quinta-feira, 28 de junho de 2018

A NOVA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O ambiente empresarial está a mudar, com a disrupção digital a criar desafios diários que preenchem as agendas dos gestores em todos os setores, segmentos de mercado e áreas de negócio, um pouco por todo o mundo.  Do lado das organizações exige-se uma rápida adaptação às mudanças em curso, sob pena de perderem competitividade, e, até mesmo credibilidade, junto de clientes e parceiros de negócio.
 De capitais públicos ou privados, nenhuma organização escapará às exigências deste novo paradigma digital  que as obriga a serem adaptáveis, móveis, seguras e escaláveis.
Até 2022, a International Data Corporation (IDC), consultora em tecnologias, afirma que metade da economia mundial estará digitalizada.
Há mais de uma década que a IDC alertava para a necessidade de adaptação das empresas a um novo paradigma tecnológico. Indústria 4.0. internet of things, inteligência artificial(IA) ou blockchain, são conceitos que começaram a invadir o mercado, e, que aos poucos,estão a entrar no dia a dia das organizações que perceberam a sua utilidade e importância.
Novas oportunidades de negócio e mudanças estratégicas, potenciadas pelas novas tecnologias, estão a ser exigidas às organizações, num curto espaço de tempo.
As empresas têm de continuar a procurar uma maior eficiência do negócio e a optimização das suas operações. Estas empresas têm que olhar para o futuro, para a inovação e para a forma como podem tirar partido das tecnologias para se manterem competitivas e, inclusivamente, superar a concorrência. Aqui entra o conceito de cocriação digital, ou seja: o desenvolvimento de produtos e/ou serviços através da conjugação de diferentes áreas de especialização, que, por vezes, não estão relacionadas para acelerar a transformação digital das empresas.
Estes desafios, não podem ser superados apenas com o conhecimento detido dentro de cada organização.
 As empresas têm que procurar parceiros que conheçam o negócio, a sua operação, e, que dominem tecnologias como a inteligência artificial, a internet das coisas, o big data ou o machine learning, para que em conjunto,potenciem a inegração dessas inovações nas suas empresas.
É de acreditar que a cocriação é a chave para o sucesso, quaisquer que sejam os seus desafios digitais.
Esta abordagem tecnológica, junta vários parceiros num ecossistema único que combina competências, tecnologias e expertise, tudo desenhado na base das suas necessidades.
A cocriação assume uma grande relevância com o aparecimento de novas tecnologias que geram novas oportunidades de negócio e grandes mudanças nos processos de trabalho das organizações.
A digitalização e tratamento de dados, em tempo real, transformando-os em informação de valor para os gestores, ou a capacidade de utilizar inteligência artificial para automatizar prcesssos que asseguram uma melhoria contínua da operação, são exemplos de trunfos tecnológicos, que as empresas não podem negligenciar. Independentemente do setor, dimensão ou localização geográfica, todas as empresas podem beneficiar com a aposta na cocriação digital.
Portugal não é exceção, com cerca de 87% das organizações empresariais comprometidas a transformação digital, segundo revelam dados de 2016 da IDC.
As empresas portuguesas estão conscientes que, para integrar todas estas tecnologias e responder rapidamente aos desafios que o mercado e os seus clientes lhes lançam, têm de ser extremamente àgeis e contar com um parceiro que as ajude a cocriar as mudanças necessárias nas organizações.
Os 3D da energia: Digitalizar. Descentralizar, Descarbonizar:
Energia, energia, para que te queremos? Para muita coisa obviamente, e de preferência barata, eficiente e amiga do ambiente. É rumo a esse horizonte que as mudanças verificadas apontam. Cada vez mais as grandes companhias energéticas dão atenção à inovação. como forma de atingir estes objetivos, com um acréscimo de sinergias com as starups, que têm sido parte importante deste processo.
