sábado, 26 de fevereiro de 2022

O FUTURO DA GLOBALIZAÇÃO

 O Crescimento económico tem estado ligado à globalização. O rápido crescimento económico global do pós-guerra, foi acompanhado por uma célere expansão do comércio e do investimento a nível internacional.. Uma vez que vamos comprando bens e acedendo à informação, muitas vezes , sem prestarmos atenção às fronteiras nacionais, .é pouco provável que a globalização venha a recuar. Mas a expansão comercial, e, a abertura dos mercados está a parar. O sistema de comércio global, que abrange todas as exportações e importações sob a égide da OMC, está a fragmentar-se num conjunto de concomitantes acordos de comércio livre bilaterais e regionais. Uns quantos acontecimentos nos últimos anos, colocaram em evidência uma reação adversa aos ganhos desiguais da globalização. Embora haja grandes diferenças entre a decisão da Grã-Bretanha de abandonar a UE e ascensão do outsider político Trump à Casa Branca, os dois eventos revelaram muita coisa acerca do descontentamento do eleitorado com o status quo, inclusive, no que concerne à globalização. Num referendo histórico realizado em Junho de 2016, a Grã- Bretanha tornou-se a primeira nação soberana a votar a favor do abandono da UE. Algumas das sondagens, junto dos votantes, sugerem que uma reação negativa à globalização, possa ter desempenhado um papel no Brexit, a par de temas dominantes como a soberania e a imigração. O Governo do Reino Unido, tem insistido que a Gã- Bretanha, irá manter a sua perspetiva global, que constituirá um conjunto de políticas diferentes das suas atuais relações comerciais com os países que pertencem e os que não pertencem à UE, e que será seguramente importante para o futuro. Do outro lado do Atlântico, na renhida luta pela eleições presidenciais dos EUA, Trump identificou o comércio internacional, como um dos problemas que a América enfrentava e que ele resolveria de modo a tornar a América grandiosa, novamente, segundo duas regras: comprar o que é americano, e contratar quem é americano. O objetivo da globalização como resposta às dificuldades económicas, reflete um subjacente descontentamento com os benefícios desiguais resultantes da abertura global. Obama atribuiu algum desse descontentamento à globalização: a globalização combinada com as redes sociais e com informação constante, afetaram a vida das pessoas, de formas muito concretas- uma fábrica fecha, e, de repente, uma cidade inteira já não tem aquela que era a principal fonte de emprego- e as pessoas já não estão certas quanto às suas identidades nacionais ou o seu lugar no mundo. Não há dúvida de que isto produziu movimentos populistas, tanto de esquerda como de direita, em muitos países a Europa. As pessoas sentem uma desconfiança quanto à globalização, não podendo dar resposta às suas necessidades imediatas. Os benefícios da globalização, não foram equitativamente partilhados em todas as nações.  O enorme crescimento das economias emergentes nas últimas décadas, conduziu a uma maior desigualdade entre as nações, uma vez que mais países pobres foram "apanhando" o ricos numa era em que os mercados do mundo inteiro se tornaram cada vez mais ligados através do comércio e do investimento. A globalização ajudou as economias emergentes a crescer a bom ritmo, uma vez que conseguiram exportar para a América e para a Europa, ao mesmo tempo que beneficiaram do investimento ocidental. Assim, por causa do crescimento relativamente mais rápido, das economias emergentes, a desigualdade caiu em todas as nações, uma vez que o fosso dos rendimentos, se  estreitou entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Contudo, a desigualdade do rendimento global, manteve-se na sua maioria inalterada. Isto deve-se ao facto de dentro dos diversos países, a desigualdade, em média, não ter melhorado significativamente, ou, em alguns casos ter mesmo piorado. Embora, o sinal de aumento da desigualdade de rendimentos, possa ser parcialmente seguido até à globalização, isso não significa que a solução venha a ser encontrada só nas políticas  comerciais. é difícil separar os efeitos