terça-feira, 17 de janeiro de 2017

PORQUE NÃO CRESCE A ECONOMIA?

O problema financeiro que domina  a mais violenta dessa conjuntura está patente na dinâmica económica. O que está a acontecer à evolução da economia?
Embora a atenção esteja dominada pelas questões orçamentais e bancárias, existe muita atividade nas empresas portuguesas. Portugal é um país com muitos e variados empreendimentos. Do turismo às novas tecnologias, da agricultura à indústria, muitas pessoas produzem e vendem produtos de qualidade.
A economia está a crescer! Nos últimos três anos a produção deixou a recessão e tem vindo a aumentar significativamente. No entanto, a verdade é que a nossa economia está a crescer menos do que em qualquer época sem recessões.
A recessão que a economia portuguesa sofreu de 2011 a 2013, foi a mais violenta desde a Segunda Guerra Mundial. A comparação com outras crises europeias permite voltar ao tema do confronto entre problemas de liquidez e solvabilidade. Alguns países recuperaram rapidamente, sobretudo porque sofreram muito com o aperto, mas sem problemas estruturais.
Foi o caso da Islândia, que em 2015 já recuperara toda a queda e se encontrava 5% acima do nível anterior à crise, bem como, os países bálticos que face ao pico onde tinham caído, já estavam 3,3% acima, ou apenas 1,4% (Letónia) ou 1,2% (Estónia), abaixo.
Pelo contrário, outras economias, sofrem de graves dificuldades de solvabilidade, e por isso, em 2015, ainda se encontravam muito abaixo do nível que tinham, quando se iniciou a crise de 2008. Em todos os casos, a crise, mesmo tendo sido violenta é uma lembrança longínqua.
Pelo contrário, outras economias sofrem de graves dificuldades de solvabilidade, e por isso, em 2015, ainda se encontravam muito abaixo do nível que tinham, quando se iniciou a crise de 2008. Neste caso, está a Grécia ( que ainda está 24,2%,abaixo do ponto inicial,), a Croácia (1,1%), Chipre(9,3%), ou Portugal(5,7%). Mesmo países que sofreram menos no momento do impacto como a Finlândia, que perdeu 7,6%), com a crise, Espanha (15,2%) ou Itália 7,3%).
Os problemas financeiros do Estado e da banca têm relações biunívocas.
Nunca há excesso de despesa do Estado, se não existirem muitos cidadãos prontos para receber. Não pode haver problemas de crédito malparado nos bancos, sem existir muito endividamento  na economia.
A verdadeira origem de um possível colapso financeiro está num aparelho produtivo que não gera riqueza suficiente para pagar as suas contas. Portugal tem um Estado gravemente endividado e uma banca muito fragilizada, tendo por base uma economia oprimida por uma herança de responsabilidades, que tem e terá muita dificuldade em gerir. No que concerne à poupança, Portugal tem um comportamento disfuncional. Com taxas de juro negativas, ou quase, quem poupa está a ser roubado.
As famílias portuguesas reagiram ao primeiro ciclo financeiro das empresas, reduzindo a sua poupança, colocando-a nos mínimos em 2008.Nessa altura, as empresas e famílias moviam-se no mesmo sentido, agravando a sua dependência financeira.
O comportamento da poupança das famílias desde 2013, é bastante preocupante. Com um endividamento elevado e uma situação económica bastante frágil, parece irresponsável reduzir a fatia amealhada de um rendimento que, finalmente começou a crescer.
Ninguém duvida de que a falta de crescimento constitui o elemento central das nossas dificuldades económicas. Com a economia próspera, todos os aspetos orça
mentais e angústias bancárias esfumar-se-iam. Pelo contrário, na sua ausência, até as atividades saudáveis dão sinais preocupantes. Por outro lado, é evidente, que sem investimento, a economia não cresce. Dado termos trabalhadores disponíveis, liberdade de iniciativa e mercados abertos, a falta de capital, está na origem do nosso bloqueio. Mas esses elementos são consequência da ausência da dinâmica do investimento.
É por falta de oportunidades rentáveis, que a banca está frágil e a reduzida taxa de remuneração das poupanças, resulta de aplicações pouco lucrativas. Além disso, é importante notar, que as taxas de juro negativas, se são prejudiciais à poupança, deviam facilitar o investimento.
Então porque razão tão poucos se arriscam  investir? Por falta de confiança. É por isso que as taxas estão baixas, que a banca está frágil e não há investimento. A economia cresce pouco, porque não há capital. A dívida é enorme e as contas públicas não equilibram porque não há capital. Mas porquê? Não há capital por duas razões: a primeira é que o povo não poupa. A taxa de poupança das famílias portuguesas, situa-se num registo mais baixo da nossa história, e é um dos valores mais baixos da União Europeia. O nosso país, que há duas gerações era campeão mundial da poupança, mudou de hábitos e gasta o pouco tem e o que não tem, se pensar no futuro. Assim não pode haver capital. É o povo que toma uma atitude de consumidor e devedor, em vez de aforrador e investidor.
Outro motivo para a nossa situação, tem a ver com a incapacidade de atrair capital alheio.
Ora quando não há poupança, a solução é usar crédito. Foi isso que as nossas empresas e famílias fizeram durante duas décadas, acumulando uma das maiores dívidas mundiais. Crédito não é capital. Poderá ser uma forma temporária de aceder a fundos que, aplicados de forma produtiva, se venham a transformar em capital. Mas todos estes factos acumulados com dívida, constituem um perigo evidente.
Porque razão os portugueses não poupam? Com taxas de juro negativas, não espanta que isso aconteça. Os valores miseráveis obtidos na aplicação de fundos, constituem uma vergonha que arruína aforradores, idosos, pensionistas e, todos os que vivem do pé-de-meia que honestamente acumularam.
As taxas estão baixas porque o Banco Central Europeu tem andado a injetar quantidades enormes de dinheiro, para apoiar os países endividados. Desde 2008 ,que se anda a apertar o cinto e a vender propriedades ao estrangeiro para poder pagar as contas. Essa austeridade é necessária, mas não é solução. Enquanto a poupança continuar a descer, a situação vai-se agravando.
Sem capital, não há produção, e sem ela não temos o suficiente para comprar . Por outro lado, o trabalho é juntamente com a terra e o capital, um dos três fatores básicos da produção. Tudo é produzido através das matérias-primas, equipamentos e trabalhadores. Acontece que o país não cresce , e, isso deve-se, não só ao facto de existir menos capital, mas também, por haver menos trabalhadores, pois existe uma descida da população ativa: as causas estão ligadas ao aumento da emigração e ao aumento da esperança de vida, pois estamos a viver um acelerado envelhecimento, pelo que o fator trabalho está mais reduzido. Portugal está a cresce pouco. Por isso, é urgente fazer uma transformação profunda e radical, na estrutura da nossa economia, para romper bloqueios, eliminar princípios e lançar dinamismo. Há a necessidade de fazer reformas estruturais.
Que sucederá nos próximos tempos em Portugal? Ninguém sabe. O certo é que existe instabilidade na nossa economia.
 Portugal sobrevive e prospera se souber reencontrar o valor, equilibrar interesses, apoiar os mais fracos e acreditar em si, e no sistema que aqui nos trouxe.
 Temos uma cultura antiga e sólida. Passámos por várias crises, mas somos um dos países com personalidade mais persistente, presença mais marcante
 e dinâmica mais notável na história da humanidade. Somos uma sociedade coesa e duradoura, com muitas linhas de futuro, recursos valiosos e setores dinâmicos.
 Cabe a esta geração, preparar o caminho e encontrar a linha do essencial para um futuro melhor.

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