O projeto de empreendedorismo, mais uma vez volta a apostar em projetos, que vão de encontro à inovação, no campo da energia e às grandes tendências do setor. São os "três D" que estão a moldar um futuro bem presente, a saber:"descarbonização, descentralização e digitalização. Por descarbonização, entenda-se a utilização crescente de fontes de energia renovável, na geração elétrica, em combinação com uma maior eficiência energética de consumo, processo que já se verifica há algumas décadas, mas que tem ganho cada vez mais força com o desenvolvimento das renováveis e consequente diminuição dos custos de utilização. Energias como a hídrica ou a eólica já são muito generalizadas em Portugal, ao contrário do solar, por exemplo que não chega aos 2% de produção. Por isso, perspetiva-se um crescimento, sobretudo, se o objetivo ambicioso de 2040, tiver 100% da energia gerada num ano de origem renovável e se for para cumprir. O que não é de todo descabido, quando se percebe que a utilização elétrica, mais do que duplicou.. A crescente facilidade em obter painéis solares para uso doméstico, ou as baterias e carregadores de carros elétricos, são alguns dos exemplos da descentralização, isto é: do processo de dar mais ferramentas ao consumidor, no sentido de este se tornar mais um elemento produtivo da cadeia.
Por outro lado, vivemos uma digitalização crescente, num processo a que a energia não é de todo alheia. A emergência de tecnologias, como a internet das coisas, inteligência artificial, machine learning, entre outras, combinada com a disseminação de aparelhos a que todos acedemos e com que todos comunicamos, está a provocar uma disrupção.Três D funcionam como os pilares de um processo que resultam em benefícios, sendo muito melhor para todos, contribuindo assim, para a melhoria do ambiente, com bons sinais do futuro para uma sociedade mais eficiente.

domingo, 17 de junho de 2018

PORTUGAL UM PAÍS DE MAUS EMPREGOS

 Mais do que um país de salários baixos, Portugal é um país com demasiados empregos.
 O que é afinal, um mau emprego?
Um mau emprego é um emprego que tem um valor acrescentado baixo, que tem uma produtividade baixa, que pode ser facilmente transferível, que pode ser sujeito a competição externa por países onde os níveis salariais são mais baixos.
E um bom emprego?
Um  bom emprego é um emprego que gera um valor acrescentado elevado e é menos susceptível de ser substituído ou transferido, Nós precisamos de ter bons empregos e é aí que nos devemos focar.
O problema de Portugal não é a falta de empregos, mas sim uma falta de empregos que os portugueses queiram. Todos querem trabalhar no escritório, não nas fábricas, quintas ou oficinas. Isso é normal: o desenvolvimento económico aumentou as expetativas dos trabalhadores, que hoje não aceitam tarefas que antes aceitavam. Esta situação aconteceu na Europa há 50 anos e, por acaso,aqueles que forma para lá fazer tarefas descartadas, foram os portugueses, Agora, tendo nós chegado ao nível que a Europa tinha há 50 anos, acontece-nos o mesmo e recebemos imigrantes.
Se as empresas no exterior pagam mais, os trabalhadores portugueses devem aproveitar essa oportunidade, pelo que as empresas portuguesas  ou pagam em linha com a concorrência exterior, nomeadamente europeia, ou não conseguem encontrar trabalhadores. Há áreas de atividade, em que isto está à vista de toda a gente: treinadores e jogadores de futebol, sobretudo os de maior qualidade, ou de maior reputação; pilotos de avião, enfermeiros, informáticos, etc...
Não podemos seguir o modelo de baixos salários, não podemos seguir apenas o fator trabalho, temos que seguir o modelo dos países que aderiram à economia do conhecimento. A disputa pela repartição do rendimento existirá sempre, e , não parece que haja uma resposta completamente "técnica", que possa esclarecer o assunto de uma vez por todas. O problema tem que ver com o crescimento e o desenvolvimento económico, com as possibilidades que Portugal tem para a convergência do nível de vida com os países mais avançados.
O que fazer para criar mais bons empregos, em Portugal?
