tag:blogger.com,1999:blog-70256044604353689522024-03-13T22:24:44.303-07:00ECONOMIA A BRINCARManuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.comBlogger104125tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-65363474153158057132024-02-12T07:45:00.000-08:002024-02-27T08:50:34.117-08:00 O CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO DA ECONOMIA MUNDIAL<p style="text-align: justify;"> Entre 2020 e 2023, o crescimento médio anual real do PIB mundial, situou-se em apenas 2,4% em nítida desaceleração face à média anual de 3,7%, registada na década precedente. O volume do comércio mundial sofreu uma desaceleração ainda mais intensa, baixando de 4,6% para 2,6%, no mesmo período, evidenciando um período em que as economias estavam mais focadas nos respetivos mercados nacionais. Dados os desenvolvimentos internacionais, perspetivava-se um período prolongado de tensões, disputas e conflitos, realinhamentos e ajustamentos, com reflexos significativos nos fluxos e destinos do investimento e do comércio internacionais, com emergência de blocos económicos antagonistas e de tendências isolacionistas. As economias mais desenvolvidas, com destaque para os Estados Unidos e para a Zona Euro ,têm sido particularmente afetadas pela crise tendo o PIB da Zona Euro estagnado entre meados de 2022 e meados de 2023. Em contrapartida, outras economias em destaque para a Cina e Índia, têm prosseguido evoluções muito mais favoráveis, ainda que com alguns sinais de desaceleração da economia chinesa. Para além dos abalos na confiança e nas trocas mundiais, a atual conjuntura tem sido caracterizada por subidas muito significativas dos preços e das taxas de juro. Os preços de algumas matérias-primas, com destaque para os produtos energéticos, fertilizantes e alimentares, subiram muito intensamente, pressionando os preços na produção e junto do consumidor. Apesar dos preços das matérias-primas terem baixado nos meses mais recentes, os níveis gerais dos preços permanecem muito elevados. Como consequência, os preços no consumidor dispararam, mantendo ainda variações elevadas à entrada do segundo semestre de 2023. Na União Europeia, a variação homóloga dos preços no consumidor, subiu até 11,5% em Outubro de 2022 e manteve-se ainda 6,1% em Julho de 2023. No caso da Zona Euro, esta medida do índice de preços no consumidor estabilizou em torno dos 5,3% nos meses de Julho e Agosto últimos. As preocupações com o controlo dos preços têm constituído o fundamento para as subidas significativas das taxas de juro. por parte de alguns bancos centrais, caso do BCE, introduzindo um travão adicional no desenvolvimento das trocas, do investimento e da produção. Dadas as incertezas internacionais existentes em matéria de inflação é provável que as taxas de juro permaneçam elevadas. O crescimento mundial deverá adicionalmente ser penalizado pelas consequências das catástrofes de origem climática e pelas contínuas vagas migratórias oriundas dos países de África, Ásia e da América do Centro e do Sul, atingidos pela pobreza, conflitos e insegurança. O intenso crescimento demográfico previsto para estas zonas, associado aos seus elevados níveis de pobreza, constituem uma garantia segura de que assim continuará a ser. No mundo de hoje, as regiões de maiores níveis de pobreza, estão associadas àquelas para que se prevê maior crescimento populacional até 2050. A China apoiada pela Rússia e por algumas das maiores economias emergentes, continua a desenvolver diligências para criar uma ordem política e económica internacional, alternativa à que tem sido liderada pelos EUA , uma nova ordem que subestima os direitos humanos e democracia. O núcleo recentemente alargado dos BRICS ,para 110nze países, representava no final de 2022, cerca de 36,4% da economia mundial, quando avaliada em paridade de poder de compra, que compara com uma parte de 30,4% do grupo de países que integram o G7,as grandes economias mais desenvolvidas segundo cálculos do FMI. Trata-se de uma mudança radical relativamente à situação que se registava em 2000, quando o G7 detinha 43,62 do PIB mundial e do PIB do conjunto das 11 economias dos BRICS alargados se ficava por 23,6%. Existe entre os BRICS e muitas outras economias emergentes a ideia fundamentada de que a ordem que tem prevalecido, já não reflete a real relação de forças a nível internacional e a China, com autoridade dos seus 18,5% do PIB mundial, procura emergir como líder natural deste movimento. Para afirmar a sua liderança, a China criou um banco de desenvolvimento para o apoio ao investimento internacional e no seio dos BRICS debate-se a criação de um sistema de pagamentos internacionais, baseado em divisas alternativas ao dólar. A eventual criação destes instrumentos, ajudará a China a estruturar e ampliar a sua presença e influência pelo mundo, na senda da rota da seda a dos apoios ao investimento que tem concedido, sobretudo em África. No entanto, muitos países emergentes, incluindo os BRICS, têm interesses divergentes, não só devido ás relações e dependências de cada um com o chamado "Ocidente" mas inclusivamente conflituais entre si, como entre a China e a Índia que é a segunda economia mais forte deste grupo, com 7,3% do PIB mundial em 2022 em paridade de poder de compra e que constitui atualmente a economia mais populosa e mais dinâmica do mundo. A recente divulgação pela China de um mapa regional com as suas reivindicações territoriais e marítimas, a somar às experiências de conflitos correntes com os seus vizinhos, deverá ter introduzido mais alguns grãos na engrenagem de ambições hegemónicas chinesas e na sua capacidade de atração de outros membros para a sua esfera de influência. Os Estados Unidos vêm desenvolvendo uma contra ofensiva dependendo e investindo nos seus mercados, protegendo as suas vantagens tecnológicas e seguindo uma atividade intensa, diplomática e militar, junto dos seus aliados históricos, mas também junto de países emergentes negociando acordos e pacotes de investimento, procurando conter os avanços chineses e alargar a sua capacidade de influência A degradação da conjuntura externa fez abrandar o ritmo de crescimento económico em Portugal, a partir do início de 2022. A forte procura turística dirigida a Portugal e os apoios públicos à economia atenuaram os impactos negativos durante este período. Mas desde o final do primeiro trimestre de 2023, que se assiste à estagnação do conjunto da economia portuguesa Embora o nível médio do PIB português se tenha situado em 2022, cerca de 5,7% acima do ano situado em 2022, cerca de 6,7% acima do ano anterior, esta melhoria tem de ser relativizada, tendo em conta o nível muito baixo da atividade económica que se tinha registado nos períodos precedente, Na verdade, o ritmo de crescimento económico foi abrandado ao longo de 2022, estagnando mais recentemente entre o primeiro e o segundo trimestre de 2023. A informação disponível revela a continuação da perda do dinamismo económico, pelo menos até final de agosto de 2023. A procura externa de bens e serviços, com destaque para a procura turística, contribuiu para a recuperação da economia portuguesa até ao início de 2022. Por sua vez, a procura interna apresentou uma tendência de estagnação a partir do início de 2022, continuando um retrocesso progressivo de investimento em FBCF e uma ligeira melhoria da despesa do Consumo Final. A aceleração da inflação interna deu os seus primeiros sinais na alta dos preços nas produções industriais sobretudo nos produtos energéticos e intermédios. Á subida dos preços industriais, juntaram-se os efeitos nos preços alimentares, das subidas dos preços agrícolas, e, dos fertilizantes importados. Como consequência a variação homóloga do índice de preços no consumidor, disparou de um valor próximo de zero, no final de 2020 para 10,11% em Outubro de 2022. Os preços no consumidor dos bens energéticos, e dos bens alimentares não transformados, foram os que mais contribuíram para esta aceleração da inflação, mas o índice global dos restantes preços foi igualmente contaminado, embora com menos intensidade. A inflação tem vindo a desacelerar internamente, tendo a percentagem de variação homóloga baixado para 3,7% no final de agosto de 2023. Este surto inflacionista nos preços dos bens e serviços junto do consumidor, ocorre num ambiente de forte subida no mercado nacional dos preços de venda das habitações resultante de uma oferta incapaz de corresponder às enormes carências da procura de habitações, quer no mercado de arrendamento onde a oferta é quase inexistente. A aceleração da inflação conduziu a uma subida significativa das taxas de juro, penalizando as famílias endividadas e retraindo o acesso ao crédito. Apesar da descida significativa do nível de endividamento das famílias, ao longo dos últimos anos, a coincidência de elevados preços de mercado, com a subida das taxas de juro, na ausência de qualquer intervenção significativa externa ao mercado, agravará a crise deste mercado. O crescente abrandamento da inflação, acompanhado por alguma recuperação do poder de compra salarial e pelos apoios públicos à economia, num ambiente de elevado nível de emprego e de baixo nível de desemprego, permitiu alguma recuperação da confiança das famílias. O consumo corrente nas famílias tem revelado alguma reanimação, mas o mesmo não tem sucedido com as vendas de bens duradouros, onde, tal como nas habitações usadas, se assiste a uma quebra. A mesma retração tem acontecido na procura interna dos serviços turísticos. O enfraquecimento da procura externa e a subida dos preços de importação de matérias-primas, provocaram uma degradação da balança externa de bens, desde o início de 2021, progressivamente compensada por uma tendência inversa da balança externa dos serviços, suportada pela forte procura de serviços turísticos, por parte de não residentes. A procura externa de bens e serviços, poderá manter-se equilibrada sendo expectável um impacto similar nas importações nacionais, dado o enfraquecimento da procura global. O nível mais elevado da atividade económica é a subida dos preços que tiveram um impacto muito positivo na receita pública de 2023. A receita global da Administração Pública e da Segurança Social, conheceu uma subida homóloga de 14,4%, durante os primeiros sete meses de 2023, tendo as receitas em impostos diretos crescido 14,3% e as contribuições para a Segurança Social 11,6%. Como a despesa deste conjunto de setores públicos, subiu apenas 5,7%, no período de 2023, deixando antever contas equilibradas no conjunto do ano de 2023, o reequilíbrio do saldo das contas públicas, tem permitido a redução do peso da Dívida Pública no PIB nominal. Deste modo, o peso da Dívida Pública, líquida de depósitos, no PIB nominal, baixou para 101,4%&, no final do segundo trimestre de 2023. A recuperação da economia, que se seguiu à crise pandémica, esteve muito associada a setores de mão-de-obra intensiva, produzindo efeitos muito positivos no mercado de trabalho. A evolução positiva do mercado de emprego, impulsionou a recuperação da despesa das famílias no período pós pandemia. Mas a partir do início de 2022, o poder de compra dos rendimentos foi afetado pela aceleração da inflação. Esta situação foi parcialmente corrigida durante o primeiro semestre de 2023, sobretudo nos setores privados, permitindo algum alívio da situação financeira das famílias, estimulando a sua despesa. As recentes atualizações das pensões têm produzido igualmente um impacto positivo na despesa das famílias. O conjunto de políticas seguidas em Portugal para ultrapassar as debilidades estruturais reveladas pela crise financeira de 2008 retraiu o investimento dos agentes económicos, dificultando a inovação e a tenção de mão de obra qualificada A inversão desta tendência constitui um desafio estrutural para a economia portuguesa. O desenvolvimento económico baseado em setores de baixo valor acrescentado e salários baixos, as crises atuais no mercado habitacional, na prestação de serviços públicos e na retenção de pessoal qualificado e a contínua saída para o exterior de jovens qualificados, evidenciou a natureza e a dimensão da fatura desse ajustamento. Devido à severidade dos ajustamentos impostos à economia, a taxa de investimento das empresas não financeiras em termos de peso do investimento em FBCF caiu em 27,8% em 2008 para 14,6& em 2o12. A recuperação registada desde então, conduziu a uma taxa de investimento destas empresas para 21,9% em 2019. A crise pandémica e a guerra travaram essa recuperação. No entanto, o ajustamento económico dos últimos anos, permitiu, como desejado, a redução significativa do rácio da dívida das empresas não financeiras, de tal modo, que nos fins do segundo trimestre de 2923, era já inferior ao do início da crise financeira de 2008. Esta redução dos níveis de endividamento cria condições mais favoráveis para a retoma do investimento das empresas. Portugal necessita de atrair investimento estrangeiro, com capacidade financeira e know-how para contribuir para a superação das debilidades estruturais do seu tecido económico.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-43818807668901137722024-01-13T09:20:00.000-08:002024-01-21T05:11:40.076-08:00A DURADOURA CRISE DA DÍVIDA DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO<p style="text-align: justify;"> A crise da dívida nos países de baixos rendimentos continua a aumentar, ao mesmo tempo que a comunidade política internacional parece estar a ignorar o problema. Será que um desastre da dívida dos países em desenvolvimento se tornou inevitável? A julgar pelos países que receberam uma avaliação de B3 ou menos da agência de notação financeira Moody`s, o número de economias endividadas já tinha aumentado bruscamente entre a crise financeira global de 2008- 2009 e o período anterior à pandemia de covid. Depois quando a pandemia surgiu, o número de países em dificuldades parou de aumentar, à medida que os líderes globais resolveram abordar o que era agora uma emergência humanitária, além de uma crise financeira. Os países do G20 apresentam uma Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) que aliviou temporariamente os Governos dos países em dificuldades da necessidade de pagamento da dívida. Mas assim que a Suspensão do Serviço da Divida(DSSI) terminou no final de 2021, o número de países em dificuldades começou a aumentar novamente, em parte porque taxas de juro globais mais elevadas tornavam mais difícil o serviço da dívida pública. O número de países em crise da dívida medido pela Moody,s ultrapassa anualmente os 40. No final de 2020 a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) foi completado pelo Enquadramento Comum do Tratamento da Dívida. O objetivo era facilitar acordos de reestruturação entre países com dívidas insustentáveis. No entanto, estes esforços de reestruturação têm-se arrastado literalmente durante anos, sem progressos evidentes. No mês passado, um acordo entre a Zâmbia e os seus credores foi aprovado como um avanço. Mas o alívio oferecido à Zâmbia era, claramente inadequado. E, assim que foi anunciado, o acordo proposto entrou em colapso. A China queixou-se de que o seu banco estatal credor estava a receber um tratamento menos favorável do que os obrigacionistas. O Enquadramento Comum, como dois dos seus críticos observaram, precisava de "um grande reajustamento no novo ano". Coincidentemente, 2024 marca o centenário do Plano Dawes, sob o qual as dívidas da Alemanha aos seus adversários da I Guerra Mundial foram reestruturadas. A guerra deixou para trás um complexo financeiro: cerca de 30 mil milhões de dólares em reparações devidas pela Alemanha aos aliados europeus vitoriosos e 10mil milhões de dívidas de guerra devidas pelos aliados aos EUA. Era claro que estas obrigações estavam ligadas e que os aliados concordaram em reduzir as reparações da Alemanha, se os EUA anulassem as suas dívidas. No entanto, o congresso dos EUA, depois de se virar para uma política de isolacionismo recusou-se a perdoar as obrigações dos aliados. Para os EUA serem credores líquidos do mundo era uma novidade, tendo sido devedores líquidos antes da guerra. Em 1923, os EUA reconheceram tardiamente a gravidade da crise da dívida do pós I Guerra Mundial, que a hiperinflação tornou impossível ignorar. Isso permitiu que Charles Dawes, banqueiro de Chicago e futuro vice-presidente americano presidisse a um comité internacional para rever o problema da dívida pós-guerra. O envolvimento de Dawes foi significativo, na medida em que sinalizou o reenvolvimento dos EUA nos assuntos globais. No entanto, embora o Plano Dawes tenha reduzido as obrigações imediatas da Alemanha, proporcionou pouco alívio da dívida a longo prazo, apenas adiando os pagamentos do país para o futuro. As transferências contínuas do Governo alemão para os aliados foram então financiadas por um empréstimo em dólares lançado no mercado americano pelo banco de investimentos J.P. Morgan &CO. Esses acordos improvisados travaram a hiperinflação na Alemanha e permitiram que o crescimento económico europeu recomeçasse, mas tudo se desmoronou depois de 1929. À medida que a economia global se afundava e entrava em Grande Depressão, foi acordada uma moratória de um ano para todos os pagamentos de dívida em reparação em 1931. Só em 1932, quando era tarde demais para evitar a desastrosa viragem política da Alemanha, os Governos europeus concordaram finalmente em cancelar as suas reivindicações de reparação. Depois rejeitaram as suas dívidas para com os EUA, ganhando a inimizade duradoura do congresso. Várias lições para a atual crise da dívida dos países em desenvolvimento podem ser retiradas desta história trágica .Primeiro, os credores, mesmo inexperientes, têm de reconhecer o seu papel na resolução da crise da dívida. Hoje isso significa que todos os olhos estão postos na China, que é o credor mais importante para os países pobres em situação de endividamento. Em segundo lugar, fornecer créditos a países em dificuldades, apenas adia o problema. A China está atualmente a fornecer swaps e créditos em remmimbis a Governos que anteriormente contraíram empréstimos de infraestruturas como parte da Iniciativa Cinturão da Rota da China, permitindo-lhes manter os seus pagamentos aos bancos chineses em dia. Esta medida suavizadora não resolve nada. Apenas torna os países problemáticos mais endividados. Por fim, dar aos países em dificuldades financeiras, apenas um alívio suficiente para se manterem à tona, deixa-os vulneráveis em caso de um choque adicional. Esta foi a abordagem adotada no âmbito do Plano Dawes e fracassou durante a Grande Depressão. É a abordagem adotada no Enquadramento Comum que obriga os credores a fornecer apenas o mínimo necessário, apenas o alívio suficiente para permitir que o FMI declare a dívida do país sustentável.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-8909594246422432662023-10-22T08:41:00.027-07:002023-11-20T04:50:41.758-08:00A SUBIDA DOS JUROS LEVA A ZONA EURO A UMA RECESSÃO?<p style="text-align: justify;"> Da estagnação à recessão vai apenas um passo e é esse passo que nesta altura a economia europeia arrisca. As projeções foram revistas em baixa e apontam para uma estagnação da zona euro, com 2024 pouco melhor. Muito por causa do aumento dos juros da referência do Banco Central Europeu(BCE) que recentemente subiram mais um de grau, arrastando consigo as taxas de juro de mercado Um impacto que, segundo vários economistas ameaça provocar uma recessão na zona euro, que parece certa na Alemanha. Para forçar a descida da inflação, que atingiu valores inéditos desde a criação do euro, os juros de referência do BCE subiram 4,5pontos percentuais em pouco mais de um ano. São já dez aumentos consecutivos, colocando a taxa diretora nos 4,5%: o segundo valor mais alto de sempre. Uma trajetória que levou as taxas de juro Euribor- que servem de indexante aos créditos com taxa de juro varável- a atingir os níveis mais elevados desde novembro de 2008, encarecendo o crédito, e penalizando o consumo e o investimento das famílias e das empresas. Esse é o objetivo de Frankfurt. No comunicado recente onde anunciou a nova subida das taxas de juros de referência, lia-se que "as condições de financiamento tornaram-se mais restritivas e estão a refrear cada vez mais a procura, o que constitui um importante fator para fazer a inflação regressar ao objetivo. O BCE reviu em baixa as projeções para o crescimento da zona euro e não foi a única instituição a fazê-lo. Em 2023, o crescimento deverá ficar entre 0,6% (OCDE) e 0,8% (CE), com o BCE a apontar para 0,7%. Para 2024, as previsões oscilam entre 1% (BCE) e 1,3% (CE), com a OCDE a antecipar 1,1%. Poderá uma recessão estar a caminho? Há economistas que alertam que a zona euro está a caminho de uma recessão, que poderá ser mais ou menos profunda, dependendo do que acontecer na Alemanha, que provavelmente já está em recessão. Para outros, como Paes Mamede, considera que a Europa já está a caminhar para uma recessão. E salienta: vejo com grande preocupação a persistência da inflação a nível europeu, a subida dos juros, o não acompanhamento pelos salários, levando à perda do poder de compra das pessoas. É a receita para problemas e instabilidade política. Reconhecendo que a economia da zona euro está muito frágil, no resultado da pandemia, João Borges, professor da Universidade Católica ,considera prematuro falar em recessão sem subidas notórias do desemprego. Algo que ainda não se nota nos dados. Em Julho, a taxa de desemprego no espaço da moeda única, foi de 6,4% inalterada, face a Junho e abaixo dos 6,7% de Julho do ano passado, Por isso acredita que "será ainda possível, mas não seguro, evitar uma recessão, E, a chave deve ser o comportamento da economia americana. Se houver recessão por lá dificilmente a Europa escapa. Também Pedro Brinca, argumenta que não podemos falar de recessão da zona euro com desemprego tão baixo, destacando a resiliência do mercado de trabalho que, tudo aponta que vai continuar. Ainda assim, o crescimento do emprego está a abrandar, reconheceu Lagarde, presidente do BCE, destacando que o setor dos serviços, que tem impulsionado o crescimento do emprego desde 2022, está agora a criar empregos. Quanto a Portugal, uma recessão parece fora do horizonte, com a ajuda da aceleração e execução de fundos europeus e do bom desempenho do turismo. As projeções de crescimento das principais organizações nacionais e internacionais para este ano oscilam entre 2,4% (CE) e 2,7% (Banco de Portugal). Entretanto a economia estagnou em cadeia. Seria necessária a forte e rápida subida dos juros pelo BCE? Ricardo Reis, defende que sim. Basta olhar para os números da inflação que depois de ter chegado aos dígitos, tem vindo a descer mas ainda está muito acima do alvo. Mesmo as melhores previsões do BCE, apontam para que voltemos aos 2% só em 2025. Ora o mandato do BCE é claro Tem de alcançar os 2% e rapidamente. Para Paes Mamede a política da subida dos juros do BCE, não é a mais adequada, porque as raízes da inflação estão em grande medida em fatores exógenos à zona euro, relacionados com os preços da energia e das matérias-primas. E destaca: o BCE neste momento sente que está a correr fora do prejuízo. Está sob uma pressão muito grande para ser visto como credível, no cumprimento da sua missão estatuária que é manter a inflação próxima dos 2% E vai mais longe: "o que o BCE está a dizer ao mundo é que faremos o que custar para trazer a inflação para os 2%, mesmo que custe uma recessão". A inflação está a descer- ficou nos 4,3%, em setembro-, mas ainda é mais do dobro dos 2% de referência para o BCE. Ao mesmo tempo, a economia do espaço da moeda única, está muito débil e pode já ter contraído no terceiro trimestre deste ano, queda que ameaça repetir-se nos próximos trimestres. O contexto é de estagflação, com o risco de recessão a crescer. A guerra em Gaza, além do drama humanitário, é mais uma variável a pesar nesta equação. .Para já os efeitos económicos sobre a Europa são limitados. Mas uma escalada do conflito pode ser catastrófica. É com este pano de fundo que o BCE voltou a reunir com as taxas de juro em cima da mesa. As projeções das principais organizações internacionais para a economia da zona euro este ano, são de estagnação com 2024 pouco melhor. Mas os sinais de recessão na zona euro estão a crescer. Em outubro, o índice para o setor dos serviços caiu para 47,8 pontos e tem estado claramente em território de recessão O índice para a indústria transformadora recuou 43 pontos, permanecendo em território recessivo há meses. Está a abrandar a economia em todos os países da zona euro, antecipando que o espaço da moeda única tenha caído 0,1% no terceiro trimestre face aos meses anteriores. A política de juros sustentadamente altos do BCE ,leva a um distorcer da estrutura financeira, ao empobrecer de parte da população, à acumulação de superlucros no sistema financeiro e à redução do investimento. O BCE quer reduzir a inflação, mesmo à custa de uma recessão. Só que a causa desta inflação não é a procura excessiva, mas uma espiral de preços de oligopólios, que com a guerra têm o alibi perfeito para manter superlucros. O BCE tem estudos, onde são atribuídos lucros das empresas cerca de 2/3 da subida de inflação na zona euro. No entanto a situação continua, Estamos a caminho de uma situação de estagflação e mesmo de recessão na Europa, Tendo em conta o enorme choque que foi o aumento dos preços da energia, seria de esperar uma recessão Para além do drama humanitário sente -se uma maior instabilidade financeira nos preços das matérias-primas. O barril de petróleo brent chegou a subir mais de 9% após os ataques de Hamas a Israel. A situação em Gaza é imprevisível e o impacto depende da escalada da situação que pode ser catastrófica. Se os preços de energia disparam, a recessão torna-se mais provável. Além disso, esse disparo significaria um choque inflacionista. E se a inflação não estiver a descer de forma suficientemente rápida para regressar ao alvo de 2%, o BCE terá de subir as taxas de juro.