quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

UMA NOVA ORDEM MUNDIAL

Será possível gerir a economia mundial com a sua grande dimensão e com tantos países e povos diferentes?
Quais são os fatores determinantes para ser conseguido um determinado resultado?
Cada vez mais, são as empresas que começam a ver oportunidades internacionais fora do seu mercado nacional. As subidas dos preços dos alimentos e da energia, têm implicações em todo o mundo, à medida que absorvem uma proporção cada vez maior de rendimentos disponíveis, de muitas pessoas, especialmente dos mais pobres.
A globalização veio aumentar a concorrência, mantendo os salários baixos em muitas economias ocidentais, enquanto, ao mesmo tempo, a concorrência em termos de talentos e postos de trabalho, é intensa. Cada vez mais pessoas, em todo o mundo, veem aumentar os seus rendimentos, o que lhes permite, viajar, gastar e investir internacionalmente. Neste contexto, necessitamos de novas instituições. É certo, que cada vez mais, as economias são interdependentes, o que significa, que muitos países podem partilhar os frutos do crescimento. Numa economia, o resultado depende da interação entre os princípios fundamentais, política e confiança. É quase difícil medir a confiança. A confiança por si só, não consegue levar uma economia muito longe, no entanto, a sua importância não pode ser subestimada. As empresas precisam de confiança antes de investir, e as pessoas também dela necessitam, antes de gastarem muito dinheiro.
As pessoas criaram o hábito de se familiarizar com o modo como as coisas funcionam no seu país, uma vez, que é lá que as suas leis são aprovadas, os impostos são pagos e, enquanto o país for uma democracia onde se vota.
O que acontece a nível nacional, pode influenciar, ou ser influenciado, pelo que acontece no exterior.
É por isso, que é mais importante, do que foi alguma vez no passado, controlar as instituições regionais e mundiais.
Alguns, poderão dizer, que não são as instituições, mas sim o dinheiro, que faz girar o mundo. Quanto dinheiro está concentrado nas mãos de tão poucos? Pelo lado positivo, em anos recentes, as economias emergentes, criaram mais riqueza.É uma boa notícia, porque reflete a fatia crescente que têm no bolo  económico mundial, e , porque ajudam a sair mais pessoas da pobreza extrema proporcionando uma base firme, onde se pode construir o futuro crescimento mundial, com áreas múltiplas de procura interna mais forte.
Uma tendência que vale a pena sustentar, é a de que, embora se tenha visto que a globalização e o crescimento da economia mundial, fizeram desaparecer os fossos de rendimento entre os países, estes aumentaram no interior de alguns países. Isto é um sinal de que a globalização, está a funcionar a nível internacional.A globalização torna mais difícil tributar áreas que são móveis, como as multinacionais, ou os trabalhadores altamente especializados, a não ser que todos adiram a uma abordagem política dos impostos mundiais. É certo, que a eficácia das políticas nacionais, pode ser influenciada, pelo que se passa no mundo.
No decurso da globalização, as grandes empresas internacionais, tornaram -se mais móveis, capazes de transferirem as suas operações de um lado para o outro, criando empregos em múltiplos locais.
Os países de todo o mundo cortejam as empresas mundiais, com a esperança de atraírem o seu investimento e os seus empregos. Muitas das  grandes empresas listadas nas principais bolsas, realizam uma grande quantidade dos seus negócios no estrangeiro. Os fabricantes e os call centers podem transferir as suas operações, para onde os custos sejam inferiores, enquanto as empresas do setor dos serviços vão para onde existe pior procura.
Vejamos as principais instituições mundiais: FMI,G20,OMC: verificamos que numa economia mundial, onde o conhecimento e o poder são importantes, a capacidade de influenciar o debate económico e político pode ser crucial. Desde logo, a importância das instituições e grupos mundiais, não deveria basear -se apenas no modo como se resolvem as questões e atribuírem fundos, mas também, como influenciam o pensamento, atitudes e comportamentos.
Quanto mais pensamos nesses grupos, mais possibilidade temos de nos questionar se funcionam, e, quão provável trabalham ou, não no futuro. Por exemplo, como irão interagir com os governos nacionais? As instituições mundiais adequam -se à sua finalidade ou precisam de mudar?
Como podemos garantir que essas instituições fazem um bom trabalho, de modo, a ajudar a economia mundial a crescer?
O grande desafio tanto para os grupos mundiais, como mundiais é que parece haver um desejo natural de se expandirem sempre e nunca reduzir. A coordenação de políticas a nível mundial, centra -se nos motores da economia em muitos países. Exige uma consciência dos danos que os atos de um país poderão provocar a outros, e dos momentos, em que faz sentido, agir em conjunto, para maximizar as oportunidades e obter resultados bem sucedidos. A coordenação política mundial faz sentido, mas é difícil de atingir na prática. A riqueza e o poder de compra estão altamente concentrados. Isso, reforça a necessidade de de uma estrutura institucional certa em todo o mundo, Quer se trate de países ricos ou pobres, em todo o mundo, todos têm de ser regidos pela mesmas normas
Necessitamos de uma estrutura institucional certa, que resolva as questões mundiais fundamentais.
A coordenação da política mundial, pode funcionar e mudar as coisas, e, portanto, quanto mais credíveis, forem as instituições, tanto mais eficazes podem ser.
Também devem ser criadas de forma adequada, de modo a refletirem, como a economia mundial está a mudar e terem legitimidade aos olhos da maior parte dos países do mundo. Se os países decidirem trabalhar juntos, em políticas regionais e mundiais, têm de aceitar alguns compromissos em termos das suas próprias políticas internas.Considerando que uma boa economia, significa uma boa política, as alianças em grupos regionais ou mundiais, deveriam fazer sentido, em termos económicos.
No futuro, as economias bem sucedidas, serão aquelas que seguirem as diretrizes de adaptação de mudança e de jogo dos pontos fortes, assumindo uma posição eficaz,  transformando -se num local atraente onde investir para os empresários, tendo a economia mundial por objetivo um forte crescimento sustentável.

domingo, 6 de dezembro de 2015

UMA EUROPA MAIS UNIDA

Durante a crise financeira os membros nórdicos da Zona Euro resgataram  os seus homólogos do Sul, oferecendo enormes resgates financeiros e apoiando a promessa do Banco Central Europeu, de salvar o Euro, a qualquer custo. Contudo, quando a Alemanha, solicitou, recentemente um sistema de quotas para resolver o afluxo maciço de refugiados, os seus parceiros, não mostraram a mesma solidariedade. Agora, que a França, recuperando dos ataques de Paris, declarou guerra ao Estado Islâmico, outros países europeus, encolheram os ombros, murmuram condolências e esperam silenciosamente que o conflito não os afete. A inflação é clara: ainda que a Europa tenha feito progressos significativos em direção à União Orçamental, permanece muito longe da União Política.
Meio século depois da fundação de um mercado comum e 15 anos após o lançamento da moeda única, a Europa ainda não dispõe de uma força policial unificada e de uma política externa comum.
Alguns líderes europeus, defendem que a Europa deveria estar a acelerar os progressos em direção à União Orçamental, através de um regime comum de garantia de depósitos, um orçamento comum, eurobonds, uma maior patilha de riscos financeiros, e um sistema unificado de subsídios de desemprego, o mais rapidamente possível.
Mas na verdade, essas medidas só iriam agravar os defeitos estruturais da Zona Euro. Sustentariam falsos preços relativos - o resultado de uma bolha de crédito, inflacionaria ao Sul, que se formou após a adoção do Euro - que estão a impedir os países do Sul da Europa de recuperarem a competitividade.
Como resultado, o desemprego estrutural em França e no Sul da Europa persistiria.
Além disso, as medidas propostas, agravaram os problemas da dívida pública da Europa, ao reduzirem o diferencial das taxas de juro entre os países, ao sustentarem bolhas nos preços dos ativos e ao destruírem o papel de alocação de recursos no mercado de capitais. A desvantagem de fortalecer a União Orçamental da Europa não acaba por aqui: o progresso contínuo em direção à União Orçamental, significaria paradoxalmente, tornar mais improvável a União Política por uma simples, mas importante razão: França..
França que é de longe, a maior potência militar da Europa, impediu todas as tentativas de congregar as forças armadas da Europa. Em 1954, a Assembleia Nacional Francesa, rejeitou o tratado para a a Organização da Defesa da União Ocidental. Em 2005, França rejeitou a proposta da União Europeia, que poderia ter marcado o início do processo de unificação política. França, cujo sistema bancário e industrial está fortemente exposta ao Sul da Europa, é um dos principais beneficiários da União Orçamental. Quando a crise financeira global começou, a exposição dos bancos franceses à Grécia de 58 mil milhões de euros, era o dobro dos bancos alemães. Perante isto, é compreensível que a França prefira a União Orçamental à União Politica. Mas se outros países europeus aceitam esta preferência, e a Europa continua no seu caminho desequilibrado de integração, não há forma de convencer a França a apoiar a União Politica. Talvez o tráfico massacre terrorista em Paris altere a aversão francesa à integração política. Ao destacar que mesmo uma potência militar poderosa precisa, por vezes, de apoio, o ataque pode vir a tornar -se um fator decisivo no esforço de criar uma união política europeia.. Para que isso aconteça, os países da Europa, devem unir -se para ajudar a França na sua luta, contra o Estado Islâmico. Ao mesmo tempo, a França e outros países da União Europeia, devem ajudar a Alemanha, a Áustria, a Suécia a Hungria e a Eslovénia, a atenuarem a crise dos refugiados, aceitando um sistema de quotas.
Numa altura em que a Europa tenta construir uma união sustentável, estável e próspera, deve olhar para uniões de sucesso, como os EUA e a Suíça, para servirem de guias. Ambas as uniões, começaram com organizações de defesa militar e só mais tarde se desenvolveram como uniões orçamentais. Foram necessárias décadas, senão séculos, para se conseguirem orçamentos públicos consideráveis e para se começarem a envolver na redistribuição de rendimentos.
É tempo da União Europeia mudar a sua abordagem de integração. Em vez de continuar a insistir numa integração orçamental desequilibrada, deve trabalhar no sentido de implementar elementos chave da união política, incluindo uma força policial integrada, uma legislação de asilo comum, e, acima de tudo, um exército unido.
Na realidade, o projeto europeu refere - se ao esforço de uma construção de uma Europa próspera e pacífica, através de uma crescente integração social e económica. Esse esforço começou há mais de 60 anos com a formação da Comunidade do Carvão e do Aço. O trabalho continuou com a criação do Mercado Comum em 1959, incluindo as novas democracias na Europa do Sul; o Ato Único Europeu, assegurando a livre circulação de pessoas e bens, o alargamento posterior da União Europeia aos antigos países comunistas, o acordo de Schengen, que removeu muitos controlos de fronteira no continente, e, a criação de uma moeda única europeia..
Durante muito tempo, o projeto europeu correu bem, com a Europa a crescer firmemente próspera, pacífica e livre. Contudo, o projeto europeu, foi criando uma crescente interdependência sem criar instituições.
O que preocupa os europeus?
À primeira vista, a crise financeira, a crise dos refugiados e os ataques terroristas, podem parecer não ter nada em comum. Mas em cada um dos casos, a capacidade da Europa para se proteger, foi minada pela união imperfeita. Na crise financeira, existe um consumo alargado entre os economistas, de que as aflições da Europa, eram principalmente causadas pelas mudanças de humor, entre os investidores privados que gastaram dinheiro no Sul da Europa, após a criação do euro, e, depois abruptamente reverteram a tendência.
No caso dos refugiados, as políticas de imigração, em geral, são más em todo o lado, no entanto, a Europa, ainda está a tentar manter abertas as fronteiras internas, ao mesmo tempo, que deixa a gestão das fronteiras nas mãos de governos nacionais, como o da Grécia empobrecida e devastada pela austeridade. Quanto ao terrorismo, nenhuma sociedade livre, pode estar segura contra ataques.
Idealmente, a Europa responderá a estes problemas reforçando a sua união, criando mais instituições
necessárias para gerir a interdependência. Mas a vontade política, para este tipo de medidas,parece faltar.
Os líderes europeus estão e muito bem, preocupados num projeto europeu danificado  no seu todo.
Qual a alternativa realista? É difícil responder.Mas é importante a União Europeia mudar a sua abordagem de integração, mantendo -se mais coesa, nas vertentes económica e política.




sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

OS DESAFIOS DA POLITICA ECONÓMICA EM PORTUGAL

No curto prazo, Portugal deverá ter um futuro económico, social e ambiental sustentável. Deverão ser reduzidos os elevados níveis de desemprego/subemprego. No  longo prazo deverá ser criada uma sociedade menos desigual, uma economia menos desigual, uma sociedade menos desigual, uma economia mais qualificada, um padrão de ocupação do território mais racional, bem como, práticas de produção e consumo menos agressivas para o ambiente.
Portugal é hoje um país, ainda endividado, empobrecido e menos qualificado, com menos capacidade produtiva, sem que tenham sido resolvidos os problemas estruturais, que estão na base do mau desempenho económico ( uma estrutura produtiva frágil e um dos mais baixos níveis de educação do mundo desenvolvido). Além disso o país aceitou sujeitar -se a regras orçamentais que nos obrigam a prosseguir o caminho da austeridade financeira durante muitos anos.
As sociedades mais desiguais estão sujeitas a mais tensões sociais, traduzindo -se em disfunções de vários tipos: doenças mentais, abuso de drogas, obesidade, baixo desempenho escolar, violência e insegurança. Portugal é um dos países mais desiguais do mundo desenvolvido tendo anos de austeridade, agravando este problema, de acordo com todos os indicadores disponíveis. A política económica em Portugal, enfrenta três desafios fundamentais: reduzir a dívida pública, reduzir a dívida externa, aumentar o crescimento e a criação de emprego.Porquê? Sem uma reestruturação profunda da dívida pública, a sua redução, implica prosseguir a austeridade com efeitos nefastos sobre o crescimento e o emprego. Sem a possibilidade de uma desvalorização cambial, a redução da dívida externa implica prosseguir com a desvalorização dos salários e com a desregulação do mercado de trabalho, o que não só contrai o mercado interno, como diminui a base da receita fiscal(dificultando a redução da dívida pública). As instituições europeias, insistem que Portugal deve dar prioridade ao reequilíbrio das finanças públicas e das contas externas, porque isso é fundamental para credibilizar o euro.
A prioridade é única: criar emprego. De acordo com o FMI,existem atualmente em Portugal cerca de de um milhão e duzentas mil pessoas em idade de trabalhar que não conseguem encontrar emprego em condições. Esta é não só, uma das principais fontes de pobreza e de desigualdades sociais, mas também a principal fonte de delapidação das contas do Estado e da Segurança Social, e também, o principal fator de emigração, que tem vindo a acelerar os problemas de envelhecimento demográfico. Para criar emprego, é necessário pôr a economia a crescer. E isso não será possível, se não se colocarem em causa, as atuais regras orçamentais da União Europeia e os termos de pagamento da dívida pública.
Na conjuntura atual, menos de 10% das famílias têm rendimentos que permitem fazer pelo menos, uma semana de férias fora de casa. Mais de um milhão de pessoas não consegue encontrar um emprego. A pobreza é um problema sério em Portugal. A economia portuguesa não se preparou devidamente para a integração na união económica e monetária. Sofreu, depois, o choque da entrada de diversas economias emergentes, nos principais fluxos do comércio internacional(economias com um padrão de produção e exportação muito relacionadas com a nossas, mas trabalhando com custos muito inferiores, sendo mais atrativas para o investimento . Além disso, Portugal enfrenta, desde algum tempo, uma evolução demográfica adversa, com impactos potenciais significativos,no mercado de trabalho, nas pensões e nas contas públicas, bem como  uma contínua revolução tecnológica, que torna os processos produtivos mais fluidos, mais fragmentados e automatizados. A melhoria das infra-estruturas em que Portugal investiu era necessária e útil.Houve impactos difíceis na economia? Sim.
Qualquer opção de política económica que ignore esta realidade, e que se foque em estímulos de curto prazo, está condenada ao fracasso.
Segundo Stighitz, a saída da crise, passa por políticas que promovam o crescimento económico: só assim será possível pagar as dívidas acumuladas.Por isso defende investimentos em infra -estruturas necessárias. Todos sabemos, que a austeridade, leva a um menor crescimento económico e a uma maior desigualdade. Poderá fazer sentido, baixar os impostos, para as empresas que investem no país. Além do mais, os impostos mais progressivos sobre o património, são uma forma de gerar receitas sem aumentar a desigualdade ou prejudicar o crescimento. Mais impostos a financiarem a despesa produtiva, teriam mais sucesso de resolver a crise, do que medidas de austeridade que reduzam o défice, na mesma dimensão, mas que reduzam o défice, na mesma dimensão,prejudicando o crescimento acabando por dificultar o pagamento das dívidas.
Sobre a desigualdade, é urgente, mudar as atuais regras de mercado para reduzir os níveis de desigualdade entre países, pois a desigualdade, prejudica o crescimento e a democracia.

