quinta-feira, 15 de abril de 2021

O CRESCIMENTO ATUAL DA ECONOMIA PORTUGUESA

 O balanço do crescimento da economia portuguesa entre 1999- ano da criação do euro- e 2026, o último ano das projeções do FMI, é que Portugal é um dos piores do mundo, e o terceiro pior da Zona Euro, apenas à frente dos "doentes", Itália e Grécia. Um cenário negro, mas é menos sombrio, quando se olha para a recuperação da crise pandémica de 2021.Os dados históricos até 2020 e as projeções do FMI, até 2021, revelam um crescimento médio anual da economia portuguesa de 1,1% entre 1999 e 2026 segundo os dados do "World Economis Outlook" (WEO), do FMI. Penalizado pela "década perdida"- a primeira década do euro-, a dupla crise financeira e da dívida soberana, culminando na chegada da Troika- e, agora a crise pandémica, só 13  países da base do Weo, têm pior registo do que Portugal, sendo dois deles da Zona Euro, Itália e Grécia. A economia portuguesa, desde 1999, tem o pior desempenho, desde que lhe podemos chamar de economia desenvolvida. Houve períodos de recuperação, mais ou menos forte, que temporariamente são confundidos com o crescimento. Piores só a Grécia, que já acumula três resgates, e a Itália, que se afundou numa "batalha perdida". A lição da derrota italiana é que tem de se deixar que a economia se transforme, e não tentar preservar empregos, e, indústrias não competitivas. Olhando, para a recuperação da crise pandémica, a partir de 2021, e tendo em conta as projeções do Fundo até 2026, a taxa de crescimento médio anual sobe para 2,8%, e Portugal fica melhor posicionado à frente de 58países- incluindo os Estados Unidos- e a meio da tabela da zona euro, um padrão já verificado na recuperação da última crise, entre 2014 e 2019, quando essa taxa de crescimento atingiu 2,1%. Esta melhoria relativa portuguesa, até 2026 é reforçada por dois resultados, que distinguem Portugal, da maioria dos membros do euro. Segundo as previsões do "Fiscal Monitor", do FMI, as contas públicas irão voltar a registar excedentes a partir de 2024, partilhando essa situação, com apenas mais sete economias desenvolvidas, três das quais- Alemanha Chipre e Lituânia- do euro. E o nível da dívida pública no PIB vai sair do topo dos mais endividados do mundo e da zona euro.. Ocupando o quarto lugar mundial, depois do Japão, Grécia e Itália, em 2020, o peso da dívida portuguesa caiu  para o décimo lugar, sendo ultrapassado pela Bélgica, Espanha, Estados Unidos, França Reino Unido e Singapura. O reforço das contas públicas, pode ajudar a uma retoma económica mais robusta. Desta vez, vai ser diferente da crise da Troika. A economia devastada por duas recessões, quase seguidas desde 2009, só recuperou o nível de 2008, uma década depois. Agora, a recuperação será mais rápida, mas mesmo assim só em 2022, será atingido o nível de 2019, afirma o FMI,  em linha com a Zona Euro. O próprio recomeço da recuperação vai ser com contratempos, e o desenrolar de 2021, depende muito se o verão irá ser "ganho" ou "perdido". Apesar das previsões do FMI, até 2026, o problema principal português, não está resolvido. O padrão típico português, tal como em Itália e mesmo Espanha é uma taxa de crescimento da produtividade dos fatores nula, ou mesmo negativa, em grande parte do período do euro e a partir de 2011, há também uma forte descida na acumulação de capital. Há um padrão preocupante da queda da produtividade do trabalho, desde 2015. Também temos uma grande parte do emprego em setores com baixo crescimento de produtividade. Estamos no limiar da quarta revolução industrial, e temos que nos preparar para entrar na carruagem da frente. Precisamos de uma Administração Pública eficiente e de um  quadro fiscal que permita atrair investimento e reter talento. Precisamos também de melhorar o sistema de educação, da pré-primária, às universidades, para criarmos mais talento. Com a generalização do emprego à distância, os portugueses qualificados vão poder trabalhar em grandes empresas internacionais e viver em Portugal. Provavelmente, a crise levará uma transferência de recursos de empresas e atividades mais vulneráveis, para as mais robustas, havendo um aumento de produtividade, que irá ser o motor da recuperação e aumentar a taxa de crescimento potencial do PIB. A alteração de paradigma, de um modelo assente nos bens transacionáveis, virado para o mercado interno, para