setembro de 2020, gastara 0,8% do PIB, cerca de 1,5 mil milhões, em saúde. Gastou mais 2,4 do PIB em apoios diretos às empresas e famílias e, em medidas como o layoff simplificado ou as ajudas a independentes, 4,5 mil milhões de euros. A despesa pública adiantada e receita pública adiada, foi de 4,15 do PIB.  Aqui estão, por exemplo, os pagamentos à Segurança Social dos independentes, ou os pagamentos por conta de IRC, que foram adiados. Em passivos contingentes, como as moratórias dos créditos para famílias e empresas, está o grosso da intervenção: 6,75do PIB .Os passivos contingentes, são  as linhas de crédito às empresas, quer as mais genericamente dedicadas às pequenas e médias empresas, quer as que se focaram nos setores mais afetados pela crise, como o turismo e a restauração. A agência de rating de dívida , avisou que os bancos portugueses, de um universo de 45 bancos europeus analisados, eram os que tinham maior proporção de créditos em moratórias, garantidas pelo Estado. Com a dimensão da crise e a força das sucessivas vagas, irá haver muitas empresas e pessoas com dificuldades para pagar obrigações fiscais e créditos adiados. Portanto, uma parte das moratórias, adia o reconhecimento de um problema, e, quase sempre, quanto mais durar a moratória, maior é a probabilidade de a empresa ou família, não recuperar a sua saúde financeira. Um dos receios das moratórias generalizadas, é a possibilidade de sobrevir um momento crítico, em que os bancos têm de reconhecer uma enorme quantidade de créditos incobráveis.  Isto, contrasta com uma situação normal, em que os bancos estabelecem pedidos de moratória, caso a caso, no quadro das suas relações normais com os clientes, tendo em conta o risco individual, pelo que pode originar crédito malparado. O problema do crédito malparado, é que existe um momento, em que o banco tem de o reconhecer como incobrável.  Se for um crédito a uma empresa, ou fica sem nada, ou a empresa entra em falência, e o banco recupera, com alguma sorte, uma parte do dinheiro que empresta, provavelmente, sob a forma de edifícios, máquinas, carros ou terrenos. Quase sempre, o banco vai desfazer-se destes ativos, a preços de saldo. Por vezes, os bancos "vendem" os próprios créditos, ou seja, transferem-nos para outra instituição financeira, especializada em créditos particularmente arriscados: quando há créditos incobráveis, o banco perde valor. Alguns bancos irão ter mais dificuldades em encaixar estas perdas, porque têm uma situação financeira frágil, e é por aí, que muitas vezes entra o dinheiro dos contribuintes. A crise pandémica virou a nossa vida do avesso. Muitas pessoas perderam todo ou parte do seu rendimento. No dia 20 de Março, a Comissão decidiu suspender a disciplina orçamental, para permitir aos países, défices orçamentais que não respeitem as regras de Maastricht. No entanto, a disciplina orçamental, não altera a taxa de juro da dívida, que é uma das principais preocupações, para países como Portugal. A Comissão também criou o Fundo Europeu de Solidariedade, que pode ajudar com montantes modestos, entre 2,5% e 6%, das despesas dos países mais afetados pela crise. Havia mais programas, aqui, e ali, desde os 37 mil milhões para ajudar no investimento em sistemas de saúde, a linhas de crédito do Banco Europeu de Investimento. O BCE reagiu com um pacote de compra de dívida de 750 mil milhões de euros, antecipando para o início da crise o famoso "whatever it takes" de Mario Draghi. Os apelos de vários economistas europeus, para o financiamento direto da dívida, com impressão de moeda, isto é, sem que esse financiamento envolva um aumento da dívida, não deram em nada. Depois da hesitações iniciais, a União Europeia, foi avançando, no apoio à despesas dos estados para as políticas de proteção dos rendimentos do trabalho, na dívida comum e na dimensão do orçamento. O pacote de recuperação da crise deverá aproximar -se de 1,5 biliões de euros. O  pacote- se- e quando chegar- deverá  vir envolvido, no chamado orçamento europeu, cujo verdadeiro nome é "Quadro Financeiro Plurianual", que tem uma duração de sete anos. A vantagem deste "Quadro" é que é um instrumento que pode ser financiado com dívida emitida pela Comissão Europeia, previsto nos Tratados. Falando de eurobonds, nome encontrado para a emissão da dívida europeia, o pacote de recuperação da crise, chamado de Next Gneration European Union, inclui a possibilidade de a Comissão Europeia se endividar até um máximo de 750mil milhões de euros, mas não pode haver emissão de nova dívida, para lá de 2026, e, os fundos assim obtidos, só podem ser usados, no combate às consequências da crise pandémica. A dívida europeia, será paga no futuro, com base no orçamento europeu, que depende das contribuições de cada país, individualmente. O facto de repensar em impostos acionais, quer dizer duas coisas: A primeira: é que o risco a dívida continua ligado aos riscos dos países. Este risco, posto de forma muito simples, é  como quem compra títulos da dívida. Quem compra dívida, ela será paga, em função da capacidade, de os países individualmente, cobrarem impostos. A segunda razão: é que não irá haver justiça fiscal, sem coordenação internacional, porque as pessoas mais ricas, têm mais facilidade, em utilizar as diferentes leis fiscais a seu favor Houve um fracasso social e psicológico, das mortes e, do sofrimento, que a pandemia nos trouxe, mas, nem tudo foi mau em 2020. Foi o ano em que a humanidade provou a sua capacidade extraordinária de inventar o futuro - da transição digital, que muitos de nós fizemos de um dia pra o outro, à vacina, criada e distribuída em menos de um ano. Portanto, o potencial existe. O que falta, são as instituições políticas, que distribuam os ganhos, da extraordinária criatividade humana, de forma mia inclusiva. É fundamental, apostar numa  "Sociedade Ética", que enfrente os nós górdios, que nos impedem coletivamente, enquanto sociedade, de aproveitar o nosso potencial: a secundarização da ciência, a crise ambiental, a pobreza e a corrupção. A aposta na ciência, e, na transformação digital, são fundamentais para o desenvolvimento. Sem ciência, não havia vacina, e, sem vacina ao havia luz ao fundo do túnel negro em que estamos. Sem investimento em ciência, não teríamos uma economia capaz de inovar, de criar empregos de qualidade, e, bem remunerados. Uma economia próspera e inclusiva, passa, necessariamente por aqui. A outra dimensão fundamental é a da sustentabilidade: é importante que Portugal, atinja a neutralidade carbónica e desenvolva políticas para aliviar os efeitos das alterações climáticas. O desafio é relevante, porque requer uma alteração fundamental, nos comportamentos.. É preciso apostar na economia circular, como fonte de matérias-primas, investir nos transportes públicos, promover o teletrabalho, garantindo que as condições laborais, de privacidade e de equilíbrio com a