domingo, 22 de novembro de 2015

OS MODELOS DO ESTADO SOCIAL

Entende -se por Estado Social, um conjunto de mecanismos, através dos quais, os Estados modernos asseguram o acesso dos cidadãos a serviços coletivos, como a saúde, a habitação e a proteção social, sem estarem para tal sujeitos às lógicas de mercado. Se é verdade que uma parte importante das desigualdades sociais, resulta da situação dos indivíduos perante o mercado de trabalho, a correção dessas desigualdades, não se faz apenas por via da regulação do mercado, pois uma das formas mais importantes de combate às desigualdades nas sociedades contemporâneas, consiste em garantir o acesso das pessoas a bens e serviços fundamentais.
Existem vários modelos possíveis para a promoção por parte do Estado do acesso a estes serviços Numa abordagem assistencialista, o Estado canaliza os apoios de forma exclusiva ou predominante para os cidadãos mais carenciados. Num modelo de cariz universalista, o apoio do Estado é dirigido ao conjunto da população, com maior ou menor diferenciação, de acordo com as necessidades de cada um. Não há nada que nos permita dizer qual o modelo do Estado Social mais adequado em cada contexto. Há países com níveis de rendimentos idênticos, que optam por modelos distintos do Estado Social, assim como é possível encontrar mercados semelhantes implementados em países com diferentes níveis de riqueza. As formas de financiamento e previsão dos bens coletivos, dependemfundamentalmente do contexto histórico que surgiram e das preferências sociais dominantes ao longo do seu desenvolvimento, as quais conduziram a  ajustamentos graduais dos sistemas originais.
Não é possível afirmar deforma categórica, qual o modelo mais adequado do Estado Social. Se é verdade que há formas de provisão que apresentam vantagens face a outras em domínios específicos (por exemplo, no domínio da saúde, os modelos universalistas são, em regra, mais eficientes e eficazes, do que os modelos assistencialistas, e de ma forma geral, não é possível afirmar a superioridade de uns modelos em relação a outros. O debate sobre o Estado Social é, pois, um daqueles casos em que devemos exigir clareza sobre os valores e interesses daqueles que neles participam. Um modelo universalista pressupõe que os serviços de saúde, de educação e de proteção social, tenham por objetivo, servir o conjunto dos cidadãos, sem diferenciações de qualquer espécie na provisão, não devendo, pois, ser dirigidos a apenas alguns segmentos da população. Tal, não invalida, contudo, que as condições de acesso a esses serviços, possam ser diferenciados de acordo com as necessidades e os recursos de cada indivíduo. O modelo do Estado Social que me refiro, não impede a existência de serviços privados.No entanto, entendo que a provisão por parte das entidades privadas de saúde, educação e proteção social, deve sr vista como complementar e opcional.Quando as autoridades deixam degradar os serviços públicos de educação, saúde e de proteção social, como tem acontecido em Portugal, nos últimos anos, muitas das pessoas, que têm recursos para tal, sentem -se impedidas de recorrer aos serviços privados. Esta deserção dos serviços públicos por parte das classes sociais tem dois efeitos nefastos. Em primeiro lugar, reduz a base de apoio democrático aos serviços públicos, na medida em que, os indivíduos em causa, sentem que estão a pagar, através dos impostos, por serviços que deixariam de utilizar. Em segundo lugar, na medida em que as pessoas com maiores recursos financeiros, tendem a ter também níveis de escolarização mais elevados e maiores recursos culturais, bem como um progressivo afastamento dos serviços públicos.Como consequência, a qualidade dos serviços públicos tende a degradar -se ainda mais, acentuando a procura de serviços privados por parte de indivíduos com menos recursos. Este círculo vicioso de perda de qualidade, e de suporte democrático dos serviços públicos, cria uma pressão crescente para que o Estado passe a co -financiar os serviços prestados por entidades privadas. Quando tal se verifica, os recursos canalizados para os serviços públicos, tendem a diminuir, acentuando ainda mais a diferenciação entre serviços de elevada qualidade para os mais ricos e serviços públicos de escassos recursos para os mais pobres.
Ao defender a universalidade e o caráter predominantemente público do Estado Social, estou a assumir que os mecanismos de mercado são, em geral, desadequados para regular os serviços em causa. Isto não significa que recuse em absoluto, a possibilidade das autoridades estabelecerem comunicações com entidades privadas, para a provisão dos serviços referidos. No entanto, tais convenções, apenas devem ter lugar, quando os seus benefícios são inequívocos e, quando estão assegurados os princípios fundamentais das políticas sociais públicas: a equidade no acesso dos cidadãos a esses serviços, o fomento da igualdade de oportunidades e o princípio da cobertura territorial. É evidente, que um Estado Social universalista, só é politicamente sustentável, se os serviços prestados, forem sistematicamente sujeitos a uma aferição da sua qualidade, e, se os seus utentes forem ativamente envolvidos nas decisões estratégicas das entidades que os prestam. Importa, pois , fomentar o envolvimento das populações na promoção da qualidade dos serviços prestados, seja, na saúde, na educação, na habitação ou na proteção e na integração social.
Em qualquer dos principais domínios do Estado Social, as políticas devem ser definidas, de modo a assegurar a sustentabilidade financeira a prazo, tendo em conta, fatores centrais como a demografia,, ou a crescente complexidade das tecnologias entre outros.O Estado Social em Portugal, tem contribuído, não só para diminuir as injustiças, mas acima de tudo, para reduzir o desperdício de talento, permitindo que mais indivíduos cheguem à idade adulta, com melhor saúde e mais qualificados, com maiores possibilidades de se realizarem enquanto pessoas e de virem a ter efetivamente uma profissão de acordo com a sua vocação. Por isso, considero, que o Estado Social é um músculo que se deve fortalecer.
A medida do sucesso de um Estado Social é a forma como protege os cidadãos mais pobres.É um facto, que as políticas sociais são um forte instrumento de redução da pobreza. Por outro lado o Estado Social protege, em particular, as classes médias, redistribui recursos ao longo do ciclo de vida, ao mesmo tempo, que estabiliza o conjunto da economia, atenuando
Quais os objetivos do Estado Social?
Na sua génese, o Estado Social, não se formou e desenvolveu para proteger os mais necessitados.. Foi sim, uma inovação política, na medida em que garantiu a proteção daqueles que possuíam algum rendimento, do seu trabalho, protegendo -os de riscos futuros, seguindo o princípio contributivo, compensando os trabalhadores em função de descontos anteriores, incentivando, simultaneamente, uma maior formalização do mercado de trabalho, pela associação de segurança e proteção ao emprego formal. Por isso mesmo, assentou na repartição, na solidariedade geracional e na distribuição social ao longo da vida. Também a crise económica e social, não apenas enquanto amortecedores dos impactos da crise sobre as condições de vida das famílias, mas igualmente, como estabilizadores económicos, atenuando os efeitos recessivos sobre o conjunto da economia. Neste sentido, as prestações sociais e as prestações sociais e os subsídios de desemprego, permitem alguma manutenção dos níveis de consumo, em períodos de menor crescimento económico, contribuindo, em certa medida, para manter níveis de poder de compra, que dão suporte ao emprego e à atividade de muitas empresas. Tanto mais que a propensão marginal ao consumo dos beneficiários de prestações sociais de desemprego é muito elevada. A este respeito,, importa sublinhar que, considerando o conjunto da proteção social, a análise empírica, revela que a despesa social dirigida à proteção na velhice, no desemprego e com a saúde, é mais eficaz, na estabilização dos rendimentos das famílias. Contudo, não é só em períodos de recessão, que os efeitos económicos das políticas sociais se fazem sentir. Constata -se ainda,que, nas sociedades com níveis adequados de proteção social, os indivíduos estão mais dispostos para arriscar mudar de emprego e adquirir mais formação, contribuindo para um maior dinamismo e qualificação do tecido económico.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

A CRISE MIGRATÓRIA

Atualmente é absolutamente claro que a crise migratória na União Europeia é o maior desafio que a Europa  enfrenta nos próximos anos.
A consciência coletiva europeia despertou de forma significativa para o tema das migrações. Refugiados e migrantes são conceitos diferentes. Os refugiados fogem de perseguições em contexto de conflito nos seus países, para os quais não podem voltar, merecendo a proteção do direito internacional, através da concessão, por países de acolhimento, de asilo. Os migrantes "escolhem" abandonar os seus países em busca de melhores condições de vida. Os refugiados gozam de proteção do direito internacional, enquanto os migrantes dizem respeito à lei interna de cada Estado. De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o estatuto dos refugiados, deve considerar -se refugiado a pessoa que demonstre ter o receio fundado de perseguição no seu país de origem, por pertença a grupo étnico, religioso, nacional ou determinado grupo social ou opinião pública.
A todas as pessoas deve ser dada a possibilidade de apresentar o seu caso perante autoridades do país signatário da Convenção, ao qual seja dirigido o pedido. Desde logo, é necessário assegurar que todas as pessoas tenham a possibilidade de apresentar o seu caso e de lhes ser concedido o estatuto de refugiado, num país da União Europeia.
A União Europeia adotou, mecanismos internos de recolha e apreciação comum dos pedidos de concessão do estatuto de refugiado- o chamado sistema de Dublin-. É ao abrigo deste sistema que é possível determinar a relocalização de pessoas dentro da União Europeia, o que parece de elementar justiça e prudência relativamente aos países que estão sob maior pressão migratória.
Mas há aqui uma dimensão que parece inultrapassável: as pessoas que não possam provar a existência de um receio fundado de perseguição nos seus países de origem, não virão a beneficiar do estatuto de refugiado. Será que uma Convenção datada de 1951, está apta a resolver esta crise humanitária?
Esta crise é a mais grave de todos os tempos: desafia a existência Shengen e da própria União Europeia. A Europa está agora a confrontar -se com estes dramas e tensões na história da União Europeia. O modo como abordar esta crise, tanto pela sua gestão interna como pela adoção e aplicação dos instrumentos jurídicos adequados, à liderança mundial, que vier a assumir no novo direito internacional dos refugiados, traçará o seu futuro.É aqui na sua dimensão humana, no confronto com a sua história e com os seus valores, que se joga o futuro da União Europeia.
Alguns dos refugiados não são pobres. Até têm smartphones. Um smartphone é essencial para quem vai de férias: pode aceder a mapas, informação de restaurantes e hotéis para comunicar com outras pessoas e pedir dicas de sítios onde ir, ou comunicar com a família e amigos que ainda se encontram na terra natal. Não há dúvida que a condição de refugiado está associada inevitavelmente a uma situação de vida e/ou privação de liberdade e total insegurança. O grau extremo das ameaças promove a fuga dos espaços naturais das populações, como um ato de sobrevivência, de fuga a conflitos armados, a perseguições étnicas ou políticas que literalmente destroem qualquer perspetiva de vida. A existência de auxílio urgente e estruturado é a única opção de sobrevivência para estas populações na generalidade dos casos.  Uma estratégia europeia 2020, relançada e credível, a preservação da identidade democrática, aberta e tolerante da União Europeia, joga -se na forma como for capaz de definir ou não, uma plataforma conjunta de acolhimento e inserção dos refugiados e migrantes. Vivemos em tempo de desafios: o desafio da competitividade económica e global, o desafio da liderança no combate às alterações climáticas, o desafio tecnológico, económico e social, colocado pelo novo ciclo da economia digital, em que a União Europeia não pode ser derrotada e secundarizada nos mercados.  Contudo, a onda de solidariedade a que se assiste em Portugal, em relação aos refugiados, nomeadamente no acolhimento das famílias, tem dividido opiniões. Uns argumentam, que os refugiados "não vêm trabalhar", vêm usufruir de ajudas a que os portugueses não podem dar, na área da saúde, educação e da habitação. Portugal não tem condições para ajudar os portugueses, quanto mais os refugiados! A vinda dos refugiados vai causar problemas e criar conflitos no país. Não é justo para os portugueses que vivem miseravelmente, e outros sobrecarregados de impostos, que os refugiados tenham entre outras benesses, subsídio de integração, habitação e formação pagas.
Os refugiados têm que respeitar as regras dos portugueses e não quebrá-las.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A RETOMA ECONÓMICA EM PORTUGAL