uma aposta nas exportações e no mercado externo, foi um símbolo de intervenção da Troika. Mas agora, os economistas não antecipam alterações de fundo, ao padrão de crescimento português. Consumo e investimento deverão ser os motores de crescimento e devem estimular  a recuperação da crise pandémica; e a retoma do turismo será crucial, mas pode demorar mais tempo. O padrão de crescimento após a crise pandémica, será semelhante ao que aconteceu até 2019. Tudo , porque desta vez, não houve queda do rendimento disponível, nem deterioração das condições financeiras, que levassem à destruição da capacidade produtiva, concentrada nalguns setores. Como resultado, consumo e investimento deverão ser os motores de crescimento. E, o consumo conta com a ajuda das poupanças das famílias, que com a pandemia atingiu o nível mais elevado desde 2002, e, será em parte, libertada. Quanto ao investimento, será incentivado, pelo "boom" industrial, a nível mundial; condições propícias na construção, com baixas taxas de juro, e liquidez abundante; e os fundos europeus, associados ao "Gren Deal", apontando o turismo, como grande incógnita, já que a recuperação depende do fim das restrições à circulação. Numa primeira fase, os maiores contributos, serão do consumo privado e exportações, à medida que o turismo recupera. Posteriormente, o investimento deverá originar também um contributo importante, refletindo o reforço esperado da execução dos fundos comunitários. Segundo opinião de alguns economistas, a recuperação virá inicialmente do consumo. Já a sustentada, pelo Plano de Recuperação e Resiliência, se vier a funcionar, será mais baseada em investimento. Os motores da recuperação em 2021, virão sobretudo da procura interna, com o consumo privado a dar o primeiro impulso, e, posteriormente as exportações, com um possível aumento do turismo.. A curto prazo, iremos ter também uma recuperação das exportações e do comércio a retalho, seguida da recuperação do turismo. Há 10 anos, em 2011, Portugal não tinha meios para cumprir os seus compromissos financeiros, para liquidar os salários dos funcionários públicos e para pagar as pensões aos reformados. A par de uma crise financeira internacional, a bancarrota de 2011, foi o culminar de um conjunto de opções políticas e de erros de governação que prejudicaram o crescimento económico, fizeram disparar a despesa pública e tornaram a dívida pública insustentável. Nesse momento, o Governo de então, foi obrigado a pedir assistência financeira internacional, mergulhando o país na terceira cise de insolvência em 40anos de democracia. Passada uma década sobre este acontecimento, em que Portugal perdeu a sua credibilidade perante o exterior, e, houve muitas consequências sociais económicas e financeiras na vida dos portugueses, urge analisar a situação atual do país à luz das lições de 2011. Há 10 anos, o país tinha estagnado em termos de crescimento económico(com uma taxa média anual de crescimento do PIB de apenas 0,7% entre 2000 e 2010, e apresentava um enorme défice nas suas contas externas que ultrapassava 10% do PIB. O excessivo endividamento externo resultou principalmente da falta de políticas de apoio à internacionalização das empresas portuguesas e à promoção das exportações, desequilibrando fortemente a balança comercial. Em 2020, o PIB afundou-se 7,6%, a maior quebra de riqueza um ano, desde que há estatísticas em Portugal e quase o dobro do que caiu no pico da anterior crise, a dívida externa voltou ao nível de 2011, em resultado dos efeitos da pandemia. A recuperação prevê -se mais longa e demorada. Desde 2016 não foram realizadas quaisquer reformas estruturais com o objetivo de estimular a produtividade e a competitividade internacional das empresas portuguesas. Pelo contrário, os retornos que assistimos na reforma laboral e da reforma do IRC, obrigam hoje as empresas portuguesas com uma das legislações laborais mais rígidas da Europa e a suportar a segunda taxa de IRC mais elevada da União Europeia. Portugal desceu várias posições no rendimento per capita(neste momento está à frente da Eslováquia, Letónia e Grécia), correndo o sério risco de se tornar o  país mais pobre da zona euro, nos próximos anos. O segundo fator que levou à bancarrota de 2011 foi o aumento enorme da despesa pública, que atingiu 0s 51,9% do PIB em 2010, com uma aumento exponencial da despesa