Os Governos de todo o mundo têm procurado aliviar o efeito da crise pandémica com juros em mínimos históricos, megaprogramas de compra de dívida e outros ativos e biliões de euros injetados na economia, através de apoios sociais, ajudas às empresas e investimento público. Mas todas estas medidas têm consequências do lado dos preços. É praticamente a dimensão do PIB italiano, que chegará à economia através de cheques de 1.400dólares para as famílias, uma prestação para agregados com filhos, o reforço do subsídio de desemprego ,apoio financeiro dos Estados e a reabertura das escolas e dos restaurantes. Este plano gerou entusiasmo com uma saída mais rápida da crise, mas também houve críticas dos economistas mediáticos do mundo: o motivo central é que ao distribuir e gastar tanto dinheiro, este programa irá provocar um sobreaquecimento da economia, o que pode fazer disparar a inflação.. E, níveis elevados de inflação, podem não só servir, como "um imposto escondido-havendo mais dinheiro em circulação, cada moeda vale em si, menos-, como obrigar o Banco Central, a subir os juros. E esse risco faz sentido? Sim. Por um lado, há um pacote orçamental gigantesco, muito acima do que seria preciso para recuperar a atividade económica para a sua capacidade produtiva, e que, por isso, terá tendência a levar a um aumento de preços. Por outro lado, um Banco Central dos mais "pomba", de que há memória, no que diz, ao que afirma ser, a sua tolerância para com a inflação alta nos próximos anos, e, com uma dívida tão elevada, que qualquer aumento das taxas de juro, teria um grande impacto orçamental. No entanto, o contexto atual, traz uma série de travões a esse avanço dos preços. Esta crise, tem a particularidade, de atingir, ao mesmo tempo, a oferta e a procura. Um estímulo fará aumentar o consumo- o que teoricamente, puxa pelos preços-; porém isso acontece, numa altura em que as empresas também, começam a produzir mais, o que põe água na fervura da inflação. Mais: temos hoje, várias décadas de sucesso, no controlo da inflação, em torno da meta de 2%, valor que a zona euro não ultrapassa, desde 2016. Mesmo que nos desviemos momentaneamente, as famílias e as empresas continuarão a agir, assumindo que a inflação, acabará por regressar a esse ponto- e confiando se necessário, o Banco Central intervirá para evitar um descontrolo. As condições estruturais da economia, parecem ainda empurrá-la mais, para cenários de deflação (queda dos preços) do que, para um crescimento sustentado de inflação. Qual é o principal problema? É a possibilidade de deflação prolongada. Há fatores estruturais a pressionar a economia real. Pode ter momentos de inflação, mas não um "boom". Um cenário de espiral inflacionista, é pouco provável. Inflação descontrolada, tende a surgir, historicamente , em contextos muito específicos, de perda de independência do Banco Central, que não me pareceu ser o caso, de qualquer economia desenvolvida. E, embora, o Banco Central dos EUA- a Fed- permita agora, desvios temporários da meta de 2%, se se tornar claro, que a inflação está a ficar fora de controlo, voltará a intervir para a controlar. Além disso, muitos dos que pensam, que há risco de inflação. já gritavam "lobo" no passado, seja há mais de uma década, quando a Fed estreou a sua política de compra de ativos para combater a crise financeira, seja mais recentemente, quando Trump, introduziu um corte brutal de impostos, com o desemprego em mínimos históricos. O lobo não veio. Estas previsões "falhadas", devem -se ao medo de repetição do cenário dos anos 70 nos EUA, com crescimento baixo e inflação alta (estagflação). Na Europa, é necessário conviver com o trauma alemão face à hiperinflação. Contudo, o mundo mudou nos últimos 50anos:o Fed é muito mais independente, e é relativamente consensual, que assim deve continuar; a própria estrutura da economia mudou, e, estamos a sair de uma década em que os preços praticamente não se mexeram. Nos anos 70, o choque veio do lado da oferta(o choque petrolífero), enquanto atualmente, é