A retoma económica constitui hoje um desafio fundamental para Portugal. Sem um crescimento económico significativo, será impossível combater o flagelo do desemprego no nosso país.
De acordo com o FMI, o ritmo médio de crescimento anual do PIB, previsto para os próximos anos (cerca de 1,5%), não permite que a taxa de desemprego , desça abaixo dos 18%, até 2019; mais de um milhão de pessoas continuaria impossibilitada de encontrar emprego até ao final da década. Um nível de desemprego desta dimensão, constitui um problema sério para a economia e para as finanças públicas, na medida em que se traduz em menos rendimentos, menos consumo, menos receitas de impostos (sobre os rendimentos e sobre o consumo) e mais despesa ( em particular com o subsídio de desemprego). Um desemprego tão elevado, durante mais de uma década, significa uma perda de competências decorrentes, quer de situações de desemprego de longa duração, quer da emigração em massa. O aumento do ritmo de crescimento económico, deverá constituir a maior prioridade da política económica dos próximos anos. No entanto, a retoma económica enfrenta dois tipos de obstáculos fundamentais : primeiro, a economia portuguesa, apresenta várias fragilidades que dificultam o regresso rápido a uma trajetória de crescimento sustentado .Segundo , as opções de política económica atualmente dominantes em Portugal, e na União Europeia, constituem sérios obstáculos ao crescimento e à criação de emprego.A retoma do crescimento e do emprego em Portugal não é tarefa fácil. A economia portuguesa enfrenta na atualidade cinco tipos de constrangimentos:
- Portugal apresenta um dos níveis mais elevados de endividamento que afeta as empresas, os particulares e o Estado, e, por isso, a recuperação da economia portuguesa é lenta: a dívida das empresas condiciona o investimento e aumenta o risco de falências; a dívida dos particulares limita o crescimento do consumo privado e da atividade económica e a dívida pública traduz -se na canalização de recursos orçamentais avultados para o pagamento de juros, levando o Estado a cortar nas despesas e a aumentar as receitas com impactos negativos na economia nacional;
- Os bancos portugueses continuam numa situação financeira muito frágil, traduzindo -se em condições de financiamento menos favoráveis para o setor não- financeiro, não obstante a liquidez que tem vindo a verificar se todos os anos, o país teve de canalizar e disponibilizar meios às instituições financeiras nacionais;
- Uma grande parte da dívida portuguesa (privada e pública) está nas mãos dos credores externos. Isto significa que todos os anos o país teve de canalizar para o exterior uma pate significativa da riqueza que gera, retirando espaço para o crescimento da procura interna;
- A não renovação da capacidade produtiva, dificulta a rápida retoma da produção, pelo crescimento do desemprego de longa duração, o que implica uma perda de competências e dificulta a reinserção laboral dos desempregados e das pessoas que desistiram de procurar emprego e pela elevada emigração, que representa uma perda significativa de recursos produtivos, nomeadamente de pessoas jovens e qualificadas;
- Os défices estruturais da economia portuguesa, o perfil da especialização produtiva, os baixos níveis de escolarização, o envelhecimento demográfico, agravaram as possibilidades de uma retoma da economia portuguesa.
Como relançar a economia nos próximos anos?
Na opinião de alguns economistas, Portugal não está em condições de cumprir as regras orçamentais da União Europeia. Para que tal seja possível: ou a dívida pública teria de ser reestruturada, reduzindo as taxas de juro e/ou alargando os prazos de pagamento dos juros, ou seria necessário prosseguir com o corte das despesas e/ou aumento de impostos. Sem dúvida, que um cenário destes, teria impactos negativos no crescimento económico. Por outro lado, o peso da dívida no PIB, tende a reduzir -se quando a inflação é maior. Por exemplo: se o meu salário aumentar, todos os anos em linha com a inflação(mantendo o meu poder de compra) e se a inflação for muito elevada, as dívidas que contraí serão mais fáceis de pagar, apesar do meu salário não se alterar em termos reais.
Enquanto Portugal mantiver níveis elevados de dívida externa, o país estará muito exposto à volatibilidade dos mercados financeiros e sujeitos à arbitrariedade dos credores internacionais.
Nesse sentido, a redução sustentada da dívida externa portuguesa deve constituir um objetivo de política económica a prosseguir nas próximas décadas. Para que tal redução se verifique, ou a dívida pública é profundamente reestruturada ou Portugal terá de registar saldos substancialmente positivos nas suas contas externas durante muito tempo. Por outro lado, sem consumo e sem investimento, o crescimento económico tende a ser fraco. Por isso a Comissão Europeia, o FMI, e o BCE, apontam essencialmente no mesmo sentido: Portugal deverá continuar a restringir o crescimento dos salários, de modo a limitar as importações e de aumentar a competitividade das exportações nacionais, privilegiando a correção dos desequilíbrios externos, face à retoma económica no curto prazo. Assim, para que haja crescimento económico, e, criação de emprego em Portugal, é fundamental que as políticas económicas, permitam um maior crescimento do investimento e do consumo.
Quais são os desafios do aumento do crescimento?
Para que uma economia cresça é preciso investimento, e, este só terá lugar se houver confiança no futuro. A confiança só pode ser restabelecida com base numa política económica que promova a procura interna reajustando as metas orçamentais e permitindo alguma recuperação do rendimento disponível das pessoas, em particular dos salários, para além de estimular o consumo e o investimento. Estas orientações de política económica, permitem combater a tendência atual para a estagnação dos preços, contribuindo assim, para diminuir o peso da dívida pública e privada. Assim, o Estado português deveria ter como objetivo para os próximos anos, manter um saldo orçamental primário equilibrado, implementar medidas com impactos positivos no crescimento e no emprego, que ajudassem a combater a estagnação dos preços, minimizando todas as importações, e contribuíssem para potenciar o desenvolvimento económico a prazo. De fato, as possibilidades da criação de riqueza, a partir das atividades económicas já instaladas, estão longe de ser esgotadas, havendo espaço para aproveitar melhor as capacidades produtivas existentes. Há várias estratégias que as empresas adotam, de modo a melhorar o desempenho competitivo:
- adotar novos métodos de produção e de organização, melhorar a qualidade dos produtos, desenvolver produtos inovadores, procurar novas fontes de fornecimento e estabelecer novas formas de relacionamento com clientes e fornecedores, bem como, pesquisar novos mercados.
O sucesso competitivo depende crucialmente dos conhecimentos existentes nas empresas, e no seu desenvolvimento, a partir de fontes internas e externas. Isto exige que as empresas sejam dotadas de gestores e trabalhadores qualificados, e das estratégias sistemáticas de reforço e de adaptação às mudanças.
Não há dúvida, que reestruturar uma economia frágil, passa também por repensar o seu enquadramento no processo de integração europeia. Em jeito de conclusão, tanto a recuperação da economia portuguesa nos anos mais próximos, como a sustentabilidade económica, social e ambiental de Portugal, no longo prazo, são fortemente condicionadas pelas regras europeias em vigor. Dificilmente será possível, atingirmos um futuro mais promissor sem estarmos disponíveis para cumprir essas regras, estando sujeitos às pressões dos poderes da União Europeia, nomeadamente no cumprimento das metas orçamentais de médio prazo, bem como no aumento do saldo das contas externas nacionais.


terça-feira, 4 de agosto de 2015

O ENDIVIDAMENTO EM PORTUGAL

 
A economia portuguesa foi arrastada pela crise financeira que teve origem nos EUA,  e pela maior crise mundial desde a Grande Depressão de 1930. Por outro lado, Portugal confronta -se com uma elevada dívida pública, novos empregos, novos rendimentos e anos sucessivos de fraco investimento produtivo. Será que a crise em que vivemos foi resultado dos nossos excessos do passado?
A economia portuguesa passou por várias fases:
1- O forte aumento do endividamento das empresas e das famílias portuguesas, a partir de meados da década de 90;
2- O fraco desempenho da economia portuguesa a partir do ano de 2000;
3 - A queda acentuada da atividade económica e do emprego após 2008.
Como se explica o forte endividamento das empresas e das famílias que se verificou na viragem do milénio?
- A obrigação de pagamento das dívidas contraídas no passado constitui uma limitação ao crescimento futuro do consumo e do investimento, tanto das empresas como das famílias.O problema é agravado se a economia deixar de crescer, dificultando ainda mais quem tem dívidas por pagar.
- A explosão do crédito bancário ao setor privado nos finais do século XX e suas implicações, confirmaram a ideia de que andamos a viver acima das nossas possibilidades.
- Em Portugal, nos fins da década de 90, numa dada altura, foi decidido liberalizar o setor financeiro e os movimentos de capitais com o exterior. Ora quando um país liberaliza os movimentos internacionais de capitais, fá- lo com o objetivo de atrair investimento estrangeiro para a sua economia. Se uma economia for carente de liquidez, existem muitas oportunidades de investimento, quer seja em atividades produtivas, quer seja em atividades mais especulativas. Assim, a abertura de um país aos capitais externos, conduz frequentemente a um forte afluxo de investidores, que usam o seu dinheiro para adquirir diretamente ativos do país em causa, ou para conceder créditos aos bancos. Estes funcionam como intermediários no processo de financiamento da economia nacional.
Durante algum tempo, esta entrada de capitais no país, ajuda a criar riqueza, impulsionando o consumo e o investimento. Também a procura de ativos financeiros e bens imobiliários faz subir o preço desses ativos, estimulando ainda mais, o interesse dos especialistas internacionais. Ora quando se liberalizam os movimentos de capitais, o forte afluxo de recursos financeiros, permite que a economia cresça fortemente durante alguns anos, para que as empresas e as famílias acreditem  que começou uma nova fase de crescimento sustentado. Porém, é muito difícil que os ritmos de crescimento verificados durante os anos de abundância de financiamento, se repitam no futuro: a certa altura, grande parte das oportunidades para realizar investimentos, com retorno, começam a diminuir. Na maioria das vezes, um forte endividamento é seguido de um fraco desempenho económico, e não por um período de forte crescimento. Porquê? Uma vez que as empresas e as famílias se encontram muito endividadas, o consumo e o investimento diminuem ou crescem mais lentamente, penalizado a atividade económica. Ora, menos crescimento económico, significa por sua vez, menos salários e menos lucros, tornando mais pesado o fardo da dívida para as empresas e para as famílias. Em suma, a economia vai ficando cada vez mais prisioneira da dívida. Mas, no nosso país, a liberalização da circulação de capitais foi acompanhada por uma vasta privatização do setor financeiro português, o que favoreceu comportamentos agressivos na oferta do crédito, por parte dos bancos. Além  disso, a moeda europeia a partir de 1999, reduziu o risco de uma futura desvalorização cambial da moeda nacional. A perda de valor da moeda nacional, tende a ser vista pelos investidores estrangeiros, como um problema, dado que representa uma redução do valor dos seus investimentos em dólares ou noutras internacionais de referência como o euro. Assim, os investidores preferem habitualmente fazer as suas aplicações financeiras em países onde o risco de desvalorização é menor.  No entanto a abundância de fundos não é uma boa notícia: se é verdade que sem financiamento uma economia não funciona, o excesso de liquidez disponível, pode levar uma economia a contrair mas crédito do que o que pode suportar a prazo.
Então como se explica o aumento do nível de endividamento das empresas e das famílias portuguesas a partir dos meados dos anos 90?
Ora se é verdade que,, em geral, as empresas mostraram ter capacidade para pagar as dívidas que contraíram, também é verdade, que o aumento dos encargos com o pagamento da dívida e dos juros respetivos, faz reduzir os recursos financeiros que tinham disponíveis para ouros fins. Ou seja: embora os elevados níveis de endividamento, não tenham deixado o setor privado insolvente, as empresas e as famílias endividadas passam a consumir e a investir menos que anteriormente . O que isto significa para o conjunto da economia?
Menos investimento e menos consumo, implicam menos produção, logo menos criação de emprego e menos rendimentos, logo, menos procura, menos investimento e menos consumo.Logo, a economia portuguesa tem maior dificuldade em pagar as dívidas contraídas no passado. A economia portuguesa cresceu pouco por dois motivos principais:
- os salários aumentaram demasiado, prejudicando a competitividade das exportações nacionais, ao mesmo tempo, que as importações continuam a crescer: o Estado acentuou os problemas promovendo uma economia baseada no betão, através do investimento público e das parcerias-público - privadas, para a construção de infra -estruturas. Estes fatores beneficiaram as atividades detentoras de bens e serviços pouco expostos à concorrência internacional, desviando recursos financeiros e humanos dos setores de atividade mais expostos à concorrência externa. Ou seja: mais salários, mais consumo, mais despesa e mais betão, levaram á diminuição das exportações e ao aumento das importações, endividando o país perante o exterior e limitando a possibilidade de crescimento económico. O fraco crescimento da economia, após o ano 2000, foi o resultado da combinação da liberalização financeira acelerada, da adesão de Portugal,  à moeda única, com uma economia pouco preparada para tal, e de uma sucessão de choques competitivos.
Perante uma economia debilitada e a receber orientações dos dirigentes europeus, para ajudar a estabilizar a situação, os investidores internacionais começaram a exigir taxas de juro, cada vez mais elevadas, colocando o país à beira da insolvência, daí a degradação económica e social do país.
Então, qual o caminho a percorrer para um possível crescimento da economia?