Há que discutir a boa qualidade dos empregos, isto é: criar condições para nos tornarmos mais produtivos. É necessário ter um certo cuidado, com as soluções importadas cegamente. À partida não se pode dizer, " fazem desta maneira num sítio qualquer e nós vamos fazer igual porque lá funciona" os incentivos de outros países, não são todos iguais. Dependem de um conjunto de variáveis de características significativamente diferentes de país para país.. Essas regras não agem sozinhas, agem em conjunto com as regras fiscais, com as regras da Segurança Social e com as regras do Código Comercial. Dito isto, é preciso ver o que os outros estão a fazer, não para copiar, mas para entender, porque nós temos de concorrer fora, e, estamos nos mercados que eles também estão. Não se pode atribuir culpa a gestores ou a trabalhadores. Trata-se da responsabilidade do sistema como um todo. Em Portugal, o empresário é mal visto, e o ideal é ser funcionário público. A política nacional está dominada pela dívida, pelo orçamento e pelos funcionários. Portugal tem um quadro regulamentar pesado. Isso recai sobre as empresas de maior dimensão, pois são elas que tendo uma pegada fiscal e institucional mais significativa, estão sujeitas a verificação. E as grandes empresas têm outros recursos. Os custos de contexto existem e são muito significativos, Quando as empresas gastam uma parte importante do seu tempo e dos recursos a resolver problemas internos, são recursos que não estão a usar para tratar do que é essencial, que é olhar para fora. Por isso, o caminho tem de ser diferente: precisamos de criar um ambiente que seja amigável para as empresas, partindo do princípio de que isto não é um jogo de somas nulas. Isto é: o que ganham os empresários, não é o que perdem os trabalhadores e vice-versa. É um jogo de soma crescente. O drive para fazer reformas tem de ser focado nos porblemas que as empresas sentem e não naquilo que os índices medem. Tenho a opinião de que quanto mais iguais forem as regras entre os diferentes setores, entre o setor público e o setor privado, entre contratos a prazo e contratos permanentes ou por tempo indeterminado,  será melhor para todos Mas a completa desregulação do contrato, também não é uma boa escolha. Há provavelmente um caminho no meio. É uma questão de grau. Estamos a falar de aproximar os diferentes tipos de vínculo para um tipo de vínculo que permita respeitar e incentivar a permanência, porque isso também é bom para as empresas. As empresas também têm vantagens em ter um quadro de pessoal razoavelmente estável, com algum tempo de ligação à empresa, com o chamado learning by doing, aprender no posto de trabalho, jogar com a camisola Mas se houver dificuldades temos um enorme problema em ajustar os mesmos recursos e o mesmo quadro pessoal. Por outro lado, é preciso também ter em conta a flexibilidade de que as empresas precisam por causa dos ciclos de produto, pois são cada vez mais rápidos.. Não podemos estar a olhar para trás, para o mundo do trabalho da era industrial, a gás, em que as empresas eram desenhadas para produtos de longa duração. Já se fez muito nesse sentido, mas por vezes também se faz overshooting dos problemas do mercado de trabalho.Não faltam só bons empregos faltam também mais qualificações. Formam-se a um ritmo insuficiente, mito provavelmente reagindo tardiamente face às necessidades.Aos portugueses não falta vontade de trabalhar. Na generalidade trabalham bastantes mais horas que os alemães, os franceses e os holandeses. Os salários tenderão a subir , mas a qualificação necessária não surge assim tão rapidamente. As economias não são assim tão flexíveis, existem restrições que só muito dificilmente se ultrapassam. Afinal, "that wine is not made in a day has long been recogized by economist" Temos uma falta enorme de quadros intermédios especializados.Desde o regime anterior que não se dignificou socialmente a formação profissional e o ensino técnico.O resultado é o que estamos a assistir hoje em dia: as licenciaturas só dão para choveres de táxi  ou para caixas de supermercado. E aqueles quadros intermédios especializados de que o país precisa não existem porque se criou a mentalidade de haver um segregação social entre o ensino da ciência e o ensino técnico. Em suma, há empregos e setores em que somos excelentes, como o dos componentes automóveis e o da metalomecânica, que estão com sistemática falta de quadros. Temos produto, temos tecnologia, temos preço e temos clientes mas não podemos crescer mais porque não temos recursos humanos qualificados. O valor que se acrescenta num país por habitante depende algebricamente da multiplicação da produtividade média do trabalho pela percentagem da população que trabalha. Como a percentagem da multiplicação que trabalha é naturalmente limitada pela estrutura etária, e, por outras condicionantes demográficas, qualquer aumento sustentado, e, a prazo do rendimento por habitante, terá sempre de resultar do aumento dessa produtividade média.