mais provável que choques negativos da procura predominem. Talvez seja altura de considerar, se um cenário de subida descontrolada dos preços, continua a ser um risco real para economias desenvolvidas. Será que resolvemos a equação da inflação? É uma possibilidade. o que temos visto, nos últimos 30anos é que fomos capazes de gerir as expetativas, graças à credibilidade dos Bancos Centrais. Acredito numa meta de inflação de 2%, porque o Banco Central assim o afirma. A política monetária, apoiada nos grandes avanços da teoria macroeconómica, das últimas tês décadas, e, num apoio institucional forte, nas economias avançadas, em torno dos bancos centrais independentes, tem feito um trabalho extraordinário em manter uma inflação estável. Os receios são de uma Fed mais permissiva, com alguma inflação momentânea, o desejo de usar os Bancos Centrais para atingir outros objetivos, além da estabilidade de preços, combate às alterações climáticas, desigualdade e dívida pública muito elevada. Assim , é provável que o "problema" reapareça. Na verdade uma grande fatia da população, nunca sentiu na carteira o peso da inflação. Há anos atrás, havia o medo da inflação, mas a geração mais jovem, terá um condicionamento diferente. O medo da deflação irá mudar a forma como olham para os preços. "2021". As pressões inflacionistas surgem dos estrangulamentos das cadeias logísticas, depois do fecho da economia. A inflação é desvalorização de moeda, e, não subida dos preços. Existem "subidas de preços estruturais", ditadas pela recuperação da crise aberta pela pandemia. Subidas que surgem numa época em que já levamos bastante tempo de baixa inflação e até de deflação. O ajustamento dos preços é o reflexo da grande aceleração da transformação económica e social que está em curso. E "antes do medo" da inflação, é necessário fazer essa transformação, " o mais rápido possível", com maior fulgor, na criação de riqueza, aumento de produtividade e sustentabilidade social. Ou seja, criar "mais valor" e distribuir "melhor". A necessidade imposta pelos défices públicos e privados, gerados a ajudar as famílias e as empresas, com medidas sem precedentes, e, uma inflação ligeira, até é positiva. Não é o tempo de ter medo, mas de moderar as crises económica e social. Algumas matérias-primas revelam "subidas de preços ".Paládio, cobre algodão orgânico e madeira serrada estão mais caras. Subidas que surgem também nalguns bens que estiveram afastados do consumo, como as viagens aéreas. Estes aumentos são justificados com " a recomposição da economia pós -crise. Situação que irá durar até 2022, e depois moderação. Numa Europa de enormes desigualdades é preciso concentrar a atenção no futuro, "baseando o crescimento numa "economia intangível de soluções, e, não de quantidades". Importante, é criar riqueza, para melhorar a vida das pessoas, com o crescimento baseado na eficiência e na sustentabilidade. Se assim for, a médio prazo, teremos resultados, Até lá, turbulência nos preços e oscilação cambial. Não podemos recuperar com aumento de preços. Não basta fazer chegar o dinheiro às empresas e às famílias, é preciso não responder à crise, com a queda dos preços, como aconteceu no início da pandemia. Tal irá trazer "a aceleração da inflação " e a "perda de confiança das moedas". Ou seja: não se deve exagerar no suporte financeiro à crise. A solução é apostar mais na produtividade, na inovação, no trabalho, e, não em truques de magia.