 
 


terça-feira, 30 de junho de 2015

A GRANDE CRISE DA ZONA EURO

A Grécia foi o Lehman da Europa.  A crise da Zona Euro colocou em perigo a estabilidade global, de tal forma, que desencadeou um desastre económico.O que causou a crise  em dominó na Zona Euro? A causa próxima foi semelhante à crise global de 2007 e 2008:"paragens súbitas" no financiamento, não apenas das instituições financeiras, mas nos países da Zona Euro. Esperava-se que a moeda única tornasse a balança de pagamentos irrelevante entre os Estados - membros da Zona Euro. Mas , a maior lição da crise é a de que a balança de pagamentos continua a ter tanta importância no interior de uma união monetária, como no seu exterior. Uma vez que o ajustamento monetário foi eliminado, é de referir que a balança de pagamentos tem ainda mais importância no interior de uma união monetária, do que aquilo que acontece com os países independentes, com moedas flutuantes e com os seus próprios bancos centrais. Uma vez que um país, dentro de uma união monetária, se torne dependente de grandes influxos de capital líquido, uma súbita interrupção neste tipo de fluxos causará uma crise económica. Uma tal crise, será marcada por um choque financeiro, no momento em que o financiamento externo é retirado, e, por uma profunda recessão, quando as importações de que uma economia se tornam dependentes, já não podem ser financiadas.
 O imposto de uma crise é também altamente assimétrico: para os países com excedentes é uma inconveniência, quando o valor dos seus direitos financeiros sobre os países deficitários é questionado; mas para os países deficitários é uma questão de vida ou de morte económica, na medida em que o impacto a curto prazo de uma subida retirada do financiamento externo devasta a economia. Assim, antes da crise, enormes fluxos de capital privado, dirigiram -se a um certo número de países do Sul da Europa, e, à Irlanda, sob a forma de dívida bancária. Estes fluxos provieram de países com excesso de poupança e fraca procura de crédito interno com destino a países com uma contínua procura de crédito, que pareciam oferecer retornos superiores e uma segurança mais razoável.
Os países atingidos pela crise foram os que tinham enormes défices da balança corrente em relação ao PIB, antes da crise. Estes enormes défices refletem os fluxos do setor privado para aquilo que erradamente se acreditou que eram oportunidades de retornos mais elevados em economias mais dinâmicas, como o setor da construção em Espanha. Por outro lado, os défices e os excedentes das balanças de pagamentos, explicam- se por um excesso de receita sobre a despesa- ou um excedente de poupança sobre o investimento, nos países excedentários, e o oposto nos países deficitários. É apenas isso, que significa um excedente ou um défice na balança corrente. Os excedentes implicam défices e vice- versa. Também os excedentes e os défices refletem uma forte competitividade nos países excedentários e uma competitividade em declínio nos países deficitários. Estas perdas de competitividade estavam inevitavelmente associadas a mudanças significativas na estrutura das economias: os países excedentários, as indústrias que produzem bens e serviços transacionáveis, em particular a produção industrial orientada para a exportação expandiram -se. Nos países com défices externos, aconteceu o oposto. Não há dúvida, de que a existência da moeda única aumenta significativamente, as hipóteses de crises orçamentais devastadoras. Isso é uma consequência de a mesma taxa de juro servir para todos. O resultado foi uma divergência generalizada no crescimento do crédito, nos ordenados, nos preços e no défice externo, que terminaram numa crise. A crise da zona Euro desencadeou uma enorme crise global. A zona Euro é considerada  a segunda maior economia do mundo. É portanto razoável assumir, que o equilíbrio externo é determinado pelo mercado.. Os desequilíbrios internos teem sido muito mais significativos do que os externos.Então, a passagem da Alemanha para um excedente da balança corrente, e a passagem da Grécia, da Irlanda, de Portugal e da Espanha para uma situação de défice foi um acidente? Dificilmente. O que aconteceu? A nível global, os credores são mais poderosos do que os devedores. A Alemanha controla mais ou menos o Banco Central. O desafio imediato que a Zona Euro enfrenta, é o ajustamento: os países vulneráveis necessitam de atingir de novo o equilíbrio interno e externo: contas externas sustentáveis, finanças públicas sustentáveis e pleno emprego. Na Zona Euro, o papel de prestamista de última instância cabe ao BCE. Se o BCE conseguir estabilizar os mercados da dívida pública, os bancos centrais ficarão mais seguros, uma vez que deixa de haver preocupações de insolvência desses mesmos bancos. O BCE está a cumprir parte da sua tarefa, fornecendo cobertura aos estados soberanos. A vantagem de uma maior cobertura formal para os bancos ou para os países soberanos- através do apoio conjunto aos fundos de garantias de depósitos, fundos de apoio, recapitalização bancária, ou mesmo uma medida de emissão de obrigações, impedem uma maior dimensão da crise dos países mais atingidos. O  objetivo do BCE está na ajuda á banca grega. A incerteza em torno da Grécia tem afetado o desempenho da dívida de Portugal, Espanha e Itália. O receio dos investidores é que se acontecer a saída da Grécia do Euro, isso teria fortes impactos nesses países. Por isso Draghi diz, que acredita que o BCE tem todas as ferramentas, incluindo, o programa de compra da dívida pública, para combater qualquer contágio que possa afetar a Zona Euro.
Um acordo entre a Grécia e os credores, deve ser entendido como o início de uma nova etapa, a qual exige um tratamento pluridisciplinar da construção europeia, porque o que está em causa é o futuro da União Europeia e da zona Euro, como bloco económico, político e social.


quarta-feira, 3 de junho de 2015

CONJUNTURA DE CRESCIMENTO DE UMA ECONOMIA

A imagem do mundo está a mudar de tal modo que as economias são cada vez mais interdependentes. Vivemos num mundo cada vez mais multipolar. Muitos países podem partilhar os frutos do seu crescimento. As pessoas continuam a estar cada vez mais familiarizadas com o mundo como as coisas funcionam, uma vez que é nos seus próprios países que as leis são aprovadas e os impostos são pagos. Dado que a globalização existe a nível internacional, é importante saber que a economia mundial é crucial. De igual modo, as instituições e grupos mundiais baseiam-se no modo como são influenciados os pensamentos, atitudes e comportamentos. 
Como podemos garantir que essas instituições ajudam a economia mundial a crescer?
O processo é lento, mas é necessário assistir a novas mudanças, de modo a obtermos um melhor resultado global.
Quer se trate de países ricos ou pobres, há a necessidade de todos serem regidos pelas mesmas normas, aceitando alguns compromissos em termos de políticas internas.
Quais os benefícios do crescimento?
Os benefícios do crescimento estão relacionados com impostos, previdência social e emprego.
O fato da globalização ajudar a reduzir a desigualdade entre países, uma vez que os trabalhadores altamente especializados beneficiam da abertura de novos mercados, enquanto, os trabalhadores pouco especializados, competem com trabalhadores mais baratos nas economias emergentes nos seus países, aumenta a garantia de um crescimento económico que cria emprego  e salários adequados ao século XXI.
A economia é uma ciência social e complexa, onde estão implicados seres humanos, pelo que não podemos ter a certeza de obter o mesmo resultado se refletirmos sobre um crescimento económico nas mesmas circunstâncias. Embora o FMI, o Banco Mundial e a OMC, dominem a economia mundial, o grupo mais importante, é sem dúvida as Nações Unidas.
O que significa tudo isto para a economia mundial? O processo é lento e podemos assistir a novas mudanças, de modo a podermos obter um melhor resultado global. Necessitamos de uma estrutura institucional certa, que resolva as questões mundiais fundamentais. Quanto mais credíveis forem as instituições, tanto mais eficazes podem ser. Se os países decidirem trabalhar juntos, tanto a nível regional, como mundial, teem de aceitar alguns compromissos em termos de políticas internas.
No futuro, as economias bem sucedidas serão aquelas que teem as seguintes diretrizes: adaptação, mudança e jogo  com os três C: CASH (dinheiro), COMMODOTIES (matérias -primas) ou CREATIVITY (criatividade) Isto é: teeem os recursos financeiros,, os recursos naturais ou o engenho humano e a capacidade  de progredir com políticas económicas sensatas.
Uma economia de acesso a ensino técnico, criativo e académico e , um ambiente de incentivo à inovação, um investimento interno elevado, e um forte crescimento sustentável, com grandes níveis de vida, são objetivos fundamentais de crescimento.
Em décadas futuras é provável que vejamos mais progressos na consecução de um sistema de previdência social do século XXI. O fundamental é permitir que o mecanismo de mercado funcione, e o governo intervenha. Todos estes são aspetos vitais para a construção de um caminho forte e estável para o crescimento futuro. Assim, todos estes fatores poderão contribuir para um ambiente propício em que os indivíduos e as empresas possam gastar, poupar, investir e comercializar.
A necessidade de um equilíbrio económico, a garantia de mais pessoas terem a oportunidade de beneficiar dos frutos do crescimento, assim como a conjugação de um soft power e um hard power, contribuem para uma economia mundial em crescimento.

terça-feira, 24 de março de 2015

UMA EUROPA GRISALHA!