pública primária, designadamente com salários da Função Pública. Em resultado destas opções políticas, o país haveria de registar um défice recorde de 11,4% do PIB em 2010, o que tornou insustentável a situação das contas públicas nacionais. Em 2020, o défice atingiu 5,7% do PIB, o que representou um desvio de 11.500 milhões de euros, em resultado da pandemia. Mas, mais importante, a despesa pública total cresceu significativamente desde 2016, não obstante, as sucessivas atrações e as drásticas reduções da despesa com juros, em resultado da assistência financeira permanente do BCE. Para se ter uma noção exata do problema, a despesa pública real cresceu de 83mil milhões em 2016, para 98 mil milhões em 2020, um aumento impressionante de 15mil milhões, em apenas cinco anos, o que colocou novamente a despesa pública, a rondar os 505do PIB.É verdade que em 2020, a despesa pública fi influenciada pela medidas covid, mas até 2019, os gastos reais do Estado, já atingiam os 91 mil milhões, tendo crescido 9%, face a 2016. E, no mesmo período (2016- 2020), as despesas com salários da Função Pública aumentaram 14%, em resultado de dezenas de milhares de novas admissões, reduções do horário de trabalho semanal para 35horas, progressões e aumentos salariais. E que continuam em 2021, não obstante o aumento das falências e do desemprego no setor privado. Por outro lado, a explosão da dívida pública, atingiu 0s 100%  do PIB em 2010 e tornou insustentável a posição de Portugal, perante os seus credores internacionais. Em 2016, a dívida pública ascendia a 239mil milhões de euros. Em 2020 disparou para 270mil milhões, ultrapassando os 133%do PIB, e o OE para 2021, prevê que possa chegar a 287 mil milhões. Quando o BCE for obrigado a subir as taxas de referência para conter riscos de inflação na UE, que margem terá Portugal para continuar a cumprir os seus compromissos financeiros?

Após alguns meses depois do início do desconfinamento, a informação sobre a evolução da economia portuguesa é ainda parcelar. Os economistas usam a expressão "acentuada dinâmica" da atividade económica. Com a pandemia a recuar, a vacinação a acelerar, o país a reabrir, a confiança dos consumidores aumentou significativamente, segundo o INE, as compras na rede multibanco, subiram 70%, as vendas de automóveis ligeiros de passageiros, aumentaram 39% e o consumo de eletricidade cresceu 6,5%. Em março, a taxa de desemprego recuou para 6,5%, e , os novos créditos à habitação atingiram 1382milhões de euros, um recorde de2008. Há uma evolução positiva. O indicador diário da atividade económica do Banco de Portugal, que procura medir, quase em tempo real a evolução da atividade económica, é um dos sinais positivos. Em abril, a atividade económica, cresceu mais de 20% e acelerou na semana terminada em maio para 27,5%. A evolução positiva, reflete, "em parte", a procura suspensa (durante o confinamento), o que impulsionará a atividade nos próximos meses. O crescimento, poderá superar os 3,5% em cadeia, e, os 10% homólogos. No entanto, no médio prazo, o sustentar da economia pela procura interna, depende também da quebra de rendimento, pela destruição de emprego e empresas, cuja dimensão só mais para o final do ano, com o fim generalizado das moratórias, se irá perceber. Olhando para os setores mais afetados pela crise, como o turismo, a etapa final do desconfinamento, a 3 de maio, apanhou o Algarve, com a maioria dos hotéis fechados. Os portugueses com segunda residência e abertura de fronteiras ,com Espanha, e, o anúncio da lista verde com os ingleses poderem viajar sem quarentena, considerou-se Portugal, como o único país" seguro" na Europa do Sul. O efeito na procura foi imediato, e, animou as expetativas de um bom ano turístico.  A  retoma, apresenta "sinais animadores", mas não compensa o longo período de encerramento. O s estabelecimentos em zonas turísticas, como as Baixas de Lisboa e Porto, foram afetados também pelo teletrabalho, continuando a procura à restauração, onde há a preferência  por esplanadas, e maior procura nas zonas de menor densidade. O take-away veio para ficar, e, ir ao restaurante, tornou-se mais uma opção de fins de semana. é preciso esperar, para saber o que irá acontecer, no comércio e na restauração, a quem sobrevive apenas com "o balão de oxigénio dos apoios".

 


domingo, 11 de abril de 2021

O REGRESSO DA INFLAÇÃO?

