quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

APOCALIPSE CLIMÁTICO ?

 Há alguns anos era comum ouvir as pessoas negarem as alterações climáticas, menosprezarem a enormidade da ameaça, ou argumentarem que era demasiado cedo para nos preocuparmos. A Humanidade tem enormes recursos ao seu dispor e, aplicando-os sabiamente, pode ainda evitar o cataclismo ecológico. Se a Humanidade quisesse evitar as alterações climáticas catastróficas, qual o valor que teria de pagar? De acordo com a Agência Internacional de Energia, alcançar uma economia neutra em carbono, exigiria que gatássemos 2% do PIB global anual, além do que já fazemos, no nosso sistema energético. Numa sondagem recente, feita pela Reuters a economistas do clima, a maioria concordou que chegar ao crescimento zero, custaria apenas 2% a 3% do PIB global anual. O relatório do Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas de 2018, refere que, para limitar as alterações climáticas a 1,5% C, é necessário aumentar os investimentos anuais em energia limpa, para cerca de 3% do PIB global. Uma vez que a Humanidade já gasta cerca de 1% do PIB global anual em energia limpa, precisamos apenas de uma fatia extra de 25% do bolo. Existem outras fontes de emissões, como a utilização dos solos, a silvicultura e a agricultura. Muitas dessas emissões, podem ser diminuídas de forma barata através de mudanças comportamentais, como a redução do consumo de carne e laticínios, e, passar a depender mais de uma dieta à base de vegetais. O preço para evitar o apocalipse, está muito abaixo dos dois dígitos do PIB global anual. Não são certamente 50% do PIB global anual, nem 15%. Em vez disso, está algures abaixo dos 5%, talvez tão baixo, quanto investir mais 2%, em lugares certos. É importante fazer investimentos em novas tecnologias e infraestruturas, como baterias avançadas para armazenar energia solar e redes de energia atualizadas para a distribuir. Estes investimentos criarão numerosos postos de trabalho e oportunidades económicas, e, serão eventualmente economicamente rentáveis a longo prazo, em parte, através da redução das despesas de pessoas com cuidados de saúde, salvando milões de pessoas de doenças causadas pela poluição atmosférica. Podemos proteger as populações mais vulneráveis contra desastres climáticos, tornar-nos melhores para as gerações futuras, e, criar uma economia mais lucrativa. Aprendemos nos últimos anos a definir o nosso objetivo à volta de um número: 1,5ºC . Podemos determinar a maneira como o alcançamos com outro número: 2%. Temos de aumentar o investimento em tecnologias e infraestruturas verdes 2% acima dos níveis de 2020. Naturalmente, ao contrário do valor de 1,5º que é um limiar cientificamente robusto, o valor de 2% representa apenas uma estimativa aproximada. Prevenir as alterações climáticas catastróficas é um projeto totalmente viável, embora, obviamente custe muito dinheiro. Uma vez que o PIB global é de 2% atualmente, significa que para se salvar o ambiente, não precisamos de prejudicar completamente a economia, num abandonar as conquistas da civilização moderna. Precisamos apenas de redefinir as nossas prioridades. Assinar um cheque no valor de 2% do PIB anual global, não é o suficiente. Não resolverá tosos os nossos problemas ecológicos, como os oceanos repletos de plástico, ou a perda contínua de biodiversidade. E mesmo para evitar as alterações climáticas catastróficas, teremos de garantir que os fundos são investidos nos locais certos e que os novos investimentos não provocam os seus efeitos ecológicos e sociais negativos. Se para explorar os metais raros, que são necessários para a indústria de energias renováveis, destruirmos ecossistemas, então podemos perder tempo quanto ganhamos. Também teremos de mudar alguns dos nossos comportamentos, e, formas de pensar, desde o que comemos até à forma como viajamos. Durante a crise financeira de 2008- 2009, o governo americano gastou cerca de 3,5% do PIB para salvar as instituições financeiras consideradas demasiado grandes para falir. Talvez a Humanidade deva também encarar a floresta amazónica, como sendo grande para falir! Tendo em conta o preço atual da floresta tropical na Amazónia do Sul, e, o tamanho da floresta amazónia, comparar todos esses terrenos para proteger as florestas, a biodiversidade e as comunidades locais contra os interesses empresariais destrutivos, custou cerca de 1% do PIB global. Atualmente, nem a empresas, nem os governos estão dispostos a fazer o investimento adicional de 2%, necessário para evitar as alterações climáticas catastróficas. Então para onde vai o dinheiro? Em 2020, os governos gataram 2,45do PIB global.  De dois e dois anos, outros 2,4% são gastos em alimentos que vão para o lixo. A UE estima que o dinheiro escondido pelos mais ricos em paraísos fiscais corresponde a 10% do PIB mundial. Todos os anos mais de 1 bilião de dólares em lucros, são escondidos em offshores pelas empresas, o que corresponde a 1,65 do PIB global Pra evitarmos o apocalipse, provavelmente, precisaremos de impor alguns novos impostos. Mas porque não começar por cobrar os mais antigos? É  claro que é mais fácil falar de cobrança de impostos, de redução de orçamentos militares, de interrupção do desperdício alimentar e de redução de subsídios, do que fazer alguma coisa, especialmente quando somos confrontados com alguns dos lóbis mais poderosos do mundo. É preciso uma organização determinada sempre que alguém disser:  O apocalipse já chegou!