De entre os vários fatores que podem influir positivamente sobre a produtividade média, há um que se pode aproximar da "qualidade dos recursos humanos" e que é a qualificação da força de trabalho. Ora acontece que a qualificação da força de trabalho portuguesa é relativamente baixa. Portugal com os seus 8% da população ativa no desemprego, é hoje um país caracterizado por uma dificuldade em encontrar quem esteja disponível para preencher os postos de trabalho. Esta situação só tem um caminho de superação:melhorar a qualificação das pessoas, através de mais formação, e a sua adaptabilidade às exigências do mercado de trabalho. Em Portugal, há uma falta generalizada de trabalhadores, mas muitas vezes faltam as competências(os skills) que o mercado exige.Trata-se de uma tarefa dificil. Uma empresa pode começar por formar trabalhadores e perder os concorrentes.. Concorrentes que podem começar logo, a ter um salário mais elevado. Nestes casos, o recurso à imigração, de trabalhadores qualificados, é uma possibilidade  a considerar.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

OS BAIXOS SALÁRIOS EM PORTUGAL

A pergunta porque se ganha mal em Portugal tem muitas respostas mas todas elas seguem a conhecida expressão popular "aqui não há milagres". Não podemos resolver o problema dos salários, se não resolvermos o problema da produtividade e da competitividade em Portugal. Em Portugal, temos salários reais mais baixos, do que um certo número de países europeus, porque os salários reais estão ligados à produtividade relativa, e a nossa produtividade relativa é inferior à desses países. Sem produtividade (valor acrescentado por trabalhador suficiente) não é possível pagar. As causas dessa falta de produtividade, podem ser muitas, mas quaisquer que sejam as causas, a impossibilidade de pagar salários que a produtividade do trabalho não consegue suportar é uma "lei de ferro". Daniel Bessa diz:" Num trabalho efetuado poucos anos atrás, para um encontro COTEC EUROPA, coube-me compararmos salários de três países(Portugal, Espanha,e Itália, introduzindo a Alemanha , como termo de comparação) em três setores de atividade ditos tradicionais(vestuário, calçado, madeira e mobiliário) A relação apurada entre salários e produtividade do trabalho, revelou-se elevadíssima como seria de esperar. Analisando o caso concreto das diferenças salariais entre Portugal e o seu vizinho ibérico, as razões são múltipla, mas a mais relevante é a diferença na produtividade laboral, muito inferior em Portugal. Os salários em Portugal são significativamente mais baixos do que em Espanha. Uma pessoa empregada em Portugal recebe 21 mil euros por ano, o que se compara com 35,6 mil euros em Espanha. A diferença é muito maior do que a diferença do custo de vida nos dois países. Em média, os preços dos bens de consumo são apenas 10%mais elevados em Espanha do que em Portugal. É certo que uma diferença desta natureza é em grande parte explicada pela diferença nas produtividades marginais do trabalho nos dois países, Quando se emprega mais de uma pessoa em Portugal, a produção aumenta significativamente menos do que em Espanha. Ou seja, a grande explicação para os baixos salários é a nossa baixa produtividade. Ora, sendo consensual que o fenómeno dos baixos salários, se deve à baixa produtividade do país, que razões encontramos então, para Portugal estar a perder no campeonato da produtividade? Continuamos a ter, independentemente dos investimentos que foram feitos, um perfil produtivo baseado num baixo valor acrescentado. Se analisarmos as exportações do nosso país, cerca de dois terços são de valor baixo ou médio baixo.
Temos níveis baixos de produtividade, por duas razões: um baixo nível de capital por trabalhador, ou seja: as empresas estão insuficientemente apetrechadas, em termos de máquinas, equipamentos, tecnologia e têm níveis baixos de qualificação de recursos humanos.  A qualificação do trabalho e da gestão em Portugal permanece das mais baixas da Europa. Muitas unidades produtivas em Portugal, são de um modo geral pequenas, muitas vezes de dimensão familiar, não permitindo a completa exploração de economias de escala, a adoção de tecnologias mais produtivas e plena utilização das vantagens de equipamento mais avançado. A estrutura produtiva permanece em parte orientada para atividades de baixo valor acrescentado, muitas vezes viradas para o mercado interno e com diminuta competitividade externa. Mais: A mobilização de poupanças internas e externas, para o financiamento de investimentos que gerem aumentos de produtividade é perturbada por custos de índole fiscal, por complicações burocráticas e por diversas "dificuldades de contexto", que levaram a decisões erradas ou pouco rentáveis, tanto no setor público como no setor privado. O ecossistema  sócio político português é contrário à produtividade e à competitividade; é contrário às mais elementares regras de bom senso para quem quer e precisa de competir na economia global. Hoje estamos mesmo a retroceder em relação às tendências  de alguns países , como a Alemanha e a França, que são mais do chamado capitalismo cooperativo e não tanto, economias de liberdade pura de mercado. Estes países estão a ter condições para dar outro enquadramento às empresas, de modo a favorecer a produtividade e, assim, os rendimentos, enquanto em Portugal o que vemos são retrocessos.