O envelhecimento da população na União Europeia, a baixa natalidade, que não garante a substituição de gerações, e as suas consequências, no que se refere à sustentabilidade do sistema de Segurança Social, contextualizam o atual cenário demográfico.
A Europa é um continente cada vez mais envelhecido devido a vários fatores.
1- A esperança média de vida aumentou significativamente, cerca de 83 anos na zona euro;
2- A diminuição da taxa de natalidade média nos países da União;
3- A diminuição da população ativa entre os 15 e os 64 anos de idade;
4-As fracas taxas de fecundidade;
5- A diminuição dos casamentos e o aumento de divórcios.
Tudo isto se explica pela alteração do estatuto social da mulher: as mulheres devido quer, a fatores económicos (necessidades dos agregados familiares), quer a fatores socio-culturais, relacionados com a evolução das sociedades, passam a estudar fora de casa, a ter uma carreira profissional, e, por isso, começam a ser mães muito tarde.. O tecido social modernizou -se, aproximando -se do padrão social dos países mais desenvolvidos. A gestão do tempo, ou seja: a conciliação da vida profissional e da vida pessoal passa a ser um dos grandes problemas que se colocam à sociedade. No caso português, isto é agravado pelo fato de existir uma percentagem muito diminuta de mulheres a trabalhar em tempo parcial, contrariamente ao que acontece nos países do norte da Europa, nos quais se verifica uma elevada percentagem de mulheres que trabalham neste regime, dedicando assim mais tempo à família.
Em Portugal,, a ausência de segurança no emprego,, a instabilidade, as dificuldades financeiras e a falta de perspetivas económicas mais favoráveis, condicionam a uma diminuição do número de nascimentos.
É necessário um down-grade económico e social para os casais voltarem a ter mais filhos?
Nas sociedades desenvolvidas, encontra -se assegurada a satisfação das necessidades mais elementares do homem, tais como a alimentação,habitação,segurança e mesmo sexualidade, enquanto comportamento inato, associado à reprodução, graças aos avanços tecnológicos, o que é algo controlável. A continuidade familiar é conseguida apenas com um filho. Mas, a sociedade não reúne condições para pensar globalmente, interiorizando que, para assegurar a renovação de gerações, seria necessário que cada casal tivesse mais de dois filhos.Ao longo destes últimos anos, diversos países europeus teem investido em políticas baseadas em incentivos de natureza financeira: benefícios fiscais, isenções e abonos.
As questões que se colocam são várias:
1- O abono de família garante o quê?
2- De que valem os incentivos fiscais, para quem não tem emprego?
3- De que servem os subsídios concedidos, por algumas autarquias, se não há condições socio-profissionais para a fixação dos jovens?
É necessário encarar a questão da natalidade como uma prioridade e tomar opções mais profundas. E, nesse sentido, importa desenvolver uma campanha de âmbito nacional para explicar aos portugueses a real situação do país nesta área, as consequências futuras deste problema; quer no que concerne à sustentabilidade do atual modelo de segurança social, quer mesmo, no que respeita à sustentabilidade do país, de modo a que esta questão seja interiorizada como um problema coletivo, que exige o envolvimento de todos na sua resolução.
Atualmente, acrescem diversos fatores que dizem respeito às características da vida urbana: enquanto nas aldeias do passado se permitia às crianças a deslocação a pé para a escola e a permanência com os avós, na vida citadina, essas relações de proximidade deixaram de existir.É necessário recorrer a outro tipo de apoios para os filhos em idade escolar. O Centro de Atividades de Tempos Livres (ATL) são alguns desses apoios, com todos os custos financeiros que implicam, sendo a solução dos casais adiar ter filhos.
Por outro lado, as pessoas com uma idade fértil, na faixa etária dos 30 a 50 anos, com uma boa formação académica e experiência profissional, regista elevados índices de desemprego, não conseguindo a estabilidade e as condições necessárias ao aumento da natalidade.
Quais as propostas de solução para um problema nacional que tem como consequências significativas a substituição de gerações e a inerente sustentabilidade do sistema de segurança social?
Nas últimas décadas, foram incentivadas, na generalidade dos países europeus, políticas de antecipação da idade da reforma, o que permitiu controlar o desemprego entre os mais jovens.. As saídas na meia -idade aumentaram significativamente, o que foi positivo para fomentar o emprego dos mais jovens.
Qual a relação entre demografia e solidariedade intergeracional?
Existirá um momento na vida profissional em que os mais velhos teem a possibilidade de se retirar gradualmente. Estes que estão em cessação de funções irão abdicar de uma parcela do seu rendimento, sendo assim uma medida de combate ao desemprego jovem. O trabalhador sénior não deverá ser penalizado em relação aos anos em que aceita baixar o seu rendimento, suportando o Estado esse diferencial. O Estado e a sociedade ganhariam com a redução dos subsídios de desemprego e com o custo de oportunidade que constituiu a migração dos jovens.
Em jeito de conclusão, mais do que o envelhecimento da população que é um fenómeno natural no mundo desenvolvido, um sinal da evolução da sociedade, da melhoria da qualidade de vida, dos cuidados de saúde,  a baixa natalidade constitui hoje o principal problema demográfico de qualquer país europeu.

quinta-feira, 12 de março de 2015

MAIS OU MENOS INTEGRAÇÃO EUROPEIA?

Os vínculos onde assenta uma união monetária, não devem ser tomados como garantidos. Os membros da União Monetária, abdicaram do poder de ajustar as taxas de juro e, de desvalorizar a respetiva divisa. Em troca, cada membro deverá beneficiar de apoio por parte dos restantes membros em caso de necessidade. Uma União Monetária não estreitamente integrada e desprovida de um orçamento central substancial, fica limitada da capacidade para apoiar membros em dificuldades. Essas uniões carecem de flexibilidade orçamental necessária para compensar a inflexibilidade monetária. Estas uniões necessitam para sobreviver de fortalecer os alicerces precisando os países de se unirem mais.
O reforço de integração da Eurozona não será fácil. É muito difícil ultrapassar politicamente a debilidade estrutural inerente ao desenho original do euro. O economista Mundell, na sua obra, procurou definir em que condições os países beneficiarão economicamente da adoção de uma moeda comum e da constituição de uma união monetária. A grande vantagem duma união deste tipo é evidente:
1- Ajudar os países ou estados a reduzirem os custos de transações e a promover o comércio. Comprar ou vender um relógio Cartier ou uma embalagem de biscoitos italianos torna -se mais fácil, quando toda a gente usa as mesmas notas. Acresce que os mercados financeiros comuns, maiores e mais desenvolvidos, tendem a ser mais eficazes, do que aqueles que não teem liquidez.Quando os líderes políticos começaram a fazer campanha pelo euro, esse era o principal argumento económico em sua defesa. O comércio na Europa passaria a ser tão simples, como uma transação entre um nova -iorquino e um habitante de Boston.
Quando um determinado país sofre um impacto de um choque económico negativo, tem um custo relacionado com as taxas de juro e cambiais fixas, caso não exista outro mecanismo de compensação.
A economia fica impossibilitada de se adaptar tão rapidamente como poderia, caso tivesse autonomia para flexibilizar a política económica. À luz dos custos - benefícios económicos, uma união monetária será ótima se, os benefícios dos mais baixos custos de transações, compensarem os custos associados à menor flexibilidade de ajustamento perante choques. Contudo, importa sublinhar, que os custos e os benefícios evoluirão em paralelo com uma economia aperfeiçoada.Sob o ponto de vista histórico constata -se que :
- as uniões monetárias , bem sucedidas, são, em geral, estreitamente integradas, económica, política e institucional. Quando uma delas atravessa uma fase de instabilidade interna, as coisas resumem -se tipicamente, a uma opção entre reforço de integração ou de alguma forma de colapso. É  de salientar que a possibilidade de uma maior integração depende da situação política. Na ausência de uma união política, uma integração consistente, pode ser impossível. A Eurozona já deu ps primeiros passos para  coesão da união monetária. Acima de tudo, o BCE assumiu uma posição de maior força.Um orçamento federal, que possa proceder a transferências no seio da união monetária, poderá ajudar a atenuar os custos da inflexibilidade monetária. Uma maior integração, sob a forma de um orçamento federal maior, poderá otimizar a união monetária em sentido macroeconómico.Contudo, a viabilidade de tais mudanças, depende da vontade política dos países independentes de cederem soberania, em benefício da União.
O dilema crucial da Europa assentava numa ajuda ambiciosa de reforço da integração da Eurozona.
No futuro, a Europa seria dotada de uma união bancária, que se traduziria na supervisão central de todos os bancos da Eurozona e num esquema com garantia de depósitos, ou seja: um orçamento comum da Eurozona com capacidade para auxiliar países com dificuldades.Os membros da Eurozona ficariam também unidos numa forte união económica, que implicaria uma mais estreita coordenação de todas as economias deste setor e mais poderes de controlo central das decisões locais relativas à despesa. Além disso, os países da Eurozona, caminham para alguma forma de união política, nomeadamente, para a eleição direta dos seus responsáveis.Os líderes políticos nestas circunstâncias, optaram por continuar o processo de integração.
Relativamente à união bancária, o plano consistiu na criação de um sistema bancário comum que assentou em três pilares:
1- Incorporaria um mecanismo comum de supervisão bancária com competência alargada a toda a Eurozona, devendo ser harmonizado o sistema persistente de regulações nacionais potencialmente contraditórias;
2- Assentaria no fecho de bancos insolventes;
3- Os bancos da Eurozona seriam apoiados por um esquema de garantia de depósitos, tendo a intenção de reequilibrar a atividade bancária da Eurozona, e proteger de perdas os depositantes.
Com a adoção destes três componentes, os países mais fracos e com bancos em dificuldades passam, a poder de beneficiar de apoios por parte do resto da União.
Para completar a união monetária é necessário mais integração. E, para criar uma união monetária estável, sem grandes problemas internos, é indispensável uma maior partilha de recursos. Um orçamento comum da Eurozona, as eurobonds e uma garantia comum de depósitos são fatores chave para proporcionar transferências para as regiões mais fracas.O maior desafio que se coloca é o de uma maior partilha de recursos, e, o reforço da integração europeia que pressupõe a convergência de vontades de todos os países da União.
Necessitamos de um euro alicerçado em instituições com poderes reforçados, a fim de se poder enfrentar as crises regionais com as debilidades económicas específicas de determinado país.
A zona euro tem necessidade de se dotar de ma capacidade orçamental com as seguintes estruturas:
- A zona euro deverá ser um fundo de seguro económico, para apoiar o orçamento nacional, funcionando como um instrumento, para reduzir uma grande quebra no PIB, protegendo os Estados que fossem objeto de um choque assimétrico;
-A zona euro deveria ter um seguro europeu de desemprego, porque, quando um país é submetido a um choque, pode ter um acréscimo de despesas sociais significativas,por causa do aumento do desemprego, necessitando de um complemento europeu. Isso requer por parte dos Estados- membros um certo esforço de convergência,na forma como gerem o mercado de trabalho;
- A zona euro também necessita de um fundo de apoio à convergência estrutural que se centra em apoiar financeiramente a sua competitividade, desde que se comprometesse com um determinado tipo de reformas ou investimentos. Digamos que seria necessário um "New Deal Europeu" ou seja, um compromisso segundo o qual os países teriam de fazer o seu trabalho de reequilíbrio orçamental e de reformas para aumentar o seu crescimento. Seriam criados instrumentos europeus de proteção financeira, como a união bancária, de coordenação económica para o crescimento, bem como, uma garantia social para os mais desfavorecidos.
Para isso ser possível, necessitamos de um instrumento de capacidade orçamental.
A questão central é que a Europa tem de voltar a crescer e para isso, tem de investir.Contudo a Europa está dividida entre países com situações completamente diferentes e muitos dos países não teem condições equivalentes para investir.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