 Os Governos de todo o mundo têm procurado aliviar o efeito da crise pandémica com juros em mínimos históricos, megaprogramas de compra de dívida e outros ativos e biliões de euros injetados na economia, através de apoios sociais, ajudas às empresas e investimento público. Mas todas estas medidas têm consequências do lado dos preços. É praticamente a dimensão do PIB italiano, que chegará à economia através de cheques de 1.400dólares para as famílias, uma prestação para agregados com filhos, o reforço do subsídio de desemprego ,apoio financeiro dos Estados e a reabertura das escolas e dos restaurantes. Este plano gerou entusiasmo com uma saída mais rápida da crise, mas também houve críticas dos economistas mediáticos do mundo: o motivo central é que ao distribuir e gastar tanto dinheiro, este programa irá provocar um sobreaquecimento da economia, o que pode fazer disparar a inflação.. E, níveis elevados de inflação, podem não só servir, como "um imposto escondido-havendo mais dinheiro em circulação, cada moeda vale em si, menos-, como obrigar o Banco Central, a subir os juros. E esse risco faz sentido? Sim. Por um lado, há um pacote orçamental gigantesco, muito acima do que seria preciso para recuperar a atividade económica para a sua capacidade produtiva, e que, por isso, terá tendência a levar a um aumento de preços. Por outro lado, um Banco Central dos mais "pomba", de que há memória, no que diz,  ao que afirma ser, a sua tolerância para com a inflação  alta nos próximos anos, e, com uma dívida tão elevada, que qualquer aumento das taxas de juro, teria um grande impacto orçamental. No entanto, o contexto atual, traz uma série de travões a esse avanço dos preços. Esta crise, tem a particularidade, de atingir, ao mesmo tempo, a oferta e a procura. Um estímulo fará aumentar o consumo- o que teoricamente, puxa pelos preços-; porém isso acontece, numa altura em que as empresas também, começam a produzir mais, o que põe água na fervura da inflação. Mais: temos hoje, várias décadas de sucesso, no controlo da inflação, em torno da meta de 2%, valor que a zona euro não ultrapassa, desde 2016. Mesmo que nos desviemos momentaneamente, as famílias e as empresas continuarão a agir, assumindo que a inflação, acabará por regressar a esse ponto- e confiando se necessário, o Banco Central intervirá para evitar um descontrolo. As condições estruturais da economia, parecem ainda empurrá-la mais, para cenários de deflação (queda dos preços) do que, para um crescimento sustentado de inflação. Qual é o principal problema? É a possibilidade de deflação prolongada. Há fatores estruturais a pressionar a economia real. Pode ter momentos de inflação, mas não um "boom". Um cenário de espiral inflacionista, é pouco provável. Inflação descontrolada, tende a surgir, historicamente , em contextos muito específicos, de perda de independência do Banco Central, que não me pareceu ser o caso, de qualquer economia desenvolvida. E, embora, o Banco Central dos EUA- a Fed- permita agora, desvios temporários da meta de 2%, se se tornar claro, que a inflação está a ficar fora de controlo, voltará a intervir para a controlar. Além disso, muitos dos que pensam, que há risco de inflação. já gritavam "lobo" no passado, seja há mais de uma década, quando a Fed estreou a sua política de compra de ativos para combater a crise financeira, seja mais recentemente, quando Trump, introduziu um corte brutal de impostos, com o desemprego em mínimos históricos. O lobo não veio. Estas previsões "falhadas", devem -se ao medo de repetição do cenário dos anos 70 nos EUA, com crescimento baixo e inflação alta (estagflação). Na Europa, é necessário conviver com o trauma alemão face à hiperinflação. Contudo, o mundo mudou nos últimos 50anos:o Fed é muito mais independente, e é relativamente consensual, que assim deve continuar; a própria estrutura da economia mudou, e, estamos a sair de uma década em que os preços praticamente não se mexeram. Nos anos 70, o choque veio do lado da oferta(o choque petrolífero), enquanto atualmente, é mais provável que choques negativos da procura predominem.  