sobre as desigualdades provenientes do comércio, daqueles que emergem da transformação tecnológica, que beneficia mais, os altamente qualificados, do que os trabalhadores que se sutam a meio do espectro de qualificações. Mesmo, apesar de haver medidas que podem ser incluídas nos acordos comerciais, para garantir que se cumpram padrões adequados, no que respeita ao trabalho e à proteção do ambiente, é mais provável que as medidas de política interna, como a redistribuição e o investimento na qualificação, sejam capazes de dar resposta mais direta à crescente desigualdade. Auxiliar os perdedores da globalização e resolver a desigualdade, devia, então ser em primeiro lugar, um problema interno dos governos, em vez de uma questão do comércio. No entanto, a reação adversa à globalização leva os decisores políticos a focarem a sua atenção nos acordos comerciais, o que significa concretizar uma maior abertura é algo que está sob grande pressão. Mas a explosão do investimento direto estrangeiro que acompanhou o rápido crescimento do comércio internacional, desde o início dos anos 90. foi uma das razões que os países e desenvolvimento cresceram tão bem, que mil milhões de pessoas foram retiradas da pobreza extrema e o fosso entre estas nações e as suas semelhantes mais ricas, foi reduzido. Para os Grandes Economistas, a hipótese de poderem redefinir a forma como a globalização é gerida, seria vista como uma oportunidade de repensar alguns conceitos fundamentais. Certamente, aceitariam o desafio de reexaminar a questão de como aumentar a qualidade do crescimento económico, e, não apenas o seu ritmo; explicar como é que a economia opera em termos ótimos; e, analisar o que é que não funcionou e, como é que isso pode ser melhorado. Deste modo, os ensinamentos dos Grandes Economistas foram concluídos a partir de mais de dois séculos passados, a estudar os problemas económicos do mundo, podendo assim ajudar-nos a marcar o futuro da globalização e enfrentar os desafios atuais.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

OS DESAFIOS DE UMA ECONOMIA AZUL

 O que é uma economia azul? É o conjunto de atividades económicas que se realizam no mar, e , outras que não se realizando no mar, dele dependem, incluindo os serviços não transacionáveis dos ecossistemas marinhos. Trata -se  de uma definição ampla que abrange todos os subsetores tradicionais( como as pescas ou os portos), aos emergentes (aquacultura), aos transversais (turismo hoteleiro), aos serviços (financiamento e seguros) e à administração pública (poupança e defesa). Ficam também abrangidos nesta definição, aqueles a que nós podemos chamar de "novos subscritores", como a biotecnologia marinha, a robótica aquática, ou, as energias marinhas renováveis. Por seu turno, excluem-se do perímetro, as atividades que mesmo que tenham ou possam ter carácter económico, não são significativas ou não estão medidas em Portugal, e sobre as quais não existem dados. É uma definição que privilegia a cadeia de valor, ou seja, assume uma abordagem  abrangente, tão extensa quanto possível. De certo modo, olha-se para cada atividade e fragmenta-se a mesma em três: a atividade em si a atividade central, por exemplo, construção de navios em estaleiros), a atividade a montante (conceção de projetos de engenheira naval e a atividade a jusante o desmantelamento naval). A mesma lógica é aplicada nos estudos europeus que sobre esta matéria, vêm sendo desenvolvidas pela Comissão Europeia. Desde 2018, que se publica em Bruxelas, um estudo anual, sobre economia azul, que é o retrato mais completo de que dispomos para o espaço europeu. Embora, reconhecendo a dificuldade de estudar e comparar situações em 28/27 Estados-membros, (pré e pós Brexit) a Comissão adota o mesmo conceito de economia azul, integrando não só as atividades que se desenrolam no mar( como as pescas, a aquacultura, a energia eólica offshore, o transporte naval, as atividades portuárias e o petróleo ou gás natural.) mas também, num segundo pilar, as atividades que usam os produtos ou produzem bens ou serviços, ligados à economia azul, incluindo o processamento