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-42498683013511438802023-06-07T07:55:00.025-07:002023-08-28T04:45:34.234-07:00O TRATADO DE MAASTRICHT<p style="text-align: justify;"> De Comunidade Económica Europeia(CEE) para a União Europeia(UE), de uma integração sobretudo económica para a criação de uma União política, o Tratado de Maastricht ,mudou o rosto da Europa, e, estabeleceu as bases para uma união económica e monetária, definindo o caminho para o euro. Assinado em fevereiro de 1992, só entrou em vigor em novembro de 1993, após um longo e polémico processo de ratificação. A grande transformação ocorrida com o Tratado de Maastricht foi a passagem de uma comunidade sobretudo económica para a criação de uma união política. Daí a alteração da designação de CEE para a UE. O Tratado avança com a política externa de segurança comum, a cooperação na área da justiça e assuntos internos, e, a criação da cidadania europeia. E, tem como pedra angular, o lançamento das bases para a união económica e monetária, definindo o caminho para a moeda única europeia e as regras que os Estados terão de cumprir. Os famosos limites de 3% do PIB para o défice orçamental e de 60% do PIB para o rácio da dívida pública estão inscritos no Tratado de Maastricht. É também aqui que nasce o Fundo de Coesão, sob proposta portuguesa , Para Vítor Martins, secretário de Estado para os Assuntos Europeus entre 1985 e 1986, só foi possível avançar neste caminho graças a dois fatores: "o sucesso do Ato Único Europeu de 1986" que criou o mercado único, eliminando fronteiras internas na Europa e, "a reunificação alemã". Na época a CEE, ainda era uma organização com Estados-membros relativamente coesa, mas com alterações geopolíticas, nomeadamente com a queda do muro de Berlim e a reunificação alemã. E, como referiu Jacques Delors, então presidente da Comissão Europeia, a História está a acelerar. Nós temos de acelerar também. Ainda assim, as negociações foram exatamente complexas, Havia vários caminhos possíveis, chegando a estar sobre a mesa a hipótese de uma moeda comum, mas não única, e sim complementar as moedas nacionais. Também no que respeita ao Banco Central Europeu(BCE), havia visões diferentes: alguns Estados-membros preferiam um modelo semelhante ao da Reserva Federal norte-americana, com duplo mandato: a estabilidade de preços e o emprego. Mas acabou por vencer o modelo germânico, centrado na estabilidade dos preços. Sem isso, dificilmente se teria conseguido um acordo na Alemanha. A importância atribuída ao BCE foi tal que os seus estatutos estão incluídos no Tratado. Um acordo acabou por ser alcançado em dezembro de 1991, na cimeira de Maastricht durante a presidência neerlandesa do Conselho- Mas foi em fevereiro de 1992 na presidência portuguesa que o Tratado foi assinado. O Reino Unido então Estado - membro, abandona a UE em 2020, ficou fora do euro, graças a uma clausula de isenção (opting out) Seguiu-se um longo e polémico processo de ratificações nacionais, marcado pela oposição de alguns partidos com divisão da opinião pública e do eleitorado. Foi o tratado que mais controvérsia gerou. Em Portugal destacam-se dois partidos na oposição a Maastricht:. o CDS `direita e o PCP `esquerda. Ambos os partidos estavam e sintonia quanto à não cedência de mais soberania por parte do país e na realização de um referendo nacional. Portugal não o realiza e o tratado é ratificado na Assembleia da República em dezembro de 1992. Porém Dinamarca e França avançam mesmo para referendos nacionais e os resultados -chumbo na Dinamarca em Junho de 1992 e passagem à tangente em França em Setembro deste ao, atrasaram todo o processo.. O descontentamento de parte do eleitorado europeu com o conteúdo e o aproveitamento político e económico do processo de construção europeu que lhe estava implícito, levou a uma erosão do "consumo permissivo" em relação aos assuntos europeus dos partidos políticos e do eleitorado. O Tratado de Maastricht acabou por entrar em vigor em novembro de 1993, incluindo declarações adicionais. Nomeadamente, ficou previsto que a participação da Dinamarca no euro, seria condicionada a uma aprovação em referendo nacional, o que até hoje não aconteceu. A discussão sobre o impacto de Maastricht para a Europa e para Portugal, em particular dividiu os economistas da época, E as divergências persistem, Para Abel Mateus, a moeda única criou um espaço monetário e comercial que rivaliza com a zona dólar, tendo criado estabilidade nas relações comerciais e uma economia de estabilidade monetária. É impensável uma UE sem uma união monetária, e é de salientar que os benefícios ultrapassam largamente os custos. É errado pensar que é o facto de pertencer ao euro que nos levou à estagnação nos últimos 20anos, São as más políticas de afetação de recursos reais que estão por trás da estagnação, Sinal disso, vários países de Leste que tiveram forte convergência também entraram para o euro. Se a economia portuguesa cresceu de forma desapontante no século XXI, período que coincide com a adoção do euro, não decorre daí uma relação causa-efeito. Há outras explicações com maior aderência e vários contraexemplos de economias que conseguiram bem mais do que a nossa e também elas com euro como moeda. Maastricht teve um papel positivo porque contribuiu de forma decisiva para um ambiente de baixa inflação na UE, só agora posto em causa, Mas há que apontar dois aspetos negativos:. em primeiro lugar as regras orçamentais decorrentes do tratado "os famosos limites para o défice" e para dívida demasiado simplistas para lidar com a complexidade económica e financeira que se lhe seguiria. Em segundo, uma conceção monetária e redutora, atribuindo ao BCE e ao Sistema Europeu de Bancos Centrais o primordial e quase único objetivo macroeconómico da estabilidade de preços. </p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-51014912847117698872023-03-07T04:09:00.042-08:002023-06-24T04:51:51.885-07:00AS CONSEQUÊNCIAS ECONOMICAS DA GUERRA NA UCRÂNIA<p style="text-align: justify;"> Nos últimos quinze anos, a economia mundial foi sujeita a três choques com profundas repercussões no seu desempenho: 1- a crise do subprime e subsequente crise económica, financeira e global que arrastou a Área do Euro para uma crise da dívida soberana e fragmentação dos seus mercados financeiros; 2- a crise pandémica que, para além do custo imposto em termos de vidas humanas, obrigou à paragem súbita da atividade em muitos setores da economia; 3- a crise originada pela guerra na Ucrânia, a qual tem refletido num considerável agravamento da inflação e em perturbações nas cadeias internacionais de fornecimento, designadamente nas áreas da energia e dos cereais. A pandemia da Covid foi, até agora, a maior de todos estes choques, afetando todos os países. A produção mundial caiu 3%. Esta contração foi mais acentuada nos países desenvolvidos do que nos países em desenvolvimento. A China, por sua vez, sofreu uma acentuada desaceleração no seu crescimento de 6% em 2019 para 2,2% em 2020. A recuperação desta crise iniciou-se em 2021 e de forma expressiva. O crescimento económico foi de 5,7%, a China cresceu 8,1% e a Área do Euro 5,2%. Porém, as paragens da atividade impostas pela pandemia, interromperam inúmeras cadeias de produção e fornecimento, estrangulando a capacidade de oferta em inúmeros setores de atividade. As dificuldades na oferta de bens e serviços, associadas à procura crescente resultante da recuperação em curso, explicam os aumentos significativos do preço do petróleo, do gás natural, dos cereais, dos metais e outras <i>commodities</i>, aumentos esses que geraram tensões inflacionistas que se fizeram sentir ao longo de 2021, traduzidas em taxas de inflação cada vez mais elevadas designadamente nas economias desenvolvidas. Assim, no início de 2022, a conjuntura económica, na generalidade das economias desenvolvidas caracterizava-se por um forte crescimento da produção e do emprego e por uma inflação alta .A invasão russa à Ucrânia mudou este cenário de uma forma dramática. A Europa e o Mundo passaram a enfrentar uma crise humanitária com milhares de mortos e milhões de refugiados, uma inflação crescente, uma desaceleração do seu crescimento económico, e, o sério risco de uma crise energética e alimentar. Em especial, a inflação elevada nos bens energéticos, e alimentares tem efeitos redistributivos particularmente gravosos para as famílias de mais baixos rendimentos, aumentando as desigualdades e a pobreza. De facto entre 2020 e 2022, o preço do gás quadruplicou e desde 2021, o preço dos cereais aumentou cerca de 85%. O impacto global desta guerra deve-se à importância assumida pela Rússia e pela Ucrânia nas cadeias internacionais de fornecimento, principalmente de energia e matérias-primas alimentares. Estes dois países representam no seu conjunto, cerca de 30% das exportações globais de trigo, 15% das exportações de milho, 20%de fertilizantes minerais e de gás natural e 11% das exportações de petróleo. De acordo com a Agência Internacional de Energia, antes da invasão da Ucrânia, a Europa importava quase metade das exportações russas de petróleo e seus derivados, com especial destaque para a Alemanha, Holanda e Polónia. A Rússia representava 43% das importações de gás natural da União Europeia, quase 25% das suas importações de petróleo e produtos refinados, e, 30% das importações de carvão. Estes números evidenciavam bem a enorme dependência energética da União Europeia face à Rússia. O impacto desta nova crise, terá maiores consequências estruturais em áreas como as da segurança energética, nas redes globais de comércio e investimento internacional ,e, em geral na geopolítica mundial em consequência da redefinição dos blocos políticos e económicos e das suas alianças. Não representa o fim da globalização, mas vai obrigar ao redesenho das redes internacionais do comércio e do investimento, impondo alterações significativas nos seus fluxos. A guerra na Ucrânia veio revelar que o risco geopolítico associado aos parceiros comerciais mais significativo do que aquilo que se supunha e a criação de dependências é fonte de fragilidades e perturbações na atividade económica. A reavaliação deste risco, principalmente por parte das empresas que operam à escala global, irá impor certamente a relocalização de muitos investimentos externos e a escolha de outros parceiros comerciais. A evolução das economias nos próximos anos, depende do desenrolar do conflito em curso na Ucrânia. De um modo geral, as previsões disponíveis das diversas instituições internacionais pressupõem um cenário de impasse militar, com as frentes de guerra estabilizadas e baixos níveis de combate, continuando a Ucrânia a contar com o apoio dos países da Nato e outros aliados. A União Europeia avançará com políticas que reforcem a sua autonomia e segurança energéticas, bem como na frente da transição climática e digital. Em 2023, ocorrerá uma nova desaceleração do crescimento, e, a inflação persistirá embora a níveis mais baixos. O ambiente económico deteriorou-se, o financiamento encareceu, a confiança e as expetativas dos agentes económicos pioraram e a procura que recuperou significativamente após a crise pandémica, já dá sinais claros de abrandamento .A guerra continuará a ser a maior ameaça. A evolução da atividade económica e da inflação depende das políticas de resposta à presente crise. Os governos por um lado, têm avançado com políticas de apoio às famílias e às empresas mais afetadas pela forte subida dos preços, o que tem atenuado o impacto desta conjuntura no consumo, e, evitado estrangulamentos na produção dos setores de maior consumo de energia. As autoridades monetárias, por um lado, subiram as taxas de juro de forma acentuada, tendo em vista o arrefecimento da procura, e, consequentemente baixar a inflação. Duas respostas políticas que, em boa verdade, jogam em sentido inverso no combate à inflação, uma vez que que o arrefecimento da procura pretendido pelas autoridades monetárias é contrariado pelos apoios concedidos pela via orçamental. Acresce que a persistência da inflação e a tensão existente no mercado laboral, estão a a apoiar as expetativas inflacionistas a níveis mais elevados, e, a causar ajustamentos salariais mais significativos, dificultando a eficácia da política monetária. Como podemos constatar, persistem incertezas importantes que podem afetar negativamente o cenário macroeconómico dos próximos anos e a evolução recente do conflito tem aumentado os receios de uma recessão económica. Portugal, como as demais economias, é afetado por esta crise, mas graças à sua localização, os seus impactos são menos fortes do que naquelas que se situam mais próximas do teatro da guerra. Regista -se um forte agravamento da inflação , embora abaixo da média da Área do Euro, e, contrariamente aos seus parceiros, o crescimento económico melhorou em 2022 face a 2021. A sua desaceleração ocorrerá em 2023 com uma taxa prevista de crescimento acima da média europeia e com uma taxa de inflação mais baixa. Quais as prioridades económicas e sociais para atenuar o impacto da crise em curso? 1- A primeira prioridade será a de evitar uma cise alimentar e energética, uma crise forte na Europa. O encarecimento dos bens alimentares e as limitações no seu aprovisionamento, designadamente de cereais, têm um impacto muito significativo nestes países. A nível mundial, em cerca de trinta países, mais de metade das suas necessidades de cereais são cobertas por importações provenientes da Rússia e da Ucrânia. 2- Reduzir a dependência energética da Europa face à Rússia, com novas fontes de investimento promovendo a transição para um paradigma energético ambientalmente sustentável. Enquanto a Europa tiver que importar energia da Rússia, estará a dotá-la de meios financeiros para prosseguir com a guerra, pelo que reduzir a dependência energética existente é uma forma de influenciar o equilíbrio de forças no terreno. É importante que a União Europeia defina uma estratégia energética comum e a implemente de forma célere. 3- O restabelecimento da estabilidade de preços, ou seja de uma taxa de inflação baixa e estável, deve ser uma prioridade da política económica e monetária. A inflação elevada e inesperada tem um grande efeito empobrecedor pela redução que impõe no poder de compra dos alimentos dos cidadãos e agrava as desigualdades, na medida em que, encarecendo mais os bens alimentares e energéticos, afeta mais as famílias de menores rendimentos. A estabilização dos preços é igualmente importante para as empresas fortemente dependentes de energia, permitindo-lhes proteger o emprego e a atividade, evitando assim constrangimentos na oferta de bens e serviços relevantes para a atividade económica em geral. 4- O aumento das taxas de juro é fonte de stress financeiro para as empresas e para as famílias e os incumprimentos tenderão a aumentar. O sistema financeiro terá que estar preparado para enfrentar esta situação, e, as famílias e as empresas terão que, juntamente com os seus financiadores, encontrar soluções que lhes permitam fazer face ao contexto agravado de financiamento e limitar o recurso ao financiamento alheio. Eventuais apoios públicos devem ser limitados aos mais carenciados e de forma transitória, de modo a não constituírem um incentivo a situações de <i>moral hazard s</i>uscetíveis de garantir comportamentos de sobre<i> </i>endividamento.5- Necessidade da União Europeia agilizar a mobilização e utilização dos fundos disponibilizados no âmbito do Next Generation Eu, como forma de apoiar a recuperação das economias europeias. Com o mesmo objetivo, a nível nacional, a execução dos programas de financiamento com o o recurso a tais fundos, deve ser eficiente de forma a impulsionar o investimento, e a dar resposta aos desafios estratégicos existentes, tendo em vista o bem-estar e a sustentabilidade. social e ambiental, a qualificação dos recursos humanos. das instituições, a inovação e modernização tecnológica, a independência energética e a segurança comum. No curto prazo, devem ser adotadas medidas transitórias de abrandamento dos efeitos da crise, em especial elevada inflação , através de apoios aos rendimentos das famílias mais vulneráveis, apoios às empresas mais afetadas pelo aumento dos seus custos energéticos, e, através de políticas de formação de preços mais eficientes que impeçam a exploração de rendas excessivas.</p><p style="text-align: justify;">Conclusão:</p><p style="text-align: justify;">Passados doze meses desde o início da guerra, as incertezas geradas por este conflito, em vez de se dissiparem gradualmente com o decorrer do tempo, acabaram por se adensar, e, estamos hoje confrontados com decisões do agressor que apontam para uma escalda de guerra com consequências difíceis de antever. Enquanto durar o conflito não há forma de evitar os custos humanitários e económicos, por muito que façam as autoridades responsáveis pelas políticas económicas e sociais.. Todos temos que suportar custos mais elevados que outros, devendo focar-se as medidas de mitigação nos mais vulneráveis. O esforço coletivo terá que prosseguir, e, perante a escalada que se antevê, há que evitar a eclosão de um conflito nuclear.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-55092921362459717402023-01-21T04:34:00.026-08:002023-05-26T04:45:47.652-07:00A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA<div style="text-align: justify;">Na realidade a probabilidade de nos mantermos abaixo de 2ºC da temperatura global é muito reduzida. Se tudo continuar na mesma, o mundo encaminha-se para um aquecimento de, pelo menos 3ºC até ao final do século Se mantivermos os níveis atuais de emissões globais, o orçamento de carbono, que nos resta para nos mantermos abaixo de 1,5ºC, esgotar-se-á dentro de seis anos.. De acordo com um inquérito recente das Nações Unidas, 64% da população mundial encara as alterações climáticas como uma emergência global. Então o que tem corrido mal até agora? Existe um problema fundamental no debate contemporâneo sobre as políticas climáticas: raramente aborda a desigualdade. As famílias mais pobres que emitem pouco CO2, anteveem corretamente maiores limitações à aquisição de energia. Já os decisores políticos temem represálias políticas, se impuserem medidas climáticas demasiado depressa. O problema deste círculo vicioso é que já nos fez perder demasiado tempo. A boa notícia é que podemos acabar com ele. Segundo dados de 2021, dez por cento da população que maior quantidade emite gases com efeito de estufa, é responsável por cerca de 30 toneladas anuais por pessoa, ao passo que metade mais pobre da população emite 1,5 toneladas anuais por pessoa. Ou seja: os 10% que mais emitem gases com efeito de estufa em todo o mundo são responsáveis por 50% de todas as emissões de gases com efeito de estufa, ao passo que metade mais pobre do mundo, apenas contribuiu com cerca de 12% da totalidade das emissões. Nas últimas três décadas, a parcela das emissões lançadas por 1% de emissões no pico da hierarquia(um grupo cinquenta vezes mais pequeno do que os 50% que compõem a metade menos emissora a nível global) passou de 9,5% para 12%. Quer isto dizer que embora, as desigualdades carbónicas ao nível global sejam colossais, o abismo entre o topo e o resto da população, tem vindo com o tempo, a aumentar.. Não se trata de uma mera divisão entre países ricos e pobres:.. existem emissores potentes nos países mais pobres e emissores muito fracos nos países ricos. Vejamos o exemplo dos EUA: os 50% de indivíduos mais pobres no seio da população norte -americana, emitem por ano cerca de dez toneladas de CO2 por pessoa, enquanto os 10%mais ricos emitem cerca de setenta e cinco toneladas por pessoa. Os ricos produzem um valor mais de sete vezes superior. O mesmo acontece na Europa, onde os 50% mais pobres emitem cerca de 5 toneladas por pessoa, ao passo que os 10% mais ricos emitem cerca de trinta toneladas um valor seis vezes superior. As regiões mais pobres do mundo também exibem desigualdades significativas. De onde são oriundas essas desigualdades? Os ricos emitem mais carbono através de emissões diretas ( ou seja: o combustível com que abastecem os automóveis), mas também dos bens e serviços que consomem, bem como dos investimentos que fazem. Os grupos com rendimentos baixos emitem carbono, quando usam veículos ou aquecem as casas, contudo as suas emissões indiretas, ou seja, as relacionadas com as compras e os investimentos, são substancialmente mais baixas do que as dos ricos. Segundo o World Inequality Report (2023), metade mais pobre da população em cada país do mundo, quase não possui meios financeiros, o que significa que tem muito pouco ou nenhuma responsabilidade nas emissões associadas às decisões de investimento. Devíamos reduzir as emissões? Sim devíamos, mas é evidente que alguns grupos terão de se esforçar mais do que outros. Os mais pobres têm menor capacidade de descarbonizar o seu consumo. A conclusão lógica é que os ricos têm de contribuir mais pra cortar nas emissões e tem que ser dada aos pobres a capacidade pra enfrentar a transição para 1,5ºC ou 2ºC. Mas, não é isto que está a acontecer, Alguns países já ameaçaram planos para reduzir significativamente as emissões até 2030. e, a maioria está a planear alcançar emissões nulas em termos líquidos perto de 2050. Centramo-nos no objetivo de reduzir as emissões até 2030: segundo um estudo recente, em termos per capita, a metade mais pobre da população dos EUA e da maioria dos países europeus, já alcançou este objetivo. Uma forma de reduzir as desigualdades carbónicas, passa por estabelecer direitos individuais de carbono, semelhantes a formatos usados por alguns países, para gerir recursos ambientais limitados. Por exemplo em França nos períodos de forte escassez de água, é possível proibir por completo o uso, que não seja estritamente essencial (para beber, saneamento ou cozinhar) de recursos hídricos. Eta medida visa nivelar o consumo de água de forma igual por toda a população. Pra acelerar a transição energética, precisamos de ideias inovadoras. Imaginemos por exemplo, um imposto progressivo sobre a riqueza com um suplemento para a poluição. Isto iria agilizar a eliminação dos combustíveis fósseis, porque tornava mais dispendioso o acesso ao capital por parte das indústrias de exploração de combustíveis fósseis, porque tornava ainda mais dispendioso o acesso ao capital por parte das indústrias de exploração de combustíveis fósseis. Oferece ainda a possibilidade de gerar vastos rendimentos para os governos, que poderiam ser investidos no setor da ecologia e da inovação. Estes impostos seriam mais equitativos, uma vez que recaem numa fração da população e não na maioria. Um imposto modelo sobre a riqueza aplicado aos multimilionários com um suplemento para a poluição podia gerar ao nível mundial, 1,7% do rendimento global. Este rendimento podia financiar o grosso dos investimentos adicionais necessários, todos os anos, ao cumprimento dos esforços de mitigação das alterações climáticas. Seja qual for o caminho seguido pelas sociedades, para acelerar a transição , está na hora de reconhecer que a descarbonização profunda não é possível sem uma redistribuição ainda mais profunda do rendimento e da riqueza.</div>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-16683504979731258572023-01-15T07:31:00.020-08:002023-01-16T08:34:02.693-08:00A INFLAÇÃO E A SUBIDA DOS JUROS<p style="text-align: justify;"> Temos vindo a falar de uma crise: há desafios económicos que enfrentamos Tais desafios não se refletem na explosão do desemprego ou num descontrolo das contas públicas, mas em saltos brutais dos preços, acompanhados de um aperto monetário agressivo. Mesmo sem recessão, 2023 pode ser um ano de sofrimento para as famílias portuguesas: os juros já atingiram em cheio as prestações da casa, mas ainda não serão capazes de tirar-lhe dos ombros o peso da inflação que crescerá a um ritmo mais baixo, mas ainda muito elevado. A economia em 2023 será apertada por uma tenaz: inflação muito elevada, que pressionará os orçamentos das famílias, e, as margens de muitas empresas, juros com saltos inéditos que aumentarão as prestações do crédito e desincentivarão as empresas a investir. O consumo não contribui para o crescimento da economia em 2023, e, as exportações de serviços darão um contributo seis vezes menos do que em 2022. Haverá perdas de poder de compra. A partir da 2ªmetade de 2023, a atividade acelera, refletindo a expetativa de atenuação das tensões nos mercados energéticos, a recuperação gradual do rendimento real das famílias, a melhoria da procura externa e a normalização das cadeias de abastecimento globais. Portugal não estará sozinho nas dificuldades a enfrentar no ano de 2023. O pessimismo é transversal a todo o mundo desenvolvido. O FMI estima um crescimento de 2,7% da economia mundial com a zona euro, a ficar-se pelos 0,5%. Menos afetado pela crise energética, Portugal terminou 2022 com o segundo maior crescimento da zona euro. Para 2023, mesmo a estimativa mais pessimista (0,7% da Comissão Europeia) fica muito acima da média prevista pela mesma instituição para a zona euro(o,3%). A incerteza é no entanto, enorme e, estes valores não estão assim tão longe de uma estagnação ou contração do PIB. Na conjuntura atual, em que o PIB tem tido oscilações muito significativas, devido à rigidez das políticas sanitárias, devemos pensar numa recessão apenas, se o desemprego começar a aumentar de forma rápida. Para que isto aconteça, serão necessários alguns desenvolvimentos mais negativos do que o que prevemos, principalmente na guerra a leste e no mercado da energia. O Banco de Portugal fez uma espécie de stresse à economia mundial. Este cenário adverso traduz-se num corte total no fornecimento de gás e de petróleo russos à Europa e uma maior lentidão na substituição de fontes de energia. Implicaria racionamento e cortes de produção na Europa, o que afetaria outras cadeias de produção e abastecimento. O reflexo em Portugal, chegaria sob a forma da procura externa por bens nacionais e de uma penalização do turismo. O preço do petróleo aumentaria, assim como o gás que neste cenário dispararia. A conta de supermercado voltaria a aumentar muito e os juros subiriam mais do que se prevê atualmente. O mundo atravessa aquele que é provavelmente o mais abrangente apoio monetário de sempre, As subidas devem continuar em 2023, mas há muitas dúvidas se esse caminho está ser seguido com determinação suficiente, ou se, pelo contrário há excesso de zelo dos bancos contrário para compensar a tolerância com que agiram pré- 2022. Os bancos centrais esperam conseguir executar um número de equilibrismo: controlar os preços se atirar a economia para o charco. Chamam-lhe " aterragem suave" Neste ano, os efeitos das suas ações ficarão mais evidentes, à medida que os juros apertarem as famílias com créditos, provocarem falências de empresas e o agravamento do desemprego. Para os governos, é também um ambiente difícil de geris. Têm de apoiar a população num momento de maior fragilidade, mas serão censurados se forem demasiado longe, devido às preocupações com o equilíbrio das contas públicas, ou por estarem a contribuir para manter a inflação elevada ao estimularem a procura. O combate à inflação é o momento de encruzilhada deste ano e num contexto de mercado de trabalho, a prioridade deve estar na redução da dívida. A palavra que irá marcar o mercado de trabalho em 2023, irá ser a palavra "incerteza". É cada vez mais consensual que os salários irão crescer a um ritmo inferior à inflação. Esta é quase uma certeza, dúvida é qual será o montante real de poder de compra. Este depende de dois fatores: da evolução da inflação e da capacidade negocial dos trabalhadores e dos seus representantes em pressionarem as empresas para aumentos salariais mais elevados. Porém estes fatores não são independentes: um é causa e efeito do outro.. As taxas de juro vão continuar a subir, até que o atual ciclo inflacionista mostre uma inversão "robusta". É preciso subir os níveis de confiança e aproveitar as almofadas orçamentais para reagir às adversidades da atual conjuntura. A inflação é mais negativa para a economia do que a normalização das taxas de juro. Se não houver novos choques na economia, sobretudo nos preços internacionais da energia, a inflação mensal pode descer para 3% em 2023. Centeno diz que não há nenhum cenário base, de nenhuma instituição europeia que preveja recessão, nem para Portugal ou área do euro. Há uma desaceleração do crescimento. Sobre Portugal, Centeno aponta fragilidades como a grande proporção de crédito à taxa variável, e vantagens como a enorme redução do endividamento das famílias, das empresas e do Estado. Com uma situação de pleno emprego, este é o momento de todos os setores reduzirem a sus dívida e, com o risco bancário controlado, o endividamento em queda e a poupança das famílias a crescer é de não hesitar em usar as almofadas financeiras, se o contexto económico o exigir.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-68882970728045923182022-10-26T08:11:00.034-07:002022-12-20T04:50:53.669-08:00OS DESAFIOS DE UM TURISMO SUSTENTÁVEL<p style="text-align: justify;"> Em ambiente de globalização e de crise provocada pelas consequências da guerra da Ucrânia, Portugal confronta-se com a necessidade de adotar, no plano económico e social, uma estratégia baseada num desenvolvimento sustentável, mais eficiente em termos de utilização de recursos (naturais e humanos), e, que concomitantemente assegure a efetiva implementação de políticas públicas equilibradas de natureza territorial. Neste âmbito o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), com um período de execução até 2026, deverá implementar um conjunto de reformas e investimentos, destinados a assegurar esse desenvolvimento sustentado, reforçando o objetivo de convergência com a Europa, ao longo da próxima década e assente em três dimensões estruturantes; a resiliência, a transição climática e a transição digital. Como é sabido, em Portugal a atividade do setor do turismo tem alcançado uma dimensão muito significativa, representando uma das principais fontes de receita da nossa economia. Acresce, que a aposta no turismo apresenta-se, inquestionavelmente, válida a diversos níveis, uma vez que é importante para a economia portuguesa e tem um efeito multiplicador noutros setores de atividade. A verdade, é, que no conjunto da nossa economia a sua evolução recente, indica que neste setor- e o conjunto de bens e serviços que assegura, tem ainda capacidade para reforçar a sua importância, em particular se atrair a população ao interior do País. Assim, importa traçar metas ambiciosas adequadas ao setor, numa perspetiva de futuro sustentável. Contudo, apesar da dinâmica que este setor tem revelado para a criação de emprego em Portugal, convém salientar que este setor, está longe de salvaguardar a criação de emprego sustentável, pelo que cabe desenvolver uma geração de políticas estruturais, particularmente conferindo estabilidade do emprego criado neste setor, pois este assenta sobretudo no recurso dos contratos de trabalho a termo ou aos contratos de trabalho intermitentes- modalidade de trabalho aplicável a empresas que exerçam atividade com descontinuidade, em que as partes acordem que a prestação seja intercalada por um ou mais períodos de inatividade. e, deste modo, por instabilidade dos vínculos laborais e um nível salarial baixo. Num contexto global de forte retoma de mobilidade das pessoas, após pandemia, o potencial em turismo do País, justifica a existência de um plano integrado de sustentabilidade que -articulando a vertente social económica e da cultura- envolva as populações do País (a nível regional e local), na atividade de conservar e valorizar os recursos existentes, em prol de um desenvolvimento propício a um investimento estruturante. De facto, esse grande potencial de dinamização da atividade turística nacional, não se tem feito acompanhar de uma estratégia coerente e de sustentabilidade. No caso da habitação, cabe desenvolver uma estratégia para resolver o problema de acesso à habitação, em especial apoiando jovens e famílias da classe média. Daí a estratégia de uma linha de financiamento inscrita no PRR, para os municípios investirem em parque habitacional público com rendas acessíveis. Atendendo a que ,na última década, o preço das casas aumentou a um ritmo quase três vezes superior ao do rendimento médio das famílias portuguesas, uma das soluções apresentadas no quadro da implementação do PRR será não só a de promover a aquisição da habitação a preços acessíveis como a de garantir a existência de oferta de habitações de rendas acessíveis no parque de habitação pública. O denominado "Parque Público da Habitação a custos acessíveis conta com uma dotação total de 167,8 milhões de euros, para garantir a oferta de 1590habitações, em Portugal, a custos acessíveis até 2026. De referir que este investimento incorpora as discussões associadas ao ambiente, por exemplo. promovendo a construção nova com elevados padrões de eficiência energética e reabilitação de edifícios, mediante a melhoria do seu desempenho energético.. O preço das casas em Portugal continua a subir, e, os mais recentes dados do INE, relativos a Julho último, indicam que o valor mediano da avaliação bancária, realizada no âmbito do crédito à habitação, registou um aumento de 2% face ao mês de maio(1380euros por metro quadrado)sendo o registo mais alto desde Janeiro de 2011. Em comparação com junho de 2021, o valor mediano das avaliações subiu, em particular no Algarve e em Lisboa, justamente áreas pressionadas pelo turismo. O aumento de venda de casas no último ano levou a uma quebra do