vida pessoal, estão asseguradas. É necessário renovar o nosso parque habitacional, para que tenha propriedades térmicas, que evitem o consumo de energia, de climatização, pelo que abrandaria certamente o dramático problema da pobreza energética em Portugal. Dar rendimento às pessoas não resolve tudo, mas é um passo importante. As pessoas que vivem na pobreza, gastam demasiado tempo a pensar como vão pagar as contas do fim do mês, e colocar na mesa o jantar do dia seguinte. Não podem, nem conseguem, pensar no futuro. é essencial, o alívio à situação de emergência social, em que nos encontramos, pois, um Estado social menos condicional, facilitará a transição de pessoas entre empregos. Qualquer estratégia de erradicação da pobreza, tem de incluir uma política de origem, que assente em vales para bens essenciais, junto com transferências monetárias, generosas e abrangentes, de creches e jardins de infância de qualidade, e, gratuitos, e, visitas domiciliárias, por equipas sociais multidisciplinares. Por outro lado, a corrupção prejudica o crescimento económico, dificulta a redistribuição, a favor dos mais pobres, aumenta a desigualdade, facilita a vida ao crime organizado, e, contribui para a falta de confiança nas instituições. Um Portugal menos corrupto, será também, mais coeso, menos desigual, mais próspero e mais democrático. Em suma, é necessário, que consigamos tomar decisões coletivas, a pensar no futuro, pois pensar a um década, ou, a uma geração tem estado afastado das nossas possibilidades, enquanto sociedade. Mas, é por aí, que temos de começar. Nas últimas décadas- no auge da globalização- um grande número de países que haviam enfrentado dificuldades, e que com frequência se encontravam isolados, atingidos pela pobreza, com uma grande parte da sua população necessitada de um emprego remunerado e decente- ofereciam algo que as empresas do mundo desenvolvido, não conseguem resistir. Neste contexto, o Japão, a Coreia, a China e outros países, conhecidos como Tigres Asiáticos, ofereciam mão de obra barata, com pouca regulamentação laboral ou regras ambientais em troca de se tornarem  no "back office" do mundo. A classe média das nações emergentes expandiu-se em centenas de milhões de pessoas à medida que o crescimento do PIB subia em flecha. Os lucros dispararam e os mercados de exportação expandiram-se  nas economias dominantes, onde os consumidores desfrutavam de bens a baixo custo e, os trabalhadores altamente qualificados, tinham o privilégio de escolher o emprego que mais lhes agradasse. Contudo, o modelo da globalização já não funciona como uma base fiável, para guiar o desenvolvimento económico, dos países que já se encontram em ascensão económica, ou que  estão a tentar iniciar o seu caminho nesse sentido. No centro desta mudança, os serviços a consumirem os produtos da China Japão e Coreia. estarem a alterar lentamente a sua abordagem, encorajando as empresas a voltarem à fabricação  de serviços, por forma a estruturar as economias nacionais. Em simultâneo, as multinacionais começaram a distanciar-se das complicadas relações internacionais que se estendiam profundamente até aos países de baixos salários, pois o surto generalizado de governos populistas acrescentou camadas de risco e dificuldade na criação de cadeias de abastecimento globais. A competição já não se centraliza na aquisição de mão de obra barata disponibilizada por outros países, mas, cada vez mais, na implementação de robôs aina menos dispendiosos, mais inteligentes e mais capazes, bem como de ferramentas e programas de inteligência artificial. O abrandamento da globalização deixou um vácuo para o surgimento de um novo modelo de desenvolvimento económico. A melhor opção para preencher este vazio é a estratégia "local first" como uma melhoria, face ao quadro predominante internacionalista a que nos habituámos, seja a constatação de que, mesmo quando a globalização parecia beneficiar toda a gente, não o fez. É certo que a classe média cresceu globalmente, a par dos lucros empresariais, os benefícios de eficiência operacional foram reais, os preços da maioria dos bens fabricados, foram mantidos sob controlo, e, um maior número de pessoas tomou parte na resolução da tecnologia pessoal e das comunicações. porém, estas melhorias essencialmente registadas pelo crescimento do PIB, limitaram-se a ocultar os efeitos negativos da globalização. Em termos gerais, os números do PIB, comprovavam a prosperidade global, em média, enquanto grandes parcelas da população ativa, estavam a viver de estagnação e diminuição de rendimentos. Os resultados do PIB, também se sobrepuseram a fatores intangíveis, tais como a degradação ambiental, a falta de benefícios e a insegurança associada a muitos postos de trabalho, bem como a diminuição de alguma qualidade de vida em algumas comunidades .É urgente estabelecer programas "local first" para o desenvolvimento económico; ou seja  dedicar mais atenção à criação de comunidades  prósperas, pois as necessidades humanas são melhor identificadas e geridas a nível local.. Cidades, vilas e aldeias são os locais onde o progresso social e o sucesso económico mais naturalmente se encontram. Precisamos de criar soluções locais para problemas locais e, por sua vez, desenvolver economias mais dinâmicas. Por outro lado, é urgente tomar decisões sobre a forma como a tecnologia é implementada e utilizada nos dias de hoje. Precisamos de estabelecer disciplinas, práticas e políticas, para ajudar as pessoas a tomar decisões de forma inteligente, e, teremos de nos proteger contra a retaliação on line. Há alguns passos essenciais que podem ser dados imediatamente, no sentido de controlar a tecnologia: a requalificação profissional para um mundo digital; proteção de dados contra utilização indevida; reforço da contribuição da sociedade civil na busca de soluções para questões de privacidade. A requalificação tem em vista alcançar quatro objetivos: assegurar que as pessoas sejam o menos vulneráveis ao futuro possível, minimizando a interrupção do emprego, particularmente entre as populações em envelhecimento, à medida que os postos de trabalho  passam a exigir competências digitais avançada; permitir que todos se envolvam de forma ponderada e inteligente, na descoberta de formas de humanizar a tecnologia; a busca de soluções para os excessos de tecnologia e ainda reduzir as lacunas de conhecimento, sociais e económicas entre os que possuem recursos, e, os que não possuem. Todos precisamos de ser bons alunos de tecnologia, do seu impacto na sociedade, e, em nós próprios. Precisamos de ser aquilo a que eu chamo humanistas tecnologicamente competentes, ou seja, temos de compreender tanto o que as pessoas exigem da tecnologia, para melhorar as nossas vidas, como todo o seu potencial para alterar o mundo à nossa volta, de formas mais ou menos relevantes.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