e retalho do subsetor alimentar marítimo, a construção naval, a biotecnologia marinha ou o subsetor segurador. Numa terceira e última dimensão, a UE, refere-se às atividades ao mar no quadro da administração pública, como seja o exercício de soberania, a proteção ambiental, e, os serviços de educação e investigação, ligados ao oceano. Traçada esta divisão puramente analítica, a UE conclui que se devem englobar no conceito de economia azul" todas as atividades económicas setoriais e multissetoriais relacionadas com os oceanos, os mares e as zonas costeiras, incluindo aquelas que se localizam em regiões interiores e nos Estados sem litoral"  A economia azul visa promover o crescimento económico, a inclusão social, bem como a preservação e melhoria dos ecossistemas, assegurando a sustentabilidade ambiental. Não pertencem ao conceito de economia azul, atividades que agridam o ambiente, que ameacem ou destruam os ecossistemas marinhos ou a biodiversidade, que não estejam alinhados com o propósito de inclusividade e de combate às alterações climáticas, ou, em geral , com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda de 2030. Um dos primeiros documentos onde esta ideia ficou consagrada, foi na declaração política aprovada, por consenso, por mais de 70 delegações de todo o mundo, na semana azul, em Lisboa em 2015. Ali se defende explicitamente que a economia azul deve promover a proteção do ambiente, o desenvolvimento sustentável, o crescimento económico exclusivo e a criação de emprego.  A economia azul é ,em suma, circular, inclusiva, descarbonizada e sustentável, como o determinam os compromissos internacionais (nomeadamente o Pacto Ecológico Europeu), mesmo que se reconheça que muitas atividades ainda têm um caminho a percorrer nesse sentido. Quais os desafios que a economia azul enfrenta? Estes desafios são, ao mesmo tempo, oportunidades de ir ao encontro dos novos mercados, tal como eles se configuram no século XXI. Não são tarefas gigantescas, nem caminhos solitários: são um convite ao diálogo permanente com a sociedade, com os poderes públicos, com as universidades ou com os financiadores. São um apelo a assumir uma abordagem globalizante, com traços novos, que se aceleraram no contexto pós- pandémico. O primeiro desafio é o do conhecimento: o mar é, ainda um imenso território inexplorado que temos de conhecer melhor, como condição essencial para dele beneficiar. Portugal é um país que é 3% do território terrestre e 97% do território marítimo, Só aprofundando o pilar do conhecimento se pode saber o que existe no solo e no subsolo, para que se cuide depois, da viabilidade económica e ambiental, e, do aproveitamento dos recursos vivos e não vivos. Só para os recursos vivos ,sabemos que o mar aloja 95% do total dos recursos da biosfera, podendo os mesmos ser usados em cosméticos. Já em plena pandemia, ficámos a saber que uma enzima marítima estará a ser utilizada no diagnóstico do vírus e que a hemoglobina extracelular, está a ser testada no quadro de combate a esta doença. Nos recursos não vivos, os materiais como o cobalto, cobre manganésio ou níquel, têm um valor industrial elevado e, são usados no fabrico de bens que usamos nos smartphones. O segundo desafio é o da sustentabilidade Hoje, e nos anos vindouros, nenhum projeto vencerá se não for ambientalmente sustentável e, se não for capaz de o demonstrar. Nunca como hoje, se falou tanto de sustentabilidade, de crescimento verde e azul, de novos modelos respeitadores do ambiente e de uma sociedade que procura  neutralidade carbónica até 2050. A atual Comissão Europeia transformou o Green Deal- Pacto Ecológico , em prioridade máxima da sua ação. Portugal  está totalmente alinhado com esta tendência, tendo-se afirmado nos últimos anos, como um país da linha da frente, em domínios como as energias renováveis, ou a economia para o baixo carbono. Fomos um dos primeiros países europeus, a apresentar um roteiro para a neutralidade carbónica. As medidas tecnológicas procuram obter mais eficiência energética, através de novas regras e design e uso de melhores materiais de construção, bem