Porque é que Portugal gera menos riqueza do que a maioria dos países da União Europeia, quando o país é reconhecido no exterior?
Há qualidade dos seus recursos humanos?
O problema está numa atitude cultural avessa ao investimento, à dinâmica e à globalização. Aquilo de que se fala são direitos, subsídios e temas afins. Não admira que os recursos capazes se vão embora.
Neste momento, Portugal tem a menor taxa de fertilidade do mundo e encontra-se em grave decadência populacional, mas as elites políticas ainda mal deram por isso. Portugal não é um país que se distingue por uma elevada qualidade de recursos humanos, muito menos ser reconhecido no exterior por isso. O que está na base da situação atual do mercado laboral em Portugal são:baixas qualificações e mudanças permanentes no sistema educativo, excesso de gastos e impostos, desorganização e compadrio da Administração, corrupção elevada em todos os níveis de partidos, do Estado e da Sociedade. E se aumentasse o salário mínimo para 700, 800 ou até mil euros, mas houvesse disponibilização total para despedimentos?
Não seria algo desejável. A existência de um salário mínimo justifica-se por razões distributivas e de redução da pobreza, e, por falhas de mercado, que incluem a discriminação ou o poder excessivo do empregador face ao empregado. No entanto é lógico que a fixação de um nível de um valor excessivo acima da produtividade marginal, acima dos potenciais empregados, levará a uma redução do número de contratações. E tudo indica que mil euros seria um valor exagerado Também não vislumbro qualquer razão para que a flexibilização total dos despedimentos pudesse ser algo de bom, tanto no âmbito da estrita eficiência económica, como no quadro da equidade e da justiça social, sendo mesmo de rejeitar o eventual trade-off.
Não há nenhum problema em ambicionar um salário médio próximo da média europeia.
Em relação ao salário mínimo, está sempre na dependência da estrutura da economia e, aí as mudanças são relativamente lentas.  Do ponto de vista económico, é razoável dizer que vamos fazer crescer a economia de forma programada, e, antecipadamente deve ser conhecido um programa de crescimento, que se deve ajustar em alta ou em baixa. Porque subir o salário mínimo tem efeitos mais complexos se estivermos na fase mais baixa do ciclo económico do que se estivermos na fase mais alta. O que está a acontecer neste momento em Portugal é que aparentemente não houve um impacto significativo no crescimento do emprego pela subida do salário A politica pode fazer subir o salário mínimo, mas não pode fazer subir o salário médio. Por isso, nas condições existentes os salários portugueses não conseguirão ser iguais aos espanhóis, holandeses, o, alemães A única coisa de razoável é Portugal ter um programa de crescimento.
Temos níveis baixos de produtividade , por duas razões:um baixo nível de capital por trabalhador(ou seja, as empresas estão insuficientemente apetrechadas em termos de máquinas, equipamentos e tecnologias) e níveis baixos de qualificação de recursos humanos. Portugal é o país da União Europeia com a mais alta taxa de população empregada, com baixas qualificações. Com a recuperação do mundo do trabalho e com a redução muito significativa do desemprego, a escassez da mão-de-obra qualificada começa a surgir como um problema grave, que afeta a competitividade e a capacidade de modernização e de expansão de muitas empresas, de diversos setores, em particular na indústria. Há desempregados que recusam ofertas de emprego e preferem continuar a viver à custa de prestações sociais, no entanto , os salários oferecidos, são generalizadamente baixos. Mas o problema da escassez da mão-de-obra qualificada resulta, fundamentalmente, da desregulação da oferta e da procura de qualificações e competências.
É uma realidade que não estamos a formar as pessoas adequadas para o tipo de emprego que temos. Esta realidade exige que mais recursos sejam destinados à formação profissional. Para além destes recursos será ainda necessário: promover uma maior cooperação entre os centros de emprego e as associações patronais e empresariais conferindo-lhes um papel verdadeiramente ativo no processo de aproximação entre a oferta e a procura de emprego. É essencial reformular e adequar a educação e, em especial, a formação profissional a uma realidade em constante mutação, no contexto da digitalização.  Também é crucial preservar os avanços alcançados relativamente à flexibilização do mercado de trabalho. O caminho que tornará possível às empresas portuguesas suportar aumentos de remunerações é o crescimento económico sustentável e consistente como um modelo de economia competitiva, assente em aumentos de produtividade.