stock do parque habitacional português disponível no segundo trimestre deste ano, face ao mesmo período do ano passado , especialmente no Algarve, Lisboa e Porto. Esta situação mostra que é preciso responder com políticas públicas, ao problema das assimetrias no País, no que respeita ao acesso à habitação em zonas de maior pressão e de maior procura, como Lisboa, Porto e Algarve. Sendo o turismo uma atividade estratégica para a economia portuguesa, parece inquestionável que só através de uma visão resultante de políticas implementadas de forma sistémica, permanente e constante, será possível reduzir os desequilíbrios territoriais do País e se poderá responder aos desafios de um desenvolvimento nacional sustentável. Desde logo, será determinante que tirando proveito dos recursos existentes, o turismo português mostre capacidade de representar a diferença através de uma promoção articulada de diversos fatores chave de atração - como o clima ameno, a costa marítima, a paisagem interior, a oferta histórico-cultural e as infraestruturas e que se dinamize a promoção turística do País, desde o litoral ao interior. O interior do nosso país, despovoado, envelhecido e periférico carece de iniciativas que, a diversos níveis o revitalizem. De salientar que os territórios do interior de Portugal continental gozam de uma posição privilegiada no contexto ibérico, que tem sido desvalorizada ou mesmo ignorada. Desde logo, porque nestes territórios existe um enorme potencial que importa "reavivar", promovendo um equilíbrio ordenado do território, numa lógica de articulação entre o Estado e as autarquias locais. A valorização da dimensão territorial constituiu um importante desafio, para o nosso ciclo de utilização de fudo europeus. Para isso, é preciso promover uma efetiva coesão territorial ao serviço do desenvolvimento do País, garantindo a coordenação de várias políticas setoriais. Sendo necessário repovoar e redinamizar os territórios de baixa densidade, implementando um programa nacional para a coesão territorial, que promova o desenvolvimento do território do interior. Também aqui, o crescimento do turismo se torna estratégico para redirecionar os esforços de valorização do interior do País que, em muitos casos, representam um amplo conjunto de recursos subaproveitados. Portugal encontra-se a perder muito da sua identidade cultural e este facto é negativo, não só para o País e para os portugueses como também para a economia, em particular para o turismo. Num mundo globalizado, em que a cultura local tem um papel decisivo e insubstituível na afirmação da atividade dos territórios, é do interesse de cada Estado criar mais oportunidades para dinamizar os territórios e os equilíbrios do País. É necessário pensar na salvaguarda do meio ambiente associada ao turismo. Portugal enfrenta uma inédita mudança demográfica devido quer à diminuição da taxa de natalidade, quer ao aumento da esperança média de vida, e os dados do INE, confirmam a redução progressiva da população, assim como um acentuado envelhecimento no interior do país, com a grande maioria da população fortemente concentrada no litoral e nas zonas urbanas. Acresce que em Portugal, entre 2008 e 2013, a emigração permanente mais do que duplicou, e, só entre 2011 e 2015 deixaram o país, a título permanente, cerca de 250mil pessoas. Ora enfrentar este problema de despovoamento do interior do país, e das zonas rurais, é uma prioridade política para o país. o setor do turismo assume um papel importante na economia nacional: é uma atividade económica abrangente que gera emprego durante todo o ano, que preserva o território, o ambiente e os seus recursos, numa constante valorização do património, da natureza, da cultura e das comunidades locais.. Tem a particularidade de ser uma atividade especialmente vocacionada para a revitalização da atividade económicas, sobretudo nas regiões do interior, valorizando os recursos endógenos, criando polos de atração e fixação da população, construindo novas oportunidades de desenvolvimento. O setor do turismo é muitas vezes designado de "motor da economia nacional". O reconhecimento do papel central do turismo na economia é essencial para podermos aproveitar oportunidades e ciar novo paradigma,- o turismo do futuro -,onde o compromisso com a sustentabilidade se reveste de inédita importância. É necessário criar as bases para um turismo responsável, sustentável e inovador, em resposta ao crescimento exponencial da procura, à realidade da transição ecológica da nova era digital. O turismo do futuro deve contribuir de forma mais equilibrada para o crescimento económico, assegurando a sustentabilidade da atividade turística e preservando o património existente. Neste contexto, para implementar estratégias de longo prazo, Portugal deve: estimular e apoiar negócios de turismo competitivos e sustentáveis; melhorar a qualidade de vida dos residentes e dos profissionais do setor turístico e planear, desenvolver e gerir o turismo de acordo com os princípios do turismo sustentável.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-2269663322347958722022-09-05T07:02:00.043-07:002023-02-08T04:44:40.453-08:00OS EFEITOS DA INFLAÇÃO NA VIDA DAS FAMÍLIAS<p style="text-align: justify;"> Pela primeira vez, em quase um ano, a inflação em Portugal interrompeu a tendência de aceleração com os produtos energéticos a darem uma pequena trégua, a variação homóloga do Índice de Preços (IPC) abrandou ligeiramente em agosto para 9%, o que se compara com 9,1% em julho. Mas os dados do INE servem de pouco consolo às famílias. A inflação está em níveis que não eram vistos no país há quase três décadas, e, apesar da enorme incerteza, ainda não atingimos o pico. Além disso, os preços dos produtos alimentares continuam a acelerar. Com os salários a não acompanharem a inflação, perdendo poder de compra, e, os bens essenciais entre os preços que mais sobem, as famílias de menores rendimentos, são as mais penalizadas. Mas a classe média também sofre. A inflação tem efeitos pesados sobre as famílias, que se repercutem de forma desigual, ao longo da distribuição de rendimentos.. As famílias mais pobres são as mais atingidas, mas também nas famílias de classe média, a escalada de preços faz-se sentir de forma profundamente desigual. Porquê ? Há vários fatores a ter em conta, mas um dos mais importantes passa pelos padrões diferenciados do consumo das famílias, consoante o seu nível de rendimento. Para calcular a inflação, o INE, considera como referência um cabaz de consumo "médio" a partir dos dados do Inquérito à Despesa das Famílias (IDEF) Só que os dados desse inquérito permitem concluir que "o peso do consumo de bens essenciais, como a alimentação e energia, no consumo total é muito superior nas famílias mais pobres. Por exemplo, em 2015/2016- anos a que se refere o último inquérito disponível-, os produtos alimentares (incluindo bebidas não alcoólicas) representavam 19,6% da despesa total dos 20% com menores rendimentos no país. Já no caso das famílias nos 20% com maiores rendimentos, esse peso era de 11%, sendo a média de 14,3% O mesmo acontecia com as despesas de habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis que representavam 35,1% da despesas total das famílias que se encontravam entre as 20% mais pobres, por contraponto a 29,6%, no caso dos 20%com maiores rendimentos. Como a energia, e os produtos alimentares contam-se entre os preços que mais têm subido, isto significa que as famílias mais pobres estão a enfrentar uma taxa de inflação mais alta do que o valor publicado pelo INE, porque o peso dos bens essenciais do seu cabaz de consumo é superior ao que têm no cabaz médio considerado pelo INE, no cálculo do IPC. O peso de cada categoria de bens e serviços no cálculo da inflação é função dos dados agregados de consumo, ou seja, as famílias com mais meios, e, que consequentemente gastam mais em consumo têm um peso desproporcional. Há estudos que mostram que, por esta via, a inflação a que de facto estão expostas as famílias mais carenciadas é sistematicamente mais elevada. Por exemplo, no estudo da Deco. que desde fevereiro tem seguido os preços de um cabaz de bens essenciais, e, cujo crescimento dos preços foi bastante mais elevado do que a taxa de inflação agregada. Segundo os dados do Inquérito à Despesa das Famílias (IDEF), a inflação provoca desigualdade. A subida dos preços nos produtos alimentares e na habitação- onde se incluía a energia- é terrível para as famílias com menores rendimentos. Acresce que as famílias mais ricas têm margem de ajustamento. Podem cortar nas despesas não essenciais ou diminuir a poupança. Os mais pobres não têm essa margem, daí a importância das políticas do lado das famílias se centrarem nos mais carenciados. O impacto nas famílias irá depender do tipo de medidas que o Governo adotar, sendo crucial ter alguma forma de apoios, seja pela via fiscal, ou de transferências. A inflação afeta de forma desproporcional as famílias mais desfavoráveis de outras formas: as pessoas com rendimentos mais baixos têm um poder de negociação salarial tipicamente mais baixo, pelo que têm muito mais dificuldade em diminuírem as perdas de valor real nos salários. Por outro lado, também tendem a ter níveis de instrução mais baixos, pelo que num país que está na cauda da Europa, também em termos de literacia financeira, significa que estão muito pouco preparados e /ou informados sobre estratégias que possam adotar para abrandar os efeitos da inflação. A classe média também sente os efeitos da inflação. Aqui, uma das principais questões, prende-se com o aumento dos encargos financeiros co crédito à habitação, por causa da subida dos juros, na sequência da persistência do BCE para travar a inflação, bem como a subida das rendas de casa. As famílias mais penalizadas pela inflação são as que têm rendimentos assegurados(em particular por efeito do desemprego), e, as que têm rendimentos fixos, trabalhadores por conta de outrem e pensionistas. É certo que algumas dessas partes beneficiam de alguns apoios sociais, mas são em geral insuficientes para compensar a perda de poder de compra e deixam de fora pessoas que têm rendimentos muito baixos, mas acima do limiar dos apoios. No entanto, a redução do desemprego, sobretudo os mais jovens, é uma notícia positiva. Ainda não há indicadores disponíveis que mostrem o agravamento da desigualdade por causa da inflação, com consequências profundamente desiguais nas famílias, sem haver alterações nos indicadores oficiais da pobreza e desigualdade ( como o índice de Gini), se não houver alterações na distribuição de rendimentos em termos nominais. podem ter uma forte deterioração das condições de vida das pessoas, e os indicadores de pobreza e desigualdade não o refletirem, porque as estatísticas oficiais baseiam-se nos rendimentos, médios em termos nominais e não captam esses efeitos. É nos indicadores de pobreza que os impactos da inflação irão surgir. Depois de ter sofrido a maior queda em termos reais, em pelo menos sete anos, o salário médio em Portugal, deve continuar a evoluir abaixo da inflação, ou seja continuar a perder poder de compra. O que explica esta evolução? As empresas estão pressionadas pelo aumento de custos, limitando a margem para aumentar salários, e, como a inflação está a ser induzida sobretudo, pelos choques da oferta, significa menor procura dos trabalhadores e menor pressão em alta dos salários. Acresce a existência de limitações à concorrência na contratação dos trabalhadores, que leva a menores aumentos, bem como a a contenção salarial na Administração Pública. No Estado irá aumentar a pressão dos sindicatos, mas penso que os aumentos irão ficar muito aquém da inflação, o que significa quedas em termos reais. Quanto ao setor privado, a perspetiva de abrandamento ou mesmo recessão, na sequência da subida dos juros, deverá levar a uma menor procura de trabalhadores e menor pressão para aumentar salários e às dificuldades de muitas empresas mais expostas à concorrência internacional de aumentarem os custos, sem porem em causa a viabilidade do negocio.</p><p style="text-align: justify;">A subida dos juros irá provocar uma recessão ? Alguns economistas não preveem a inviabilidade de uma contração económica , na sequência de uma subida das taxas de juro, mas admitem que a recessão possa estar à espreita, na consequência de fatores negativos- que vão muito para além do desempenho da equipa chefiada por Lagarde. Um <i>cocktail,</i> onde se acrescenta também a crise energética e as disrupções nas cadeias globais de abastecimento. Alemanha e Itália são os países onde a probabilidade de recessão é maior, mas não é uma consequência apenas do aumentos dos juros, mas sim da elevada inflação e da forte incerteza e pessimismo sobre o fornecimento de energia, ás quais acrescem a subida dos juros. O extremar das posições relativamente à importância de gás natural da Rússia aliada, às mais do que previsíveis subidas acentuadas das taxas de juro, são os principais fatores a sustentar as previsões de uma recessão. A política monetária mais restritiva vem juntar-se às dificuldades já criadas pela pandemia e pela guerra da Ucrânia, pelo que parece difícil a Europa escapar a uma recessão. A questão será perceber se essa recessão é mais ou menos profunda ou duradoura, e, aí a política monetária poderá pesar muito. Se se concretizar o arrefecimento na Europa, Portugal não deverá escapar incólume. A cresce que o país está mais exposto ao aumento dos juros, dado os níveis de endividamento ainda elevados, e a maior parcela de taxa variável nos contratos, nomeadamente no crédito à habitação. Será principalmente no quarto trimestre em que sem o turismo para ajudar, e, com os efeitos das mais que prováveis subidas das taxas de juro, que poderemos ver um abrandamento mais significativo da economia.. O abrandamento da economia, por si só, não resolverá a inflação. Precisamos de continuar a normalizar a política monetária. As forças subjacentes ao abrandamento da economia são muito semelhantes às que estão a fazer subir a inflação. O que queremos evitar é uma situação semelhante à da década de 70, que também começou com um choque energético. seguido de efeitos de segunda ordem, que tornem a situação muito pior. O abrandamento da economia reduzirá as pressões do lado da procura, o que fará baixar a inflação. O nível de inflação que temos agora na Europa está a causar dificuldades às famílias com baixos rendimentos Por isso, é muito importante que a política orçamental desempenhe um papel ativo no alivio das dificuldades causadas pela inflação a estes grupos vulneráveis.. Reduzir a procura de energia na Europa, é a melhor forma de reduzir a dependência da Rússia.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-589497186752418192022-07-30T02:13:00.027-07:002022-09-11T07:45:25.866-07:00O CRESCIMENTO ECONÓMICO PORTUGUÊS<p style="text-align: justify;"> A questão mais relevante do crescimento económico português da última década, é o seu modelo de especialização. O problema consiste no facto de não termos resolvido as nossas debilidades produtivas, e, de pelo contrário, se ter acentuado a tendência de concentrarmos recursos em setores e atividade de baixa criação de valor, baixos salários, e, portanto baixa produtividade. Nas últimas quatro décadas "verifica-se que o setor dos serviços" é aquele que se expande em fase de retoma, mas que se retrai despropositadamente em fase recessiva, manifestando uma enorme volatilidade. Mais recentemente "o crescimento do PIB" entre o primeiro semestre de 2014 e o mesmo semestre de 2017, pode ser explicado pela forma como evoluíram três fatores: forte crescimento do emprego, quase estagnação do produto por trabalhador( uma das medidas da produtividade), e ligeiro receio da taxa de atividade. Ou seja: a recuperação do emprego ocorrida a partir de meados de 2013, significou mais do que uma variação quantitativa dos níveis de emprego e desemprego. Neste período, a estrutura do emprego, a sua distribuição por escalões etários, níveis de escolarização e ramos de atividade económica, alterou-se substancialmente. Concretamente, os ramos que criaram mais emprego, foram precisamente aqueles onde se pagavam salários abaixo da média nacional, enquanto se verificava a destruição de postos de trabalho em atividades com salários acima da média. A questão é clara: precisamos de política industrial e de uma estratégia para reduzir a dependência dos serviços, dos baixos salários, e, portanto dos "incentivos" à persistência de um sistema de emprego demasiado assente na baixa organização e na escassa produtividade. Não é preciso dizer que, nos dias de hoje, uma política industrial não é industrialização "à moda antiga" ; é uma estratégia organizacional produtiva, de redução de baixa qualificação das empresas, de incentivos ao uso do trabalho, no quadro das relações laborais adequadas e de estruturação não dependente da economia nacional. Há duas circunstâncias do crescimento que não podem ficar de fora, e, sem o qual este processo se degrada: a repartição dos benefícios com lugar para a melhoria da inclusão social e a quebra das dependências (incluindo a energética) e dos desequilíbrios do País (incluindo o ambiental e o territorial) Como ultrapassar a crise? A inovação e a criatividade são fatores centrais de uma nova confiança, de uma ambição global, de uma capacidade de construir soluções para novos problemas, e, de uma resposta à crise. Impõe-se por isso, uma cultura de mudança.. O nosso país desenvolveu -se nas últimas décadas abaixo das expetativas geradas pela nossa adesão à UE, apesar da importante melhoria, quer do nosso PIB per capita, quer dos nossos indicadores sociais. Isso deve-se a três razões principais: a nossa falta de escala/ em termos internacionais; o ser um país periférico do seu mercado europeu; e insucesso na atração de investimentos para o País, que apostem nas redes/cadeias de valor institucionais. Esta questão da fraca produtividade de capital externo para investimento em projetos de competitividade global, é a questão mais importante: Por algumas razões, não temos conseguido fazê-lo com sucesso, nos últimos vinte anos, e, sem uma estratégia ambiciosa que inclua esta vertente, não havia desenvolvimento sustentado no País. Depois de dois anos de pandemia, que todos os países tiveram de enfrentar, e agora com a guerra na Ucrânia, cujos efeitos a nível mundial, ainda estão por apurar(além da inflação que se sente), há que somar as dificuldades resultantes das questões climáticas e ambientais, e, ainda um grave problema; o acelerado envelhecimento da população. Não creio que a guerra na Ucrânia não seja afinal temporária, o que significa que o nosso país terá de enfrentar ainda, além dos efeitos da pandemia, que persistem, os efeitos mais prolongados da inflação. Vejamos algumas questões estratégicas, que considero determinantes para o desenvolvimento sustentado a longo prazo do país.</p><p style="text-align: justify;">1- Que no mínimo se cumpram os objetivos ambiciosos já traçados, no que respeita às questões climáticas, à biodiversidade e ao fenómeno do degelo, sabendo que o nosso clima temperado, tenderá a aproximar-se ao longo do século, de um clima mais tropical do que temperado;</p><p style="text-align: justify;">Que se fomentem sub-regiões ibéricas de desenvolvimento integradas para que os projetos estratégicos dos dois países se realizem, e, as empresas portuguesas ganhem escala internacional;</p><p style="text-align: justify;">3- Que se implemente uma política de imigração(jovem e qualificada), para reduzir o risco de envelhecimento e diminuição da população ativa que se tem verificado no país;</p><p style="text-align: justify;">4- Que se reforcem medidas de incentivo ao investimento estrangeiro, estimulando que o país se integre nas redes de cadeia de valor internacionais;</p><p style="text-align: justify;">5- Que haja uma melhoria da nossa competitividade externa e eficácia organizacional pela adoção da "internet das coisas" e da inteligência artificial nas empresas e no funcionalismo público;</p><p style="text-align: justify;">6- Que se aposte na economia do mar, como um setor estratégico, de que pouco se fala;</p><p style="text-align: justify;">7- Que se contribua para que o projeto europeu se reforce coo um bloco, e, que o modelo democrático ocidental fortaleça a sua componente de criação de valor.</p><p style="text-align: justify;">Um programa para a competitividade associado à recuperação desta crise, tem que impor dinâmicas efetivas de aposta na tecnologia, seja ao nível da conceção de ideias novas, de serviços e produtos , seja, ao nível da operacionalização de centros modernos rentáveis de produção, seja sobretudo, ao nível da construção e participação ativa em redes internacionais de comercialização de produtos e serviços O imperativo de uma nova ajuda, deverá consolidar novas perspetivas para o território. Portugal tem uma oportunidade única de potenciar um novo paradigma de cidades médias voltadas para a qualidade, a criatividade e a sustentabilidade ecológica. Este ano e os próximos irão ser decisivos para a economia e sociedade portuguesas. Está em cima da mesa, no contexto da consolidação e integração europeia, a capacidade de o nosso país conseguir efetivamente, apresentar um modelo de recuperação estratégica, sustentada para o futuro. Em tempo de crise, os recentes acontecimentos, à volta da agudização da crise, vieram uma vez mais demonstrar que existe no nosso país, uma minoria silenciosa que de há anos a esta parte, mantém <i>o status quo</i> do sistema paralisado, e, a pretexto de falsas dinâmicas de renovação social e reconversão económica, tenta reconciliar o caminho do futuro, com as mesmas soluções do passado, influenciáveis no contexto da mudança, como aquele em que vivemos. </p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-73760997903917940642022-07-19T07:59:00.052-07:002022-09-04T04:40:01.822-07:00A EVOLUÇÃO DA INFLAÇÃO EM PORTUGAL<p style="text-align: justify;"> A inflação é uma subida generalizada dos preços na economia. E traduz-se, na perspetiva das famílias, numa perda de poder de compra do seu rendimento nominal. Pode assim também ser vista como uma desvalorização da moeda. Uma inflação baixa, estável e previsível é boa para a economia. Isto é, permite que os diferentes atores, de forma relativamente independente, usem os sinais contidos nos preços, para tomarem decisões no seu melhor interesse, e, por essa via, ajudarem a que a economia produza resultados eficientes em termos de bem-estar individual. A inflação pode ser medida de várias maneiras, mas a generalidade dos países tenta medir um índice de preços no consumidor, no caso de Portugal usa-se o Índice de Preços no Consumidor (IPC). Temos inflação em Portugal? Sim a taxa de variação homóloga do IPC está atualmente nos 9,1%. A questão é perceber se a inflação observada em Portugal, reflete alterações nos rácios dos preços, que por definição, não geram persistência, ou, se pelo contrário, resultam das consequências da política sanitária, fiscal e monetária adotada nos EUA e na zona euro durante os anos de pandemia, entre Março de 2020 e Dezembro de 2021. No caso de Portugal, a inflação começa a notar-se no IPC, a partir de Dezembro de 2021. Se o fenómeno fosse exclusivamente monetário, o fator comum na variação dos preços seria dominante. Continuaria a haver dispersão nas variações dos preços, mas todas as classes de bens teriam um choque detetável na variação do seu indicador de preços. A enorme subida é aliás tão grande que não forma expetativas de inflação idênticas para o futuro. Pelo contrário, se os operadores do mercado identificarem quebras nas cadeias de abastecimento como razão próxima das variações abruptas dos preços, seria até de esperar uma descida dos preços nos bens compensatória quando se atingisse uma maior coordenação contemporânea entre a procura e a capacidade de produção e fornecimento dos vários tipos de matérias-primas, bens e serviços. Por outro lado, o estímulo monetário, nos EUA e na zona euro euro, foi brutal, o que em si mesmo deveria gerar inflação. Acresce que as economias desenvolvidas mantiveram o regime geral de rendimentos do trabalho num contexto de fortes condicionamentos à atividade produtiva resultantes das restrições sanitárias adotadas. Em síntese, há bons argumentos para defender que a inflação observada em Portugal tem elementos transitórios mas também permanentes. A verdade, neste caso, parece estar nos dois lados. Ou seja, a inflação poderá baixar um pouco mesmo que não seja combatida, mas dificilmente baixará o suficiente se a Reserva Federal americana (FED) o BCE, mantiverem uma política acomodatícia. Os sucessivos choques de oferta e de procura que atingiram a economia global desde os finais de 2019, as políticas económicas. e, recentemente, a escalada dos preços de energia ampliada pela invasão da Ucrânia, originaram um aumento das taxas de inflação nas economias do mundo ocidental. Será que elevadas taxas de inflação e vão prolongar no médio prazo? Por um lado, a situação atual encerra já, em si mesma, ingredientes de travagem que assegurarão o retorno a níveis próximos da fasquia de 2%, na economias do ocidente, e não em 2023, pelo menos em 2024. Por outro lado, não há dúvida, que existem riscos de "enquistamento" de taxas de inflação sustentadamente mais elevadas, do que no passado recente, sobretudo pelo esforço da transição energética e recuo da globalização. A pandemia, numa fase inicial, causou sucessivos choques de procura e de oferta, à medida que as economias navegavam entre confinamentos e vagas sucessivas e descontroladas. Depois, numa fase posterior, já com políticas orçamentais a apoiar fortemente, e, a suportar a procura, prevalecem os choques da oferta, pois as vagas refletiam-se sobre as cadeias logísticas e interromperam fluxos comerciais e de produção , de forma inesperada, em todo o mundo. Complementarmente, e, ainda com impacto atual, as políticas de covid, na China, importante fornecedor mundial, e, interveniente nas cadeias de valor, têm-se refletido no prolongamento dos designados estrangulamentos da oferta, adicionando às pressões inflacionistas. mas esperava -se que a médio prazo, a inflação normalizasse gradualmente, à medida que os reflexos da pandemia se atenuavam, e, a oferta iria progressivamente dando resposta à procura acrescida. A invasão da Ucrânia, em 24 de Fevereiro de 2022, veio alterar este desequilíbrio, acrescentando novos intervenientes, muito evidentes no disparo dos preços dos combustíveis, minerais e alimentação. Para tal, contribuíram, por exemplo as baixas reservas de gás na Europa, petróleo e carvão, com a Rússia a reduzir o seu abastecimento no mercado spot de gás, e, com o aumento das importações de energia da China, devido a problemas nas suas mina de carvão, e, que foram agravadas este ano pela guerra na Ucrânia. Acresce referir que os mercados futuros preveem que a pressão sobre os preços de energia será de longa duração. Vivemos por isso, num mundo incerto, que se caracteriza por elevadas taxas de inflação no imediato, resposta dos bancos centrais e do mercado- as taxas de juro já aumentaram cerca de 75p.b. desde o início de 2022-encarecendo o financiamento perspetiva de menor liquidez no mercado do dólar e de paragem das ações de liquidez no mercado do euro. Em suma, uma envolvente certamente mais restritiva, quer do ponto de vista financeiro, quer também porque o encarecimento de bens essenciais, com procura pouco elástica, dado o reduzido grau de substituibilidade, se refletirá em menor consumo e investimento. Ou seja, dado o atual enquadramento em 2022- 2023, perspetiva-se menor crescimento que aquele que se previa antes da guerra da Ucrânia; mais inflação a curto prazo, bem como taxas de juro mais elevadas, em resposta ao aumento das pressões inflacionistas. Todavia, a médio prazo, não nos parece que os fatores de influência se tenham alterado de forma radical. Questões como o abrandamento do processo de globalização, a tendência para uma maior verticalidade e proximidade das cadeias de produção, e, a transição energética, tendem a suportar as taxas de inflação mais elevadas. Ora taxas de inflação elevadas reduzem a capacidade aquisitiva das famílias, o poder de compra e pesam nos custos operacionais das empresas. A inflação tem também impacto muito diferenciado em termos individuais, consoante o rendimento, a capacidade de poupança e a situação patrimonial; nas empresas consoante o setor e a estrutura produtiva, ilustrando esta desigualdade, estimamos que a taxa de inflação em termos de bens essenciais, para indivíduos com menores rendimento, no próximo quantil da distribuição, seja de 1% mais elevada do que a taxa global. Um aumento das taxas de juro de referência irá trazer níveis de acomodação muito precários, pois os níveis de endividamento das famílias e dos Estados, são muito elevados, em comparação com a década de 70, levando a uma maior carga do serviço da dívida. Adicionalmente, um cancelamento do programa de aquisição de ativos, arriscará uma repetição da crise das dívidas soberanas, com a abertura, mais uma vez, de fendas neste bloco, com um disparar dos spreads soberanos na periferia da Zona Euro, constituindo um entrave à intervenção pública,( condenada a nível europeu), na resolução dos problemas e na mitigação dos seus efeitos. Ou seja, uma alta das taxas de juro, pode ser estrategicamente auto derrotista, por ser dificilmente compatível com desafios, como o investimento na reconfiguração da economia(transição energética e digital), e por contrariar desígnios socie tais e estratégicos, como a desindustrialização e a anatomia tecnológica. Serão necessária medidas de sentido micro setorial, e, não uma mera postura micro/monetarista para gerir a turbulência na conjuntura, e, assegurar as novas condições estruturais. Assim, é necessário afastar para já "caçadeiras de canos serrados" e, priorizar a adoção de "armas de precisão", que tenham por objetivo os pontos de pressão estrutural. A curto prazo, as armas necessárias serão, instrumentos de natureza administrativa, dirigidos aos focos que surgem em setores que são muito concentrados, atenuando a contaminação do resto da economia: tetos de preços nas cadeias de valor da energia e a imposição de margens na área de distribuição moderna de bens de consumo (cadeias de supermercado, etc) Tais ações deverão eventualmente coexistir com medidas desenhadas para controlar riscos resultantes da indústria financeira e que podem vir a destabilizar outras componentes da economia. A longo prazo, defende-se um programa de investimento transformador da realidade económica, ao nível dos fatores de produção mais fundamentais, visando necessariamente maior autonomia energética e alimentar ( o que tem uma grande sobreposição com o combate às alterações climáticas, e, da qual não pode ser dissociada). Isto implica uma mobilização de recursos, para esse efeito, que agravará as pressões inflacionistas, que se fazem sentir atualmente, sendo por isso necessário o acompanhamento de medidas que ajustem a utilização desses recursos para outros fins, de forma a que se incentive o reinvestimento em mecanismos viabilizadores de autonomias e de atenuação de volatilidades. Estas implicam estratégias explícitas na mobilização da capacidade produtiva para o " bem comum": limites qualitativos, por setor, e quantitativos ao crédito concedido, reformulação do enquadramento institucional do financiamento público, regulação do perímetro do portfólio de investidores institucionais; são algumas das opções a fazer parte deste conjunto. Este mix de medidas não deveria ser entendido como "economia de guerra", no entanto, devem ser alongadas as medidas de curto prazo e ter uma lógica prospetiva e sustentada de longo prazo. O aumento permanente da taxa de inflação, implicará mais tarde ou mais cedo, uma alteração da política monetária seguida pelo BCE, algo potencialmente devastador para os países da zona euro que estão mais endividados. Ganhou-se ainda consciência da necessidade de aumentar o nível de segurança militar, na Europa, o que vai exigir um aumento da despesa pública neste setor, o qual deve ser conseguido através da cobrança de mais impostos e/ou corte de financiamento de outras áreas de intervenção do Estado. Ao mesmo tempo, prepara-se uma revolução na forma como o bloco europeu se organiza para suprir as suas necessidades energéticas, sendo este um movimento que criará, seguramente, muitas oportunidades de crescimento no futuro.