O grande tema do fórum anual do BCE, em Sintra, foi a inflação.. A inflação em Agosto atingiu os 3% na zona euro, e as previsões são que suba mais nos próximos meses.. O receio de Lagarde é que depois de 12 meses de inflação elevada, ela não volte para perto de 2%. Ou seja, que esta subida não seja temporária mas persistente. Lagarde está convicta de que será temporária. Os preços dos bens estão a subir mais rapidamente do que os dos serviços, devido aos problemas das cadeias de abastecimento, que se espera sejam temporários. Além disso os fatores que contribuíram ara a inflação estar perto dos 1%, durante tantos anos, não desapareceram. Lagarde, acrescenta que a digitalização da economia, a transição energética, e uma tendência mais aforradora do último ano, podem contribuir para puxar a inflação para baixo. No entanto, há uma probabilidade, pequena, mas não negligenciável, de a inflação continuar elevada, durante alguns anos, falhando assim o alvo do BCE.. A inflação na zona euro, irá ser determinada por aquilo que o BCE faça. A inflação é sobretudo um fenómeno monetário. É o BCE que controla as taxas de juro, o tamanho do seu balanço, e , a sua independência face à política orçamental, e estes são os grandes determinantes da inflação. Com mais ou menos digitalização, discrepância entre bens e serviços, ou transição energética, se o BCE reagir a estas mudanças com alterações severas nas taxas de juro, ele irá manter a inflação sob controlo. Mesmo que seja preciso "um whatever it takes" à la Draghi, a inflação na zona euro depende sobretudo daquilo que fará o BCE. A inflação veio para ficar. O colapso da atividade provocado pela pandemia, conjugado com a ação decisiva da política económica, na proteção do rendimento das famílias e dos cashflows das empresas, abriu uma enorme lacuna, entre a procura e a oferta agregada. Este desequilíbrio resultou em pressões inflacionistas, que, por serem conjunturais, se esperavam temporárias. Essa foi a leitura dos Bancos Centrais, mas não é isso que está a acontecer. Na verdade, a dinâmica em curso, representa um processo rigoroso de inflação persistente. Como em tantos outros episódios de inflação, a subida dos preços teve origem nas matérias primas (energéticas ,industriais, alimentares), rapidamente passando para os fretes marítimos, numa escalada de preços a montante da atividade produtora global. Da conjugação destes efeitos, resultou a subida dos preços do produtor, aos preços no consumidor, bem como às expetativas de inflação ás das empresas, das famílias e dos investidores, criando uma complexa teia de mecanismos de retroalimentação. Para além disto, o protagonismo da política orçamental durante a pandemia- em contraste com a recessão anterior- contribui para estender a inflação no tempo, por implicar a infusão consistente da despesa pública na economia, sobretudo em situações de abrandamento da atividade, nas quais as tensões inflacionistas tenderão a desaparecer. A subida sustentada dos preços, tende a ser um alívio para as economias mais endividadas- como as europeias-, por favorecer a condição financeira das empresas e dos Estados, uma vez que a inflação eleva as receitas das vendas, no caso das primeiras, e dos impostos no caso dos segundos, enquanto o valor facial das dívidas se mantém inalterado. Mas este efeito positivo, só se poderá materializar, se os custos de financiamento não se agravarem substancialmente, o que poderia acontecer, se em resposta à subida generalizada dos preços, os Bancos Centrais decidissem mudar radicalmente o modo flexível da política monetária atual. Contudo, esse não é o curso de ação provável, sobretudo no caso do Banco Central Europeu, já que os elevados níveis de endividamento, constituem um entrave material à persistência agressiva das condições monetárias. Daqui resulta, que o principal risco associado à inflação, consiste num desvio descontrolado das expetativas inflacionistas dos agentes económicos, que possam provocar uma espiral de inflação, à qual os Bancos Centrais teriam de responder, de forma viva, com consequências adversas para a estabilidade financeira, para a atividade económica e para o emprego. A inflação em Portugal está a subir, segundo a tendência europeia global e medida pelo Índice de Preços no Consumidor. Mas é uma das mais baixas no espaço da moeda única europeia. O que explica a inflação baixa em Portugal? Sobretudo, o atraso na recuperação, Portugal só deve atingir o PIB, pré pandemia, em meados do ano, enquanto a zona euro já superou. Em Portugal, os impactos fiscais de alívio da pandemia, não tiveram um efeito tão direto