O CRESCIMENTO ATUAL DA ECONOMIA PORTUGUESA

 O balanço do crescimento da economia portuguesa entre 1999- ano da criação do euro- e 2026, o último ano das projeções do FMI, é que Portugal é um dos piores do mundo, e o terceiro pior da Zona Euro, apenas à frente dos "doentes", Itália e Grécia. Um cenário negro, mas é menos sombrio, quando se olha para a recuperação da crise pandémica de 2021.Os dados históricos até 2020 e as projeções do FMI, até 2021, revelam um crescimento médio anual da economia portuguesa de 1,1% entre 1999 e 2026 segundo os dados do "World Economis Outlook" (WEO), do FMI. Penalizado pela "década perdida"- a primeira década do euro-, a dupla crise financeira e da dívida soberana, culminando na chegada da Troika- e, agora a crise pandémica, só 13  países da base do Weo, têm pior registo do que Portugal, sendo dois deles da Zona Euro, Itália e Grécia. A economia portuguesa, desde 1999, tem o pior desempenho, desde que lhe podemos chamar de economia desenvolvida. Houve períodos de recuperação, mais ou menos forte, que temporariamente são confundidos com o crescimento. Piores só a Grécia, que já acumula três resgates, e a Itália, que se afundou numa "batalha perdida". A lição da derrota italiana é que tem de se deixar que a economia se transforme, e não tentar preservar empregos, e, indústrias não competitivas. Olhando, para a recuperação da crise pandémica, a partir de 2021, e tendo em conta as projeções do Fundo até 2026, a taxa de crescimento médio anual sobe para 2,8%, e Portugal fica melhor posicionado à frente de 58países- incluindo os Estados Unidos- e a meio da tabela da zona euro, um padrão já verificado na recuperação da última crise, entre 2014 e 2019, quando essa taxa de crescimento atingiu 2,1%. Esta melhoria relativa portuguesa, até 2026 é reforçada por dois resultados, que distinguem Portugal, da maioria dos membros do euro. Segundo as previsões do "Fiscal Monitor", do FMI, as contas públicas irão voltar a registar excedentes a partir de 2024, partilhando essa situação, com apenas mais sete economias desenvolvidas, três das quais- Alemanha Chipre e Lituânia- do euro. E o nível da dívida pública no PIB vai sair do topo dos mais endividados do mundo e da zona euro.. Ocupando o quarto lugar mundial, depois do Japão, Grécia e Itália, em 2020, o peso da dívida portuguesa caiu  para o décimo lugar, sendo ultrapassado pela Bélgica, Espanha, Estados Unidos, França Reino Unido e Singapura. O reforço das contas públicas, pode ajudar a uma retoma económica mais robusta. Desta vez, vai ser diferente da crise da Troika. A economia devastada por duas recessões, quase seguidas desde 2009, só recuperou o nível de 2008, uma década depois. Agora, a recuperação será mais rápida, mas mesmo assim só em 2022, será atingido o nível de 2019, afirma o FMI,  em linha com a Zona Euro. O próprio recomeço da recuperação vai ser com contratempos, e o desenrolar de 2021, depende muito se o verão irá ser "ganho" ou "perdido". Apesar das previsões do FMI, até 2026, o problema principal português, não está resolvido. O padrão típico português, tal como em Itália e mesmo Espanha é uma taxa de crescimento da produtividade dos fatores nula, ou mesmo negativa, em grande parte do período do euro e a partir de 2011, há também uma forte descida na acumulação de capital. Há um padrão preocupante da queda da produtividade do trabalho, desde 2015. Também temos uma grande parte do emprego em setores com baixo crescimento de produtividade. Estamos no limiar da quarta revolução industrial, e temos que nos preparar para entrar na carruagem da frente. Precisamos de uma Administração Pública eficiente e de um  quadro fiscal que permita atrair investimento e reter talento. Precisamos também de melhorar o sistema de educação, da pré-primária, às universidades, para criarmos mais talento. Com a generalização do emprego à distância, os portugueses qualificados vão poder trabalhar em grandes empresas internacionais e viver em Portugal. Provavelmente, a crise levará uma transferência de recursos de empresas e atividades mais vulneráveis, para as mais robustas, havendo um aumento de produtividade, que irá ser o motor da recuperação e aumentar a taxa de crescimento potencial do PIB. A alteração de paradigma, de um modelo assente nos bens transacionáveis, virado para o mercado interno, para uma aposta nas exportações e no mercado externo, foi um símbolo de intervenção da Troika. Mas agora, os economistas não antecipam alterações de fundo, ao padrão de crescimento português. Consumo e investimento deverão ser os motores de crescimento e devem estimular  a recuperação da crise pandémica; e a retoma do turismo será crucial, mas pode demorar mais tempo. O padrão de crescimento após a crise pandémica, será semelhante ao que aconteceu até 2019. Tudo , porque desta vez, não houve queda do rendimento disponível, nem deterioração das condições financeiras, que levassem à destruição da capacidade produtiva, concentrada nalguns setores. Como resultado, consumo e investimento deverão ser os motores de crescimento. E, o consumo conta com a ajuda das poupanças das famílias, que com a pandemia atingiu o nível mais elevado desde 2002, e, será em parte, libertada. Quanto ao investimento, será incentivado, pelo "boom" industrial, a nível mundial; condições propícias na construção, com baixas taxas de juro, e liquidez abundante; e os fundos europeus, associados ao "Gren Deal", apontando o turismo, como grande incógnita, já que a recuperação depende do fim das restrições à circulação. Numa primeira fase, os maiores contributos, serão do consumo privado e exportações, à medida que o turismo recupera. Posteriormente, o investimento deverá originar também um contributo importante, refletindo o reforço esperado da execução dos fundos comunitários. Segundo opinião de alguns economistas, a recuperação virá inicialmente do consumo. Já a sustentada, pelo Plano de Recuperação e Resiliência, se vier a funcionar, será mais baseada em investimento. Os motores da recuperação em 2021, virão sobretudo da procura interna, com o consumo privado a dar o primeiro impulso, e, posteriormente as exportações, com um possível aumento do turismo.. A curto prazo, iremos ter também uma recuperação das exportações e do comércio a retalho, seguida da recuperação do turismo. Há 10 anos, em 2011, Portugal não tinha meios para cumprir os seus compromissos financeiros, para liquidar os salários dos funcionários públicos e para pagar as pensões aos reformados. A par de uma crise financeira internacional, a bancarrota de 2011, foi o culminar de um conjunto de opções políticas e de erros de governação que prejudicaram o crescimento económico, fizeram disparar a despesa pública e tornaram a dívida pública insustentável. Nesse momento, o Governo de então, foi obrigado a pedir assistência financeira internacional, mergulhando o país na terceira cise de insolvência em 40anos de democracia. Passada uma década sobre este acontecimento, em que Portugal perdeu a sua credibilidade perante o exterior, e, houve muitas consequências sociais económicas e financeiras na vida dos portugueses, urge analisar a situação atual do país à luz das lições de 2011. Há 10 anos, o país tinha estagnado em termos de crescimento económico(com uma taxa média anual de crescimento do PIB de apenas 0,7% entre 2000 e 2010, e apresentava um enorme défice nas suas contas externas que ultrapassava 10% do PIB. O excessivo endividamento externo resultou principalmente da falta de políticas de apoio à internacionalização das empresas portuguesas e à promoção das exportações, desequilibrando fortemente a balança comercial. Em 2020, o PIB afundou-se 7,6%, a maior quebra de riqueza um ano, desde que há estatísticas em Portugal e quase o dobro do que caiu no pico da anterior crise, a dívida externa voltou ao nível de 2011, em resultado dos efeitos da pandemia. A recuperação prevê -se mais longa e demorada. Desde 2016 não foram realizadas quaisquer reformas estruturais com o objetivo de estimular a produtividade e a competitividade internacional das empresas portuguesas. Pelo contrário, os retornos que assistimos na reforma laboral e da reforma do IRC, obrigam hoje as empresas portuguesas com uma das legislações laborais mais rígidas da Europa e a suportar a segunda taxa de IRC mais elevada da União Europeia. Portugal desceu várias posições no rendimento per capita(neste momento está à frente da Eslováquia, Letónia e Grécia), correndo o sério risco de se tornar o  país mais pobre da zona euro, nos próximos anos. O segundo fator que levou à bancarrota de 2011 foi o aumento enorme da despesa pública, que atingiu 0s 51,9% do PIB em 2010, com uma aumento exponencial da despesa pública primária, designadamente com salários da Função Pública. Em resultado destas opções políticas, o país haveria de registar um défice recorde de 11,4% do PIB em 2010, o que tornou insustentável a situação das contas públicas nacionais. Em 2020, o défice atingiu 5,7% do PIB, o que representou um desvio de 11.500 milhões de euros, em resultado da pandemia. Mas, mais importante, a despesa pública total cresceu significativamente desde 2016, não obstante, as sucessivas atrações e as drásticas reduções da despesa com juros, em resultado da assistência financeira permanente do BCE. Para se ter uma noção exata do problema, a despesa pública real cresceu de 83mil milhões em 2016, para 98 mil milhões em 2020, um aumento impressionante de 15mil milhões, em apenas cinco anos, o que colocou novamente a despesa pública, a rondar os 505do PIB.É verdade que em 2020, a despesa pública fi influenciada pela medidas covid, mas até 2019, os gastos reais do Estado, já atingiam os 91 mil milhões, tendo crescido 9%, face a 2016. E, no mesmo período (2016- 2020), as despesas com salários da Função Pública aumentaram 14%, em resultado de dezenas de milhares de novas admissões, reduções do horário de trabalho semanal para 35horas, progressões e aumentos salariais. E que continuam em 2021, não obstante o aumento das falências e do desemprego no setor privado. Por outro lado, a explosão da dívida pública, atingiu 0s 100%  do PIB em 2010 e tornou insustentável a posição de Portugal, perante os seus credores internacionais. Em 2016, a dívida pública ascendia a 239mil milhões de euros. Em 2020 disparou para 270mil milhões, ultrapassando os 133%do PIB, e o OE para 2021, prevê que possa chegar a 287 mil milhões. Quando o BCE for obrigado a subir as taxas de referência para conter riscos de inflação na UE, que margem terá Portugal para continuar a cumprir os seus compromissos financeiros?

Após alguns meses depois do início do desconfinamento, a informação sobre a evolução da economia portuguesa é ainda parcelar. Os economistas usam a expressão "acentuada dinâmica" da atividade económica. Com a pandemia a recuar, a vacinação a acelerar, o país a reabrir, a confiança dos consumidores aumentou significativamente, segundo o INE, as compras na rede multibanco, subiram 70%, as vendas de automóveis ligeiros de passageiros, aumentaram 39% e o consumo de eletricidade cresceu 6,5%. Em março, a taxa de desemprego recuou para 6,5%, e , os novos créditos à habitação atingiram 1382milhões de euros, um recorde de2008. Há uma evolução positiva. O indicador diário da atividade económica do Banco de Portugal, que procura medir, quase em tempo real a evolução da atividade económica, é um dos sinais positivos. Em abril, a atividade económica, cresceu mais de 20% e acelerou na semana terminada em maio para 27,5%. A evolução positiva, reflete, "em parte", a procura suspensa (durante o confinamento), o que impulsionará a atividade nos próximos meses. O crescimento, poderá superar os 3,5% em cadeia, e, os 10% homólogos. No entanto, no médio prazo, o sustentar da economia pela procura interna, depende também da quebra de rendimento, pela destruição de emprego e empresas, cuja dimensão só mais para o final do ano, com o fim generalizado das moratórias, se irá perceber. Olhando para os setores mais afetados pela crise, como o turismo, a etapa final do desconfinamento, a 3 de maio, apanhou o Algarve, com a maioria dos hotéis fechados. Os portugueses com segunda residência e abertura de fronteiras ,com Espanha, e, o anúncio da lista verde com os ingleses poderem viajar sem quarentena, considerou-se Portugal, como o único país" seguro" na Europa do Sul. O efeito na procura foi imediato, e, animou as expetativas de um bom ano turístico.  A  retoma, apresenta "sinais animadores", mas não compensa o longo período de encerramento. O s estabelecimentos em zonas turísticas, como as Baixas de Lisboa e Porto, foram afetados também pelo teletrabalho, continuando a procura à restauração, onde há a preferência  por esplanadas, e maior procura nas zonas de menor densidade. O take-away veio para ficar, e, ir ao restaurante, tornou-se mais uma opção de fins de semana. é preciso esperar, para saber o que irá acontecer, no comércio e na restauração, a quem sobrevive apenas com "o balão de oxigénio dos apoios".