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-52199566550709377142022-04-25T06:07:00.040-07:002022-06-29T03:28:11.661-07:00O DESAFIO DA INOVAÇÃO EM PORTUGAL<p style="text-align: justify;"> Um dos desafios para esta década será o de promover um desenvolvimento sustentável, assente na inovação, e, capaz de assegurar uma repartição da riqueza mais justa do ponto de vista social. O País confronta-se com inúmeras desigualdades com forte impacto social. Uma frágil criação de emprego, acompanhada de um aumento do número de trabalhadores pobres (working poor), que auferem salários insuficientes para satisfazer as necessidades básicas, geram dúvidas sobre o futuro do País, ao nível social. Para que a política económica, atinja um único objetivo, alcançar um desenvolvimento sustentável pressupõe um equilíbrio entre o económico e o social. Desde logo, as políticas de educação, ciência e inovação, são fundamentais para alcançar esse objetivo. Se em Portugal, assistimos nos últimos quarenta anos, a uma democratização do ensino, é ainda muito escassa a ligação entre a intervenção científica às empresas e a sociedade. Assim , é importante promover de forma sustentável, a competitividade empresarial, na dupla dimensão tecnológica e territorial, estimulando a atração do investimento com forte valor acrescentado e de futuro; reter os trabalhadores mais qualificados; promover uma gestão estratégica do sistema, da ciência e da tecnologia; garantir a previsibilidade dos incentivos públicos, promovendo um planeamento adequado das instituições, assim como assegurar clareza e transparência no funcionamento dos agentes de política científica. Ainda importa, envolver os municípios nesta estratégia conjunta, para juntamente com empresas e universidades, desenvolverem projetos de inovação comuns. Portugal continua a ter um problema de qualificação dos adultos em idade ativa, que passa por um défice estrutural de qualificações escolares, e, que ciclicamente, pode gerar uma elevada proporção de desemprego estrutural, considerando a desadequação das suas competências profissionais, face às mudanças em curso no mercado de trabalho. Assim, cabe incentivar a educação e formação de adultos, assim como promover as redes locais para a qualificação, permitindo uma coordenação a nível regional e local. Perante o movimento da digitalização da economia, é necessário traçar uma intervenção em escala e em profundidade, para enfrentar as consequentes mudanças, prevendo um eventual aumento do desemprego de longa duração. O European Inovation Scorebord (EIS), faculta uma avaliação comparativa do desempenho da investigação e inovação dos Estados -membros da UE, e outros países europeus vizinhos, permitindo aos decisores políticos, avaliar os pontos fortes e fracos relativos dos sistemas nacionais de investigação, acompanhar o progresso e identificar áreas prioritárias para promover o desempenho na inovação. Desta investigação resultou que o desempenho da inovação, continua a melhorar em toda a UE, com os países de fraco desempenho a crescerem mais do que os países de maior desempenho. Desde 2014, a economia portuguesa caiu no ranking que mede a inovação das empresas da UE. Como promover a inovação no contexto de uma sociedade envelhecida? O Plano de Recuperação e Resiliência, inclui, igualmente, uma forte presença das questões do digital, do futuro do trabalho, e, da adaptação das empresas a esta realidade, como resposta às necessidades de curto prazo da economia, mas também a preparação das pessoas e das empresas nos próximos anos. Mutos jovens, na faixa etária dos 15-29 anos, careceu das competências digitais, e, isso criará desigualdades sociais, até mesmo um catalisador de desigualdades. Assim, é necessário tornar os recursos digitais mais acessíveis e integrá-los totalmente na educação nacional. Os jovens podem adquirir competências digitais, desde o início do ensino básico, e, o sistema escolar deve combater efetivamente essas desigualdades digitais, para que não haja um entrave ao crescimento económico. É de referir que, considerando o expectável impacto da digitalização da economia, no mercado de trabalho, nos próximos anos, urge considerar o tema da empregabilidade digital, como central nas políticas públicas laborais. Tendo em atenção, os dados demográficos, divulgados recentemente pelo INE: o número médio de filhos, de mulheres e homens, passou de 1,03 em 2013 para 0,86 em 2019. Por outro lado, 93,4% das mulheres e 97,6% dos homens do escalão etário mais jovem(dos 18 aos 29anos) não tinham filhos e mais de metade dos homens dos 30 aos 39anos, encontravam-se na mesma situação. Também, segundo dados do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, em 2021, foram rastreados menos de 80mil recém-nascidos, através do teste do pezinho, um indicador muito aproximado da natalidade. Os dados deste rastreio, indicam que pode ter sido batido o recorde histórico na quebra da natalidade. Como é sabido, há muito que a sociedade portuguesa envelhece. E, se esta década será exigente, a nível socioeconómico, em particular, exigindo um esforço de inovação, a verdade é que o País encontra-se extremamente envelhecido, pelo que condicionará fortemente o seu desenvolvimento . A este problema da natalidade, acresce o da emigração. A população residente em Portugal, tem vindo a diminuir, desde 2010, em resultado do saldo migratório, causa de um acentuado crescimento do volume de emigração. Portugal tem relativamente a outros países da UE, uma preparação acima da média de contratos permanentes a termo e temporário, não permanentes, assim como um elevado nível de subemprego a tempo parcial. Ora um país que não mostra capacidade para reter os mais qualificados, está a comprometer o seu desenvolvimento futuro. Trata-se de uma relevante perda de capital humano para Portugal. E se o País perde pela emigração, ano após ano, milhares de pessoas, a grande maioria jovens, é fundamental que se implemente uma estratégia de criação de emprego qualificado em setores competitivos. Daí que é urgente, compreender que a promoção da inovação, passa não só, por um investimento contínuo na educação, na ciência e na formação, como também em facilitar melhores condições de trabalho à população ativa. Estamos perante uma transformação da economia por via da digitalização, que exige a articulação das dimensões da inovação no capital humano e da inovação das instituições. Será importante, implementar uma estratégia em que assuma especial protagonismo, a valorização do conhecimento da ciência, da tecnologia e da inovação, assim como criar emprego qualificado. Portugal distingue-se por quatro fatores centrais: oferece recursos humanos qualificados, num salto único de aproximação às qualificações médias da UE, que se nota em particular nos mais jovens; um modelo reforçado de apoio ao investimento em I&D, que tem vindo a operar uma transformação no perfil de IDE captado onde ganham peso as unidades de I&D, de ensaios clínicos,( na indústria farmacêutica), e as operações em co promoção entre empresas e unidades de sistema científico e tecnológico; um conjunto de infraestruturas competitivas que ligam Portugal ao mundo; e por fim, um país aberto e pacífico que se encontra como um dos mais seguros do mundo.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-56469839836586051282022-03-20T07:34:00.059-07:002022-04-05T09:36:15.401-07:00O AUMENTO DOS PREÇOS E O NÍVEL DE VIDA DOS PORTUGUESES<p style="text-align: justify;"> A escalada dos preços conjugada com a escassez de matérias-primas provocada pela guerra, está a criar uma crise sem precedentes, pois não é apenas uma crise energética. O aumento dos preços dos combustíveis está a ser idêntico ao que foi há cerca de 10anos entre 2008 e 2014, mas é acompanhado por um aumento geral de outros bens, o que na altura não aconteceu. Este aumento de preços e escassez de bens, começaram devido à pandemia, que implicou grandes restrições à produção e ao transporte internacional. Isso causou uma quebra da oferta, sem que tenha havido uma quebra correspondente da procura, gerando uma pressão sobre os preços, que aumentam agora muito com a guerra. Não sabemos quando vai terminar a guerra, e, o receio de a escassez se prolongar, é ele próprio um fator que leva os preços a aumentar, porque há algum açambarcamento de produtos e matérias-primas. Neste momento há restrições, não apenas no fornecimento de hidrocarbonetos, mas de outras matérias-primas e bens alimentares. Há o risco de faltarem alguns produtos, em particular os cereais. Mas não só. A Ucrânia e a Rússia são importantes produtores de fertilizantes, e, a sua falta pode ter implicações na produção agrícola a nível mundial. A globalização tornou o mundo muito mais interdependente e comprometeu a soberania em todo o tipo de produtos. Tudo o que pode ser comprado maias barato, lá fora, deixou de ser produzido cá dentro. Isto aplica-se a Portugal e a qualquer país. Na Europa, isso foi particularmente relevante, porque ao longo dos anos foi-se importando cada vez mais alimentos. O facto de estarmos na UE, reduz de forma dramática a possibilidade de proteger a produção nacional. Estamos sujeitos às regras europeias, e, não há muito a fazer, se as nossas produções não forem mais eficientes, do que as dos outros países. A UE tem acordos comerciais com países que produzem alimentos a preços baixíssimos, e temos de perceber que Portugal não controla a sua moeda, as relações comerciais, a taxa de câmbio ou a possibilidade de apoiar as exportações. Sem isso, não podemos esperar milagres. Ainda assim, há algumas coisas que se podem fazer, como incentivar ou desincentivar certo tipo de produção. Por exemplo , a terra que se dedica a eucaliptal, pode ser para produtos alimentares. Mas, numa economia de mercado, em última análise, o que decide os níveis de produção é se ela é ou não rentável. Esta crise, afeta de forma muito assimétrica, os mais desfavorecidos. Temos dois milhões de pobres, e muitas pessoas irão ter dificuldade em comprar bens essenciais. Não é uma questão de não existirem, mas de passarem a ter um preço inacessível. Se os preços todos aumentarem 10% e os salários e pensões não tiverem aumentos, as pessoas irão perder 10% do poder de compra, o que é muito para os mais pobres. Nesse sentido, são muito importantes medidas que apoiem a capacidade aquisitiva dos mais desfavorecidos. O Governo, anunciou recentemente num pacote de 400milhões de euros, para apoiar as famílias mais desfavorecidas no acesso a bens essenciais e um desconto de 10euros por botija de gás, para as pessoas com tarifa social de eletricidade. É difícil dizer, se isso vai ser suficiente, porque os preços começaram a subir agora, e não sabemos por quanto tempo irão continuar a subir. Poderia haver uma lógica de vouchers para consumo de certos bens, mas mais simples, será haver subsídios ou baixa de impostos na redução do IVA, para bens de primeira necessidade. Hoje, o número de bens com taxa reduzida de IVA é relativamente restrito, e pode-se ponderar a redução para mais produtos. É importante perceber quem são os grupos mais afetados, para minimizarem os custos sociais. Quais as consequências desta crise a longo prazo? Em termos sociais, as crises quando são muito prolongadas, deixam lastros que não se reduzem do dia para a noite. Estamos a passar por uma sequência perturbadora de crises, porque logo a seguir à pandemia, temos o choque emocional da guerra, e se a isto se somar uma crise longa, haverá marcas na capacidade produtiva. Em Portugal, com a pandemia, a taxa de atividade não caiu de forma abrupta .Isto significa que apesar da pandemia ter custos sociais, eles não têm nada a ver com os custos de austeridade. Por isso, se a guerra terminasse brevemente, partíamos de uma taxa relativamente baixa de desemprego, e, de um nível de escalada de preços que ainda não colocou em emergência social, uma quantidade muito grande de pessoas. O risco é a guerra não acabar e se prolongar, poderá mesmo haver um recuo dos indicadores sociais. os juros do crédito à habitação, deverão começar a subir este ano, pelo que poderá ter consequências graves para as famílias que têm acesso ao crédito. Há uma parcela da população que poderá perder algumas centenas de euros, por mês, se houver uma subida significativa, que não se perspetiva, mas o impacto social seria menos grave do que a inflação, ou o aumento de preços dos bens essenciais. Mas, conjugados todos estes aumentos, deterioram o nível de vida e, causam riscos de tensões sociais. e políticas. Não há muitos exemplos na História de períodos como o petróleo acima de 75 dólares por barril, em que isso não tenha acontecido. Poderemos assistir a uma revolta social em Portugal, pois, se temos um aumento generalizado de preços, uma subida de taxas de juro e poucos mecanismos para acompanhar a evolução dos preços, com a evolução dos salários, então há uma perda real do rendimento. A distribuição dos sacrifícios não é homogénea, e, alguns grupos podem sentir-se injustiçados. é certo que é muito difícil, passar por um período de tantas dificuldades, sem que isso se traduza em agitação social. As taxas de crescimento económico têm vindo a reduzir-se de forma sistemática, ao longo de várias décadas em todos os países desenvolvidos. Isto significa, que a vida vai melhorando, mas a uma taxa mais lenta do que no passado. A economia portuguesa tem problemas estruturais profundos, que têm a ver com 100anos de atraso na qualificação de pessoas ena industrialização. Estamos muto assentes em atividades económicas de baixo valor acrescentado, com forças produtivas de crescimento da procura e, uma concorrência internacional muito grande. Além disso, temos um nível de endividamento dos maiores do mundo, pelo que, é difícil sair disto, pois não há nenhuma receita mágica. O cenário de guerra e a subida dos combustíveis, para alguns setores mais afetados (transportes, indústrias) poderão atingir situações complexas para a banca. Os bancos admitem que poderá haver um aumento de incumprimento, decorrente dos efeitos da guerra, em especial devido à subida da inflação e à redução dos rendimentos. Não será a níveis como já alcançados na crise da Troika, mas a guerra chegou numa altura em que as economias do euro, se tinham preparado para a normalização da política monetária. Até ao inicio da invasão russa na Ucrânia, as pressões inflacionistas, faziam supor uma alteração da política monetária, com o aumento dos juros, e que se esperava vir a ser seguida, no fim de 2022, com a subida das taxas de referência pelo BCE, além do fim da compra de ativos. Porém o agravamento dos preços, é devido não à política de estímulos, mas sim aos efeitos da guerra. Os grandes efeitos colocam-se na contração da produção, acompanhada por uma subida de preços e redução do poder de compra dos consumidores, pelo que irá implicar problemas não só na concessão do crédito, como poderão ser penalizados pelo aumento do incumprimento. A política monetária do BCE está numa situação muito difícil. A inflação está a subir, mas a subida dos juros para a combater, e o fim do programa de compra da dívida, anunciada, poderão criar situações perversas em vários países europeus, nomeadamente aqueles que estão mais endividados. Ou seja, se o BCE nada fizer, terá estagflação a nível de difícil gestão. Pandemia, crise energética e guerra, coloca muitas empresas no dilema de como suportar esta subida de preços. Aumentar preços significa que o poder de compra das famílias seja penalizado, sobretudo as que têm menores rendimentos. Segundo o Banco de Portugal, em termos macroeconómicos, traduzir subidas de preços, tidas como temporárias, em aumentos salariais permanentes, é a receita para a cristalização desses mesmos preços a um nível elevado. Por outro lado, uma eventual subida dos juros, com o respetivo aumento nos custos com o crédito à habitação, seria no atual contexto de aumento generalizado dos preços, um duplo golpe no orçamento, para muitas das famílias portuguesas. As taxas Euribor refletem antecipadamente as perspetivas de evolução da política monetária, e, é muito provável que o Banco Central Europeu, inicie a sua política de normalização dentro em breve, com a inflação a sobrepor-se aos sinais de desaceleração económica, provocada pela guerra da Ucrânia. Desde o início da pandemia, que o esforço da poupança dos portugueses aumentou para níveis historicamente elevados, Entre os motivos, para o aumento da poupança, nos últimos dois anos, esteve não só o maior esforço em colocar dinheiro de lado, como forma de precaução face à incerteza, mas também as restrições adotadas para impedir um descontrolo da pandemia, que levantam as opções de consumo. Atualmente, a súbita situação da guerra na Ucrânia, e, as inúmeras retaliações, que daí decorreram, tiveram efeitos económicos e sociais imediatos, como o aumento dos preços da energia, da inflação e das taxas de juro e, de um dia para o outro, acentuou-se a perceção de que as opções políticas da Europa iriam mudar. A dependência energética é um sinal de alarme que requer a urgente prioridade, de maior autonomia, nesta matéria, se a Europa se quiser manter como um bloco político, com voz no mundo. Da atual situação internacional, resulta a convicção de que a Europa, terá de se fortalecer militarmente. Os países menos desenvolvidos da UE, em que Portugal se inclui, é que têm beneficiado em grande escala do apoio de fundos europeus Mas as dificuldades económicas e sociais, com que nos defrontamos, não terão forma de continuar a ser disfarçadas à custa de futuros apoios europeus, pois estes irão ser submetidos, nos próximos anos, a outras prioridades. Neste contexto, são muito preocupantes as análises sobre a situação económica e social do país. Temos uma estrutura empresarial maioritariamente de microempresas, com uma produtividade muito baixa, que absorvem uma enorme parcela de emprego, e, portanto sem criação de margens que lhes permitam o pagamento de salários mais elevado. Representando este emprego 45% do total, isso provoca um efeito de contaminação no restante mercado, tornando a estrutura salarial, caracterizada por baixos salários, o que contribui para os mais baixos níveis de PIB, e, portanto para o empobrecimento do país. Portugal tem uma grande escassez de capital, pelo que impede sustentar autonomamente o seu desenvolvimento; tem uma autonomia estratégica altamente limitada por excesso de dívida; Tem pouca capacidade de investimento próprio. Por isso o Estado português tem de estar atento à execução orçamental; pôr a economia a crescer de forma sustentável; aumentar a incorporação de fontes renováveis na produção de eletricidade; eletrificação dos consumos, quer pela promoção de mobilidade elétrica, retirando das estradas com motores de combustão, quer pelo desincentivo ao gás de botija, promovendo outras soluções de aquecimento. Também uma maior capacidade solar irá favorecer o desenvolvimento de projetos de hidrogénio verde, outro vetor de descarbonização, que poderá ser relevante para a indústria portuguesa, e ,para outros fatores de consumo energético. Com a pressão da inflação e os juros da dívida a subir, o Banco Central Europeu prepara-se para começar a apertar a política monetária. A estratégia do Governo, que ficou clara no Programa de Estabilidade 2022-2026, é acelerar ao máximo a diminuição da dívida. A redução da dívida depende do crescimento do PIB, e da taxa de juro e dos saldos primários( sem juros). Mas os efeitos demoram sempre mais a achegar do que os juros a subir. Por isso, é preciso ir gerindo a dívida que existe.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-91486580272155257072022-03-16T06:52:00.063-07:002022-09-22T04:25:24.132-07:00UMA RECESSÃO NA ECONOMIA MUNDIAL?<p style="text-align: justify;"> O FMI fez uma avaliação da guerra na Ucrânia na evolução da economia mundial. Havendo um ambiente de grande incerteza na economia mundial, é certo que o PIB mundial irá crescer menos do que o anteriormente esperado. Não falando da Ucrânia, em que a redução catastrófica do PIB, será o menor dos problemas, criados por esta guerra, ou da Rússia, em que se espera uma redução de 7% do PIB em 2022, as várias regiões do mundo serão afetadas de modo diferente, tendo à cabeça a União Europeia, sobretudo os países mais a leste, e mais a norte, comercialmente integrados com a Rússia. uma segunda ordem de consequências desta guerra, incide nos preços das matérias-primas, que já vinham a subir por força da produção, e, das cadeias logísticas internacionais, causadas pela pandemia- subida que se vê agora substancialmente agravada em produtos como os energéticos (petróleo, gás e eletricidade), e, os alimentares (cerais, trigo e milho). A União Europeia, será a área do mundo mais atingida por estes aumentos de preços. O País do Sul, no extremo ocidental da UE, Portugal será em termos de PIB, um dos países menos afetados. As exportações para a Rússia e para a Ucrânia, não chegam a 0,5% das nossas exportações totais, estando em causa apenas 0,2% do vinho e a cortiça, que serão os produtos mais afetados, mas mesmo nestes dois casos, a dependência é hoje relativamente reduzida. Se em termos de crescimento do PIB, Portugal será um dos países menos afetados, em termos diretos, indiretamente, as coisas agravam -se pela excessiva concentração das nossas exportações, nos mercados da UE. Já em termos de inflação. seremos dos mais atingidos, pela dependência do país em matéria de importação de produtos alimentares e energéticos, com destaque para a importação de trigo, tanto na Ucrânia como na Rússia. Acresce no âmbito da UE, a nossa pobreza relativa, e, em termos mundiais, os níveis de endividamento extremamente elevados no Estado Português. Nenhuma empresa que compre matérias-primas ou energia, ou serviços de transporte à escala internacional, poderá deixar de tentar diversificar fontes de abastecimento, em busca de condições mais favoráveis e de ter consequências no aumento dos seus custos, nos seus preços de venda, em alguns casos, como mera condição de sobrevivência. Ver-se-á limitada, neste exercício, pelos seus concorrentes e pelos compradores dos seus produtos. Em concorrência, acabará sempre por sofrer uma diminuição das suas margens de lucro; em monopólio sentir-se-á tentada a aproveitar a oportunidade, pondo do lado do Estado o dever de reprimir, o que nas atuais circunstâncias, não passa de um crime agravado. Crítico, neste exercício de repercussão, será a tentativa de reproduzir o aumento dos preços dos bens de consumo, e do custo de vida, nos salários. Crítico, porque num regime de moeda única, como aquela em que vivemos, será necessário "ter os olhos abertos a 360graus; ver o que se passa nos outros países dos nossos concorrentes, sob pena de danificarmos ainda mais, a competitividade externa do nosso país. Uma subida dos preços dos produtos importados, que não controlamos, imporá sempre uma descida do nosso nível de vida. Á seca e à escalada de preços na energia e nos combustíveis, juntou-se a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, dois dos maiores fornecedores de cereais, desencadeando uma subida descontrolada do custo das matérias-primas essenciais para a produção alimentar, e que pode provocar uma escassez que obrigará à imposição de racionamento em Portugal. Os preços de vários produtos básicos irão disparar 20% a 30%, brevemente, tornando-se inacessíveis a milhares de famílias de baixos rendimentos. As carências alimentares vão atingir um nível como há muitos anos não se via. O stock de alguns produtos, como a farinha para massas, é muito reduzido e daqui a poucos meses podemos ter de fazer racionamentos, como aconteceu nos anos 70. Por enquanto, ainda não se registam ruturas de produção, mas há uma pressão de preços absolutamente inédita. A conjuntura, está a criar um tal clima de ansiedade, que no setor alimentar teme-se que possa haver, uma corrida aos supermercados, para antecipar os aumentos. Podemos ter no retalho, um cenário idêntico às filas nas gasolineiras. No campo dos cerais, a dependência de Portugal face ao exterior, é quase total. No trigo, a produção nacional só cobre 5% a 10% do consumo, mas neste ano, devido à seca, ficou próximo de zero, e, admite-se que haja escassez em alguns produtos. No que diz respeito ao milho, a guerra na Ucrânia, que era o principal produtor europeu, travou a fundo o abastecimento, fazendo disparar os preços. Portugal procurará novos fornecedores em países como EUA, Brasil, África do Sul ou Austrália, mas estas rotas são muito mais longínquas e dispendiosas. Em todo o setor de carnes haverá no geral, um aumento de 20% a 30% do preço final. O mesmo vai acontecer aos ovos, uma subida de 20% a 30%. No caso do leite, não é possível estimar até onde irá chegar a subida. Quanto ao gasóleo sobe, e, a eletricidade também. As rações à base de cereais também fazem parte da alimentação do peixe de aquacultura, como a dourada e o robalo, os mais consumidos em Portugal, que também deverão ter um aumento de 20% a 30%. O aumento do atum em lata, também é inevitável, devido à escassez de óleo de girassol, presente na maioria das conservas, e, cuja venda já teve de ser restringida em Espanha. O preço das conservas deverá ficar 25% mais caro, do que no ano passado. Cerca de 80% do óleo vinha da Ucrânia, mas a maioria das fábricas está a ficar sem matérias-primas. A solução passa por tentar importar este óleo de outros países, como a Argentina, substituir por óleo de soja ou de palma, que são mais caros, ou transferir o consumo para as conservas de atum em água ou azeite, o que faz disparar os preços. para conseguir conter o aumento na fatura dos supermercados, as famílias de classe média, serão obrigadas a adaptar o consumo, substituindo produtos mais caros, por outros mais acessíveis. Mais dramática é a situação das famílias de menores rendimentos, que não têm alternativas, porque já compram sempre o mais barato. Em Portugal, há dois milhões de pessoas que vivem com menos de 450euros por mês, e, têm de fazer uma enorme ginástica para conseguirem sobreviver. Não têm margem para aceitar um aumento de preços. Só lhes resta cortar. Haverá crianças a ir para a escola sem pequeno almoço e para a cama se jantar. Meio milhão de pessoas dependem de apoio alimentar. Além do aumento da procura por parte das famílias portuguesas, as instituições ainda vão ter de responder ao afluxo de refugiados. É um barril de pólvora. A construção e imobiliário assumem-se como um dos principais drivers da economia portuguesa, por força da sua resiliência e do investimento público e privado, mas com vários riscos emergentes, ligados à evolução dos mercados financeiros, acentuados com o cenário de guerra na Ucrânia. A nível do investimento, destaca-se o excesso de carga fiscal e burocrática; a falta de capacidade administrativa, de justiça e de estabilidade política. Ao nível da indústria, a elevada fragmentação, a baixa produtividade, que a par das elevadas taxas e impostos a cargo das empresas, inibe o crescimento salarial, a falta de inovação, formação e qualificação, a concorrência centrada no preço e a falta de regulação. Recentemente, a escassez da mão de obra e de materiais, tem sido uma das maiores