terça-feira, 5 de junho de 2018

ECONOMIA DIGITAL

A revolução digital é rica em oportunidades. Quer o desejemos vivamente , quer não, ocorrerá, aconteça o que acontecer. Todos os setores serão afetados . Por isso devemos antecipar os inúmeros desafios que a revolução digital nos lança, de modo a adaptar-nos: a confiança nas plataformas da Internet, a confidencialidade dos dados, a manutenção da solidariedade no nosso sistema de saúde, os receios perante a fragmentação do trabalho e o desemprego, ou aina, uma fiscalidade cada vez mais complexa a ser aplicada. Estas questões complexas subentendem desafios económicos consideráveis.
A revolução digital também suscita vários receios quanto ao emprego e à sua organização. Quais os empregos que desaparecem ou desaparecerão? Restarão empregos, uma vez que os programas inteligentes e os robots substituirão  os empregos qualificados, tanto quanto os não qualificados?
O emprego que substituirá será "uberizado"?
Não há previsões exatas acerca deste assunto, apenas alguns elementos de reflexão.
A Confiança- Se estivermos, a partir de agora, ligados à Internet através do nosso computador, do nosso smartphone ou do nosso tablet, amanhã estaremos ainda mais com a "Internet dos objetos". A domática, os captadores(o nosso relógio inteligente; as nossas roupas inteligentes, os nossos óculos) e outros objetos ligados à Internet farão com que estejamos ligados em permanência, da nossa livre vontade ou não. Essa evolução é portadora de esperança e de receios. Enquanto hoje nos preocupamos com os cookies colocados nos nossos computadores, amanhã, páginas da Internet, públicas e privadas, poderão traçar o nosso perfil e criar ficheiros muitos mais complexos acerca de nós, graças aos progressos de reconhecimento facial.As angústias perante os big brothers watching us, evocados na ficção de George Orwell, reaparecem muito naturalmente, A aceitação da digital social assenta na segurança que os seus utilizadores terão, de que os dados que fornecemos não se voltarão contra nós, e, as plataformas da Internet a que nos ligamos respeitarão os termos do contrato que nos liga. Em suma, assenta na confiança.
Confiança na confidencialidade dos dados pessoais- Confiamos no nosso médico, obrigado a sigilo profissional, normalmente respeitado. Mas acontece o mesmo com as informações confidenciais que revelamos nas páginas da Internet que visitamos nas redes sociais?
A questão da confidencialidade é tão vivida para as nossas interações digitais como para os dados médicos, mas as nossas garantias na matéria são muito inferiores.
Para dar resposta às nossas preocupações, quanto à utilização de dados que fornecemos quando consultamos sítios, compramos ou negociamos na Internet, os sítios que propõem políticas de confidencialidade, que depositarão cookies no nosso computador e, normalmente, tentam ser transparentes. Não é menos verdade, que o contrato que nos liga às empresas da Internet é, de acordo com a terminologia dos economistas, um contrato incompleto. Não estamos em posição de conhecer exatamente o risco que corremos. Antes de mais, não nos é possível analisar o investimento da plataforma em matéria de segurança informática. Inúmeros exemplos recentes, amplamente relatados na imprensa, mostram bem que não é uma questão puramente teórica:desde a violação das informações, dos cartões de crédito, aos roubos de dados detidos pelas administrações governamentais, passando pelo roubo mediático dos dados do correio eletrónico, nomes, endereços, cartões de crédito etc...As empresas Internet investem quantias consideráveis na segurança, mas investiriam ainda mais, se interiorizassem plenamente o custo das falhas de segurança para os seus clientes. Com a Internet dos objetos e a conexão do nosso automóvel, dos nossos aparelhos domésticos, dos nossos aparelhos médicos e de outros objetos da vida quotidiana, geridos em parte, ou totalmente à distância, as possibilidades de pirataria malévola vão-se acumulando.