 


domingo, 11 de abril de 2021

O REGRESSO DA INFLAÇÃO?

 Os Governos de todo o mundo têm procurado aliviar o efeito da crise pandémica com juros em mínimos históricos, megaprogramas de compra de dívida e outros ativos e biliões de euros injetados na economia, através de apoios sociais, ajudas às empresas e investimento público. Mas todas estas medidas têm consequências do lado dos preços. É praticamente a dimensão do PIB italiano, que chegará à economia através de cheques de 1.400dólares para as famílias, uma prestação para agregados com filhos, o reforço do subsídio de desemprego ,apoio financeiro dos Estados e a reabertura das escolas e dos restaurantes. Este plano gerou entusiasmo com uma saída mais rápida da crise, mas também houve críticas dos economistas mediáticos do mundo: o motivo central é que ao distribuir e gastar tanto dinheiro, este programa irá provocar um sobreaquecimento da economia, o que pode fazer disparar a inflação.. E, níveis elevados de inflação, podem não só servir, como "um imposto escondido-havendo mais dinheiro em circulação, cada moeda vale em si, menos-, como obrigar o Banco Central, a subir os juros. E esse risco faz sentido? Sim. Por um lado, há um pacote orçamental gigantesco, muito acima do que seria preciso para recuperar a atividade económica para a sua capacidade produtiva, e que, por isso, terá tendência a levar a um aumento de preços. Por outro lado, um Banco Central dos mais "pomba", de que há memória, no que diz,  ao que afirma ser, a sua tolerância para com a inflação  alta nos próximos anos, e, com uma dívida tão elevada, que qualquer aumento das taxas de juro, teria um grande impacto orçamental. No entanto, o contexto atual, traz uma série de travões a esse avanço dos preços. Esta crise, tem a particularidade, de atingir, ao mesmo tempo, a oferta e a procura. Um estímulo fará aumentar o consumo- o que teoricamente, puxa pelos preços-; porém isso acontece, numa altura em que as empresas também, começam a produzir mais, o que põe água na fervura da inflação. Mais: temos hoje, várias décadas de sucesso, no controlo da inflação, em torno da meta de 2%, valor que a zona euro não ultrapassa, desde 2016. Mesmo que nos desviemos momentaneamente, as famílias e as empresas continuarão a agir, assumindo que a inflação, acabará por regressar a esse ponto- e confiando se necessário, o Banco Central intervirá para evitar um descontrolo. As condições estruturais da economia, parecem ainda empurrá-la mais, para cenários de deflação (queda dos preços) do que, para um crescimento sustentado de inflação. Qual é o principal problema? É a possibilidade de deflação prolongada. Há fatores estruturais a pressionar a economia real. Pode ter momentos de inflação, mas não um "boom". Um cenário de espiral inflacionista, é pouco provável. Inflação descontrolada, tende a surgir, historicamente , em contextos muito específicos, de perda de independência do Banco Central, que não me pareceu ser o caso, de qualquer economia desenvolvida. E, embora, o Banco Central dos EUA- a Fed- permita agora, desvios temporários da meta de 2%, se se tornar claro, que a inflação está a ficar fora de controlo, voltará a intervir para a controlar. Além disso, muitos dos que pensam, que há risco de inflação. já gritavam "lobo" no passado, seja há mais de uma década, quando a Fed estreou a sua política de compra de ativos para combater a crise financeira, seja mais recentemente, quando Trump, introduziu um corte brutal de impostos, com o desemprego em mínimos históricos. O lobo não veio. Estas previsões "falhadas", devem -se ao medo de repetição do cenário dos anos 70 nos EUA, com crescimento baixo e inflação alta (estagflação). Na Europa, é necessário conviver com o trauma alemão face à hiperinflação. Contudo, o mundo mudou nos últimos 50anos:o Fed é muito mais independente, e é relativamente consensual, que assim deve continuar; a própria estrutura da economia mudou, e, estamos a sair de uma década em que os preços praticamente não se mexeram. Nos anos 70, o choque veio do lado da oferta(o choque petrolífero), enquanto atualmente, é mais provável que choques negativos da procura predominem.  Talvez seja altura de considerar, se um cenário de subida descontrolada dos preços, continua a ser um risco real para economias desenvolvidas. Será que resolvemos a equação da inflação? É uma possibilidade. o que temos visto, nos últimos 30anos é que fomos capazes de gerir as expetativas, graças à credibilidade dos Bancos Centrais. Acredito numa meta de inflação de 2%, porque o Banco Central assim o afirma. A política monetária,  apoiada nos grandes avanços da teoria macroeconómica, das últimas tês décadas, e, num apoio institucional forte, nas economias avançadas, em torno dos bancos centrais independentes, tem feito um trabalho extraordinário em manter uma inflação  estável. Os receios são de uma Fed mais permissiva, com alguma inflação momentânea, o desejo de usar os Bancos Centrais para atingir outros objetivos, além da estabilidade de preços, combate às alterações climáticas, desigualdade e dívida pública muito elevada. Assim , é provável que o "problema" reapareça. Na verdade uma grande fatia da população, nunca sentiu na carteira o peso da inflação. Há anos atrás, havia o medo da inflação, mas a geração mais jovem, terá um condicionamento diferente. O medo da deflação irá mudar a forma como olham para os preços. "2021". As pressões inflacionistas surgem dos estrangulamentos das cadeias logísticas, depois do fecho da economia. A inflação é desvalorização de moeda, e, não subida dos preços. Existem "subidas de preços estruturais", ditadas pela recuperação da crise aberta pela pandemia. Subidas que surgem numa época em que já levamos bastante tempo de baixa inflação e até de deflação. O ajustamento dos preços é o reflexo da grande aceleração da transformação económica e social que está em curso. E "antes do medo" da inflação, é necessário fazer essa transformação, " o mais rápido possível", com maior fulgor, na criação de riqueza, aumento de produtividade e sustentabilidade social. Ou seja, criar "mais valor" e distribuir "melhor". A necessidade imposta pelos défices públicos e privados, gerados a ajudar as famílias e as empresas, com medidas sem precedentes, e, uma inflação ligeira, até é positiva. Não é o tempo de ter medo, mas de moderar as crises económica e social. Algumas matérias-primas revelam "subidas de preços ".Paládio, cobre  algodão orgânico e madeira serrada estão mais caras. Subidas que surgem também nalguns bens que estiveram afastados do consumo, como as viagens aéreas. Estes aumentos são justificados com " a recomposição da economia pós -crise. Situação que irá durar até 2022, e depois moderação. Numa Europa de enormes desigualdades é preciso concentrar a atenção no futuro, "baseando o crescimento numa "economia intangível de soluções, e, não de quantidades". Importante, é criar riqueza, para melhorar a vida das pessoas, com o crescimento baseado na eficiência e na sustentabilidade. Se assim for, a médio prazo, teremos resultados, Até lá, turbulência nos preços e oscilação cambial. Não podemos recuperar com aumento de preços. Não basta fazer chegar o dinheiro às empresas e às famílias, é preciso não responder à crise, com a queda dos preços, como aconteceu no início da pandemia. Tal irá trazer  "a aceleração da inflação " e a "perda de confiança das moedas". Ou seja: não se deve exagerar no suporte financeiro à crise. A solução é apostar mais na produtividade, na  inovação, no trabalho, e, não em truques de magia.