preocupações do setor por afetar desfavoravelmente no planeamento e execução dos investimentos previstos. Quanto ao investimento privado, principalmente no setor residencial, o excesso de procura face à oferta, devido à maior facilidade de crédito à habitação, do aumento de poupança e da alteração das preferências dos consumidores, mas também da dificuldade em construir e reabilitar mais barato, por questões de licenciamento e custos de investimento, somando ainda a inflação, tem mantido uma tendência global de crescimento do preço das casas. Assim, fazer habitação acessível e promover a inclusão social, torna-se cada vez mais complicado. principalmente pelos custos de construção e de contexto (impostos e burocracia), pese embora, a procura possa abrandar por alteração das condições de financiamento e capacidade das famílias Quanto ao investimento publico, as entidades públicas, terão de ganhar competências e capacidades para avaliar a capacidade técnica, económica e financeira, e o impacto territorial e ambiental dos investimentos, e ainda o seu enquadramento orçamental e respetivo modelo de contratação. A falta de mão de obra, a curto prazo, poderá ser atenuada reorientando profissionalmente trabalhadores desempregados ou de outras indústrias, promovendo a mobilidade transnacional, atraindo o regresso de operários da construção civil emigrados. A médio prazo, com a crescente necessidade de edifícios e de infraestruturas, terá de ser impulsionada a industrialização do setor, a fim de desenvolver competências de caráter mais tecnológico, e, atraindo mais talento, com maior diversidade de perfis. A carência de materiais é um problema global, acentuado com a evolução mais otimista, face ao previsto, mediante a pandemia, que acabou por criar um desequilíbrio excessivo entre a produção (reduzida) e a procura (crescente) aumentando assim os preços. Quebras nas cadeias de comércio, perturbações nos mercados financeiros, e, sobretudo, forte pressão em alta dos preços dos produtos energéticos e de várias matérias-primas, são os principais impactos económicos desta guerra. . Significam um agravamento da fatura energética das famílias e das empresas e vão refletir-se mais cedo ou mais tarde em toda a economia. Seis meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a previsão é que a inflação mundial fique acima de 8%, e, o crescimento global diminua para metade. Várias grandes economias registaram contração na economia e a subida dos preços já triplicou em quase todas as economias inclusive Portugal e Letónia. Os bancos centrais viram-se obrigados a acelerar a subida dos juros desde os finais de fevereiro. A globalização sofreu um grande choque. O grande choque pós invasão da Rússia à Ucrânia foi a subida da inflação. Estima-se que cerca de metade da subida dos preços é devido à guerra, sobretudo por causa da energia e do setor alimentar. O resto são os problemas na oferta que subsistem por causa da pandemia, nomeadamente das disrupções que a política de "covid" na China continua a gerar nas cadeias de abastecimento globais. Se imaginarmos um "multiplicador" para medir a dimensão nas taxas de inflação, China e Letónia e Portugal surgem à cabeça. Não porque a inflação tenha subido mais em pontos percentuais, mas porque o rácio entre a taxa existente em Janeiro e a taxa muito mais alta registada em julho, multiplicou o nível de inflação várias vezes. A China tinha uma inflação abaixo de 1% em janeiro, e, subiu para 2,7% em julho. Portugal registava uma taxa pouco acima de 35, e, em julho disparou para 9,4%. Segundo as previsões mais recentes do FMI, o que a tendência global para a subida dos preços irá implicar é que a inflação mundial irá subir de 4,7% no ano passado para 8,3% este ano, com a taxa nas economias desenvolvidas a duplicar. O impacto da guerra não foi uniforme nos preços das matérias-primas que circulam nas rotas da aldeia global. Investigadores na Universidade de Oxford, salientam que foi mais severo em cadeias de fornecimento globais específicas, associadas à energia e às <i>commodities</i> agrícolas. Em termos geoeconómicos, os choques nos preços foram de proximidade(sobretudo na UE em matérias-primas de energia) ou, à distância na geografia de risco da fome (em economias pobres) e das importações críticas para a produção agrícola(em muitas economias emergentes exportadoras).. O aumento brutal dos preços desde 24 de fevereiro é visível em dois casos, com uma subida de mais de 150%, os fertilizantes e o gás natural cotado na Holanda(em euros), devido ao afastamento progressivo do fornecimento russo à União Europeia. No petróleo, o barril de <i>brent,</i> de referência na Europa, caiu ligeiramente na cotação em dólares, mas subiu no contravalor em euros, em virtude da desvalorização do euro em 8% em relação ao dólar. O índice das matérias -primas subiu 3%, mas os preços dos metais (incluindo os preciosos) desceu nestes seis meses. À exceção da Rússia, que deverá deteriorar-se quase 10% em 2022 e 2023, as previsões recentes do FMI, não apontam pra uma recessão da economia mundial. Mas é de assinalar que o ritmo decrescimento irá cair para metade este ano, à escala mundial, resvalando abaixo dos 3% em 2023. Na zona euro em 2022, o PIB cai para menos de metade e há o risco de ficar pouco acima de 1%, no próximo ano. Em Portugal, no segundo trimestre o PIB recuou 0,2% em relação aos três meses anteriores, apesar de a economia portuguesa continuar a beneficiar do <i>boom</i> do turismo, que funcionou como um retardador. Na Alemanha, a maior economia do euro, e outrora considerada "a locomotiva europeia", o PIB estagnou no segundo trimestre. Desde o primeiro dia da invasão russa, 73 bancos centrais por todo o mundo subiram as suas taxas diretoras, acelerando o aperto da política monetária. Somam 250 decisões de subidas. O BCE só tardiamente, a 21 de julho, decidiu iniciar o ciclo de subida dos juros com um aumento 0,5 pontos percentuais. Uma das mudanças que trouxe a crise geopolítica no Leste, foi acelerar a retirada progressiva da economia portuguesa da zona de risco da dívida pública. Desde a invasão russa à Ucrânia, o "<i>spread</i>" que os investidores exigem para comprar dívida portuguesa, subiu 10 pontos-base. O prémio de risco está acima dos dois pontos percentuais. Lagarde e o Conselho do BCE avançaram por unanimidade, com uma espécie de escudo contra a especulação a que deram à sigla TPI, que corresponde ao que tecnicamente designam por Investimento de Proteção à Transmissão da política monetária.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-3657778098424288582022-02-26T04:32:00.027-08:002022-04-05T09:37:36.996-07:00O FUTURO DA GLOBALIZAÇÃO<p style="text-align: justify;"> O Crescimento económico tem estado ligado à globalização. O rápido crescimento económico global do pós-guerra, foi acompanhado por uma célere expansão do comércio e do investimento a nível internacional.. Uma vez que vamos comprando bens e acedendo à informação, muitas vezes , sem prestarmos atenção às fronteiras nacionais, .é pouco provável que a globalização venha a recuar. Mas a expansão comercial, e, a abertura dos mercados está a parar. O sistema de comércio global, que abrange todas as exportações e importações sob a égide da OMC, está a fragmentar-se num conjunto de concomitantes acordos de comércio livre bilaterais e regionais. Uns quantos acontecimentos nos últimos anos, colocaram em evidência uma reação adversa aos ganhos desiguais da globalização. Embora haja grandes diferenças entre a decisão da Grã-Bretanha de abandonar a UE e ascensão do outsider político Trump à Casa Branca, os dois eventos revelaram muita coisa acerca do descontentamento do eleitorado com o status quo, inclusive, no que concerne à globalização. Num referendo histórico realizado em Junho de 2016, a Grã- Bretanha tornou-se a primeira nação soberana a votar a favor do abandono da UE. Algumas das sondagens, junto dos votantes, sugerem que uma reação negativa à globalização, possa ter desempenhado um papel no Brexit, a par de temas dominantes como a soberania e a imigração. O Governo do Reino Unido, tem insistido que a Gã- Bretanha, irá manter a sua perspetiva global, que constituirá um conjunto de políticas diferentes das suas atuais relações comerciais com os países que pertencem e os que não pertencem à UE, e que será seguramente importante para o futuro. Do outro lado do Atlântico, na renhida luta pela eleições presidenciais dos EUA, Trump identificou o comércio internacional, como um dos problemas que a América enfrentava e que ele resolveria de modo a tornar a América grandiosa, novamente, segundo duas regras: comprar o que é americano, e contratar quem é americano. O objetivo da globalização como resposta às dificuldades económicas, reflete um subjacente descontentamento com os benefícios desiguais resultantes da abertura global. Obama atribuiu algum desse descontentamento à globalização: a globalização combinada com as redes sociais e com informação constante, afetaram a vida das pessoas, de formas muito concretas- uma fábrica fecha, e, de repente, uma cidade inteira já não tem aquela que era a principal fonte de emprego- e as pessoas já não estão certas quanto às suas identidades nacionais ou o seu lugar no mundo. Não há dúvida de que isto produziu movimentos populistas, tanto de esquerda como de direita, em muitos países a Europa. As pessoas sentem uma desconfiança quanto à globalização, não podendo dar resposta às suas necessidades imediatas. Os benefícios da globalização, não foram equitativamente partilhados em todas as nações. O enorme crescimento das economias emergentes nas últimas décadas, conduziu a uma maior desigualdade entre as nações, uma vez que mais países pobres foram "apanhando" o ricos numa era em que os mercados do mundo inteiro se tornaram cada vez mais ligados através do comércio e do investimento. A globalização ajudou as economias emergentes a crescer a bom ritmo, uma vez que conseguiram exportar para a América e para a Europa, ao mesmo tempo que beneficiaram do investimento ocidental. Assim, por causa do crescimento relativamente mais rápido, das economias emergentes, a desigualdade caiu em todas as nações, uma vez que o fosso dos rendimentos, se estreitou entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Contudo, a desigualdade do rendimento global, manteve-se na sua maioria inalterada. Isto deve-se ao facto de dentro dos diversos países, a desigualdade, em média, não ter melhorado significativamente, ou, em alguns casos ter mesmo piorado. Embora, o sinal de aumento da desigualdade de rendimentos, possa ser parcialmente seguido até à globalização, isso não significa que a solução venha a ser encontrada só nas políticas comerciais. é difícil separar os efeitos sobre as desigualdades provenientes do comércio, daqueles que emergem da transformação tecnológica, que beneficia mais, os altamente qualificados, do que os trabalhadores que se sutam a meio do espectro de qualificações. Mesmo, apesar de haver medidas que podem ser incluídas nos acordos comerciais, para garantir que se cumpram padrões adequados, no que respeita ao trabalho e à proteção do ambiente, é mais provável que as medidas de política interna, como a redistribuição e o investimento na qualificação, sejam capazes de dar resposta mais direta à crescente desigualdade. Auxiliar os perdedores da globalização e resolver a desigualdade, devia, então ser em primeiro lugar, um problema interno dos governos, em vez de uma questão do comércio. No entanto, a reação adversa à globalização leva os decisores políticos a focarem a sua atenção nos acordos comerciais, o que significa concretizar uma maior abertura é algo que está sob grande pressão. Mas a explosão do investimento direto estrangeiro que acompanhou o rápido crescimento do comércio internacional, desde o início dos anos 90. foi uma das razões que os países e desenvolvimento cresceram tão bem, que mil milhões de pessoas foram retiradas da pobreza extrema e o fosso entre estas nações e as suas semelhantes mais ricas, foi reduzido. Para os Grandes Economistas, a hipótese de poderem redefinir a forma como a globalização é gerida, seria vista como uma oportunidade de repensar alguns conceitos fundamentais. Certamente, aceitariam o desafio de reexaminar a questão de como aumentar a qualidade do crescimento económico, e, não apenas o seu ritmo; explicar como é que a economia opera em termos ótimos; e, analisar o que é que não funcionou e, como é que isso pode ser melhorado. Deste modo, os ensinamentos dos Grandes Economistas foram concluídos a partir de mais de dois séculos passados, a estudar os problemas económicos do mundo, podendo assim ajudar-nos a marcar o futuro da globalização e enfrentar os desafios atuais.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-37275789385190757082022-02-17T06:01:00.047-08:002023-01-20T04:40:15.285-08:00OS DESAFIOS DE UMA ECONOMIA AZUL<p style="text-align: justify;"> O que é uma economia azul? É o conjunto de atividades económicas que se realizam no mar, e , outras que não se realizando no mar, dele dependem, incluindo os serviços não transacionáveis dos ecossistemas marinhos. Trata -se de uma definição ampla que abrange todos os subsetores tradicionais( como as pescas ou os portos), aos emergentes (aquacultura), aos transversais (turismo hoteleiro), aos serviços (financiamento e seguros) e à administração pública (poupança e defesa). Ficam também abrangidos nesta definição, aqueles a que nós podemos chamar de "novos subscritores", como a biotecnologia marinha, a robótica aquática, ou, as energias marinhas renováveis. Por seu turno, excluem-se do perímetro, as atividades que mesmo que tenham ou possam ter carácter económico, não são significativas ou não estão medidas em Portugal, e sobre as quais não existem dados. É uma definição que privilegia a cadeia de valor, ou seja, assume uma abordagem abrangente, tão extensa quanto possível. De certo modo, olha-se para cada atividade e fragmenta-se a mesma em três: a atividade em si a atividade central, por exemplo, construção de navios em estaleiros), a atividade a montante (conceção de projetos de engenheira naval e a atividade a jusante o desmantelamento naval). A mesma lógica é aplicada nos estudos europeus que sobre esta matéria, vêm sendo desenvolvidas pela Comissão Europeia. Desde 2018, que se publica em Bruxelas, um estudo anual, sobre economia azul, que é o retrato mais completo de que dispomos para o espaço europeu. Embora, reconhecendo a dificuldade de estudar e comparar situações em 28/27 Estados-membros, (pré e pós Brexit) a Comissão adota o mesmo conceito de economia azul, integrando não só as atividades que se desenrolam no mar( como as pescas, a aquacultura, a energia eólica offshore, o transporte naval, as atividades portuárias e o petróleo ou gás natural.) mas também, num segundo pilar, as atividades que usam os produtos ou produzem bens ou serviços, ligados à economia azul, incluindo o processamento e retalho do subsetor alimentar marítimo, a construção naval, a biotecnologia marinha ou o subsetor segurador. Numa terceira e última dimensão, a UE, refere-se às atividades ao mar no quadro da administração pública, como seja o exercício de soberania, a proteção ambiental, e, os serviços de educação e investigação, ligados ao oceano. Traçada esta divisão puramente analítica, a UE conclui que se devem englobar no conceito de economia azul" todas as atividades económicas setoriais e multissetoriais relacionadas com os oceanos, os mares e as zonas costeiras, incluindo aquelas que se localizam em regiões interiores e nos Estados sem litoral" A economia azul visa promover o crescimento económico, a inclusão social, bem como a preservação e melhoria dos ecossistemas, assegurando a sustentabilidade ambiental. Não pertencem ao conceito de economia azul, atividades que agridam o ambiente, que ameacem ou destruam os ecossistemas marinhos ou a biodiversidade, que não estejam alinhados com o propósito de inclusividade e de combate às alterações climáticas, ou, em geral , com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda de 2030. Um dos primeiros documentos onde esta ideia ficou consagrada, foi na declaração política aprovada, por consenso, por mais de 70 delegações de todo o mundo, na semana azul, em Lisboa em 2015. Ali se defende explicitamente que a economia azul deve promover a proteção do ambiente, o desenvolvimento sustentável, o crescimento económico exclusivo e a criação de emprego. A economia azul é ,em suma, circular, inclusiva, descarbonizada e sustentável, como o determinam os compromissos internacionais (nomeadamente o Pacto Ecológico Europeu), mesmo que se reconheça que muitas atividades ainda têm um caminho a percorrer nesse sentido. Quais os desafios que a economia azul enfrenta? Estes desafios são, ao mesmo tempo, oportunidades de ir ao encontro dos novos mercados, tal como eles se configuram no século XXI. Não são tarefas gigantescas, nem caminhos solitários: são um convite ao diálogo permanente com a sociedade, com os poderes públicos, com as universidades ou com os financiadores. São um apelo a assumir uma abordagem globalizante, com traços novos, que se aceleraram no contexto pós- pandémico. O primeiro desafio é o do conhecimento: o mar é, ainda um imenso território inexplorado que temos de conhecer melhor, como condição essencial para dele beneficiar. Portugal é um país que é 3% do território terrestre e 97% do território marítimo, Só aprofundando o pilar do conhecimento se pode saber o que existe no solo e no subsolo, para que se cuide depois, da viabilidade económica e ambiental, e, do aproveitamento dos recursos vivos e não vivos. Só para os recursos vivos ,sabemos que o mar aloja 95% do total dos recursos da biosfera, podendo os mesmos ser usados em cosméticos. Já em plena pandemia, ficámos a saber que uma enzima marítima estará a ser utilizada no diagnóstico do vírus e que a hemoglobina extracelular, está a ser testada no quadro de combate a esta doença. Nos recursos não vivos, os materiais como o cobalto, cobre manganésio ou níquel, têm um valor industrial elevado e, são usados no fabrico de bens que usamos nos smartphones. O segundo desafio é o da sustentabilidade Hoje, e nos anos vindouros, nenhum projeto vencerá se não for ambientalmente sustentável e, se não for capaz de o demonstrar. Nunca como hoje, se falou tanto de sustentabilidade, de crescimento verde e azul, de novos modelos respeitadores do ambiente e de uma sociedade que procura neutralidade carbónica até 2050. A atual Comissão Europeia transformou o Green Deal- Pacto Ecológico , em prioridade máxima da sua ação. Portugal está totalmente alinhado com esta tendência, tendo-se afirmado nos últimos anos, como um país da linha da frente, em domínios como as energias renováveis, ou a economia para o baixo carbono. Fomos um dos primeiros países europeus, a apresentar um roteiro para a neutralidade carbónica. As medidas tecnológicas procuram obter mais eficiência energética, através de novas regras e design e uso de melhores materiais de construção, bem como recuperação do calor ou novas técnicas de incentivo. Por sua vez, as medidas operacionais, passam acima de tudo, pela redução do consumo. As medidas energéticas são aquelas que visam substituir o consumo de energias fósseis por alternativas como os biocombustíveis, o gás natural liquefeito, o hidrogénio, a energia eólica ou nuclear. Face a uma tendência inevitável, não resta aos operadores outra alternativa senão incorporar no seu comportamento empresarial, a narrativa da sustentabilidade, e, perceber tão rapidamente quanto possível, que isso é uma condição existencial do século XXI. O acesso ao financiamento é outro dos desafios das empresas para poderem crescer, internacionalizar e investir. A capacidade de aceder ao financiamento bancário para aquisição de ativos produtivos (bankability) e as limitações ao crescimento (scale-up), são restrições sérias que as empresas sobretudo, as PME, sentem no seu dia a dia. No quadro europeu, a Comissão Europeia acordou com o BEI, um conjunto de princípios sobre o financiamento da economia azul sustentável, que começam poe reafirmar a ideia central de sustentabilidade e do papel das instituições financeiras, como promotoras dessa sustentabilidade, sublinhando num desses princípios, a necessidade de restaurar, proteger ou manter a diversidade, resiliência, valor intrínseco de saúde nos ecossistemas marinhos. Parece pois, que não há falta de instrumentos financeiros: há, sim, que tornar estes mecanismos mais conhecidos e fluidos, os processos menos burocráticos, no quadro de uma cultura empresarial mais arrojada, capaz de executar projetos tão poderosos como o próprio oceano. Um último desafio é a aposta na diversificação. Diversificar, significa criar valor acrescentado nas atividades económicas internacionais. Num quadro de pressão demográfica, continuamos a necessitar de acesso às proteínas animais do peixe, seja através das pescas ou da aquacultura. Mas uma pesca sustentável, e, eficaz precisa de se modernizar. A nossa frota é ainda inadequada, face aos nossos parceiros europeus, e, carece de renovação e modernização. Sem isso, também não seremos capazes de nos lançar nos palcos internacionais, de forma mais visível, conquistando quotas de mercado no peixe e nas conservas em segmentos distintivos, oferendo serviços de ponta inovadores no setor bancário e segurador, apostando na energia eólica offshore, onde estamos muito à frente de outros países europeus e dispondo de legislação primária que nos permita avançar para a neutralidade carbónica em 2050, estimulando cientistas investigadores e instituições nacionais a apostar na investigação e desenvolvimento na área do mar, onde marcamos também, a linha da frente da produção científica internacional..</p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-8034562127413874142022-02-16T05:55:00.049-08:002023-01-06T09:01:01.319-08:00APOCALIPSE CLIMÁTICO ?<p style="text-align: justify;"> Há alguns anos era comum ouvir as pessoas negarem as alterações climáticas, menosprezarem a enormidade da ameaça, ou argumentarem que era demasiado cedo para nos preocuparmos. A Humanidade tem enormes recursos ao seu dispor e, aplicando-os sabiamente, pode ainda evitar o cataclismo ecológico. Se a Humanidade quisesse evitar as alterações climáticas catastróficas, qual o valor que teria de pagar? De acordo com a Agência Internacional de Energia, alcançar uma economia neutra em carbono, exigiria que gatássemos 2% do PIB global anual, além do que já fazemos, no nosso sistema energético. Numa sondagem recente, feita pela Reuters a economistas do clima, a maioria concordou que chegar ao crescimento zero, custaria apenas 2% a 3% do PIB global anual. O relatório do Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas de 2018, refere que, para limitar as alterações climáticas a 1,5% C, é necessário aumentar os investimentos anuais em energia limpa, para cerca de 3% do PIB global. Uma vez que a Humanidade já gasta cerca de 1% do PIB global anual em energia limpa, precisamos apenas de uma fatia extra de 25% do bolo. Existem outras fontes de emissões, como a utilização dos solos, a silvicultura e a agricultura. Muitas dessas emissões, podem ser diminuídas de forma barata através de mudanças comportamentais, como a redução do consumo de carne e laticínios, e, passar a depender mais de uma dieta à base de vegetais. O preço para evitar o apocalipse, está muito abaixo dos dois dígitos do PIB global anual. Não são certamente 50% do PIB global anual, nem 15%. Em vez disso, está algures abaixo dos 5%, talvez tão baixo, quanto investir mais 2%, em lugares certos. É importante fazer investimentos em novas tecnologias e infraestruturas, como baterias avançadas para armazenar energia solar e redes de energia atualizadas para a distribuir. Estes investimentos criarão numerosos postos de trabalho e oportunidades económicas, e, serão eventualmente economicamente rentáveis a longo prazo, em parte, através da redução das despesas de pessoas com cuidados de saúde, salvando milões de pessoas de doenças causadas pela poluição atmosférica. Podemos proteger as populações mais vulneráveis contra desastres climáticos, tornar-nos melhores para as gerações futuras, e, criar uma economia mais lucrativa. Aprendemos nos últimos anos a definir o nosso objetivo à volta de um número: 1,5ºC . Podemos determinar a maneira como o alcançamos com outro número: 2%. Temos de aumentar o investimento em tecnologias e infraestruturas verdes 2% acima dos níveis de 2020. Naturalmente, ao contrário do valor de 1,5º que é um limiar cientificamente robusto, o valor de 2% representa apenas uma estimativa aproximada. Prevenir as alterações climáticas catastróficas é um projeto totalmente viável, embora, obviamente custe muito dinheiro. Uma vez que o PIB global é de 2% atualmente, significa que para se salvar o ambiente, não precisamos de prejudicar completamente a economia, num abandonar as conquistas da civilização moderna. Precisamos apenas de redefinir as nossas prioridades. Assinar um cheque no valor de 2% do PIB anual global, não é o suficiente. Não resolverá tosos os nossos problemas ecológicos, como os oceanos repletos de plástico, ou a perda contínua de biodiversidade. E mesmo para evitar as alterações climáticas catastróficas, teremos de garantir que os fundos são investidos nos locais certos e que os novos investimentos não provocam os seus efeitos ecológicos e sociais negativos. Se para explorar os metais raros, que são necessários para a indústria de energias renováveis, destruirmos ecossistemas, então podemos perder tempo quanto ganhamos. Também teremos de mudar alguns dos nossos comportamentos, e, formas de pensar, desde o que comemos até à forma como viajamos. Durante a crise financeira de 2008- 2009, o governo americano gastou cerca de 3,5% do PIB para salvar as instituições financeiras consideradas demasiado grandes para falir. Talvez a Humanidade deva também encarar a floresta amazónica, como sendo grande para falir! Tendo em conta o preço atual da floresta tropical na Amazónia do Sul, e, o tamanho da floresta amazónia, comparar todos esses terrenos para proteger as florestas, a biodiversidade e as comunidades locais contra os interesses empresariais destrutivos, custou cerca de 1% do PIB global. Atualmente, nem a empresas, nem os governos estão dispostos a fazer o investimento adicional de 2%, necessário para evitar as alterações climáticas catastróficas. Então para onde vai o dinheiro? Em 2020, os governos gataram 2,45do PIB global. De dois e dois anos, outros 2,4% são gastos em alimentos que vão para o lixo. A UE estima que o dinheiro escondido pelos mais ricos em paraísos fiscais corresponde a 10% do PIB mundial. Todos os anos mais de 1 bilião de dólares em lucros, são escondidos em <i>offshores</i> pelas empresas, o que corresponde a 1,65 do PIB global Pra evitarmos o apocalipse, provavelmente, precisaremos de impor alguns novos impostos. Mas porque não começar por cobrar os mais antigos? É claro que é mais fácil falar de cobrança de impostos, de redução de orçamentos militares, de interrupção do desperdício alimentar e de redução de subsídios, do que fazer alguma coisa, especialmente quando somos confrontados com alguns dos lóbis mais poderosos do mundo. É preciso uma organização determinada sempre que alguém disser: O apocalipse já chegou!</p><p style="text-align: justify;">Algo de grave se está a passar com o planeta onde vivemos. Em Trás-os- Montes, Alentejo e Algarve, onde antes havia riachos ou apenas ouedes, como no Norte de África, antes havia paisagens e ainda verdes, agora há cinzas e árvores queimadas e sempre os monstruosos eucaliptos para alimentarem o próximo fogo, onde outrora havia rebanhos, caça aves e sinais de vida, agora há um deserto silencioso e assustador, e, onde antes havia muita gente, aldeias, casais e hortas, agora há ruínas e silêncio, e, de repente como num filme de ficção científica, ilhas de um verde imenso, onde se produz intensamente olival, amendoal, laranjal, abacate regado até à loucura com água que hoje faz falta nas ribeiras e nas barragens e que amanhã faltará nas torneiras. Este verão, Portugal e a Europa bateram recordes de temperaturas nunca antes atingidos, Todos os rios de referência na Europa- o Danúbio, o Ebro, o Tigre, o Loire e o Tamisa- e todas as grandes barragens esvaziaram-se, numa antevisão tenebrosa, daquilo que nos espera no futuro próximo. Num relatório apresentado há dias pela Organização Meteorológica Mundial, estima-se que num dos próximos cinco anos, viveremos o ano mais quente de que há memória, com as temperaturas a subirem, em média 1,5graus, exatamente aquilo que se queria evitar que acontecesse antes de 2050 e que mais de 150países se tinham comprometido em Paris a fazer tudo para o evitar. Hoje, porém, sabemos que tudo andou pra trás: o regresso em força às energias fósseis(incluindo as centrais de carvão) fez com que as emissões de dióxido de carbono, responsáveis pelo aquecimento global, tenham já regressado a valores anteriores à pandemia, e, sabemos que mesmo que todos conseguissem inverter o rumo e assegurar os compromissos estabelecidos para serem cumpridos até 2030, os danos já são irreversíveis. Em 2050 já não será possível evitar que a temperatura do planeta se tenha fixado em pelo menos mais 1,5graus do que hoje. E daí para a frente entramos naquilo que Guterres chamou "territórios de destruição", num processo absolutamente irresponsável: aquecimento dos oceanos, degelo da calote polar, dos icebergues e dos Himalaias ( com as inundações a que já estamos a assistir no Paquistão), secas extremas e prolongadas, começando pelos países subsarianos ( onde o número de pessoas atingidas pela fome extrema duplicou nos últimos três anos), rios e barragens vazios ou reduzidos a caudais mínimos, culturas e animais em extinção, incêndios cada vez maiores e mais incontroláveis e água cada vez mais escassa para abastecer os humanos. É importante perceber as teses otimista e conformista. a primeira pretende que <i>in extremis </i>a ciência encontrará maneira de evitar o desastre, como o fez tantas vezes antes, ou o próprio planeta se encarregará de se regenerar por si mesmo: segundo a tese conformista, o que estamos a viver é resultado da exaustão dos recursos naturais por exploração humana. E assim sendo vamos viver uma crise regeneradora: milhares de milhões de seres humanos irão morrer, para que os outros sobrevivam e, com a experiência adquirida e a ajuda da ciência, possam retomar a vida num planeta mais limpo e liberto da pressão sufocante de hoje. Um darwinismo planetário em que já se advinha quem são os milhares de milhões sacrificados. Décadas de passividade perante os avisos que o planeta foi dando, conduziram ao que de repente parece uma súbita aceleração dos indicadores do desastre, mas que ´+e apenas a resposta da doença por falta de tratamento. Assusta-me uma geração de líderes mundiais que prefere continuar irresponsavelmente a ocupar-se dos seus jogos de guerra, negócios de armas e de energia, enquanto o mundo que habitamos se desintegra à vista de todos, bem como me admira a indiferença com que a geração jovem assiste a isto, comodamente instalada no seu mundo virtual e hedonista, sendo que sabemos que o presente e o futuro será construído por nós.