como recuperação do calor ou novas técnicas de incentivo. Por sua vez, as medidas operacionais, passam acima de tudo, pela redução do consumo. As medidas energéticas são aquelas que visam substituir o consumo de energias fósseis por alternativas como os biocombustíveis, o gás natural liquefeito, o hidrogénio, a energia eólica ou nuclear. Face a uma tendência inevitável, não resta aos operadores outra alternativa senão incorporar no seu comportamento empresarial, a narrativa da sustentabilidade, e, perceber tão rapidamente quanto possível, que isso é uma condição existencial do século XXI. O acesso ao financiamento é outro dos desafios das empresas para poderem crescer, internacionalizar e investir. A capacidade de aceder ao financiamento bancário para aquisição de ativos produtivos (bankability) e as limitações ao crescimento (scale-up), são restrições sérias que as empresas sobretudo, as PME,  sentem no seu dia a dia. No quadro europeu, a Comissão Europeia acordou com o BEI, um conjunto de princípios sobre o financiamento da economia azul sustentável, que começam poe reafirmar a ideia central de sustentabilidade e do papel das instituições financeiras, como promotoras dessa sustentabilidade, sublinhando num desses princípios, a necessidade de restaurar, proteger ou manter a diversidade, resiliência, valor intrínseco de saúde nos ecossistemas marinhos. Parece pois, que não há falta de instrumentos financeiros: há, sim, que tornar estes mecanismos mais conhecidos e fluidos, os processos menos burocráticos, no quadro de uma cultura empresarial mais arrojada, capaz de executar projetos tão poderosos como o próprio oceano. Um último desafio é a aposta na diversificação.  Diversificar, significa criar valor acrescentado nas atividades económicas internacionais. Num quadro de pressão demográfica, continuamos a necessitar de acesso às proteínas animais do peixe, seja através das pescas ou da aquacultura. Mas uma pesca sustentável, e, eficaz precisa de se modernizar. A nossa frota é ainda inadequada, face aos nossos parceiros europeus, e, carece de renovação e modernização. Sem isso, também não seremos capazes de nos lançar nos palcos internacionais, de forma mais visível, conquistando quotas de mercado no peixe e nas conservas em segmentos distintivos, oferendo serviços de ponta inovadores no setor bancário e segurador,  apostando na energia eólica offshore, onde estamos muito à frente de outros países europeus e dispondo de legislação primária que nos permita avançar para a neutralidade carbónica em 2050, estimulando cientistas investigadores e instituições nacionais a apostar na investigação e desenvolvimento na área do mar, onde marcamos também, a linha da frente da produção científica internacional..


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

APOCALIPSE CLIMÁTICO ?

 Há alguns anos era comum ouvir as pessoas negarem as alterações climáticas, menosprezarem a enormidade da ameaça, ou argumentarem que era demasiado cedo para nos preocuparmos. A Humanidade tem enormes recursos ao seu dispor e, aplicando-os sabiamente, pode ainda evitar o cataclismo ecológico. Se a Humanidade quisesse evitar as alterações climáticas catastróficas, qual o valor que teria de pagar? De acordo com a Agência Internacional de Energia, alcançar uma economia neutra em carbono, exigiria que gatássemos 2% do PIB global anual, além do que já fazemos, no nosso sistema energético. Numa sondagem recente, feita pela Reuters a economistas do clima, a maioria concordou que chegar ao crescimento zero, custaria apenas 2% a 3% do PIB global anual. O relatório do Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas de 2018, refere que, para limitar as alterações climáticas a 1,5% C, é necessário aumentar os investimentos anuais em energia limpa, para cerca de 3% do PIB global. Uma vez que a Humanidade já gasta cerca de 1% do PIB global anual em energia limpa, precisamos apenas de uma fatia extra de 25% do bolo. Existem outras fontes de emissões, como a utilização dos solos, a silvicultura e a agricultura. Muitas dessas emissões, podem ser diminuídas de forma barata através