  O grande tema do fórum anual do BCE, em Sintra, foi a inflação.. A inflação em Agosto atingiu os 3% na zona euro, e as previsões são que suba mais nos próximos meses.. O receio de Lagarde é que depois de 12 meses de inflação elevada, ela não volte para perto de 2%. Ou seja, que esta subida não seja temporária mas persistente. Lagarde está convicta de que será temporária. Os preços dos bens estão a subir mais rapidamente do que os dos serviços, devido aos problemas das cadeias de abastecimento, que se espera sejam temporários. Além disso os fatores que contribuíram ara a inflação estar perto dos 1%, durante tantos anos, não desapareceram. Lagarde, acrescenta que a digitalização da economia, a transição energética, e uma tendência mais aforradora do último ano, podem contribuir para puxar a inflação para baixo. No entanto, há uma probabilidade, pequena, mas não negligenciável, de a inflação continuar elevada, durante alguns anos, falhando assim o alvo do BCE.. A inflação na zona euro, irá ser determinada por aquilo que o BCE faça. A inflação é sobretudo um fenómeno monetário. É o BCE que controla as taxas de juro, o tamanho do seu balanço, e , a sua independência face à política orçamental, e estes são os grandes determinantes da inflação. Com mais ou menos digitalização, discrepância entre bens e serviços, ou transição energética, se o BCE reagir a estas mudanças com alterações severas nas taxas de juro, ele irá manter a inflação sob controlo. Mesmo que seja preciso "um whatever it takes" à la Draghi, a inflação na zona euro depende sobretudo daquilo que fará o BCE. A inflação veio para ficar. O colapso da atividade provocado pela pandemia, conjugado com a ação decisiva da política económica, na proteção do rendimento das famílias e dos cashflows das empresas, abriu uma enorme lacuna, entre a procura e a oferta agregada. Este desequilíbrio resultou em pressões inflacionistas, que, por serem conjunturais, se esperavam temporárias. Essa foi a leitura dos Bancos Centrais, mas não é isso que está a acontecer. Na verdade, a dinâmica em curso, representa um processo rigoroso de inflação persistente.  Como em tantos outros episódios de inflação, a subida dos preços teve origem nas matérias primas (energéticas ,industriais, alimentares), rapidamente passando para os fretes marítimos, numa escalada de preços a montante da atividade produtora global. Da conjugação destes efeitos, resultou a subida dos preços do produtor, aos preços no consumidor, bem como às expetativas de inflação ás das empresas, das famílias e dos investidores, criando uma complexa teia de mecanismos de retroalimentação. Para além disto, o protagonismo da política orçamental durante a pandemia- em contraste com a recessão anterior- contribui para estender a inflação no tempo, por implicar a infusão consistente da despesa pública na economia, sobretudo em situações de abrandamento da atividade, nas quais as tensões inflacionistas tenderão a desaparecer. A subida sustentada dos preços, tende a ser um alívio para as economias mais endividadas- como as europeias-, por favorecer a condição financeira das empresas e dos Estados, uma vez que a inflação eleva as receitas das vendas, no caso das primeiras, e dos impostos no caso dos segundos, enquanto o valor facial das dívidas se mantém inalterado. Mas este efeito positivo, só se poderá materializar, se os custos de financiamento não se agravarem substancialmente, o que poderia acontecer, se em resposta à subida generalizada dos preços, os Bancos Centrais decidissem mudar radicalmente o modo flexível da política monetária atual. Contudo, esse não é o curso de ação provável, sobretudo no caso do Banco Central Europeu, já que os elevados níveis de endividamento, constituem um entrave material à persistência agressiva das condições monetárias. Daqui resulta, que o principal risco associado à inflação, consiste num desvio descontrolado das expetativas inflacionistas dos agentes económicos, que possam provocar uma espiral de inflação, à qual os Bancos Centrais teriam de responder, de forma viva, com consequências adversas para a estabilidade financeira, para a atividade económica e para o emprego. A inflação em Portugal está a subir, segundo a tendência europeia global e medida pelo Índice de Preços no Consumidor. Mas é uma das mais baixas no espaço da moeda única europeia. O que explica a inflação baixa em Portugal? Sobretudo, o atraso na recuperação, Portugal só deve atingir o PIB, pré pandemia, em meados do ano, enquanto a zona euro já superou. Em Portugal, os impactos fiscais de alívio da pandemia, não tiveram um efeito tão direto sobre os preços. Considerando apenas gastos públicos adicionais e receita cobrada, a base de dados do FMI, sobre a resposta à crise pandémica, coloca Portugal na 18ª posição entre os 27. Como consequência de um menor apoio direto à economia, a inflação tem sido mais moderada, do que nos restantes países da zona euro, já que podemos sofrer com uma correção monetária, com subida das taxas de juro, que será reflexo das dinâmicas inflacionistas, bastante mais fortes. E, devido o acentuado nível de endividamento publico e privado, um cenário em que as taxas de juro, estão acima da taxa de crescimento da economia da economia, poderá  desencadear uma crise económica e política de difícil resolução. A inflação deve manter-se pressionada em alta, durante o primeiro semestre de 2022.  Os produtos energéticos, foram os principais responsáveis pela subida dos preços nos últimos doze meses, e, o cenário é de alto risco, fruto das tendências geopolíticas associadas ao conflito  entre a Rússia e Ucrânia. Quais os custos da inflação? O aumento dos preços em Portugal implica que os salários dos trabalhadores não lhes permitem comprar tantos bens e serviços. O poder de compra cai e as pessoas têm uma vida mais difícil, sobretudo no contexto de uma crise pandémica, com consequências graves.. A  inflação em Portugal ,está no valor mais elevado em quase 28 anos. O risco de continuarmos a registar aumentos históricos da taxa de inflação são elevados, devido aos efeitos da guerra. A variação homóloga do IPC, atingiu 5,3%, o valor mais alto desde 1994. A questão é, em que medida revisões salariais, antecipação do consumo, e outros fenómenos típicos de economias com inflações mais elevadas, e que contribuem para que a própria inflação se mantenha num nível mais elevado, se vão impondo, falando de uma inflação temporária, que se está a tornar permanente. Se os salários evoluírem, abaixo da inflação , o poder de compra das famílias será penalizado. Mas revisões salariais mais fortes, poderão levar a uma subida das expetativas da inflação, que exijam uma correção das taxas de juro por parte do BCE. Como famílias e empresas saíram da crise pandémica, com maiores dívidas. isso poderá levar a uma acentuada desaceleração do crescimento económico. A escalada dos preços tem dominado muitas  décadas, atingindo 7,4% em março. Há um risco significativo de as medidas para conter a inflação, levarem a uma recessão. Tendo em conta a política monetária altamente expansionista de 2021, vamos ter ,com elevada probabilidade, inflação alta durante o ano de 2022. Quanto mais o banco central, demorar a responder a um aumento da inflação, mais esta se torna persistente e enraizada nas expetativas dos agentes económicos. Travar a inflação é muito difícil sem causar uma recessão. Com os confinamentos de novo a intensificar -se na China, e, a incerteza sobre a guerra na Ucrânia, as causas exógenas para a inflação na zona euro, podem durar e até poderão tornar-se resistentes. Nesse caso, os salários acabarão por subir bastante na zona euro. E, se os salários começarem a estar indexados aos preços, a inflação permanecerá na zona euro. A subida dos preços penaliza as famílias com rendimentos fixos, como salários e pensões, se estes não forem atualizados ao mesmo nível da inflação. Para as família com créditos, nomeadamente para comprar casa, a inflação também é uma má notícia, já que a resposta dos bancos centrais traduz -se numa subida das taxas de juro de mercado. Os países exportadores de produtos energéticos, cujo preço disparou, ganham com a inflação. Também os aforradores, como as famílias com poupança, ganham porque, com a subida das taxas de juro de mercado, essa poupança ficará melhor remunerada. Por outro lado, a subida da inflação significa mais receitas ficais para o Estado, porque a taxa de impostos como o IVA, aplica-se sobre os preços mais elevados.  E, para países muito endividados como Portugal, a subida dos juros, agrava a fatura com o serviço da dívida.