sobre os preços. Considerando apenas gastos públicos adicionais e receita cobrada, a base de dados do FMI, sobre a resposta à crise pandémica, coloca Portugal na 18ª posição entre os 27. Como consequência de um menor apoio direto à economia, a inflação tem sido mais moderada, do que nos restantes países da zona euro, já que podemos sofrer com uma correção monetária, com subida das taxas de juro, que será reflexo das dinâmicas inflacionistas, bastante mais fortes. E, devido o acentuado nível de endividamento publico e privado, um cenário em que as taxas de juro, estão acima da taxa de crescimento da economia da economia, poderá desencadear uma crise económica e política de difícil resolução. A inflação deve manter-se pressionada em alta, durante o primeiro semestre de 2022. Os produtos energéticos, foram os principais responsáveis pela subida dos preços nos últimos doze meses, e, o cenário é de alto risco, fruto das tendências geopolíticas associadas ao conflito entre a Rússia e Ucrânia. Quais os custos da inflação? O aumento dos preços em Portugal implica que os salários dos trabalhadores não lhes permitem comprar tantos bens e serviços. O poder de compra cai e as pessoas têm uma vida mais difícil, sobretudo no contexto de uma crise pandémica, com consequências graves.. A inflação em Portugal ,está no valor mais elevado em quase 28 anos. O risco de continuarmos a registar aumentos históricos da taxa de inflação são elevados, devido aos efeitos da guerra. A variação homóloga do IPC, atingiu 5,3%, o valor mais alto desde 1994. A questão é, em que medida revisões salariais, antecipação do consumo, e outros fenómenos típicos de economias com inflações mais elevadas, e que contribuem para que a própria inflação se mantenha num nível mais elevado, se vão impondo, falando de uma inflação temporária, que se está a tornar permanente. Se os salários evoluírem, abaixo da inflação , o poder de compra das famílias será penalizado. Mas revisões salariais mais fortes, poderão levar a uma subida das expetativas da inflação, que exijam uma correção das taxas de juro por parte do BCE. Como famílias e empresas saíram da crise pandémica, com maiores dívidas. isso poderá levar a uma acentuada desaceleração do crescimento económico. A escalada dos preços tem dominado muitas décadas, atingindo 7,4% em março. Há um risco significativo de as medidas para conter a inflação, levarem a uma recessão. Tendo em conta a política monetária altamente expansionista de 2021, vamos ter ,com elevada probabilidade, inflação alta durante o ano de 2022. Quanto mais o banco central, demorar a responder a um aumento da inflação, mais esta se torna persistente e enraizada nas expetativas dos agentes económicos. Travar a inflação é muito difícil sem causar uma recessão. Com os confinamentos de novo a intensificar -se na China, e, a incerteza sobre a guerra na Ucrânia, as causas exógenas para a inflação na zona euro, podem durar e até poderão tornar-se resistentes. Nesse caso, os salários acabarão por subir bastante na zona euro. E, se os salários começarem a estar indexados aos preços, a inflação permanecerá na zona euro. A subida dos preços penaliza as famílias com rendimentos fixos, como salários e pensões, se estes não forem atualizados ao mesmo nível da inflação. Para as família com créditos, nomeadamente para comprar casa, a inflação também é uma má notícia, já que a resposta dos bancos centrais traduz -se numa subida das taxas de juro de mercado. Os países exportadores de produtos energéticos, cujo preço disparou, ganham com a inflação. Também os aforradores, como as famílias com poupança, ganham porque, com a subida das taxas de juro de mercado, essa poupança ficará melhor remunerada. Por outro lado, a subida da inflação significa mais receitas ficais para o Estado, porque a taxa de impostos como o IVA, aplica-se sobre os preços mais elevados. E, para países muito endividados como Portugal, a subida dos juros, agrava a fatura com o serviço da dívida.
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