Algo de grave se está a passar com o planeta onde vivemos. Em Trás-os- Montes, Alentejo e Algarve, onde antes havia riachos ou apenas ouedes, como no Norte de África, antes havia paisagens e ainda verdes, agora há cinzas e árvores queimadas e sempre os monstruosos eucaliptos para alimentarem o próximo fogo, onde outrora havia rebanhos, caça aves e sinais de vida, agora há um deserto silencioso e assustador, e, onde antes havia muita gente, aldeias, casais e hortas, agora há ruínas e silêncio, e, de repente como num filme de ficção científica, ilhas de um verde imenso, onde se produz intensamente olival, amendoal, laranjal, abacate regado até à loucura com água que hoje faz falta nas ribeiras e nas barragens e que amanhã faltará nas torneiras. Este verão, Portugal e a Europa bateram recordes de temperaturas nunca antes atingidos, Todos os rios de referência na Europa- o Danúbio, o Ebro, o Tigre, o Loire e o Tamisa- e todas as grandes barragens esvaziaram-se, numa antevisão tenebrosa, daquilo que nos espera no futuro próximo. Num relatório apresentado há dias pela Organização Meteorológica Mundial, estima-se que num dos próximos cinco anos, viveremos o ano mais quente de que há memória, com as temperaturas a subirem, em média 1,5graus, exatamente aquilo que se queria evitar que acontecesse antes de 2050 e que mais de 150países se tinham comprometido em Paris a fazer tudo para o evitar. Hoje, porém, sabemos que tudo andou pra trás: o regresso em força às energias fósseis(incluindo as centrais de carvão) fez com que as emissões de dióxido de carbono, responsáveis pelo aquecimento global, tenham já regressado a valores anteriores à pandemia, e, sabemos que mesmo que todos conseguissem inverter o rumo e assegurar os compromissos estabelecidos para serem cumpridos até 2030, os danos já são irreversíveis. Em 2050 já não será possível evitar que a temperatura do planeta se tenha fixado em pelo menos mais 1,5graus do que hoje. E daí para a frente entramos naquilo que Guterres chamou "territórios de destruição", num processo absolutamente irresponsável: aquecimento dos oceanos, degelo da calote polar, dos icebergues e dos Himalaias ( com as inundações a que já estamos a assistir no Paquistão), secas extremas e prolongadas, começando pelos países subsarianos ( onde o número de pessoas atingidas pela fome extrema duplicou nos últimos três anos), rios e barragens vazios ou reduzidos a caudais mínimos, culturas e animais em extinção, incêndios cada vez maiores e mais incontroláveis e água cada vez mais escassa para abastecer os humanos. É importante perceber as teses otimista e conformista. a primeira pretende que in extremis a ciência encontrará maneira de evitar o desastre, como o fez tantas vezes antes, ou o próprio planeta se encarregará de se regenerar por si mesmo: segundo a tese conformista, o que estamos a viver é resultado da exaustão dos recursos naturais por exploração humana. E assim sendo vamos viver uma crise regeneradora: milhares de milhões de seres humanos irão morrer, para que os outros sobrevivam e, com a experiência adquirida e a ajuda da ciência, possam retomar a vida num planeta mais limpo e liberto da pressão sufocante de hoje. Um darwinismo planetário em que já se advinha quem são os milhares de milhões sacrificados. Décadas de passividade perante os avisos que o planeta foi dando, conduziram ao que de repente parece uma súbita aceleração dos indicadores do desastre, mas que ´+e apenas a resposta da doença por falta de tratamento. Assusta-me uma geração de líderes mundiais que prefere continuar irresponsavelmente a ocupar-se dos seus jogos de guerra, negócios de armas e de energia, enquanto o mundo que habitamos se desintegra à vista de todos, bem como  me admira a indiferença com que a geração jovem assiste a isto, comodamente instalada no seu mundo virtual e hedonista, sendo que sabemos que o presente e o futuro será construído por nós.

 

















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