</p><p style="text-align: justify;"> </p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-44303265202776702522021-11-11T05:56:00.031-08:002021-11-14T06:47:49.493-08:00UM NEW DEAL VERDE<p style="text-align: justify;"> O Geen Deal europeu, deu uma nova orientação à economia da União Europeia: o seu objetivo seria transformar uma economia com elevadas emissões de carbono, numa outra de baixas emissões, mantendo em simultâneo, as condições de vida, aumentando a qualidade de vida, e, melhorando o ambiente natural. Apresentou 50 medidas políticas específicas, e, afirmou a sua intenção de atingir os objetivos do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas. O principal objetivo do Green Deal europeu, ao tornar a Europa neutra em termos climáticos, é ajudar a abrandar o aquecimento global, e mitigar os seus efeitos. O plano prevê aumentar a meta de 2030 da UE, DE reduções de emissões líquidas de 40%, para pelo menos 50%. Ao mesmo tempo, o Green Deal, será a estratégia de crescimento da Europa, criando emprego e melhorando a qualidade de vida. Isto implicará, reduzir as emissões em muitos setores, dos transportes à tributação, da alimentação à pecuária, da indústria à agricultura. A preservação da biodiversidade também é um objetivo importante.. O que se pretende é que esse esforço catalise um investimento significativo. O Plano de Investimento para uma União Europeia sustentável, anunciado a 14 de Janeiro de 2020, tem como objetivo mobilizar pelo menos um bilião de euros de investimentos relacionados com a sustentabilidade durante a próxima década. Cerca de metade desse valor sairá do orçamento da UE, mas 114milmilhões de euros dos governos nacionais e 279mil milhões de investimento do setor privado, apoiado por garantias de empréstimo do Banco Europeu de Investimento. Outra parte do plano é um Mecanismo para a transição justa, em cujo âmbito, serão reunidos 100mil milhões de euros, com o financiamento do Banco Europeu de Investimento e dinheiro privado, par ajudar os países da Europa Oriental, que defendem mais de combustíveis fósseis, como o carvão. Políticas como estas, precisam de um enquadramento claro e também de alterações obrigatórias do statu quo., Por exemplo para o Green Deal Europeu ser bem sucedido, os governos precisam de reformular amplamente os instrumentos financeiros, o que inclui orientar os bancos públicos, como o Banco Europeu de Investimento, ou bancos nacionais, para o fornecimento de fundos a projetos verdes; usar fundos estruturais que apoiam o desenvolvimento económico em todos os Estados-membros, para promover infraestruturas verdes em vez de projetos "prontos para começar"; e, reestruturar os fundos de investimento e os fundos para pequenas e médias empresas, mais inovadoras que proporcionam soluções verdes. Estão a ser elaboradas propostas para a alteração de políticas. Entre outras medidas principais propostas, contam-se a Estratégia Industrial da UE e uma lei da Economia Circular. Também foi proposto um mecanismo fronteiriço de carbono para determinado setor - uma tarefa sobre produtos proveniente de padrões ambientais inferiores, destinada a cumprir as normas da Organização Mundial do Comércio. Ao iniciar conscientemente, o programa Apollo, como precedente do Green Deal europeu, a srª Von dder Leyen, procurou concentrar a atenção no resultado e não na escala do desafio e convocar o espírito do Apollo para guiar a Europa do século XXI. Durante muito tempo, os governos sobreinvestiram no carbono e subinvestiram nas fontes de energia renováveis. As receitas económicas convencionais de resolução do problema das alterações climáticas, apenas com um imposto do carbono, e, alguns subsídios para I&D, conjugadas com os entraves de políticas económicas aos impostos do carbono, deixaram -nos com sistemas omissos de impostos do carbono e uma transição verde preocupantemente lenta. Precisamos mais do que meras iniciativas dos governos; as propostas tanto dos Estados Unidos como da UE, não podem funcionar entre setores como a energia renovável, a descarbonização dos veículos ou quaisquer outras iniciativas específicas de setores. Pelo contrário, é necessário uma transformação inovadora em todos os setores, o que constitui uma das maiores mudanças, alguma vez tentadas pelos seres humanos. Será fundamental, reduzir o conteúdo material das indústrias pesadas, como a siderúrgica e introduzir uma economia circular de resíduos em setores, com uma mentalidade de reconverter, reutilizar e reciclar. Isto exige, alterações de materiais que possam produzir roupas mais duradouras, mudanças na nossa alimentação, com uma maior atenção a alimentos de origem local, e uma passagem para técnicas de produção como o fabrico em 3D. Todavia, os mercados não encontrarão sozinhos, uma orientação verde. Os governos têm um papel fundamental a desempenhar, fornecendo um canal estável e consistente de investimento, que garanta que a regulação e a inovação convirjam, segundo uma trajetória verde que enfrente as alterações climáticas. Além disso, os governos não podem recorrer às intervenções costumeiras, como os incentivos fiscais ou os subsídios públicos, que pura e simplesmente, não são suficientes para alimentar as mudanças necessárias. O New Deal Verde tem dimensões verdes, a nível citadino, regional e internacional. As políticas existentes mudam de formas radicais, quando a solução dos problemas é colocada no cerne da estratégia. Isto significa, essencialmente, pôr os objetivos no centro, do modo como é visto o crescimento económico em si, trazendo a orientação da inovação. A <i>Energiwend</i> <i> </i>representa um grande desafio. Tem por objetivo, a eliminação<i> </i>progressiva da energia nuclear, na Alemanha até 2022, o carvão até 2038, e metas progressivas para a geração da eletricidade renovável. O abandono da energia nuclear tornou mais difícil a implementação da <i>Energiwend, </i>porque<i> </i>o encerramento rápido das centrais nucleares, aumentou a necessidade das outras, alimentadas a carvão. Outro desafio, é a distribuição equitativa da transformação. Uma vez que muita da geração de energia sustentável , ainda beneficia dos subsídios tarifários, generosos da década de 2000, quando sobretudo a energia fotovoltaica solar, era muito cara, os alemães enfrentam sobrecargas significativas nas suas faturas de eletricidade, o que faz com que os preços da energia elétrica na Alemanha, se contem entre os mais elevados da Europa, e, uma vez que algumas indústrias e instalações de utilização intensiva de energia, estão isentas, a responsabilidade recai ainda mais, sobre as famílias, fazendo com que alguns se perguntem se o apoio público ou projeto, irá diminuir. Tudo isto, traz-nos de volta a ideia de que os objetivos sociais são mais difíceis de realizar do que as meramente tecnológicas, porque conjugam mudanças políticas regulatórias e comportamentais. E quanto ao fosso digital? No mundo de hoje, a capacidade de trabalhar com dados e tecnologia digital, é quase um direito humano. Sem ela, não há oportunidades relacionadas com aquilo que a economia do conhecimento e a conectividade digital proporcionam. Embora a tenologia esteja, em teoria disponível para todos, na verdade não o está, e, o confinamento de 2020, provocado pela covid, ampliou e reforçou o fosso digital, uma vez que os alunos tiveram um acesso desigual à tecnologia necessária ao ensino doméstico; muitos viram-se bloqueados sem banda larga ou computadores, tablets ou telemóveis suficientes. Muitos também não tiveram condições para aceder aos recursos de ensino <i>online.</i> O fosso digital é um feixe de diferentes desigualdades que convergem para criar resultados digitais desiguais, não uma mera divisão no acesso à internet, ou a computadores portáteis, mas uma divisão em relação ao fornecedor de acesso à internet, em relação ao interesse, às oportunidades relevantes online, e ao mesmo tempo de as utilizar, à formação qualidade de ligação e acessibilidade. O fosso digital é um problema mundial. Assim, as principais inovações necessárias, exigem uma melhoria da difusão, democratização, navegação integrada de recursos online e formação, algo que requer a coordenação de políticas que tenham como alvo o acesso a serviços online baratos, sustentáveis, acessíveis e valor.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-29565488142576547582021-11-08T06:45:00.033-08:002021-11-10T02:17:27.560-08:00A CRISE ENERGÉTICA GLOBAL<p style="text-align: justify;"> O petróleo é a peça chave no xadrez geopolítico global. Os mercados energéticos estão em ebulição. Depois dos recordes atingidos recentemente, os contratos futuros do gás natural, aliviaram nos últimos dias, e, o custo grossista da eletricidade também, mas em ambos os casos,, os preços permaneceram historicamente elevados, ameaçando encarecer a fatura da energia, de famílias e empresas na Europa fora, durante o inverno. Como aqui chegámos? E, sobretudo, como vamos sair daqui? O mundo vive em tempestade perfeita na energia: A pandemia e os respetivos confinamentos fizeram descer o consumo de produtos petrolíferos, e com isso, os preços baixaram. Depois acabaram os confinamentos, a atividade económica recuperou, voltámos a viajar, e, com mais procura, o preço do petróleo subiu. E não foi pouco crise energética que vivemos é uma <i>matrioska</i> de crises, porque as decisões dos grandes produtores de petróleo, condicionam o que sucede no gás. E a evolução do preço do gás, determina o que pagamos pela eletricidade nos mercados grossistas, pois os nossos sistemas elétricos, continuam a depender de centrais de ciclo combinado, alimentadas a gás para produzir, quando as renováveis não dão conta do recado. No petróleo, há projeções que sugerem que o pico da procura, será ainda esta década, e. depois cairá. No curto prazo há uma crise por resolver. O aumento dos preços da eletricidade na Europa é uma notícia para a transição energética e ecológica, tendo em conta que o problema remete à origem, que são as fontes de energias fósseis. Quando temos uma Europa e um mundo decidido em avançar para um processo de transição para uma energia limpa, é inevitável não desanimar perante a corrida às energias fósseis. Portanto, lutamos contra as alterações climáticas, e, assumimos querer fazer melhor. Para defender o clima, precisamos de soluções ativas reguladas que façam a diferença, e, que, efetivamente criem condições para um planeta melhor, que nos ajudem a responder às alterações climáticas e impulsionem a descarbonização.. Outro facto absurdo, é constatar que o problema da matérias-primas é transversal à indústria e ao próprio setor da energia, porque atualmente, o custo das obras de projetos nas renováveis, e, inclusive nos painéis solares, também dispararam significativamente. Seria expectável que o mundo mergulhasse no tema dos preços da eletricidade e, nesta fase, fossem identificadas soluções a curto médio e longo prazo, para que daqui a alguns anos, não estivéssemos a reviver este problema energético. É preciso exigir respostas e continuar a reforçar a energia verde, até porque as renováveis continuam a ser um dos vetores da descarbonização, em linha com o que está previsto para a neutralidade carbónica, que Portugal se propõe alcançar em 2050. Podemos continuar a percorrer o caminho para aumentar a capacidade renovável, mas importa analisar os custos inerentes às instalações das centrais e da matéria-prima nas renováveis, porque deste modo só estamos a dificultar que a energia renovável permaneça, se lutarmos para uma economia de baixo carbono. A crise climática é uma bandeira vermelha para a Humanidade. Os líderes mundiais foram postos à prova na Conferências das Nações Unidas sobre as alterações climáticas, mais conhecida como COP26, em Gasglow. Os sinais de alerta são difíceis de ignorar: as temperaturas atingem novos máximos, a biodiversidade regista valores mínimos, e, os oceanos estão a aquecer, a acidificar e a sufocar com resíduos de plástico. O aumento das temperaturas fará com que grandes extensões do nosso planeta, sejam mortas para a Humanidade, até ao final do século. Na verdade, estamos ainda muito longe da meta de 1,5ºC que a comunidade internacional definiu no Acordo de Paris, uma meta que a ciência nos diz ser a única via para garantir a sustentabilidade do planeta. Esta meta ainda é totalmente alcançável, se ao longo desta década reduzirmos as emissões globais em 45%, em relação aos níveis de 2010, se conseguirmos atingir a neutralidade carbónica até 2050, e, se os líderes mundiais chegarem a Glasgow com metas ousadas, ambiciosas e confiáveis para 2030. Todos os países têm de perceber que o velho modelo de desenvolvimento, assente no carbono, é uma sentença de morte para as suas economias e para o nosso planeta. Precisamos de descarbonizar agora, em todos os setores de todos os países. Precisamos de transferir os subsídios dos combustíveis fósseis para as energias renováveis, e, tributar a poluição, não as pessoas. Precisamos de definir um preço para o carbono e canalizar essas verbas para infraestruturas e empregos resilientes. As empresas precisam de reduzir o seu impacto climático e de alinhar de forma completa e credível as suas operações e fluxos financeiros com um futuro de emissões zero. Todas as pessoas, em todas as sociedades, precisam de fazer escolhas melhores e mais responsáveis sobre como se alimentam, viajam e consomem. Por outro lado, os jovens e os ativistas do clima, devem continuar a exigir aos seus líderes, que tomem medidas e responsabilizá-los. Em todo este processo de mudança, precisamos de solidariedade global para ajudar todos os países.</p><p style="text-align: justify;">Os bancos públicos e multilaterais de desenvolvimento, devem aumentar significativamente os portfólios climáticos e intensificar esforços para os ajudar na transição para economias resilientes e neutras em carbono. O mundo desenvolvido deve cumprir com urgência o seu compromisso de garantir pelo menos, 100mil milhões de dólares em financiamento climático anual aos países em desenvolvimento. A Organização das Nações Unidas foi fundada há 76 anos para construir um consenso na ação contra as maiores ameaças que a Humanidade enfrenta, mas raramente enfrentamos uma crise verdadeiramente existencial, que se não for bem gerida, constitui uma ameaça não apenas para nós, mas para as gerações futuras. Um futuro com um aquecimento global abaixo de 1,5ºC é o único futuro viável para a Humanidade, por isso, os líderes mundiais devem continuar a trabalhar em Glasgow.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-6172623516331462762021-09-23T05:57:00.050-07:002022-04-24T06:09:18.220-07:00A RECUPERAÇÃO ECONÓMICA<p style="text-align: justify;"> O" desconfinamento" permitiu à economia dar um salto, ao mesmo tempo que a injeção de fundos públicos, parece ter sido bem-sucedida, na proteção do emprego. A retoma continuará a bom ritmo, levando a revisões em alta das previsões de crescimento. Portugal foi das economias mais afetadas pela crise, e é dos 14 países da UE , que ainda não regressou aos níveis de produção de 2019. A recuperação da economia portuguesa, foi impulsionada por um crescimento muito significativo do consumo privado, nomeadamente, no que se refere às componentes de bens e serviços duradouros. No entanto, à medida que as restrições desapareceram, a economia tem maior força para acelerar. Portugal dá o segundo maior salto da Europa( 4,9%). Este dinamismo, conjugado com outros indicadores avançados, está a motivar um maior otimismo sobre o crescimento deste ano., Comissão Europeia e Banco de Portugal, esperam uma variação do PIB, acima dos 5% no próximo ano. No pico da crise, embora tenha sido a segunda maior recessão de sempre (-7,6%), a contração da economia foi inferior às previsões de todas as instituições, inclusivamente do Governo, com apoios públicos ambiciosos, a atividade aguentou-se melhor do que muitos esperavam. Na retoma, o crescimento do segundo trimestre sugere, que em condições de controlo da crise sanitária e ausência de restrições, a economia tem potencial de crescimento e de regresso ao nível da atividade anterior à crise. Por outro lado, a produção industrial, atravessa dificuldades, devido aos apertos nas cadeias de produção globais, à escassez de inputs ou produtos intermédios.. Na frente externa, as exportações ainda são muito penalizadas pelo turismo e ficaram no segundo trimestre 18,3% abaixo do final de 2019 e 15,3% abaixo do segundo trimestre de 2019.Nos próximos trimestres, a retoma da atividade económica deverá continuar. Apontam -se três razões: primeiro a expansão do consumo, que deverá continuar a beneficiar do elevado nível de poupança acumulado pelas famílias e pela recuperação do mercado de trabalho. A taxa de poupança das famílias atingiu 14,2% no primeiro trimestre de 2021. Uma poupança excedentária que poderá ser libertada progressivamente para consumo.. O segundo fator, é o dinamismo do investimento, que num contexto em que à recuperação cíclica da atividade, se soma a implementação de importantes projetos, ao abrigo de fundos europeus, antecipando uma retoma das exportações. Porém, no caso do investimento- só caiu num trimestre desde o início da crise, e, tem vindo a aumentar desde esse momento. Segundo o BPI, esse bom desempenho é explicado pela intervenção pública. O Estado realizou uma série de investimentos necessários à pandemia, nomeadamente enquadramento médico, ou a aquisição de material informático e escolar. Na relação do País com o exterior, há que apontar duas questões: a primeira é de exportações de mercadorias que, até Julho, já superaram mesmos os valores vendidos em 2019, antes da pandemia. Por outro lado, as exportações de serviços- essencialmente os gastos de turistas estrangeiros- continuam muito longe da pré-crise. Com as viagens e a circulação muito condicionada, a normalidade pode demorar a chegar. Só no mês de Julho as dormidas de turistas estrangeiros estavam 39milhões abaixo de 2019.</p><p style="text-align: justify;">O que se passa com o emprego? Talvez a maior surpresa esteja no mercado de trabalho. A taxa de Julho desceu para 6,6%. O mesmo valor de Fevereiro do ano passado, antes do primeiro confinamento. O números do desemprego têm gerado bastante confusão, mas se olharmos para a população empregada, a conclusão ainda é mais impressionante.. ,4,8 milhões de portugueses, têm trabalho; um máximo desde 1998.. São mais 238mil do que no mesmo mês de 2020 e mais 89mil do que em 2019. Como se explica que um país ainda em crise, com uma pandemia ativa e ainda com restrições, no terreno, esteja a bater recordes no mercado de trabalho? Pode-se explicar por políticas públicas de emprego, contratações na indústria, recuperação do turismo, muitos empregos apoiados, e, o facto de ainda não conseguirmos ver os efeitos negativos do fim das moratórias. São esses os motivos para o emprego estar a surpreender. A crise mudou o contexto e levou os governos a colocarem mais funcionários públicos, que estão agora no nível mis elevado de sempre. Além disso há um conjunto de setores que não são considerados da Administração Publica mas que estão correlacionados. Do lado do setor privado, os dados do INE mostram uma indústria a contratar mais 43mil no segundo trimestre e uma construção que não foi travada pela pandemia- é com a banca e o imobiliário, o único setor que cresce face a 2019. O segmento industrial, principalmente a metalomecânica, tem continuado a exportar. Contudo, ainda é cedo para saber se são números sustentáveis. A natureza da crise pandémica arrasta a atividade, por altos e baixos, e, embora Portugal tenha uma das maiores taxas de variação do mundo, o aparecimento de uma nova variante, pode ser suficiente para colocar em causa muito do nosso progresso.. Temos um enquadramento europeu muito favorável. O BCE continua muito ativo no mercado da dívida, mantendo os juros controlados . Qual será o impacto do final das moratórias de crédito? O turismo regressará à dimensão que tinha em 2019? Algumas questões económicas irão ter de se resolver. Esperemos o fim da pandemia para solucionar algumas questões económicas. É muito difícil prever o futuro, mas é certo que neste século iremos trabalhar menos horas, ter um trabalho mais flexível, ter mais tempo livre, inteligência artificial e robotização. Irão ser criados novos empregos nas áreas de saúde, bem-estar educação e cultura.</p><p style="text-align: justify;">Estamos confrontados com a urgência de reforçar o multilateralismo e de apoiar os mais pobres na resposta a três grandes crises- a pandemia( que agravou a pobreza e as desigualdades)as alterações climáticas e as migrações.</p><p style="text-align: justify;">O Comité de Ajuda ao Desenvolvimento (CAD) é o guardião das políticas de cooperação e ajuda ao desenvolvimento: mobiliza os recursos financeiros (públicos e privados), para os países mais pobres, e recolhe, analisa e publica dados estatísticos, avalia as políticas nacionais; e aprova os padrões de regras internacionais de cooperação para o desenvolvimento. Foi o CAD que, de forma pioneira, aprovou regras e princípios que hoje são consensualmente considerados como referência internacional, de que são exemplo a obrigatoriedade de ajuda em intuito comercial, o alinhamento dos programas de ajuda com as necessidades dos países de destino, a integração das preocupações com a igualdade de género e com a proteção ambiental, em todos os projetos e programas, ou ainda, a consagração do princípio de coerência entre as políticas de cooperação para o desenvolvimento. Mas, nos últimos anos, muito mudou no panorama de cooperação internacional, Por um lado, surgiram novos doadores governamentais que não são membros da OCDE (como a China, India e Brasil), novas modalidades de ajuda (como a cooperação sul-sul, a cooperação triangular e o financiamento privado), e novos protagonistas não governamentais, setor privado, ONG e fundações). Por outro lado, a agenda de cooperação para o desenvolvimento, teve de se ajustar à nova arquitetura global, que emergiu da aprovação em 2015, da ambiciosa Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, do Acordo de Paris e do Plano de Ação de Adis Abeba para o financiamento ao desenvolvimento. Finalmente, o sistema de ajuda ao desenvolvimento foi colocado, nos últimos cinco anos, perante uma sucessão de testes de stress; a crise síria, que originou a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, a crise alimentar na região do Sahel, os efeitos devastadores de fenómenos climáticos extremos em vários Estados insulares das Caraíbas, mas também em Moçambique; e finalmente a pandemia, que evidenciou a fragilidade extrema dos países mais pobres. Neste contexto tão exigente, foi crucial demonstrar a validade do CAD, em duas dimensões; em primeiro lugar provou-se mais uma vez a resiliência e a natureza contra cíclica da ajuda pública ao desenvolvimento. Em segundo lugar, domos capazes de desenhar, de negociar e de aprovar, nos últimos cinco anos, ima nova vaga de reformas, ao nível das regras de cooperação para o desenvolvimento. A título de exemplo destaco: a prevenção e o combate ao abuso à exploração e ao assédio sexual; o envolvimento da sociedade civil nas atividades de cooperação para o desenvolvimento; as regras e estratégias para o reforço do financiamento privado(<i>blended finance</i>)<i> </i>e, para o investimento de impacto no desenvolvimento sustentável;<i> o triplo</i> <i>nexus </i> de ações de desenvolvimento de ajuda humanitária e de esforços de paz.. Temos de assegurar o acesso equitativo às vacinas, liderar a descarbonização da economia, erradicar a pobreza e combater as desigualdades.</p><p style="text-align: justify;">O colapso da economia portuguesa em 2020, foi a maior contração anual registada desde a queda da monarquia. Mas, apesar do do prejuízo recorde de mais de 8% no primeiro ano da pandemia, o PIB, deverá regressar ao nível pré-Covid, já durante o ano em curso. A perda acumulada até que o PIB, regresse ao nível de 2019, soma 12,4% muito distante dos 39%, provocados pelas duas crises sucessivas entre 2009 e 2013, juntando a recessão mundial, com a retração provocada pelo resgate da Troika. Com um crescimento real de 4,9%, em 2021, estimado recentemente pelo INE, e uma aceleração da recuperação económica em 2022 acima dos 5%, segundo as diversas previsões existentes, a saída desta crise, provocada pela pandemia, será por isso, relativamente rápida. Nas duas grandes recessões da história portuguesa, desde o início do século XX, os efeitos foram mais longe, e, os problemas na economia também. Mais concretamente, na crise que houve entre 2009 e 2013, o PIB perdeu mais de 39%, e, a recuperação levou uma década. Na depressão entre 1913 e 1918, a economia perdeu 24% , e, o regresso ao nível de 1912, levou também dez anos. A crise de 2020 foi a mais recente num conjunto de 25 quebras anuais do PIB.A saída da crise, só é considerada, quando o PIB regressar ao valor pré -crise e se inicia um período de expansão do produto. Na crise atual, se a projeção para 2022 se confirmar, o PIB começará a expandir-se, ainda este ano. A recuperação mais acelerada agora esperada, deve-se a alterações significativas, em relação ás grandes crises anteriores. Desta vez foi diferente: a ausência de uma guerra mundial como a que devastou a Europa ente 1914- e 1918, onde uma cruel guerra civil do outro lado da fronteira, as medidas de combate à pandemia mais eficazes, a atuação do BCE, na resposta à covid, e a decisão da Comissão Europeia da suspensão das regras do défice e da dívida, por dois anos. No entanto, a aceleração prevista para 2022, está suspensa em pressupostos envoltos, com muita incerteza. O primeiro é que a pandemia tem os seus dias contados e, o motor do turismo, regressará.. O segundo é que as tensões geopolíticas, não saem do campo da diplomacia, e, não se transformam em novas regras, nas fronteiras da Europa. O terceiro tem a ver com o impacto da inflação média anual da zona euro, para lá do previsto. uma situação, que provocaria problemas económicos, e, obrigaria o BCE a cortar ainda mais e rapidamente os estímulos da recuperação. Desde há 15anos que a a economia mundial vive numa situação de "crise após crise", em que as heranças negativas de cada recessão, uma após outra, se vão "acumulando". O problema, é que as várias camadas de crises, sanitária, inflacionária, humanitária ( com a maior vaga de refugiados na Europa), geopolítica e stresse de dívida em 60% das economias pobres, se interligam e se influenciam mutuamente. Com o choque provocado pela invasão russa da Ucrânia, e o pacote de medidas financeiras a Moscovo, a economia mundial, irá crescer 3,6%, e da zona euro 2,8% em 2022, ano, em que era suposta uma segunda vaga de expansão económica, depois da crise gerada pela pandemia. A dinâmica do comércio mundial, de que a economia portuguesa também vive, irá cair para metade em 2022, e, o ritmo anual de crescimento, irá abrandar ainda mais: de 10,1% em 2021, caíra a pique até 3,5%, no médio prazo. Este choque "abrupto". como lhe chamou o FMI, provoca ganhadores e perdedores. O invasor ,a Rússia e o invadido, a Ucrânia, vão registar as maiores quebras do ano, mas a subida das matérias-primas vão dar um impulso em muitas economias emergentes e em desenvolvimento. Portugal, naturalmente levou por tabela em relação à previsão para 2022: de um crescimento de 5,1%, previsto em Outubro passado, passou passou para 4%, abaixo da meta de 4,9%, definida na proposta do OE para 2022, apresentada recentemente.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-85087400436047277832021-06-12T07:46:00.045-07:002022-10-27T09:27:20.260-07:00PORTUGAL DEPENDE DO TURISMO?