QUANTITATIVE EASING DO BCE

O primeiro passo para disparar o Quantitative easing (QE) é imprimir dinheiro. É um processo elétrónico. Os bancos centrais criam novo dinheiro aumentando automaticamente o seu balanço através da compra de ativos como dívida pública. No caso do QE europeu os 19 bancos centrais da Zona Euro ficarão responsáveis pela compra desses títulos. Por outro lado, os bancos comerciais aceitam vender os seus títulos de dívida e recebem em troca dinheiro acabado de criar. Com essa transação libertam recursos que podem utilizar de várias formas, existindo três caminhos principais: comprar outros ativos, como ações, dar mais crédito às famílias ou dar mais crédito às empresas. O caminho mais certo, passa por usar esse dinheiro para ceder mais crédito às empresas, idealmente a condições mais favoráveis. As empresas utilizariam esse financiamento para acelerar a recuperação do investimento.
A desvalorização do euro ajudará as empresas exportadoras europeias a vender mais, ficando as compras ao exterior mais caras.
Os bancos podem optar por conceder crédito ás famílias, em vez de doarem mais empréstimos a empresas interessadas em investir. Este caminho também ajuda a economia e a inflação, mas não é o mais desejável para países dependentes do consumo privado, ou com famílias muito endividadas. Ora mais investimento e mais consumo dão uma ajuda significativa ao crescimento da economia. As empresas aumentam as vendas e ganham margem para aumentar a produção ou para investir ainda mais.
A teoria económica do QE passa pelos seguintes passos:
1- A quebra na procura - inflação baixa- é sinal de que não há dinheiro suficiente na economia real. Assim, o BCE,vai comprar títulos da dívida pública com novo dinheiro;
2- As compras do BCE  vão ter como ator alvo, títulos que já estão nas mãos dos privados - bancos, seguradoras, fundos de pensões e até empresas não financeiras. Ao fazê -lo, os preços dos títulos sobem - mais procura - reduzindo os lucros potenciais dos mercados, ficando menos atrativos.
3- Com menos lucro potencial nestes títulos, os detentores dos mesmos perdem algum incentivo para manter estes investimentos, redirecionando o seu capital para outro tipo de ativos (ações, obrigações), mais poupança ou aumentos de capital de bancos.
4- Ao haver esta libertação de recursos aplicados em dívida pública, em especial nos bancos, estes recuperam capacidade de financiamento à economia, o que na teoria resultará em créditos à economia real - empresas e famílias- a juros mais baixos. Além disso há ainda o potencial crescimento das poupanças que também reforçarão os capitais que a banca pode emprestar.
O BCE tem como objetivo o seguinte: se os juros estão mais baixos e há mais dinheiro disponível para investir, haverá também maior disponibilidade para a criação de emprego, melhorias salariais e até redução nos custos de endividamento.
Será que o programa do BCE se traduz em crescimento económico?
 A compra de obrigações soberanas, taxas de juro mais baixas, euro mais fraco, queda do preço do petróleo ,teem consequências benéficas para Portugal, nomeadamente, uma maior confiança na economia, um aumento de investimento, redução das taxas de juro no mercado de crédito, exportações impulsionadas pelo euro mais fraco e pela melhoria da situação de outros países europeus, serão boas notícias.
Continua a ser urgente tornar o mercado português atrativo para as empresas nacionais e ajudar a que estas se dotem de capacidade de governação e transparência e reporte necessários à sua essencial admissão ao mercado.
O mercado único de capitais terá um impacto positivo no crescimento das empresas e na criação de mais emprego, tornando a Europa numa economia mais competitiva a nível mundial
Os objetivos do mercado único de capitais estão bem definidos:
1. A Comissão Europeia pretende que deixem de existir barreiras na obtenção de financiamento noutros países da Europa;
2. Acabando com as barreiras que existem ao financiamento além - fronteiras, a meta será de que todas as empresas dos países membros consigam ter acesso ao crédito de que necessitam;
3. Com o mercado único de capitais a funcionar, as empresas poderão passar a recorrer ao mercado únco, para obterem financiamento. Deixam assim, de estar tão dependentes do financiamento, através do setor financeiro, podendo ainda beneficiar de custos mais baixos.
4. Com empresas a financiarem -se mais facilmente, e também com custos inferiores, estas poderão acelerar o seu crescimento, e, neste sentido, fomentar o crescimento da economia e criar mais emprego na Europa.
5. Com as empresas a terem porta aberta a financiamento nos mercados, as PME, poderão também vir a ter um acesso mais fácil ao crédito.
6. Com o mercado único, a Comissão Europeia acredita que será mais fácil para a União Europeia atrair mais investimento do Resto do Mundo e tornar-se mais competitiva.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

DESVALORIZAÇÃO DO EURO

Um dos efeitos mais imediatos da desvalorização do  euro é o estímulo às exportações: os bens e serviços produzidos internamente tornam -se mais baratos, quando os seus preços são expressos em moeda estrangeira.Desta forma, sem haver qualquer alteração na produção ou ganhos de produtividade, as empresas ganham competitividade porque chegam ao mercado a um preço mais baixo. A taxa de câmbio efetiva, que pondera as variações cambiais, com base nos parceiros comerciais, demonstram bem, como os produtos da zona euro e de Portugal, ganham competitividade nos últimos tempos. A taxa efetiva tem caído em ambos os casos, o que significa que as exportações estão mais baratas. No caso das economias de moeda única, como Portugal, este efeito é visível, quer nas vendas para fora da zona euro, quer nas próprias exportações para parceiros da União Monetária. Não só os produtos portugueses se tornam mais baratos, quando chegam ao mercado mundial, como também, são mais competitivos, quando concorrem no mercado interno com produtos que vêem do exterior. Apenas não há ganhos entre países da zona euro, já que todos partilham a mesma moeda, o que dificulta a correcção dos desequilíbrios existentes.
O efeito do lado das importações é o simétrico dos ganhos conseguidos em termos de competitividade. Uma moeda única menos "valiosa" no mercado cambial, significa que o valor do dinheiro das empresas e das famílias da zona euro no exterior é menor: seja para fazer compras ou para passar férias noutros países,ou ainda para adquirir produtos importados do exterior que chegam ao mercado interno mais caros. Trata -se na prática de um empobrecimento relativo face ao exterior. Uma das consequências das importações, entre muitos outros, entre muitas outras, é que atenua o impacto da descida do preço do petróleo, embora este seja de tal forma significativo, que ultrapassa a depreciação do euro. Para as famílias, uma desvalorização cambial, representa perda do poder de compra. Por exemplo, ir à Suíça nos dias qe correm, depois do Banco Central suíço ter acabado com o teto máximo para o franco, pode tornar -se muito dispendioso. No caso das empresas, o impacto do encarecimento das importações depende de cada caso concreto. As empresas que produzem bens transacionáveis, que podem ser exportados ou que concorrem com bens importados cá dentro- são beneficiadas em termos de competitividade. Mas aquelas, que necessitam de importar máquinas ou matérias - primas, podem ser afetadas negativamente em termos de custos .Por outro lado, as empresas com um peso relevante da energia na sua estrutura de custos, em particular o petróleo, como se trata de um bem importado, a desvalorização  do euro, tende a prejudicar essas empresas que não teem alternativa para o substituir e são obrigadas a sofrer o impacto do preço.Com a queda abrupta do preço do petróleo, esse efeito poderá ser grave em alguns momentos. Da mesma forma, eventuais aquisições ou investimento no exterior, são realizados a partir de uma posição de partida menos favorável.Para algumas economias da zona euro com maiores défices em relação ao exterior, o travão  às importações pode ajudar a reequilibrar as contas externas. Portugal é um desses casos ainda que esse efeito seja limitado, pelo facto de uma parte significativa das trocas comerciais ser realizada dentro da zona euro.
Também a grande ameaça à economia da zona euro é a deflação, ou seja uma descida prolongada e duradoura dos preços com consequências drásticas para as empresas e para as famílias. A desvalorização do euro ajuda a travar a descida dos preços, porque torna as importações mais caras, nomeadamente o preço do crude, cuja queda tem ajudado a  aumentar a taxa de inflação.A mesmo tempo, os ganhos de competitividade e de exportações que venham a ocorrer, tendem a engordar os lucros das empresas pelo que acaba por animar a procura agregada da economia. Embora não seja suficiente, é mais um factor a contribuir para travar o risco de deflação que é a grande preocupação do BCE. O petróleo tem tido um papel importante na queda dos preços,mas mesmo eliminando este efeito, o cenário continua preocupante. A inflação apesar de positiva, desceu e está longe da meta do BCE.
Nas contas do PIB, as exportações entram com sinal positivo e as importações com sinal negativo. As exportações fazem crescer a economia, porque representam um aumento da procura, uma vez que as empresas vendem para o exterior, além do que já vendem em casa As importações, pelo contrário, descontam ao PIB, porque são o espelho do consumo ou do investimento. Em termos concretos, se uma empresa vai poder vender mais, o que a procura internacional dirigida aos seus produtos aumentou, tende a aumentar a produção e isso traduz-se num maior nível de emprego.
A desvalorização do euro tem coisas boas e más. Uma delas é o facto de limitar os ganhos para a economia europeia da queda do preço do petróleo nos mercados internacionais, ainda que a descida do barril continue a ser significativa, mesmo quando medida em euros.
A evolução dos preços vai depender muito do preço do petróleo e também da situação europeia com impacto no programa do BCE.  