quarta-feira, 31 de março de 2021

O IMPACTO DA PANDEMIA NA ATIVIDADE ECONOMICA E SOCIAL

 Na maior parte das opiniões as previsões são bastante negativas. Primeiro, o efeito que a pandemia teve no emprego das mulheres: muitas mães com filhos pequenos, viram-se obrigadas a ficar em casa e- voluntária ou involuntariamente- ficaram desempregadas. Nos Estados Unidos, a disparidade do efeito da crise, nos homens e nas mulheres, é tal que alguns se referem à presente recessão como se tratasse de uma "she-cession". Há no entanto, um aspeto positivo: um dos principais fatores que têm levado à discriminação das mulheres no mercado de trabalho- nomeadamente em progressões da" carreira"- é que estas profissões, exigem um grau de disponibilidade que muitas mulheres não têm, ou não querem ter(por exemplo ficar no emprego longas horas ou viajar frequentemente) Para estas mulheres que querem seguir uma carreira minimamente compatível com tratar da família, o futuro é mais risonho do que o passado: um dos efeitos do teletrabalho, será a maior flexibilidade na gestão das carreiras. E, as mulheres, nomeadamente mães, serão provavelmente o grupo mais beneficiado, por esta evolução. O segundo caso é a globalização. Para aqueles que defendem, no seu conjunto, a globalização é uma coisa boa, a pandemia foi um golpe forte. Por exemplo, as Nações Unidas, estimam que o volume de turismo, baixou entre 60 e 80 por cento, o que corresponde a uma perda económica de mais de um milhão de dólares. No entanto, tal como o teletrabalho, a grande experiência da pandemia, terá efeitos que continuarão muito para lá. Um desses efeitos é acelerar a convergência para a "economia não espacial". A economia é cada vez mais uma economia de serviços, e muitos desses serviços, são facilmente transacionados à distância. Muitas empresas em muitos setores estão a descobrir que uma parte importante do movimento das pessoas é supérfluo. Nesse sentido, as medidas "tradicionais" de globalização- como seja o transporte aéreo- não mostram a fotografia completa do que está a acontecer à globalização. O terceiro caso- da faca de dois gumes-  é o efeito da pandemia nos mais pobres. O século XXI tem sido mau para os menos favorecidos. Concretamente, a revolução digital em curso, cria um fosso cada vez maior entre os que têm as aptidões necessária para vencer, e os que não as têm. A pandemia. é uma machadada adicional em muitas dessas pessoas: pessoas que trabalham em fábricas e em escritórios, e especialmente, pessoas que trabalham nos setores a restauração, hotelaria e relacionados. É provável, que, muitos desses empregos, sejam restabelecidos no futuro, mais ou menos próximo, mas entretanto, temos mais de milhares e milhões de pessoas que sofrem a sério. No entanto, há uma vontade política, de criar programas ambiciosos de apoio às famílias e às pequenas e médias empresas. Isso varia de país para país, mas os casos da União Europeia e especialmente dos Estados Unidos, são notórios, tanto no que respeita à dimensão do programa, como ao  enfoque no auxílio dos mais favorecidos, como também o relativo consenso sobre a importância dessas medidas. Esperamos que, no futuro, olhemos para trás e, vejamos 2021, como o ano em que começamos a combater o problema da desigualdade e exclusão social de forma séria. Coloca-se a este propósito uma questão: saber se o principal risco político para as democracias é o nível muito elevado de pobreza, ou um padrão de distribuição de recursos muito desigual. A necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode esperar; e, não apenas por uma exigência pragmática de obter resultados e ordenar a sociedade, mas também, para a curar duma mazela que a torna frágil, e que só poderá levá-la a novas crises.. A desigualdade é a raiz dos "grandes males", e enquanto não forem solucionados os problemas dos pobres, renunciando à especulação financeira, e combater as causas sociais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo. Nas últimas décadas, mesmo em sociedades ricas, as desigualdades na distribuição de rendimentos, aumentaram. Esta transformação, tem consequências económicas sociais e políticas profundas. A desigualdade tem um preço: níveis excessivos de iniquidade na distribuição de recursos, representam um risco sistémico e são responsáveis por diversas formas de instabilidade política. Uma sociedade dividida, funciona pior, também porque, a desigualdade material traduz-se necessariamente numa desigualdade política. Por isso, nas nossas sociedades, os riscos associados às desigualdades materiais, foram regulados politicamente através de mecanismos de socialização, de que a criação da proteção social, assente no seguro público, é exemplo paradigmático. A importância relativa dos mecanismos de redistribuição material, como forma de contrariar as desigualdades criadas no mercado, corresponde a um reconhecimento de que a desigualdade dos resultados e de rendimentos, é ,uma importante medida, artificial, logo a focalização excessiva na igualdade de oportunidades, incentivada pela educação pública é desadequado. Responder à desigualdade de resultados, é a forma mais eficiente de responder às desigualdades de oportunidades, porque garantir trabalho e /ou rendimentos suficientes aos adultos, ajuda a quebrar a reprodução geracional da pobreza. Encontramo-nos em tempos difíceis. É necessário dar resposta a alguns problemas económicos para irmos resolvendo o problema da crise em que vivemos.


quinta-feira, 4 de março de 2021

A" BAZUCA" EUROPEIA

 O agudizar da crise pandémica  confirma a ideia de que 2021 é um ano marcado pela continuidade e agravamento da crise iniciada no ano anterior. Isto é, um problema de saúde pública que além da destruição humana que provoca, atira a economia para uma profunda crise, com consequências ainda não totalmente previsíveis. A pandemia parou subitamente um ciclo de mais de uma década de crescimento económico contínuo, naquele em que já era considerado como o mais longo "bull market". Tudo parou bruscamente com o início da pandemia. Apesar das boas perspetivas com as vacinas e a maior resistência no sistema de saúde e das empresas, os resultados catastróficos do início do ano, colocam Portugal em duplo desafio: travar o aumento do epicentro da crise da saúde pública com a trágica perda de vidas e antecipar as ações para contrariar o aprofundar das consequências na economia. A perda em Portugal é enorme. Só em 2020 a nossa economia teve uma recessão a rondar os 7,6% do PIB, com impactos sérios e altamente destruidores em setores importantes, o que levou à perda de milhares de postos de trabalho e à falência de muitas empresas. O investimento empresarial caiu mais de 16% no ano passado, de acordo com o Inquérito ao Investimento do INE. Para 2021, as perspetivas são uma recuperação modesta; pretende-se, apenas um crescimento de 3,5%. Devido ao confinamento da Europa, o FMI reviu também em baixa as previsões de crescimento económico na Zona Euro para 4,2%. Nas crises, é comum pensarmos que temos muitas formas de as gerir ou manter soluções. Mas não, as crises caracterizam-se exatamente por encolher as opções e estreitar os caminhos a percorrer. A crise a que estamos a assistir é nova em muitos aspetos, nomeadamente, na dimensão que está adquirir e na forma transversal com que está a afetar na generalidade das empresas. Com estes dados é agora preciso atuar e saber que escolhas a fazer. A aposta na qualificação de pessoas, na automação ou na transformação digital, poderão ser chaves de um passado não muito distante. Contudo, os dados de que dispomos conduzem a um caminho convergente, e que o digital, não e sinónimo de inovação, mas sobrevivência e esperança  no futuro, salvando postos de trabalho e aumentando a produtividade. Esta crise, teve um efeito geral de aceleração de tendências, que já se dava em diversos planos: na digitalização, na forma de trabalhar, ou na relação com os clientes. No entanto, existe o risco de poder ser um enorme "aquaplaning"  que conduza ao desvio de muitos no caminho certo. Quando uma empresa se transforma na área digital, já não está apenas a potenciar aquilo que fazia, mas sim, a abrir novos mercados e a expandir-se em termos de base de clientes. É por isso, que os processos de transformação e inovação digitais, passaram subitamente de "um nice to have" para uma condição mínima de existência, sendo um pilar fundamental na recuperação esperada. Este foco na transformação digital, ajuda a reunir outro pilar, que considero fundamental para a nossa recuperação económica: a aposta em alguns setores industriais e na produção nacional. Não nos podemos esquecer que uma da razões para o progressivo abandono de alguns setores industriais, foi a falta de competitividade que as nossas empresas tinham, quando comparadas com concorrentes internacionais. Só através do aumento de eficiência e produtividade, podemos pretender desenvolver novamente algumas indústrias, pois o mercado e os clientes, não estão disponíveis para suportar os custos de operações antiquadas, ou insuficientes. O mercado continuará a ser global! O caminho é mais estreito do que podemos pensar. Muitas empresas e organizações já perderam esta batalha, e, ainda estamos apenas no início. Segundo o estudo Resilliense Report de Deloitte. de 2021, que mede o grau de resistência das organizações globais, e que contou com a participação de mais 250 chief experience officeres em 21 países, 60% dos líderes do C- level, acreditam que a quebra veio para ficar e irá continuar a marcar o futuro numa base regular e pontual .E a chave numa crise ,como esta, é atuar o mais possível com eficácia. .É de avançar em áreas-chave: investir na força de trabalho com requalificação; diversificar e expandir operações; consolidar negócios e ganhar dimensão; desenvolver capacidades tecnológicas com novos modelos de negócio; desenvolver o trabalho remoto, entre outros. Neste percurso, existirão caminhos aparentemente viáveis, mas que acabarão em becos e valas que poderão ser intransponíveis para muitas empresas, organizações e até setores inteiros. Para que a crise iniciada não se transforme ainda numa crise ainda mais profunda, há que reduzir opções e intensificar o caminho a percorrer com esperança e determinação. A solidariedade entre os países da União Europeia, é fundamental na resposta a esta crise, nas suas vertentes económica e social.. É relevante o projeto europeu, como projeto de paz e de união neste período difícil em que vivemos. O apoio pela via do PPR  é substancial e tem que ser já. Não nos podemos esquecer que este Plano é uma parte do bolo financeiro com que Portugal pode contar para atenuar os impactos da crise pandémica. Os objetivos do Plano de Recuperação e Resiliência devem:  dinamizar as empresas privadas reforçando os seus capitais e tornando-as mais competitivas nos mercados globais; apoiar os investimentos na requalificação dos trabalhadores portugueses, na transição digital, e, no reforço das condições de sustentabilidade ambiental das empresas(nomeadamente no contexto da transição energética). Um dos maiores problemas  assenta no nível de liquidez, pelo que estes apoios devem atuar sobre esta vertente emergente, para além de preparar as empresas para a fase de recuperação, o que passa por uma aposta na valorização da indústria, na requalificação dos recursos humanos; na digitalização dos negócios, na eficiência do uso de recursos, entre outras matérias, e, ligados à produtividade e e competitividade.. A proposta que se encontra no PRR, em consulta pública, representa uma desilusão para o turismo. A referência ao turismo sendo escassa, surge apenas associada a temas genéricos, e não como seria urgente, a projetos estruturais para o desenvolvimento da atividade. Este documento não reflete a importância que o turismo  tem para o PIB  português, no contributo para a criação de emprego e riqueza para o país. É necessário existir um programa específico para o turismo. Por outro lado, as empresas não têm liquidez e estão muito endividadas. Precisam de liquidez imediata, que deve ser canalizada preferencialmente através da modalidade de financiamento a fundo perdido. Dos 2,7 mil milhões de euros, há uma parte (1,25mil milhões de euros), que deve ter uma papel importante no apoio ao financiamento, desejavelmente, deve prever a conversão total em subsídios a fundo perdido, sem imposição e rigidez de requisitos, que as empresas dificilmente podem assegurar. Vamos ter recursos disponíveis, como nunca vimos em anteriores quadros comunitários. Mas o período que estamos a passar é também inédito. Por isso ,neste momento, a economia precisa, sobretudo, de apoios a fundo perdido, sob pena de assistirmos a um aumento de insolvências e de destruição da capacidade produtiva , o que limita a capacidade de recuperação, quando a economia estiver controlada. Mas, simultaneamente, deve existir grande preocupação pela qualidade da aplicação desses fundos. De pouco servirão se não forem utilizados de forma eficaz e rápida. É necessário saber gerir esses fundos. O Fórum para a Competitividade, considera que o Plano de Recuperação e Resiliência, deve estar concentrado numa forte aceleração do crescimento, única forma de manter contas públicas saudáveis que permitam satisfazer as ambições legítimas da população em termos de saúde, educação, segurança social, ascensão sócio-profissional, e o futuro da economia e do país. Deve por isso ser centralizado na reindustrialização; no incentivo ao aumento da dimensão da empresas ; na promoção da competitividade; da exportações ; na atração de IDE; na melhoria da formação e da qualificação dos recursos humanos; bem como , no aumento da flexibilidade do seu contributo; no estímulo da poupança; e da sua utilização eficiente; numa fiscalidade amiga dos investidores nacionais e estrangeiros; no investimento em infraestruturas da digitalização, que permitam ao país participar na economia do futuro; na reforma de toda a administração pública. Os objetivos a atingir no processo de reindustrialização  são:

- Distribuição mais equilibrada do PIB entre os setores primário, secundário e terciário;

- Aumento do valor acrescentado dos produtos e serviços transacionáveis;

- Melhoria do posicionamento competitivo dos produtos e serviços transacionáveis no âmbito da globalização;

- Incremento do rácio Exportações/PIB, alcançando o objetivo de 60%;

- Criação de emprego com maior sofisticação intelectual e tecnológica, mais bem remunerado;

- Intervenção em toda a cadeia de valor, melhorando a resistência da economia portuguesa às crises internacionais;

- Criação de grupos económicos mais robustos e com maior integração internacional.

O dinheiro da "bazuca" ainda não chegou e a polémica já está instalada sob a forma de o gastar. Em primeiro lugar, há que referir o impacto do dinheiro de Bruxelas, cerca de 14mil milhões até 2026, não chega para compensar a riqueza que o país deixou de criar em 2020, que foram 15 mil milões de euros a menos, relativamente a 2019. Em segundo lugar; as opções sobre a sua aplicação, já se encontram realizadas; apoios sociais, investimento na Administração Pública em diversos domínios, e investimento em algumas infraestruturas, altamente consumidoras de capital, a pretexto da transação digital  e do "green deal", que se resume em colocar mais dinheiro em empresas renováveis, mas que nos vão ficar dispendiosas, no final. Em terceiro lugar, os investimentos irão ser concedidos ao setor privado, pelo que o dinheiro de Bruxelas  se estenderá pela economia, e, pela sociedade, mas entregue a quem possui competências e capacidades para o aplicar mas de forma competitiva. Entretanto, o melhor indicador que a economia está a desligar-se é o desemprego que está a subir em flecha, ameaçando o país com a maior crise social de sempre. O PRR foi acordado no verão de 2020, quando se receava que o impacto da crise económica nas finanças públicas, levasse a uma nova crise da dívida soberana. Na Europa, a prioridade da política económica, não é bem o crescimento, nem o dever de combater recessões. O objetivo não é estimular a economia, mas sim aliviar o Estado. Tudo nas políticas económicas europeias se submete à enorme prioridade: lutar contra o peso da dívida pública.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