<p style="text-align: justify;"> Estamos demasiado dependentes do turismo? A resposta é necessariamente sim. O turismo é hoje a nossa maior exportação, no sentido em que nos permite exportar serviços não transacionáveis, ao deslocar o cliente no espaço em vez do bem Ter um setor responsável por uma parte tão grande do nosso rendimento, traz um grande risco. Quando em 2020, o setor do turismo foi mais afetado do que os outros pela pandemia, a riqueza que ele produz caiu mais de metade. Portugal teve das maiores quebras económicas em 2020, na zona euro, e, espera-se que tenha uma das recuperações mais lentas em 2021, em parte porque depende do turismo. Por outro lado, como seria Portugal sem turistas? Talvez a alternativa ao turismo fosse nada.... Nesse caso, estaríamos mais pobres. Ou, talvez sem turismo teríamos talentos portugueses dedicados a ouros setores, com outra dinâmica e, estaríamos hoje, na vanguarda de outras indústrias. Para isso é necessário diversificar a economia sem menosprezar o turismo. Portugal é bom no diagnóstico, mas falta-lhe a implementação de uma estratégia que traga "materialidade" e "robusteça" a economia. O ADN de Portugal "salta à vista" e está no centro de serviços partilhados, que "arrastam formação especializada", como sucedeu com a Autoeuropa e outros <i>clusters</i> industriais, como a celulose ou a saúde e, os centros de competências que nos últimos anos se instalaram em Portugal, são fundamentais para o próprio turismo porque arrastam viagens, mobilidade, estadias e congressos. .A "criatividade" é outro eixo onde" a economia pode ganhar escala".. É necessário apontar algumas soluções para diversificar a economia. O essencial é focar a estratégia e escolher da lista, setores onde Portugal se pode diferenciar . Deve-se fazer o aproveitamento dos programas europeus para dar fôlego a um horizonte estratégico de reciclagem da economia europeia, que está a perder o pé na inovação. Se o país apresentar "projetos solidificados", o investimento estrangeiro, acabará por chegar, diversificando a economia; pois robustecer a economia não significa tirar valor ao turismo. Os estrangulamentos que Portugal enfrenta na burocracia, fiscalidade e justiça, devem ser eliminados com reformas estruturais, para facilitar a vinda das multinacionais e lutar com a concorrência dos países de Leste europeu do Norte de África. Se o país não se mover como um todo, as pessoas só se lembram de Portugal quando vierem de férias.. Para contrariar essa ideia, é preciso seguir uma estratégia de internacionalização, e atração do investimento externo. Um soltar de axiomas, capaz de construir uma estratégia que diversifique a economia, tirando partido dos fatores que tornam Portugal, um país diferenciado: segurança, clima, quadros com formação e línguas, fazem de Portugal um país fantástico na inovação. As receitas de turismo, podem ser usadas por empresários locais, para se lançarem noutros negócios para os quais não tinham capital anteriormente. Os economistas chamam a isto "economias de aglomeração": quando um setor cresce numa região, isto reduz os custos para as outras empresas na mesma região, mesmo em setores diferentes. Estes efeitos positivos do turismo, na economia, não querem no entanto, dizer, que dentro do turismo, não se possa fazer melhor, com mais valor acrescentado, e com menos desgaste dos recursos naturais. Além disso, mesmo dentro do setor do turismo, há espaço para diversificação, com foco em diferentes segmentos do mercado, que visam diferentes recursos e diferentes serviços. E também no turismo há inovação e novas oportunidades que se podem aproveitar.. Por exemplo, se a normalização do trabalho à distância, se concretizar, então talvez surja um novo mercado de turismo de longa duração., com visitas de vários meses, que exigem melhores condições das habitações, e, ligações digitais rápidas e fiáveis. Portugal está dependente do turismo. Mas, talvez, o turismo contribua de múltiplas formas, para melhorar as hipóteses de sucesso de outros setores. Mais importante do que lamentar a dependência do turismo, é criar as condições para que as ligações benéficas entre o turismo e outros setores floresçam e, para que as empresas de turismo melhorem, se diversifiquem e inovem por si. O Certificado Digital Covide criado para estimular as viagens na a Europa, é um dos aspetos que antecipa um "bom verão". A longo prazo, o objetivo é projetar Portugal, como um dos destinos mais sustentáveis do mundo e alcançar as metas traçadas para 2027:27 mil milões de euros distribuídos por todo o território, e, ao longo de todo o ano. Como se promove hoje o destino em Portugal? O essencial é incentivar a procura e manter-nos preparados para receber os turistas: acompanhar os operadores, companhias aéreas, agentes de viagem e obviamente os consumidores finais. Preparar o futuro, em termos em planos de curto e longo prazo, cujo objetivo é permitir em 2027, não só atingir, mas ultrapassar as metas delineadas, inclusive a nível das receitas. O turismo interno tem sido uma boia de salvação. Mas até que ponto, o país aguenta mais um verão, baseado nos consumidores nacionais?. Acredito que o verão vai ser muito positivo, quer a nível nacional, quer a nível internacional, tendo em conta, a evolução a nível da situação pandémica, em Portugal e lá fora, da entrada em funcionamento do Certificado Digital Covid a par do interesse por parte das companhias aéreas e do mercado de proximidade, o espanhol sobre o nosso país. Mas não viemos só do verão. Esse é o grande desafio: manter o ritmo de crescimento que nos permita chegar a 2023 com os mesmos números de 2019. Há aqui alguma incerteza sobre a abertura com outros mercados, a evolução da situação epidemiológica, no nosso país e nos outros, mas temos de traçar cenários, com base no que existe hoje, e as perspetivas são positivas.. Foi lançado o plano de turismo 20-23, assente em quatro pilares essenciais: dinamizar a oferta a nível financeiro, de regulamento, de sensibilização, tornando-o mais sustentável, a nível social e ambiental, qualificar os recursos humanos, estimular os empresários e a força de trabalho que trabalha no turismo, e, promover Portugal, enquanto destino sustentável. o quarto pilar relaciona-se com a quantificação e controle de tudo, com indicadores que permitam avaliar a evolução e como podemos melhorar. O facto de estarmos a apostar na dinamização e promoção da marca Portugal, enquanto destino turístico, e de mostrarmos precisamente essa autenticidade e base na nossa cultura, é algo que que estimula a vinda de estrangeiros e ajuda a que a recuperação, em todo o território e ao longo de todo o ano, seja mais rápida. Há três áreas fundamentais para trabalhar, se queremos ganhar escala, e recuperar mais rapidamente:. formação e qualificação, sustentabilidade e digital. No futuro, a ligação humana é muito importante, bem como a tecnologia que temos para ajudar e libertar tempo, e, por isso temos de valorizar o país e proteger o que temos cá dentro. A guerra na Ucrânia beneficia o crescimento do turismo. Portugal é visto como um destino seguro e pode ganhar quota de mercado. O setor do turismo espera uma forte retoma, e, os economistas apontam um contributo positivo para a evolução do Produto Interno Bruto ( PIB). O turismo pode ajudar a salvar o ano. Em Janeiro, hóspedes e dormidas ficaram cerca de 30% abaixo do mesmo mês em 2019, mas quase triplicaram face a Janeiro de 2021. Em Março, os voos nos aeroportos nacionais, foram apenas menos 12% do que no mesmo período de 2019, e, semelhantes aos de Janeiro, pelo que aparentemente, o turismo internacional, ainda não está a ser afetado pelo conflito. O setor em Portugal espera uma retoma forte. Entre os receios associados à subida de preços, há um epifenómeno a emergir, sendo Portugal um refugio para turistas que querem fugir de zonas geográficas mais próximas do conflito. As pessoas estão ansiosas por viajar, mas segurança e estabilidade são fatores muito importantes. Portugal goza de uma localização privilegiada que, no atual contexto de guerra, é uma vantagem competitiva e poderá contribuir para que os portugueses optem por fazer as férias em território nacional e os estrangeiros escolham Portugal para viajar. Também, os países em desenvolvimento, ainda com problemas de Covid, preferem deslocar-se para países com distância física de bombardeamentos, sendo a realidade pandémica considerada um entrave menor.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-19043745392701351532021-05-02T04:25:00.094-07:002021-07-14T07:52:33.160-07:00QUE SOLUÇÕES PARA A CRISE?<p style="text-align: justify;"> São necessárias políticas económicas inovadoras. Esta crise caiu numa economia, em que as relações de muitas pessoas com o trabalho estavam desligadas. Há muitas pessoas com vínculos precários, contratos a prazo, recibos verdes, e, até com uma parte ou a totalidade dos salários pagos informalmente, ou seja, sem qualquer registo de recebimento. É, de referir, que é nos setores de alojamento e da restauração, que mais se encontra este tipo de trabalho. A economia que surgir da crise pandémica, dificilmente, será a mesma. A dimensão da crise, e, a sua natureza, levará a atividade económica, por caminhos diferentes. É improvável, por exemplo, que o turismo internacional , volte ao que era num futuro próximo. As viagens de trabalho, com o surgimento do teletrabalho, e, a aprendizagem em massa das reuniões à distância, também não vão regressar ao que eram antes da crise pandémica. É necessário encontrar formas não traumáticas, de permitir que a economia se regenere, pelo que passa pelo desaparecimento de algumas empresas. Mas também é desejável que as empresas que são viáveis e podem sobreviver, permaneçam. As políticas de apoios sociais de que dispomos, estão assentes numa série de barreiras, como a necessidade de deslocação aos serviços da Segurança Social, ou ao Instituto de Emprego e Formação Profissional, e, o preenchimento de formulários. Esta burocracia, serve pra perceber, se o rendimento e a riqueza das pessoas, são suficientemente baixos, com o objetivo de afastar dos apoios , quem deles não necessite. No momento de crise em que vivemos, devemos preocupar-nos muito mais, com a probabilidade da ajuda não chegar a quem precisa, do que a de ela chegar a quem não precisa. Não podemos dizer, que não houve inovações nos apoios sociais. O rendimento social de inserção, foi renovado automaticamente, evitando aos beneficiários, uma carga de trabalho burocrático, pouco razoável num período destes.. A edição do Fiscal Monitor do FMI, de 2020, tinha estimativas de resposta dos países à crise ,divididas entre " acima da linha" "abaixo da linha" e "passivos contingentes." As medidas acima da linha, são aumentos de despesa ou reduções de receita, ou seja, dinheiro que é gasto na economia, ou que não chega a ser retirado. Há uma parte de despesas adiantadas e de receitas atrasadas, o que não é bem ajuda adicional por causa da crise. As medidas abaixo das linhas são injeções de capital em empresas, compras de ativos e dívidas assumidas pelo Estado. A linha que as distingue é que as medidas de cima são fluxos de dinheiro, enquanto as mediadas de baixo têm impacto nos ativos e passivos do setor público. Os passivos contingentes, são garantias dadas pelo Estado, que não custam dinheiro imediatamente, mas podem vir a custar se, por exemplo uma empresa com um crédito garantido, entra em incumprimento. Como aparece Portugal nesta fotografia? Até setembro de 2020, gastara 0,8% do PIB, cerca de 1,5 mil milhões, em saúde. Gastou mais 2,4 do PIB em apoios diretos às empresas e famílias e, em medidas como o<i> layoff</i> simplificado ou as ajudas a independentes, 4,5 mil milhões de euros. A despesa pública adiantada e receita pública adiada, foi de 4,15 do PIB. Aqui estão, por exemplo, os pagamentos à Segurança Social dos independentes, ou os pagamentos por conta de IRC, que foram adiados. Em passivos contingentes, como as moratórias dos créditos para famílias e empresas, está o grosso da intervenção: 6,75do PIB .Os passivos contingentes, são as linhas de crédito às empresas, quer as mais genericamente dedicadas às pequenas e médias empresas, quer as que se focaram nos setores mais afetados pela crise, como o turismo e a restauração. A agência de rating de dívida , avisou que os bancos portugueses, de um universo de 45 bancos europeus analisados, eram os que tinham maior proporção de créditos em moratórias, garantidas pelo Estado. Com a dimensão da crise e a força das sucessivas vagas, irá haver muitas empresas e pessoas com dificuldades para pagar obrigações fiscais e créditos adiados. Portanto, uma parte das moratórias, adia o reconhecimento de um problema, e, quase sempre, quanto mais durar a moratória, maior é a probabilidade de a empresa ou família, não recuperar a sua saúde financeira. Um dos receios das moratórias generalizadas, é a possibilidade de sobrevir um momento crítico, em que os bancos têm de reconhecer uma enorme quantidade de créditos incobráveis. Isto, contrasta com uma situação normal, em que os bancos estabelecem pedidos de moratória, caso a caso, no quadro das suas relações normais com os clientes, tendo em conta o risco individual, pelo que pode originar crédito malparado. O problema do crédito malparado, é que existe um momento, em que o banco tem de o reconhecer como incobrável. Se for um crédito a uma empresa, ou fica sem nada, ou a empresa entra em falência, e o banco recupera, com alguma sorte, uma parte do dinheiro que empresta, provavelmente, sob a forma de edifícios, máquinas, carros ou terrenos. Quase sempre, o banco vai desfazer-se destes ativos, a preços de saldo. Por vezes, os bancos "vendem" os próprios créditos, ou seja, transferem-nos para outra instituição financeira, especializada em créditos particularmente arriscados: quando há créditos incobráveis, o banco perde valor. Alguns bancos irão ter mais dificuldades em encaixar estas perdas, porque têm uma situação financeira frágil, e é por aí, que muitas vezes entra o dinheiro dos contribuintes. A crise pandémica virou a nossa vida do avesso. Muitas pessoas perderam todo ou parte do seu rendimento. No dia 20 de Março, a Comissão decidiu suspender a disciplina orçamental, para permitir aos países, défices orçamentais que não respeitem as regras de Maastricht. No entanto, a disciplina orçamental, não altera a taxa de juro da dívida, que é uma das principais preocupações, para países como Portugal. A Comissão também criou o Fundo Europeu de Solidariedade, que pode ajudar com montantes modestos, entre 2,5% e 6%, das despesas dos países mais afetados pela crise. Havia mais programas, aqui, e ali, desde os 37 mil milhões para ajudar no investimento em sistemas de saúde, a linhas de crédito do Banco Europeu de Investimento. O BCE reagiu com um pacote de compra de dívida de 750 mil milhões de euros, antecipando para o início da crise o famoso "<i>whatever it takes"</i> de Mario Draghi. Os apelos de vários economistas europeus, para o financiamento direto da dívida, com impressão de moeda, isto é, sem que esse financiamento envolva um aumento da dívida, não deram em nada. Depois da hesitações iniciais, a União Europeia, foi avançando, no apoio à despesas dos estados para as políticas de proteção dos rendimentos do trabalho, na dívida comum e na dimensão do orçamento. O pacote de recuperação da crise deverá aproximar -se de 1,5 biliões de euros. O pacote- se- e quando chegar- deverá vir envolvido, no chamado orçamento europeu, cujo verdadeiro nome é "Quadro Financeiro Plurianual", que tem uma duração de sete anos. A vantagem deste "Quadro" é que é um instrumento que pode ser financiado com dívida emitida pela Comissão Europeia, previsto nos Tratados. Falando de <i>eurobonds</i>, nome encontrado para a emissão da dívida europeia, o pacote de recuperação da crise, chamado de Next Gneration European Union, inclui a possibilidade de a Comissão Europeia se endividar até um máximo de 750mil milhões de euros, mas não pode haver emissão de nova dívida, para lá de 2026, e, os fundos assim obtidos, só podem ser usados, no combate às consequências da crise pandémica. A dívida europeia, será paga no futuro, com base no orçamento europeu, que depende das contribuições de cada país, individualmente.<i> </i>O facto de repensar em impostos acionais, quer dizer duas coisas: A primeira: é que o risco a dívida continua ligado aos riscos dos países. Este risco, posto de forma muito simples, é como quem compra títulos da dívida. Quem compra dívida, ela será paga, em função da capacidade, de os países individualmente, cobrarem impostos. A segunda razão: é que não irá haver justiça fiscal, sem coordenação internacional, porque as pessoas mais ricas, têm mais facilidade, em utilizar as diferentes leis fiscais a seu favor Houve um fracasso social e psicológico, das mortes e, do sofrimento, que a pandemia nos trouxe, mas, nem tudo foi mau em 2020. Foi o ano em que a humanidade provou a sua capacidade extraordinária de inventar o futuro - da transição digital, que muitos de nós fizemos de um dia pra o outro, à vacina, criada e distribuída em menos de um ano. Portanto, o potencial existe. O que falta, são as instituições políticas, que distribuam os ganhos, da extraordinária criatividade humana, de forma mia inclusiva. É fundamental, apostar numa "Sociedade Ética", que enfrente os nós górdios, que nos impedem coletivamente, enquanto sociedade, de aproveitar o nosso potencial: a secundarização da ciência, a crise ambiental, a pobreza e a corrupção. A aposta na ciência, e, na transformação digital, são fundamentais para o desenvolvimento. Sem ciência, não havia vacina, e, sem vacina ao havia luz ao fundo do túnel negro em que estamos. Sem investimento em ciência, não teríamos uma economia capaz de inovar, de criar empregos de qualidade, e, bem remunerados. Uma economia próspera e inclusiva, passa, necessariamente por aqui. A outra dimensão fundamental é a da sustentabilidade: é importante que Portugal, atinja a neutralidade carbónica e desenvolva políticas para aliviar os efeitos das alterações climáticas. O desafio é relevante, porque requer uma alteração fundamental, nos comportamentos.. É preciso apostar na economia circular, como fonte de matérias-primas, investir nos transportes públicos, promover o teletrabalho, garantindo que as condições laborais, de privacidade e de equilíbrio com a vida pessoal, estão asseguradas. É necessário renovar o nosso parque habitacional, para que tenha propriedades térmicas, que evitem o consumo de energia, de climatização, pelo que abrandaria certamente o dramático problema da pobreza energética em Portugal. Dar rendimento às pessoas não resolve tudo, mas é um passo importante. As pessoas que vivem na pobreza, gastam demasiado tempo a pensar como vão pagar as contas do fim do mês, e colocar na mesa o jantar do dia seguinte. Não podem, nem conseguem, pensar no futuro. é essencial, o alívio à situação de emergência social, em que nos encontramos, pois, um Estado social menos condicional, facilitará a transição de pessoas entre empregos. Qualquer estratégia de erradicação da pobreza, tem de incluir uma política de origem, que assente em vales para bens essenciais, junto com transferências monetárias, generosas e abrangentes, de creches e jardins de infância de qualidade, e, gratuitos, e, visitas domiciliárias, por equipas sociais multidisciplinares. Por outro lado, a corrupção prejudica o crescimento económico, dificulta a redistribuição, a favor dos mais pobres, aumenta a desigualdade, facilita a vida ao crime organizado, e, contribui para a falta de confiança nas instituições. Um Portugal menos corrupto, será também, mais coeso, menos desigual, mais próspero e mais democrático. Em suma, é necessário, que consigamos tomar decisões coletivas, a pensar no futuro, pois pensar a um década, ou, a uma geração tem estado afastado das nossas possibilidades, enquanto sociedade. Mas, é por aí, que temos de começar. Nas últimas décadas- no auge da globalização- um grande número de países que haviam enfrentado dificuldades, e que com frequência se encontravam isolados, atingidos pela pobreza, com uma grande parte da sua população necessitada de um emprego remunerado e decente- ofereciam algo que as empresas do mundo desenvolvido, não conseguem resistir. Neste contexto, o Japão, a Coreia, a China e outros países, conhecidos como Tigres Asiáticos, ofereciam mão de obra barata, com pouca regulamentação laboral ou regras ambientais em troca de se tornarem no "<i>back office"</i> do mundo. A classe média das nações emergentes expandiu-se em centenas de milhões de pessoas à medida que o crescimento do PIB subia em flecha. Os lucros dispararam e os mercados de exportação expandiram-se nas economias dominantes, onde os consumidores desfrutavam de bens a baixo custo e, os trabalhadores altamente qualificados, tinham o privilégio de escolher o emprego que mais lhes agradasse. Contudo, o modelo da globalização já não funciona como uma base fiável, para guiar o desenvolvimento económico, dos países que já se encontram em ascensão económica, ou que estão a tentar iniciar o seu caminho nesse sentido. No centro desta mudança, os serviços a consumirem os produtos da China Japão e Coreia. estarem a alterar lentamente a sua abordagem, encorajando as empresas a voltarem à fabricação de serviços, por forma a estruturar as economias nacionais. Em simultâneo, as multinacionais começaram a distanciar-se das complicadas relações internacionais que se estendiam profundamente até aos países de baixos salários, pois o surto generalizado de governos populistas acrescentou camadas de risco e dificuldade na criação de cadeias de abastecimento globais. A competição já não se centraliza na aquisição de mão de obra barata disponibilizada por outros países, mas, cada vez mais, na implementação de robôs aina menos dispendiosos, mais inteligentes e mais capazes, bem como de ferramentas e programas de inteligência artificial. O abrandamento da globalização deixou um vácuo para o surgimento de um novo modelo de desenvolvimento económico. A melhor opção para preencher este vazio é a estratégia <i>"local first"</i> como uma melhoria, face ao quadro predominante internacionalista a que nos habituámos, seja a constatação de que, mesmo quando a globalização parecia beneficiar toda a gente, não o fez. É certo que a classe média cresceu globalmente, a par dos lucros empresariais, os benefícios de eficiência operacional foram reais, os preços da maioria dos bens fabricados, foram mantidos sob controlo, e, um maior número de pessoas tomou parte na resolução da tecnologia pessoal e das comunicações. porém, estas melhorias essencialmente registadas pelo crescimento do PIB, limitaram-se a ocultar os efeitos negativos da globalização. Em termos gerais, os números do PIB, comprovavam a prosperidade global, em média, enquanto grandes parcelas da população ativa, estavam a viver de estagnação e diminuição de rendimentos. Os resultados do PIB, também se sobrepuseram a fatores intangíveis, tais como a degradação ambiental, a falta de benefícios e a insegurança associada a muitos postos de trabalho, bem como a diminuição de alguma qualidade de vida em algumas comunidades .É urgente estabelecer programas <i>"local first"</i> para o desenvolvimento económico; ou seja dedicar mais atenção à criação de comunidades prósperas, pois as necessidades humanas são melhor identificadas e geridas a nível local.. Cidades, vilas e aldeias são os locais onde o progresso social e o sucesso económico mais naturalmente se encontram. Precisamos de criar soluções locais para problemas locais e, por sua vez, desenvolver economias mais dinâmicas. Por outro lado, é urgente tomar decisões sobre a forma como a tecnologia é implementada e utilizada nos dias de hoje. Precisamos de estabelecer disciplinas, práticas e políticas, para ajudar as pessoas a tomar decisões de forma inteligente, e, teremos de nos proteger contra a retaliação on line. Há alguns passos essenciais que podem ser dados imediatamente, no sentido de controlar a tecnologia: a requalificação profissional para um mundo digital; proteção de dados contra utilização indevida; reforço da contribuição da sociedade civil na busca de soluções para questões de privacidade. A requalificação tem em vista alcançar quatro objetivos: assegurar que as pessoas sejam o menos vulneráveis ao futuro possível, minimizando a interrupção do emprego, particularmente entre as populações em envelhecimento, à medida que os postos de trabalho passam a exigir competências digitais avançada; permitir que todos se envolvam de forma ponderada e inteligente, na descoberta de formas de humanizar a tecnologia; a busca de soluções para os excessos de tecnologia e ainda reduzir as lacunas de conhecimento, sociais e económicas entre os que possuem recursos, e, os que não possuem. Todos precisamos de ser bons alunos de tecnologia, do seu impacto na sociedade, e, em nós próprios. Precisamos de ser aquilo a que eu chamo humanistas tecnologicamente competentes, ou seja, temos de compreender tanto o que as pessoas exigem da tecnologia, para melhorar as nossas vidas, como todo o seu potencial para alterar o mundo à nossa volta, de formas mais ou menos relevantes.</p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-55527424314303367042021-04-15T05:38:00.059-07:002021-05-30T04:15:15.429-07:00O CRESCIMENTO ATUAL DA ECONOMIA PORTUGUESA<p style="text-align: justify;"> O balanço do crescimento da economia portuguesa entre 1999- ano da criação do euro- e 2026, o último ano das projeções do FMI, é que Portugal é um dos piores do mundo, e o terceiro pior da Zona Euro, apenas à frente dos "doentes", Itália e Grécia. Um cenário negro, mas é menos sombrio, quando se olha para a recuperação da crise pandémica de 2021.Os dados históricos até 2020 e as projeções do FMI, até 2021, revelam um crescimento médio anual da economia portuguesa de 1,1% entre 1999 e 2026 segundo os dados do "World Economis Outlook" (WEO), do FMI. Penalizado pela "década perdida"- a primeira década do euro-, a dupla crise financeira e da dívida soberana, culminando na chegada da Troika- e, agora a crise pandémica, só 13 países da base do Weo, têm pior registo do que Portugal, sendo dois deles da Zona Euro, Itália e Grécia. A economia portuguesa, desde 1999, tem o pior desempenho, desde que lhe podemos chamar de economia desenvolvida. Houve períodos de recuperação, mais ou menos forte, que temporariamente são confundidos com o crescimento. Piores só a Grécia, que já acumula três resgates, e a Itália, que se afundou numa "batalha perdida". A lição da derrota italiana é que tem de se deixar que a economia se transforme, e não tentar preservar empregos, e, indústrias não competitivas. Olhando, para a recuperação da crise pandémica, a partir de 2021, e tendo em conta as projeções do Fundo até 2026, a taxa de crescimento médio anual sobe para 2,8%, e Portugal fica melhor posicionado à frente de 58países- incluindo os Estados Unidos- e a meio da tabela da zona euro, um padrão já verificado na recuperação da última crise, entre 2014 e 2019, quando essa taxa de crescimento atingiu 2,1%. Esta melhoria relativa portuguesa, até 2026 é reforçada por dois resultados, que distinguem Portugal, da maioria dos membros do euro. Segundo as previsões do "Fiscal Monitor", do FMI, as contas públicas irão voltar a registar excedentes a partir de 2024, partilhando essa situação, com apenas mais sete economias desenvolvidas, três das quais- Alemanha Chipre e Lituânia- do euro. E o nível da dívida pública no PIB vai sair do topo dos mais endividados do mundo e da zona euro.. Ocupando o quarto lugar mundial, depois do Japão, Grécia e Itália, em 2020, o peso da dívida portuguesa caiu para o décimo lugar, sendo ultrapassado pela Bélgica, Espanha, Estados Unidos, França Reino Unido e Singapura. O reforço das contas públicas, pode ajudar a uma retoma económica mais robusta. Desta vez, vai ser diferente da crise da Troika. A economia devastada por duas recessões, quase seguidas desde 2009, só recuperou o nível de 2008, uma década depois. Agora, a recuperação será mais rápida, mas mesmo assim só em 2022, será atingido o nível de 2019, afirma o FMI, em linha com a Zona Euro. O próprio recomeço da recuperação vai ser com contratempos, e o desenrolar de 2021, depende muito se o verão irá ser "ganho" ou "perdido". Apesar das previsões do FMI, até 2026, o problema principal português, não está resolvido. O padrão típico português, tal como em Itália e mesmo Espanha é uma taxa de crescimento da produtividade dos fatores nula, ou mesmo negativa, em grande parte do período do euro e a partir de 2011, há também uma forte descida na acumulação de capital. Há um padrão preocupante da queda da produtividade do trabalho, desde 2015. Também temos uma grande parte do emprego em setores com baixo crescimento de produtividade. Estamos no limiar da quarta revolução industrial, e temos que nos preparar para entrar na carruagem da frente. Precisamos de uma Administração Pública eficiente e de um quadro fiscal que permita atrair investimento e reter talento. Precisamos também de melhorar o sistema de educação, da pré-primária, às universidades, para criarmos mais talento. Com a generalização do emprego à distância, os portugueses qualificados vão poder trabalhar em grandes empresas internacionais e viver em Portugal. Provavelmente, a crise levará uma transferência de recursos de empresas e atividades mais vulneráveis, para as mais robustas, havendo um aumento de produtividade, que irá ser o motor da recuperação e aumentar a taxa de crescimento potencial do PIB. A alteração de paradigma, de um modelo assente nos bens transacionáveis, virado para o mercado interno, para uma aposta nas exportações e no mercado externo, foi um símbolo de intervenção da Troika. Mas agora, os economistas não antecipam alterações de fundo, ao padrão de crescimento português. Consumo e investimento deverão ser os motores de crescimento e devem estimular a recuperação da crise pandémica; e a retoma do turismo será crucial, mas pode demorar mais tempo. O padrão de crescimento após a crise pandémica, será semelhante ao que aconteceu até 2019. Tudo , porque desta vez, não houve queda do rendimento disponível, nem deterioração das condições financeiras, que levassem à destruição da capacidade produtiva, concentrada nalguns setores. Como resultado, consumo e investimento deverão ser os motores de crescimento. E, o consumo conta com a ajuda das poupanças das famílias, que com a pandemia atingiu o nível mais elevado desde 2002, e, será em parte, libertada. Quanto ao investimento, será incentivado, pelo "boom" industrial, a nível mundial; condições propícias na construção, com baixas taxas de juro, e liquidez abundante; e os fundos europeus, associados ao "Gren Deal", apontando o turismo, como grande incógnita, já que a recuperação depende do fim das restrições à circulação. Numa primeira fase, os maiores contributos, serão do consumo privado e exportações, à medida que o turismo recupera. Posteriormente, o investimento deverá originar também um contributo importante, refletindo o reforço esperado da execução dos fundos comunitários. Segundo opinião de alguns economistas, a recuperação virá inicialmente do consumo. Já a sustentada, pelo Plano de Recuperação e Resiliência, se vier a funcionar, será mais baseada em investimento. Os motores da recuperação em 2021, virão sobretudo da procura interna, com o consumo privado a dar o primeiro impulso, e, posteriormente as exportações, com um possível aumento do turismo.. A curto prazo, iremos ter também uma recuperação das exportações e do comércio a retalho, seguida da recuperação do turismo. Há 10 anos, em 2011, Portugal não tinha meios para cumprir os seus compromissos financeiros, para liquidar os salários dos funcionários públicos e para pagar as pensões aos reformados. A par de uma crise financeira internacional, a bancarrota de 2011, foi o culminar de um conjunto de opções políticas e de erros de governação que prejudicaram o crescimento económico, fizeram disparar a despesa pública e tornaram a dívida pública insustentável. Nesse momento, o Governo de então, foi obrigado a pedir assistência financeira internacional, mergulhando o país na terceira cise de insolvência em 40anos de democracia. Passada uma década sobre este acontecimento, em que Portugal perdeu a sua credibilidade perante o exterior, e, houve muitas consequências sociais económicas e financeiras na vida dos portugueses, urge analisar a situação atual do país à luz das lições de 2011. Há 10 anos, o país tinha estagnado em termos de crescimento económico(com uma taxa média anual de crescimento do PIB de apenas 0,7% entre 2000 e 2010, e apresentava um enorme défice nas suas contas externas que ultrapassava 10% do PIB. O excessivo endividamento externo resultou principalmente da falta de políticas de apoio à internacionalização das empresas portuguesas e à promoção das exportações, desequilibrando fortemente a balança comercial. Em 2020, o PIB afundou-se 7,6%, a maior quebra de riqueza um ano, desde que há estatísticas em Portugal e quase o dobro do que caiu no pico da anterior crise, a dívida externa voltou ao nível de 2011, em resultado dos efeitos da pandemia. A recuperação prevê -se mais longa e demorada. Desde 2016 não foram realizadas quaisquer reformas estruturais com o objetivo de estimular a produtividade e a competitividade internacional das empresas portuguesas. Pelo contrário, os retornos que assistimos na reforma laboral e da reforma do IRC, obrigam hoje as empresas portuguesas com uma das legislações laborais mais rígidas da Europa e a suportar a segunda taxa de IRC mais elevada da União Europeia. Portugal desceu várias posições no rendimento per capita(neste momento está à frente da Eslováquia, Letónia e Grécia), correndo o sério risco de se tornar o país mais pobre da zona euro, nos próximos anos. O segundo fator que levou à bancarrota de 2011 foi o aumento enorme da despesa pública, que atingiu 0s 51,9% do PIB em 2010, com uma aumento exponencial da despesa pública primária, designadamente com salários da Função Pública. Em resultado destas opções políticas, o país haveria de registar um défice recorde de 11,4% do PIB em 2010, o que tornou insustentável a situação das contas públicas nacionais. Em 2020, o défice atingiu 5,7% do PIB, o que representou um desvio de 11.500 milhões de euros, em resultado da pandemia. Mas, mais importante, a despesa pública total cresceu significativamente desde 2016, não obstante, as sucessivas atrações e as drásticas reduções da despesa com juros, em resultado da assistência financeira permanente do BCE. Para se ter uma noção exata do problema, a despesa pública real cresceu de 83mil milhões em 2016, para 98 mil milhões em 2020, um aumento impressionante de 15mil milhões, em apenas cinco anos, o que colocou novamente a despesa pública, a rondar os 505do PIB.