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A DÍVIDA PÚBLICA: QUE PROBLEMA!

Neste século XXI, os países europeus parecem entregues a uma crise internacional da dívida. Como reduzir uma dívida pública elevada, tal como a atual dívida europeia?
Existem três métodos principais que podemos combinar: o imposto sobre o capital, a inflação e a austeridade. O imposto excecional sobre o capital privado é a solução mais justa e mais eficaz. À falta disso, a inflação pode desempenhar um papel útil: foi assim que na história, a maior parte das dívidas públicas foram reabsorvidas. A pior solução, quer quanto à justiça, quer quanto à eficácia é a opção da austeridade. No entanto é essa a medida que está a ser seguida  atualmente pela Europa com efeitos nefastos para todos os cidadãos e para a economia.
A posição oficial da Europa relativamente ao Resto do Mundo é, em média bastante próxima do equilíbrio, o que significa que as empresas europeias, são normalmente detidas pelas famílias europeias. Esta realidade está obscurecida pela complexidade do sistema de intermediação financeira: aplicamos as nossas economias num banco, numa conta - poupança ou num produto financeiro, e depois o banco aplica -as noutro lado qualquer. Não podemos esquecer, que nas famílias europeias, os patrimónios são sempre muito concentrados, com mais de 60% do total nas mãos dos 10% mais ricos, pois possuem o equivalente de tudo o que há de possuir na Europa, incluindo as dívidas públicas. Como reduzir a dívida pública a zero?
Uma primeira solução seria privatizar todos os ativos públicos. Segundo as contas nacionais dos diferentes países europeus, o produto das vendas de todos os edifícios públicos: escolas, universidades, hospitais e infraestruturas, permitem reembolsar as dívidas públicas. Em vez de deter a dívida pública, por via das aplicações financeiras, as famílias europeias mais dotadas em património iriam tornar -se proprietárias. Em seguida, seria necessário pagar -lhes uma renda para poder utilizar esses ativos e continuar a produzir os serviços públicos correspondentes. Esta solução deverá ser afastada, porque para que o Estado europeu possa assegurar corretamente as suas tarefas, em particular na educação, saúde e segurança parece indispensável que continue a ter os ativos públicos correspondentes. É importante compreender que a  atual situação, que obriga ao pagamento dos pesados juros da dívida pública, sobrecarregam todos os anos de uma forma pesada os orçamentos familiares.
Aquela que é,  de longe, a solução mais satisfatória para reduzir a dívida pública, consiste em reter um imposto excecional sobre o capital privado. Por exemplo, um imposto proporcional de 15% sobre todos os patrimónios privados geraria cerca de um ano de rendimento nacional, e, assim permitiria reembolsar todas as dívidas públicas. O Estado continuaria a deter os seus ativos públicos, mas o valor das suas dívidas seria reduzido a zero, pelo que deixaria de ter juros para pagar. A vantagem do imposto excecional sobre o capital, é uma solução que permite organizar as coisas de uma forma mais civilizada. Garante -se deste modo , dar a  cada um de acordo com o esforço exigido; e, sobretudo são evitadas potências bancárias, uma vez que são os detentores finais  dos patrimónios que são chamados a contribuir. Para isso é indispensável que as atividades públicas disponham em permanência de transmissões automáticas de informações bancárias, relativas ao conjunto dos ativos detidos por uns e por outros. A vantagem da solução fiscal é que permite modular o esforço pedido em função do nível de património de cada um. Mais vale aplicar uma tabela progressiva para poupar os patrimónios mais modestos e exigir mais, aos mais elevados. Por outro lado, a inflação seria outro método possível para reduzir a dívida: ora sendo a dívida pública um ativo nominal(ou seja, o preço é fixado à partida e não depende da inflação) e não um ativo real, ou seja: o preço evolui em função situação económica, pelo menos tão depressa como a inflação. Por exemplo, com a inflação de 5% ao ano em vez de 2%, ao fim de cinco anos, o valor real da dívida, expresso em percentagem do PIB, seria reduzido em mais de 15%, o que é bastante considerável.. Os países seriam efetivamente bem sucedidos e deixariam o seu sobre-endividamento, muito mais depressa. Existe ainda um outro argumento, a favor da inflação : por comparação com o imposto sobre o capital que, conduz inevitavelmente a subtrair recursos a pessoas que se preparam para os gastar,  de forma útil(para consumir e para investir), a inflação tem o mérito de incidir naqueles que conservaram demasiada liquidez nas suas contas bancárias. São poupados todos aqueles que já gastaram tudo, aqueles que investiram tudo em ativos económicos reais e aqueles que estão endividados, o que lhes permite lançarem -se mais depressa em novos projetos de investimento. Segundo esta visão, a inflação seria de alguma forma, um encorajamento ao capital dinâmico. Concluindo: a verdade é que a inflação é um instrumento impreciso no seu objetivo. Entre escolher inflação ou mais austeridade é preferível um pouco mais de inflação.Então qual é o nível desejável de dívida pública? Não existe qualquer certeza absoluta sobre este assunto, apenas a deliberação democrática pode permitir responder a esta pergunta, em função dos objetivos que uma sociedade atribui a si mesma e dos desafios que enfrenta. Investir mais na nossa sociedade e dar mais segurança aos cidadãos, conduziria a uma economia mais eficiente e dinâmica, tornando a própria sociedade mais igualitária, de modo a influenciar as nossas políticas micro e macro- económicas.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

DEPRESSÃO ECONÓMICA: QUE PARADOXOS?

A economia está em todo o lado. A economia trabalha com a escassez e o custo de oportunidade- o custo de recusar a melhor alternativa quando se toma uma decisão. Mas nem sempre é assim. Por vezes surgem depressões. Quando a economia está em depressão, a escassez deixa de dominar, os recursos ficam inativos, pelo que é possível ter mais de algumas coisas, sem ter menos de outras.
O que define uma recessão? É um período em que a maioria das atividades económicas está a descer. E as depressões? Por vezes os economistas tentam definir as depressões com uma descida de 10% ou mais na produtividade.No entanto, quando falamos da Grande Depressão, não nos referimos apenas à crise de 1929- 1933: estamos a falar de todo o período que inclui episódios de crescimento a períodos de declínio. O que provocou a grande depressão foi o fato das economias estarem abaixo da sua capacidade. As crises vulgares terminam com relativa rapidez, porque os bancos centrais cortam nas taxas de juro e a economia volta a crescer. Todavia, durante a Grande Depressão, estes bancos não podiam fazê -lo, porque as taxas a curto prazo, estavam muito próximas do zero e não podiam descer mais. Portanto, na verdade, as depressões são definidas em termos de situações em que a economia está persistentemente abaixo da sua capacidade e , em que a expansão monetária é ineficaz, porque as taxas de juro estão perto do zero. Desde que as pessoas começaram a aperceber -se do fenómeno dos ciclos económicos, assumiram que a queda brusca dos preços é uma consequência necessária. Os altos e baixos da economia pode dificultar a aplicação das políticas corretas. Portanto uma depressão é uma situação em que a economia está a funcionar abaixo da sua capacidade e, em que a política económica não permite recuperar pleno emprego. A economia da depressão é marcada por dois paradoxos: o paradoxo da poupança, em que a tentativa de poupar mais, faz na realidade, com que a nação poupe menos , e, o paradoxo da flexibilidade, em que a disponibilidade dos trabalhadores em proteger os seus empregos, aceitando salários mais baixos, reduz de fato o emprego total. Quanto ao paradoxo da poupança: para a economia no seu todo, as poupanças, em termos contabilísticos, são sempre iguais a investimento. Mas tudo isso funciona através das taxas de juro mais baixas que, diretamente reduzem os custos dos empréstimos ou, indiretamente,conduzem a preços mais baixos das ações, seja como for, o custo do capital cai para as empresas que pensam em expandir -se, sendo o resultado mais investimento.. Ora numa depressão as taxas de juro, a curto prazo, não podem descer, porque já estão em zero. Portanto o mecanismo das poupanças para o investimento é interrompido. E quando há uma queda nas despesas totais, a economia entra numa maior depressão, por isso há menos razões para as empresas expandirem a sua capacidade, ou seja para investir.
E quanto ao paradoxo da flexibilidade? Normalmente , a maneira de conseguir que as pessoas comprem mais é reduzir o preço. Mas se não há empregos suficientes, qual a resposta para os cortes dos salários? Ora é verdade que os trabalhadores de uma empresa, podem salvar os seus empregos, aceitando cortes nos salários, isto porque ao reduzirem os salários, o seu trabalho e os produtos que fabricam ficam mais baratos em comparação com o trabalho e os produtos de outros trabalhadores. Mas quando o nível geral dos salários baixa, ninguém ganha uma vantagem relativa. Se se verifica algum efeito positivo no emprego, isso deve -se às taxas de juro. Na prática a maneira como isto funciona tende ser através do banco central: salários mais baixos, significa inflação mais baixa, o que incentiva o banco central a cortar nas taxas de juro, levando a uma maior procura e mais emprego, Contudo, numa depressão as taxas de juro não podem ser cortadas, por isso não existe nenhum canal por onde os salários mais baixos possam aumentar o emprego. Ora se os salários, os preços e os rendimentos também caem, o peso real da dívida também sobe, reforçando o efeito depressivo da dívida sobre as despesas.Isto significa que a existência de mercados de trabalho flexíveis, em que os salários caem rapidamente devido ao desemprego, é uma solução preversa em condições de depressão. Então como combater a depressão? Uma depressão é uma situação em que as medidas políticas que habitualmente tomamos, nomeadamente cortes nas taxas de juro pelo banco central, são insuficientes. Contudo isso não significa que não se possa fazer nada. Em condições de depressão, o fato de o governo contrair empréstimos, não desmotiva o investimento privado, pelo contrário, provavelmente leva a um investimento privado mais elevado, porque uma economia mais forte, dá aos negócios mais razões para se expandirem. Mas não será irresponsabilidade contrair empréstimos e sobrecarregar com dívidas as gerações futuras? Não, porque quando estamos em depressão, o benefício de contrair empréstimos ajuda a pôr a trabalhar os recursos não empregados, ou seja a criar mais empregos. Muitos economistas acreditam que a saúde orçamental é boa para combater a depressão. Em tempos de crise como esta, seria útil, se os bancos centrais tivessem orçamentos equilibrados e um compromisso firme com a estabilidade de preços.