de mudanças comportamentais, como a redução do consumo de carne e laticínios, e, passar a depender mais de uma dieta à base de vegetais. O preço para evitar o apocalipse, está muito abaixo dos dois dígitos do PIB global anual. Não são certamente 50% do PIB global anual, nem 15%. Em vez disso, está algures abaixo dos 5%, talvez tão baixo, quanto investir mais 2%, em lugares certos. É importante fazer investimentos em novas tecnologias e infraestruturas, como baterias avançadas para armazenar energia solar e redes de energia atualizadas para a distribuir. Estes investimentos criarão numerosos postos de trabalho e oportunidades económicas, e, serão eventualmente economicamente rentáveis a longo prazo, em parte, através da redução das despesas de pessoas com cuidados de saúde, salvando milões de pessoas de doenças causadas pela poluição atmosférica. Podemos proteger as populações mais vulneráveis contra desastres climáticos, tornar-nos melhores para as gerações futuras, e, criar uma economia mais lucrativa. Aprendemos nos últimos anos a definir o nosso objetivo à volta de um número: 1,5ºC . Podemos determinar a maneira como o alcançamos com outro número: 2%. Temos de aumentar o investimento em tecnologias e infraestruturas verdes 2% acima dos níveis de 2020. Naturalmente, ao contrário do valor de 1,5º que é um limiar cientificamente robusto, o valor de 2% representa apenas uma estimativa aproximada. Prevenir as alterações climáticas catastróficas é um projeto totalmente viável, embora, obviamente custe muito dinheiro. Uma vez que o PIB global é de 2% atualmente, significa que para se salvar o ambiente, não precisamos de prejudicar completamente a economia, num abandonar as conquistas da civilização moderna. Precisamos apenas de redefinir as nossas prioridades. Assinar um cheque no valor de 2% do PIB anual global, não é o suficiente. Não resolverá tosos os nossos problemas ecológicos, como os oceanos repletos de plástico, ou a perda contínua de biodiversidade. E mesmo para evitar as alterações climáticas catastróficas, teremos de garantir que os fundos são investidos nos locais certos e que os novos investimentos não provocam os seus efeitos ecológicos e sociais negativos. Se para explorar os metais raros, que são necessários para a indústria de energias renováveis, destruirmos ecossistemas, então podemos perder tempo quanto ganhamos. Também teremos de mudar alguns dos nossos comportamentos, e, formas de pensar, desde o que comemos até à forma como viajamos. Durante a crise financeira de 2008- 2009, o governo americano gastou cerca de 3,5% do PIB para salvar as instituições financeiras consideradas demasiado grandes para falir. Talvez a Humanidade deva também encarar a floresta amazónica, como sendo grande para falir! Tendo em conta o preço atual da floresta tropical na Amazónia do Sul, e, o tamanho da floresta amazónia, comparar todos esses terrenos para proteger as florestas, a biodiversidade e as comunidades locais contra os interesses empresariais destrutivos, custou cerca de 1% do PIB global. Atualmente, nem a empresas, nem os governos estão dispostos a fazer o investimento adicional de 2%, necessário para evitar as alterações climáticas catastróficas. Então para onde vai o dinheiro? Em 2020, os governos gataram 2,45do PIB global.  De dois e dois anos, outros 2,4% são gastos em alimentos que vão para o lixo. A UE estima que o dinheiro escondido pelos mais ricos em paraísos fiscais corresponde a 10% do PIB mundial. Todos os anos mais de 1 bilião de dólares em lucros, são escondidos em offshores pelas empresas, o que corresponde a 1,65 do PIB global Pra evitarmos o apocalipse, provavelmente, precisaremos de impor alguns novos impostos. Mas porque não começar por cobrar os mais antigos? É  claro que é mais fácil falar de cobrança de impostos, de redução de orçamentos militares, de interrupção do desperdício alimentar e de redução de subsídios, do que fazer alguma coisa, especialmente quando somos confrontados com alguns dos lóbis mais poderosos do mundo. É preciso uma organização determinada sempre que alguém disser:  O apocalipse já chegou!