É verdade que em 2020, a despesa pública fi influenciada pela medidas covid, mas até 2019, os gastos reais do Estado, já atingiam os 91 mil milhões, tendo crescido 9%, face a 2016. E, no mesmo período (2016- 2020), as despesas com salários da Função Pública aumentaram 14%, em resultado de dezenas de milhares de novas admissões, reduções do horário de trabalho semanal para 35horas, progressões e aumentos salariais. E que continuam em 2021, não obstante o aumento das falências e do desemprego no setor privado. Por outro lado, a explosão da dívida pública, atingiu 0s 100% do PIB em 2010 e tornou insustentável a posição de Portugal, perante os seus credores internacionais. Em 2016, a dívida pública ascendia a 239mil milhões de euros. Em 2020 disparou para 270mil milhões, ultrapassando os 133%do PIB, e o OE para 2021, prevê que possa chegar a 287 mil milhões. Quando o BCE for obrigado a subir as taxas de referência para conter riscos de inflação na UE, que margem terá Portugal para continuar a cumprir os seus compromissos financeiros?</p><p style="text-align: justify;">Após alguns meses depois do início do desconfinamento, a informação sobre a evolução da economia portuguesa é ainda parcelar. Os economistas usam a expressão "acentuada dinâmica" da atividade económica. Com a pandemia a recuar, a vacinação a acelerar, o país a reabrir, a confiança dos consumidores aumentou significativamente, segundo o INE, as compras na rede multibanco, subiram 70%, as vendas de automóveis ligeiros de passageiros, aumentaram 39% e o consumo de eletricidade cresceu 6,5%. Em março, a taxa de desemprego recuou para 6,5%, e , os novos créditos à habitação atingiram 1382milhões de euros, um recorde de2008. Há uma evolução positiva. O indicador diário da atividade económica do Banco de Portugal, que procura medir, quase em tempo real a evolução da atividade económica, é um dos sinais positivos. Em abril, a atividade económica, cresceu mais de 20% e acelerou na semana terminada em maio para 27,5%. A evolução positiva, reflete, "em parte", a procura suspensa (durante o confinamento), o que impulsionará a atividade nos próximos meses. O crescimento, poderá superar os 3,5% em cadeia, e, os 10% homólogos. No entanto, no médio prazo, o sustentar da economia pela procura interna, depende também da quebra de rendimento, pela destruição de emprego e empresas, cuja dimensão só mais para o final do ano, com o fim generalizado das moratórias, se irá perceber. Olhando para os setores mais afetados pela crise, como o turismo, a etapa final do desconfinamento, a 3 de maio, apanhou o Algarve, com a maioria dos hotéis fechados. Os portugueses com segunda residência e abertura de fronteiras ,com Espanha, e, o anúncio da lista verde com os ingleses poderem viajar sem quarentena, considerou-se Portugal, como o único país" seguro" na Europa do Sul. O efeito na procura foi imediato, e, animou as expetativas de um bom ano turístico. A retoma, apresenta "sinais animadores", mas não compensa o longo período de encerramento. O s estabelecimentos em zonas turísticas, como as Baixas de Lisboa e Porto, foram afetados também pelo teletrabalho, continuando a procura à restauração, onde há a preferência por esplanadas, e maior procura nas zonas de menor densidade. O take-away veio para ficar, e, ir ao restaurante, tornou-se mais uma opção de fins de semana. é preciso esperar, para saber o que irá acontecer, no comércio e na restauração, a quem sobrevive apenas com "o balão de oxigénio dos apoios".</p><p style="text-align: justify;"> </p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-27234597116588392622021-04-11T06:06:00.090-07:002022-04-30T11:28:48.790-07:00O REGRESSO DA INFLAÇÃO?<p style="text-align: justify;"> Os Governos de todo o mundo têm procurado aliviar o efeito da crise pandémica com juros em mínimos históricos, megaprogramas de compra de dívida e outros ativos e biliões de euros injetados na economia, através de apoios sociais, ajudas às empresas e investimento público. Mas todas estas medidas têm consequências do lado dos preços. É praticamente a dimensão do PIB italiano, que chegará à economia através de cheques de 1.400dólares para as famílias, uma prestação para agregados com filhos, o reforço do subsídio de desemprego ,apoio financeiro dos Estados e a reabertura das escolas e dos restaurantes. Este plano gerou entusiasmo com uma saída mais rápida da crise, mas também houve críticas dos economistas mediáticos do mundo: o motivo central é que ao distribuir e gastar tanto dinheiro, este programa irá provocar um sobreaquecimento da economia, o que pode fazer disparar a inflação.. E, níveis elevados de inflação, podem não só servir, como "um imposto escondido-havendo mais dinheiro em circulação, cada moeda vale em si, menos-, como obrigar o Banco Central, a subir os juros. E esse risco faz sentido? Sim. Por um lado, há um pacote orçamental gigantesco, muito acima do que seria preciso para recuperar a atividade económica para a sua capacidade produtiva, e que, por isso, terá tendência a levar a um aumento de preços. Por outro lado, um Banco Central dos mais "pomba", de que há memória, no que diz, ao que afirma ser, a sua tolerância para com a inflação alta nos próximos anos, e, com uma dívida tão elevada, que qualquer aumento das taxas de juro, teria um grande impacto orçamental. No entanto, o contexto atual, traz uma série de travões a esse avanço dos preços. Esta crise, tem a particularidade, de atingir, ao mesmo tempo, a oferta e a procura. Um estímulo fará aumentar o consumo- o que teoricamente, puxa pelos preços-; porém isso acontece, numa altura em que as empresas também, começam a produzir mais, o que põe água na fervura da inflação. Mais: temos hoje, várias décadas de sucesso, no controlo da inflação, em torno da meta de 2%, valor que a zona euro não ultrapassa, desde 2016. Mesmo que nos desviemos momentaneamente, as famílias e as empresas continuarão a agir, assumindo que a inflação, acabará por regressar a esse ponto- e confiando se necessário, o Banco Central intervirá para evitar um descontrolo. As condições estruturais da economia, parecem ainda empurrá-la mais, para cenários de deflação (queda dos preços) do que, para um crescimento sustentado de inflação. Qual é o principal problema? É a possibilidade de deflação prolongada. Há fatores estruturais a pressionar a economia real. Pode ter momentos de inflação, mas não um "<i>boom"</i>. Um cenário de espiral inflacionista, é pouco provável. Inflação descontrolada, tende a surgir, historicamente , em contextos muito específicos, de perda de independência do Banco Central, que não me pareceu ser o caso, de qualquer economia desenvolvida. E, embora, o Banco Central dos EUA- a Fed- permita agora, desvios temporários da meta de 2%, se se tornar claro, que a inflação está a ficar fora de controlo, voltará a intervir para a controlar. Além disso, muitos dos que pensam, que há risco de inflação. já gritavam "lobo" no passado, seja há mais de uma década, quando a Fed estreou a sua política de compra de ativos para combater a crise financeira, seja mais recentemente, quando Trump, introduziu um corte brutal de impostos, com o desemprego em mínimos históricos. O lobo não veio. Estas previsões "falhadas", devem -se ao medo de repetição do cenário dos anos 70 nos EUA, com crescimento baixo e inflação alta (estagflação). Na Europa, é necessário conviver com o trauma alemão face à hiperinflação. Contudo, o mundo mudou nos últimos 50anos:o Fed é muito mais independente, e é relativamente consensual, que assim deve continuar; a própria estrutura da economia mudou, e, estamos a sair de uma década em que os preços praticamente não se mexeram. Nos anos 70, o choque veio do lado da oferta(o choque petrolífero), enquanto atualmente, é mais provável que choques negativos da procura predominem. Talvez seja altura de considerar, se um cenário de subida descontrolada dos preços, continua a ser um risco real para economias desenvolvidas. Será que resolvemos a equação da inflação? É uma possibilidade. o que temos visto, nos últimos 30anos é que fomos capazes de gerir as expetativas, graças à credibilidade dos Bancos Centrais. Acredito numa meta de inflação de 2%, porque o Banco Central assim o afirma. A política monetária, apoiada nos grandes avanços da teoria macroeconómica, das últimas tês décadas, e, num apoio institucional forte, nas economias avançadas, em torno dos bancos centrais independentes, tem feito um trabalho extraordinário em manter uma inflação estável. Os receios são de uma Fed mais permissiva, com alguma inflação momentânea, o desejo de usar os Bancos Centrais para atingir outros objetivos, além da estabilidade de preços, combate às alterações climáticas, desigualdade e dívida pública muito elevada. Assim , é provável que o "problema" reapareça. Na verdade uma grande fatia da população, nunca sentiu na carteira o peso da inflação. Há anos atrás, havia o medo da inflação, mas a geração mais jovem, terá um condicionamento diferente. O medo da deflação irá mudar a forma como olham para os preços. "2021". As pressões inflacionistas surgem dos estrangulamentos das cadeias logísticas, depois do fecho da economia. A inflação é desvalorização de moeda, e, não subida dos preços. Existem "subidas de preços estruturais", ditadas pela recuperação da crise aberta pela pandemia. Subidas que surgem numa época em que já levamos bastante tempo de baixa inflação e até de deflação. O ajustamento dos preços é o reflexo da grande aceleração da transformação económica e social que está em curso. E "antes do medo" da inflação, é necessário fazer essa transformação, " o mais rápido possível", com maior fulgor, na criação de riqueza, aumento de produtividade e sustentabilidade social. Ou seja, criar "mais valor" e distribuir "melhor". A necessidade imposta pelos défices públicos e privados, gerados a ajudar as famílias e as empresas, com medidas sem precedentes, e, uma inflação ligeira, até é positiva. Não é o tempo de ter medo, mas de moderar as crises económica e social. Algumas matérias-primas revelam "subidas de preços ".Paládio, cobre algodão orgânico e madeira serrada estão mais caras. Subidas que surgem também nalguns bens que estiveram afastados do consumo, como as viagens aéreas. Estes aumentos são justificados com " a recomposição da economia pós -crise. Situação que irá durar até 2022, e depois moderação. Numa Europa de enormes desigualdades é preciso concentrar a atenção no futuro, "baseando o crescimento numa "economia intangível de soluções, e, não de quantidades". Importante, é criar riqueza, para melhorar a vida das pessoas, com o crescimento baseado na eficiência e na sustentabilidade. Se assim for, a médio prazo, teremos resultados, Até lá, turbulência nos preços e oscilação cambial. Não podemos recuperar com aumento de preços. Não basta fazer chegar o dinheiro às empresas e às famílias, é preciso não responder à crise, com a queda dos preços, como aconteceu no início da pandemia. Tal irá trazer "a aceleração da inflação " e a "perda de confiança das moedas". Ou seja: não se deve exagerar no suporte financeiro à crise. A solução é apostar mais na produtividade, na inovação, no trabalho, e, não em truques de magia.</p><p style="text-align: justify;"> O grande tema do fórum anual do BCE, em Sintra, foi a inflação.. A inflação em Agosto atingiu os 3% na zona euro, e as previsões são que suba mais nos próximos meses.. O receio de Lagarde é que depois de 12 meses de inflação elevada, ela não volte para perto de 2%. Ou seja, que esta subida não seja temporária mas persistente. Lagarde está convicta de que será temporária. Os preços dos bens estão a subir mais rapidamente do que os dos serviços, devido aos problemas das cadeias de abastecimento, que se espera sejam temporários. Além disso os fatores que contribuíram ara a inflação estar perto dos 1%, durante tantos anos, não desapareceram. Lagarde, acrescenta que a digitalização da economia, a transição energética, e uma tendência mais aforradora do último ano, podem contribuir para puxar a inflação para baixo. No entanto, há uma probabilidade, pequena, mas não negligenciável, de a inflação continuar elevada, durante alguns anos, falhando assim o alvo do BCE.. A inflação na zona euro, irá ser determinada por aquilo que o BCE faça. A inflação é sobretudo um fenómeno monetário. É o BCE que controla as taxas de juro, o tamanho do seu balanço, e , a sua independência face à política orçamental, e estes são os grandes determinantes da inflação. Com mais ou menos digitalização, discrepância entre bens e serviços, ou transição energética, se o BCE reagir a estas mudanças com alterações severas nas taxas de juro, ele irá manter a inflação sob controlo. Mesmo que seja preciso "um whatever it takes" à la Draghi, a inflação na zona euro depende sobretudo daquilo que fará o BCE. A inflação veio para ficar. O colapso da atividade provocado pela pandemia, conjugado com a ação decisiva da política económica, na proteção do rendimento das famílias e dos cashflows das empresas, abriu uma enorme lacuna, entre a procura e a oferta agregada. Este desequilíbrio resultou em pressões inflacionistas, que, por serem conjunturais, se esperavam temporárias. Essa foi a leitura dos Bancos Centrais, mas não é isso que está a acontecer. Na verdade, a dinâmica em curso, representa um processo rigoroso de inflação persistente. Como em tantos outros episódios de inflação, a subida dos preços teve origem nas matérias primas (energéticas ,industriais, alimentares), rapidamente passando para os fretes marítimos, numa escalada de preços a montante da atividade produtora global. Da conjugação destes efeitos, resultou a subida dos preços do produtor, aos preços no consumidor, bem como às expetativas de inflação ás das empresas, das famílias e dos investidores, criando uma complexa teia de mecanismos de retroalimentação. Para além disto, o protagonismo da política orçamental durante a pandemia- em contraste com a recessão anterior- contribui para estender a inflação no tempo, por implicar a infusão consistente da despesa pública na economia, sobretudo em situações de abrandamento da atividade, nas quais as tensões inflacionistas tenderão a desaparecer. A subida sustentada dos preços, tende a ser um alívio para as economias mais endividadas- como as europeias-, por favorecer a condição financeira das empresas e dos Estados, uma vez que a inflação eleva as receitas das vendas, no caso das primeiras, e dos impostos no caso dos segundos, enquanto o valor facial das dívidas se mantém inalterado. Mas este efeito positivo, só se poderá materializar, se os custos de financiamento não se agravarem substancialmente, o que poderia acontecer, se em resposta à subida generalizada dos preços, os Bancos Centrais decidissem mudar radicalmente o modo flexível da política monetária atual. Contudo, esse não é o curso de ação provável, sobretudo no caso do Banco Central Europeu, já que os elevados níveis de endividamento, constituem um entrave material à persistência agressiva das condições monetárias. Daqui resulta, que o principal risco associado à inflação, consiste num desvio descontrolado das expetativas inflacionistas dos agentes económicos, que possam provocar uma espiral de inflação, à qual os Bancos Centrais teriam de responder, de forma viva, com consequências adversas para a estabilidade financeira, para a atividade económica e para o emprego. A inflação em Portugal está a subir, segundo a tendência europeia global e medida pelo Índice de Preços no Consumidor. Mas é uma das mais baixas no espaço da moeda única europeia. O que explica a inflação baixa em Portugal? Sobretudo, o atraso na recuperação, Portugal só deve atingir o PIB, pré pandemia, em meados do ano, enquanto a zona euro já superou. Em Portugal, os impactos fiscais de alívio da pandemia, não tiveram um efeito tão direto sobre os preços. Considerando apenas gastos públicos adicionais e receita cobrada, a base de dados do FMI, sobre a resposta à crise pandémica, coloca Portugal na 18ª posição entre os 27. Como consequência de um menor apoio direto à economia, a inflação tem sido mais moderada, do que nos restantes países da zona euro, já que podemos sofrer com uma correção monetária, com subida das taxas de juro, que será reflexo das dinâmicas inflacionistas, bastante mais fortes. E, devido o acentuado nível de endividamento publico e privado, um cenário em que as taxas de juro, estão acima da taxa de crescimento da economia da economia, poderá desencadear uma crise económica e política de difícil resolução. A inflação deve manter-se pressionada em alta, durante o primeiro semestre de 2022. Os produtos energéticos, foram os principais responsáveis pela subida dos preços nos últimos doze meses, e, o cenário é de alto risco, fruto das tendências geopolíticas associadas ao conflito entre a Rússia e Ucrânia. Quais os custos da inflação? O aumento dos preços em Portugal implica que os salários dos trabalhadores não lhes permitem comprar tantos bens e serviços. O poder de compra cai e as pessoas têm uma vida mais difícil, sobretudo no contexto de uma crise pandémica, com consequências graves.. A inflação em Portugal ,está no valor mais elevado em quase 28 anos. O risco de continuarmos a registar aumentos históricos da taxa de inflação são elevados, devido aos efeitos da guerra. A variação homóloga do IPC, atingiu 5,3%, o valor mais alto desde 1994. A questão é, em que medida revisões salariais, antecipação do consumo, e outros fenómenos típicos de economias com inflações mais elevadas, e que contribuem para que a própria inflação se mantenha num nível mais elevado, se vão impondo, falando de uma inflação temporária, que se está a tornar permanente. Se os salários evoluírem, abaixo da inflação , o poder de compra das famílias será penalizado. Mas revisões salariais mais fortes, poderão levar a uma subida das expetativas da inflação, que exijam uma correção das taxas de juro por parte do BCE. Como famílias e empresas saíram da crise pandémica, com maiores dívidas. isso poderá levar a uma acentuada desaceleração do crescimento económico. A escalada dos preços tem dominado muitas décadas, atingindo 7,4% em março. Há um risco significativo de as medidas para conter a inflação, levarem a uma recessão. Tendo em conta a política monetária altamente expansionista de 2021, vamos ter ,com elevada probabilidade, inflação alta durante o ano de 2022. Quanto mais o banco central, demorar a responder a um aumento da inflação, mais esta se torna persistente e enraizada nas expetativas dos agentes económicos. Travar a inflação é muito difícil sem causar uma recessão. Com os confinamentos de novo a intensificar -se na China, e, a incerteza sobre a guerra na Ucrânia, as causas exógenas para a inflação na zona euro, podem durar e até poderão tornar-se resistentes. Nesse caso, os salários acabarão por subir bastante na zona euro. E, se os salários começarem a estar indexados aos preços, a inflação permanecerá na zona euro. A subida dos preços penaliza as famílias com rendimentos fixos, como salários e pensões, se estes não forem atualizados ao mesmo nível da inflação. Para as família com créditos, nomeadamente para comprar casa, a inflação também é uma má notícia, já que a resposta dos bancos centrais traduz -se numa subida das taxas de juro de mercado. Os países exportadores de produtos energéticos, cujo preço disparou, ganham com a inflação. Também os aforradores, como as famílias com poupança, ganham porque, com a subida das taxas de juro de mercado, essa poupança ficará melhor remunerada. Por outro lado, a subida da inflação significa mais receitas ficais para o Estado, porque a taxa de impostos como o IVA, aplica-se sobre os preços mais elevados. E, para países muito endividados como Portugal, a subida dos juros, agrava a fatura com o serviço da dívida.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7025604460435368952.post-85647005860984049212021-03-31T04:30:00.012-07:002021-04-04T04:52:46.987-07:00O IMPACTO DA PANDEMIA NA ATIVIDADE ECONOMICA E SOCIAL<p style="text-align: justify;"> Na maior parte das opiniões as previsões são bastante negativas. Primeiro, o efeito que a pandemia teve no emprego das mulheres: muitas mães com filhos pequenos, viram-se obrigadas a ficar em casa e- voluntária ou involuntariamente- ficaram desempregadas. Nos Estados Unidos, a disparidade do efeito da crise, nos homens e nas mulheres, é tal que alguns se referem à presente recessão como se tratasse de uma "she-cession". Há no entanto, um aspeto positivo: um dos principais fatores que têm levado à discriminação das mulheres no mercado de trabalho- nomeadamente em progressões da" carreira"- é que estas profissões, exigem um grau de disponibilidade que muitas mulheres não têm, ou não querem ter(por exemplo ficar no emprego longas horas ou viajar frequentemente) Para estas mulheres que querem seguir uma carreira minimamente compatível com tratar da família, o futuro é mais risonho do que o passado: um dos efeitos do teletrabalho, será a maior flexibilidade na gestão das carreiras. E, as mulheres, nomeadamente mães, serão provavelmente o grupo mais beneficiado, por esta evolução. O segundo caso é a globalização. Para aqueles que defendem, no seu conjunto, a globalização é uma coisa boa, a pandemia foi um golpe forte. Por exemplo, as Nações Unidas, estimam que o volume de turismo, baixou entre 60 e 80 por cento, o que corresponde a uma perda económica de mais de um milhão de dólares. No entanto, tal como o teletrabalho, a grande experiência da pandemia, terá efeitos que continuarão muito para lá. Um desses efeitos é acelerar a convergência para a "economia não espacial". A economia é cada vez mais uma economia de serviços, e muitos desses serviços, são facilmente transacionados à distância. Muitas empresas em muitos setores estão a descobrir que uma parte importante do movimento das pessoas é supérfluo. Nesse sentido, as medidas "tradicionais" de globalização- como seja o transporte aéreo- não mostram a fotografia completa do que está a acontecer à globalização. O terceiro caso- da faca de dois gumes- é o efeito da pandemia nos mais pobres. O século XXI tem sido mau para os menos favorecidos. Concretamente, a revolução digital em curso, cria um fosso cada vez maior entre os que têm as aptidões necessária para vencer, e os que não as têm. A pandemia. é uma machadada adicional em muitas dessas pessoas: pessoas que trabalham em fábricas e em escritórios, e especialmente, pessoas que trabalham nos setores a restauração, hotelaria e relacionados. É provável, que, muitos desses empregos, sejam restabelecidos no futuro, mais ou menos próximo, mas entretanto, temos mais de milhares e milhões de pessoas que sofrem a sério. No entanto, há uma vontade política, de criar programas ambiciosos de apoio às famílias e às pequenas e médias empresas. Isso varia de país para país, mas os casos da União Europeia e especialmente dos Estados Unidos, são notórios, tanto no que respeita à dimensão do programa, como ao enfoque no auxílio dos mais favorecidos, como também o relativo consenso sobre a importância dessas medidas. Esperamos que, no futuro, olhemos para trás e, vejamos 2021, como o ano em que começamos a combater o problema da desigualdade e exclusão social de forma séria. Coloca-se a este propósito uma questão: saber se o principal risco político para as democracias é o nível muito elevado de pobreza, ou um padrão de distribuição de recursos muito desigual. A necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode esperar; e, não apenas por uma exigência pragmática de obter resultados e ordenar a sociedade, mas também, para a curar duma mazela que a torna frágil, e que só poderá levá-la a novas crises.. A desigualdade é a raiz dos "grandes males", e enquanto não forem solucionados os problemas dos pobres, renunciando à especulação financeira, e combater as causas sociais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo. Nas últimas décadas, mesmo em sociedades ricas, as desigualdades na distribuição de rendimentos, aumentaram. Esta transformação, tem consequências económicas sociais e políticas profundas. A desigualdade tem um preço: níveis excessivos de iniquidade na distribuição de recursos, representam um risco sistémico e são responsáveis por diversas formas de instabilidade política. Uma sociedade dividida, funciona pior, também porque, a desigualdade material traduz-se necessariamente numa desigualdade política. Por isso, nas nossas sociedades, os riscos associados às desigualdades materiais, foram regulados politicamente através de mecanismos de socialização, de que a criação da proteção social, assente no seguro público, é exemplo paradigmático. A importância relativa dos mecanismos de redistribuição material, como forma de contrariar as desigualdades criadas no mercado, corresponde a um reconhecimento de que a desigualdade dos resultados e de rendimentos, é ,uma importante medida, artificial, logo a focalização excessiva na igualdade de oportunidades, incentivada pela educação pública é desadequado. Responder à desigualdade de resultados, é a forma mais eficiente de responder às desigualdades de oportunidades, porque garantir trabalho e /ou rendimentos suficientes aos adultos, ajuda a quebrar a reprodução geracional da pobreza. Encontramo-nos em tempos difíceis. É necessário dar resposta a alguns problemas económicos para irmos resolvendo o problema da crise em que vivemos.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Manuela Rebordãohttp://www.blogger.com/profile/01344784804450361656noreply@blogger.com0