Se todas estas evoluções tecnológicas são, por um lado, muito desejáveis, será necessário zelar para que não se repita a experiência microcomputadores, para os quais a segurança informática, foi construída como reação à pirataria. Por outro lado, as cláusulas de não revenda dos dados dos clientes a terceiros podem ser pouco claras.Se por exemplo, uma empresa transferir gratuitamente esses dados a filiais que nos fornecem, então, serviços com base nesses mesmos dados, estaremos a lidar com uma quebra de contrato por parte da empresa? A questão da partilha de dados entre empresas é altamente sensível. De um modo geral, uma empresa que recolhe dados, deve ser considerada, pelo menos em parte, responsável pela má utilização que deles fazem parte, aqueles a quem ela os fornece, direta ou indiretamente. O que acontece em caso de falência? Quando uma empresa, da Internet ou de qualquer outro setor, entra em falência, os credores podem recuperar uma parte da sua participação, adquirindo ou revevendendo ativos da empresa ; essa garantia facilita o acesso das empresas ao crédito.
A saúde e a solidariedade- O setor da saúde ilustra bem o modo como a digitalização agitará a vida das empresas e a ação pública no futuro.
Os nossos dados de saúde sempre foram criados aquando dos nossos contactos com profissões médicas: no seio de um consultório médico, do hospital ou do laboratório.Amanhã, serão recolhidos por nós próprios em tempo contínuo por sensores eventualmente ligados a smartfhones ou a relógios ligados à rede(como já é o caso dos estimulantes cardíacos, o medidor da tensão arterial ou os adesivos para os diabéticos insulinodependentes.
Cruzados com os conhecimentos do nosso património genético, esses dados de saúde dão forma a um instrumento formidável de diagnóstico e de tratamento. O Big Data, ou seja, a recolha e análise de grandes conjuntos de dados, é, simultaneamente, uma oportunidade e um desafio para a saúde.
Uma oportunidade na medida em que nos fornecerá diagnósticos muito mais precisos, e, ao mesmo tempo mais baratos, pois limitam as intervenções dos profissionais médicos, intermediários, necessariamente dispendiosos, devido ao tempo dedicado ao paciente ,e , ao nível de qualificação exigido.
Os exames e os diagnósticos serão brevemente estabelecidos por um computador, libertando o médico e o farmacêutico de tarefas rotineiras . Como nos outros domínios, a questão é saber se a máquina substituirá o homem. Nem é preciso dizer que, em relação ao homem, o computador é capaz de tratar um número muito maior de dados do paciente e de cruzar com muito mais experiências de outros pacientes que apresentem sintomas e uma genética semelhante. E as suas fraqueza, em relação à intuição humana, serão pouco a pouco, ultrapassadas pelo contributo do machine learning, esses processos de aprendizagem, que fazem com que a máquina reveja a sua abordagem, tendo em conta experiências passadas. A saúde digital reforçará, por fim a prevenção, ainda hoje parente pobre da medicina curativa. Poderá também fornecer-nos uma solução à questão do acesso igualitário.
Tudo isto é um enorme desafio para a solidariedade que carcteriza o nosso sistema de saúde.
O paradoxo da economia digital- As consequências que a economia digital trará no futuro de todos nós, é motivo de algum deslumbramento e, sobretudo de alguma especulação.
Um em cada três trabalhos, ficará em risco na economia digital. Trinta a noventa milhões de europeus serão gravemente afetados. A economia digital é considerada já, a 4ªrevolução industrial. Significa, pura e simplesmente, que vivemos em interação permanente com as máquinas, dado que, hoje em dia nada se faz, sem a mediação direta ou indireta de um aparelho eltrónico, de uma rede de wi-fi ou de um smart-de.vice. É o tempo das grandes quantidades de dados, da inteligência artificial. da internet, da velocidade estonteante a que a informação circula, e, da proximidade perturbante a que estamos todos uns dos outros.
A economia digital está nas nossas vidas, mesmo quando estamos a dormir(quantos de nós consultamos a aplicação que nos diz a qualidade de sono dormido, nessa noite?
Dos vários estudos que vêm sendo feitos sobre economia digital, uma conclusão é unânime: as tarefas realizadas de forma automática serão substituídas por máquinas.
O trabalho do futuro será assim, mais digital. A valorização da interação humana, das nossas aptidões sociais e pessoais, da capacidade de arriscar, colaborar e comunicar a enorme relevância da inteligência emocional, das competências de ensinar, gerir e influenciar os outros: eis a notícia que nos trouxeram os robôs da economia digital.