Algo de grave se está a passar com o planeta onde vivemos. Em Trás-os- Montes, Alentejo e Algarve, onde antes havia riachos ou apenas ouedes, como no Norte de África, antes havia paisagens e ainda verdes, agora há cinzas e árvores queimadas e sempre os monstruosos eucaliptos para alimentarem o próximo fogo, onde outrora havia rebanhos, caça aves e sinais de vida, agora há um deserto silencioso e assustador, e, onde antes havia muita gente, aldeias, casais e hortas, agora há ruínas e silêncio, e, de repente como num filme de ficção científica, ilhas de um verde imenso, onde se produz intensamente olival, amendoal, laranjal, abacate regado até à loucura com água que hoje faz falta nas ribeiras e nas barragens e que amanhã faltará nas torneiras. Este verão, Portugal e a Europa bateram recordes de temperaturas nunca antes atingidos, Todos os rios de referência na Europa- o Danúbio, o Ebro, o Tigre, o Loire e o Tamisa- e todas as grandes barragens esvaziaram-se, numa antevisão tenebrosa, daquilo que nos espera no futuro próximo. Num relatório apresentado há dias pela Organização Meteorológica Mundial, estima-se que num dos próximos cinco anos, viveremos o ano mais quente de que há memória, com as temperaturas a subirem, em média 1,5graus, exatamente aquilo que se queria evitar que acontecesse antes de 2050 e que mais de 150países se tinham comprometido em Paris a fazer tudo para o evitar. Hoje, porém, sabemos que tudo andou pra trás: o regresso em força às energias fósseis(incluindo as centrais de carvão) fez com que as emissões de dióxido de carbono, responsáveis pelo aquecimento global, tenham já regressado a valores anteriores à pandemia, e, sabemos que mesmo que todos conseguissem inverter o rumo e assegurar os compromissos estabelecidos para serem cumpridos até 2030, os danos já são irreversíveis. Em 2050 já não será possível evitar que a temperatura do planeta se tenha fixado em pelo menos mais 1,5graus do que hoje. E daí para a frente entramos naquilo que Guterres chamou "territórios de destruição", num processo absolutamente irresponsável: aquecimento dos oceanos, degelo da calote polar, dos icebergues e dos Himalaias ( com as inundações a que já estamos a assistir no Paquistão), secas extremas e prolongadas, começando pelos países subsarianos ( onde o número de pessoas atingidas pela fome extrema duplicou nos últimos três anos), rios e barragens vazios ou reduzidos a caudais mínimos, culturas e animais em extinção, incêndios cada vez maiores e mais incontroláveis e água cada vez mais escassa para abastecer os humanos. É importante perceber as teses otimista e conformista. a primeira pretende que in extremis a ciência encontrará maneira de evitar o desastre, como o fez tantas vezes antes, ou o próprio planeta se encarregará de se regenerar por si mesmo: segundo a tese conformista, o que estamos a viver é resultado da exaustão dos recursos naturais por exploração humana. E assim sendo vamos viver uma crise regeneradora: milhares de milhões de seres humanos irão morrer, para que os outros sobrevivam e, com a experiência adquirida e a ajuda da ciência, possam retomar a vida num planeta mais limpo e liberto da pressão sufocante de hoje. Um darwinismo planetário em que já se advinha quem são os milhares de milhões sacrificados. Décadas de passividade perante os avisos que o planeta foi dando, conduziram ao que de repente parece uma súbita aceleração dos indicadores do desastre, mas que ´+e apenas a resposta da doença por falta de tratamento. Assusta-me uma geração de líderes mundiais que prefere continuar irresponsavelmente a ocupar-se dos seus jogos de guerra, negócios de armas e de energia, enquanto o mundo que habitamos se desintegra à vista de todos, bem como  me admira a indiferença com que a geração jovem assiste a isto, comodamente instalada no seu mundo virtual e hedonista, sendo que sabemos que o presente e o futuro será construído por nós.