O MUNDO GLOBALIZADO

 Hoje em dia, ouvir as notícias pode levar-nos a pensar se algum de nós, terá realmente meios para envelhecer em sossego, ou se alguma vez haverá empregos suficientes para todos.  Os "Homens de Davos" podem dar-nos a todos um pouco de poder. Podemos exercê-lo através de pequenas decisões que todos tomamos no dia a dia., estejamos onde estivermos no mundo.. Dennis passou mais de uma década a travar uma dupla batalha  contra o nebuloso mundo da finança. Em 1998, Dennis conseguiu um novo emprego o escritório do Northern Rock, um banco britânico. O Northern Rock tornou-se sinónimo de crise financeira de 2008. A quem se deve atribui culpas por tamanha catástrofe? A culpa pela crise que destruiu poupanças de muita gente pode estar noutros locais. Podemos olhar para os banqueiros, que esqueceram as regras e se basearam em fundos de solidez duvidosa para aumentar os seus lucros. Ou podemos olhar, para os emprestadores americanos que aprovaram créditos a consumidores que não tinham condições para os pagar.. Para compreendermos o que sucedeu a Dennis e a outros, cuja prosperidade sofram um grande agravamento em 2008, temos de ver como funciona a economia global. O mundo está a ficar simultaneamente mais pequeno e mais complexo. Sete mil milhões de humanos, vivem e trabalham nesta Terra, e todos procuram os mesmos bens, que existem num número limitado, sejam eles comida, petróleo ou telemóveis. É um sistema cada vez mais interligado, no qual um banqueiro de Washington ou Berlim, pode fazer com que os pensionistas na Grécia passem fome, ou com que os jovens deixem as suas famílias para atravessar a Africa subsariana, à procura de vida melhor. Esta concentração do mundo ou globalização, surge muitas vezes como uma enorme força unipessoal, que não podemos escapar. Podemos pensar na globalização, como sendo o conjunto de todas as transações , interações, compras, e acordos que designamos  por comércio. Ao longo do tempo, o fluxo de rendimentos gerado por estas relações de comércio é acumulado sob a forma de riqueza. A economia e as forças nela contidas, são representadas pelas ações de indivíduos- seja em Davos , ou num mercado de rua em Calcutá- de formas que não são necessariamente as que eles pretendiam. Contudo,  uma coisa é certa: todos estamos submetidos a essas forças, e, sejamos ou não capazes de as controlar, é importante sabermos, como funcionam, e de que forma afetam as nossas vidas. Em Londres e Nova Iorque, em Paris e Milão, e até mesmo em Pequim, a semana da moda, representa um grande negocio, mas já não podemos falar de orçamentos de alta costura, para adquirirmos os mais atraentes modelos de roupa. Em poucas semanas, os mesmos desenhos vão surgir nas prateleiras de lojas locais, como da Primark, ou da Zara. Muitas roupas são feitas no Extremo Oriente. Quando compramos roupas em retalhistas como estes, não nos limitamos a abrandar a nossa necessidade de andar na moda. A transação faz de nós, parte de uma história global muito maior. Ao procurarmos preços baixos, e as últimas tendências, estamos a transferir rendimentos para o outro lado do mundo, para benefícios dos outros. Não há dúvida que os fabricantes de roupas se estão a aproveitar do trabalho barato na Ásia.  Mas ao adquirirmos esses bens ,podemos ter contribuído para as forças, que deram origem a uma crise financeira no nosso país, prejudicando as nossas vidas. Como o constante fluxo internacional de pessoas, dinheiro ou ideias, pode ser difícil conseguir fazer sentido de como as coisas se ajustam. Imaginemos os milhares de transações que ocorrem a cada dia- uma dona de casa nos EUA ou na Nigéria a comprar mercearias, uma executiva francesa a depositar os seus ganhos num banco, um pai indiano a pagar o casamento da filha, ou um australiano a comprar cerveja num churrasco. Quando vamos às compras, se não estivermos nos EUA, o mais provável é que não estejamos a pagar em dólares. O dólar é o rosto do poderio dos EUA. O dólar é mais do que um símbolo de poder e influência: é também um dos mais confiáveis tesouros de valor em todo o mundo. Trabalhadores humanitários podem chegar à conclusão de que acionar com dólares, é a forma mais rápida de conseguir equipamento, para enfrentar uma crise humanitária em áreas de grande instabilidade. O dólar é o rosto da estabilidade financeira global; a fundação da nossa sobrevivência. É a linguagem financeira em que se baseiam as nossas vidas, sejam quais forem as notas e moedas que usamos todos os dias. Podemos ver o dólar como agente da globalização. A força do dólar baseia-se na confiança. Sem essa confiança, a sociedade entraria em colapso. Outras moedas, para além do dólar: euros, rúpias e libras; por exemplo vão entrar na história. Ao seguirmos o nosso dinheiro, à medida que que ele muda de mãos, seja física ou eletronicamente, podemos lançar alguma luz, sobre a sequência de transações que marcam todos os aspetos do nosso mundo., quem detém o poder e de que forma isso nos afeta a todos. Como consegue a China produzir bens de baixo custo, e quem beneficia desse facto? Onde é que a China acumula o seu dinheiro? Por vezes nos mais prováveis dos sítios, incluindo na Nigéria. Na Nigéria poderemos assistir à forma como a riqueza do mundo pode passar por alguns países, sem beneficiar a maior parte dos seus habitantes. A Índia é de entre todas as grandes economias, a que apresenta mais rápido crescimento. O petróleo é crucial para a nossa sobrevivência e para a supremacia do dólar. Da Rússia, dirigimo-nos a Berlim no coração da União Europeia. O que faz uma união monetária funcionar? Porque é que o euro não se sobrepõe ao dólar? Terá o Reino Unido razão para voltar as costas à União Europeia? Porque é que estamos na maior crise de sempre?. O dólar cumpriu uma viagem que revela como funciona realmente a economia global. Adam Smith investigou o fabrico de um alfinete, num processo que envolvia dezoito fazes diferentes. Defendeu a ideia de     que, se um único trabalhador tivesse de ciar um alfinete do princípio ao fim, não conseguiria produzir muitos exemplares. Contudo, atribui cada fase a um trabalhador especializado diferente, tornava o processo mais eficiente. Podiam ser fabricados muitos mais, e portanto ganhar mais. Se fossem feitos muitos mais, do que os necessários para abastecer o mercado local, o excesso podia ser tocado por outros bens. Assim nasceu a teoria da especialização. Como é que isto explica aquilo que um determinado país escolha para se especializar, e até que ponto se envolve em trocas comerciais. O trabalho de Smith e de um dos seus seguidores David Ricardo, examinou em detalhe estas questões. Tudo se resume a isto: um país que realiza trocas de forma a obter produtos que pode conseguir noutro país, de forma mais barata, tem melhores resultados, do que se tiver produzido esses bens por si mesmo. Deve produzir os bens, em relação aos quais detém "uma vantagem absoluta". Se consegue produzir de tudo de forma mais eficiente, pode ainda assim beneficiar -se, se se concentrar nos bens em que é relativamente melhor, ou seja, em que detém uma vantagem comparativa, Tudo depende do custo de produzir uma coisa, num dado local. O que é que influencia esse custo? Existem inúmeros fatores em jogo; a disponibilidade de recursos naturais, o clima, o território, a força laboral, os salários, as rendas, os regulamentos, as competências, a maquinaria e os transporte. A especialização e o comércio livre, querem dizer mais bens e menores custos. Estes baixos custos, traduzem-se m preços de venda mais baratos. Preços mais baixos, traduzem-se num custo de vida inferior. Uma vez que a inflação é igual ao ritmo de subida do custo de vida, também ela é menor. Manter a inflação sob controlo, e assegurar a estabilidade económica e financeira, é a tarefa principal  dos bancos centrais, que são responsáveis pela gestão do capital disponível, pelas taxas de juro e, portanto pela economia global dos seus respetivos países. Em teoria, a globalização e comércio livre, são do interesse dos consumidores e dos países, no seu conjunto. O que é bom para o mundo no seu todo, não é necessariamente bom para a economia local. Para termos um exemplo claro das barreiras do comércio, vejamos o que se passou com a Grande Depressão americana. Nos últimos anos 20 do século passado, a economia tinha tido um crescimento espetacular: os gastos, a produção e o investimento, no mercado bolsista, cresceram demasiado e muito depressa. No crash bolsista de 1929, as ações de Wall Street, perderam 1/3 do seu valor numa semana, afastando a confiança do consumidor, a riqueza e o consumo. As empresas despediram milhares de trabalhadores. O que devia ter sido uma curta recessão, uma alteração das fortunas da economia, foi acentuado, quando as autoridades não responderam imediatamente com a injeção de dinheiro, para segurar o sistema financeiro. O legado da crise financeira inclui mais regulação, e mais desigualdade. Os ganhos do QE, não beneficiaram o conjunto da população. Foi a dependência de dinheiro fácil e barato, que criou o caos. A bolha de crédito rebentou, mas os governos não puderam permitir que ela voltasse a aumentar. Uma década depois da crise, as cicatrizes são bem evidentes. O nível de vida das famílias atingiu novos recordes. Por toda a América, surgiram inúmeras formas de crédito sem garantias . As baixas taxas de juro, usadas para remediar a ressaca da crise levaram a mais do mesmo. No início de 2018, as taxas de juro permaneciam abaixo dos 2 por cento, muito abaixo dos níveis de antes da crise. Mas estão a subir.. As alterações nos gastos dos consumidores americanos ecoam por todo o mundo, e têm impactos nos lucros e rendimentos através da presença de dólares no comercio global. Para lá de uma grande crise temos de continuar a produzir se queremos melhorar as nossas vidas e manter a economia em boas condições, para consegui concretizar a magia da produtividade e alcançar um melhor nível de vida no futuro.  A dependência que os consumidores têm do crédito, não é novidade para os bancos centrais. É por isso que se apoiam na política monetária. Mas esse comportamentos dos consumidores tem de ser compreendido em todos os detalhes de forma a saber que alterações são necessárias para se manter a economia no estado que se deseja. Os economistas também reconhecem que os hábitos dos consumidores americanos representam um sexto do PIB mundial, é mais um tsunami. circular. É uma onda feita de dólares, que avança em torno do globo, passando do consumidor ao produtor, e volta ao início.. Hoje em dia, muitos consumidores do Ocidente pedem crédito para gastar, e muitas vezes aquilo em que usam o dinheiro são importações baratas. O crédito barato, é financiado, em parte, pelo dinheiro que a China e outros emprestam aos EUA.. Toda a gente empresta na crença de que as coisas vão sempre continuar a melhorar, que os lucros vão sempre crescer, que a produtividade vai continuar a funcionar. Por agora, a história, o comércio, a politica e um sistema financeiro fortemente enraizado garantem que é o dólar que domina, estejamos onde estivermos no mundo.