Talvez seja altura de considerar, se um cenário de subida descontrolada dos preços, continua a ser um risco real para economias desenvolvidas. Será que resolvemos a equação da inflação? É uma possibilidade. o que temos visto, nos últimos 30anos é que fomos capazes de gerir as expetativas, graças à credibilidade dos Bancos Centrais. Acredito numa meta de inflação de 2%, porque o Banco Central assim o afirma. A política monetária,  apoiada nos grandes avanços da teoria macroeconómica, das últimas tês décadas, e, num apoio institucional forte, nas economias avançadas, em torno dos bancos centrais independentes, tem feito um trabalho extraordinário em manter uma inflação  estável. Os receios são de uma Fed mais permissiva, com alguma inflação momentânea, o desejo de usar os Bancos Centrais para atingir outros objetivos, além da estabilidade de preços, combate às alterações climáticas, desigualdade e dívida pública muito elevada. Assim , é provável que o "problema" reapareça. Na verdade uma grande fatia da população, nunca sentiu na carteira o peso da inflação. Há anos atrás, havia o medo da inflação, mas a geração mais jovem, terá um condicionamento diferente. O medo da deflação irá mudar a forma como olham para os preços. "2021". As pressões inflacionistas surgem dos estrangulamentos das cadeias logísticas, depois do fecho da economia. A inflação é desvalorização de moeda, e, não subida dos preços. Existem "subidas de preços estruturais", ditadas pela recuperação da crise aberta pela pandemia. Subidas que surgem numa época em que já levamos bastante tempo de baixa inflação e até de deflação. O ajustamento dos preços é o reflexo da grande aceleração da transformação económica e social que está em curso. E "antes do medo" da inflação, é necessário fazer essa transformação, " o mais rápido possível", com maior fulgor, na criação de riqueza, aumento de produtividade e sustentabilidade social. Ou seja, criar "mais valor" e distribuir "melhor". A necessidade imposta pelos défices públicos e privados, gerados a ajudar as famílias e as empresas, com medidas sem precedentes, e, uma inflação ligeira, até é positiva. Não é o tempo de ter medo, mas de moderar as crises económica e social. Algumas matérias-primas revelam "subidas de preços ".Paládio, cobre  algodão orgânico e madeira serrada estão mais caras. Subidas que surgem também nalguns bens que estiveram afastados do consumo, como as viagens aéreas. Estes aumentos são justificados com " a recomposição da economia pós -crise. Situação que irá durar até 2022, e depois moderação. Numa Europa de enormes desigualdades é preciso concentrar a atenção no futuro, "baseando o crescimento numa "economia intangível de soluções, e, não de quantidades". Importante, é criar riqueza, para melhorar a vida das pessoas, com o crescimento baseado na eficiência e na sustentabilidade. Se assim for, a médio prazo, teremos resultados, Até lá, turbulência nos preços e oscilação cambial. Não podemos recuperar com aumento de preços. Não basta fazer chegar o dinheiro às empresas e às famílias, é preciso não responder à crise, com a queda dos preços, como aconteceu no início da pandemia. Tal irá trazer  "a aceleração da inflação " e a "perda de confiança das moedas". Ou seja: não se deve exagerar no suporte financeiro à crise. A solução é apostar mais na produtividade, na  inovação, no trabalho, e, não em truques de magia.

  O grande tema do fórum anual do BCE, em Sintra, foi a inflação.. A inflação em Agosto atingiu os 3% na zona euro, e as previsões são que suba mais nos próximos meses.. O receio de Lagarde é que depois de 12 meses de inflação elevada, ela não volte para perto de 2%. Ou seja, que esta subida não seja temporária mas persistente. Lagarde está convicta de que será temporária. Os preços dos bens estão a subir mais rapidamente do que os dos serviços, devido aos problemas das cadeias de abastecimento, que se espera sejam temporários. Além disso os fatores que contribuíram ara a inflação estar perto dos 1%, durante tantos anos, não desapareceram. Lagarde, acrescenta que a digitalização da economia, a transição energética, e uma tendência mais aforradora do último ano, podem contribuir para puxar a inflação para baixo. No entanto, há uma probabilidade, pequena, mas não negligenciável, de a inflação continuar elevada, durante alguns anos, falhando assim o alvo do BCE.. A inflação na zona euro, irá ser determinada por aquilo que o BCE faça. A inflação é sobretudo um fenómeno monetário. É o BCE que controla as taxas de juro, o tamanho do seu balanço, e , a sua independência face à política orçamental, e estes são os grandes determinantes da inflação. Com mais ou menos digitalização, discrepância entre bens e serviços, ou transição energética, se o BCE reagir a estas mudanças com alterações severas nas taxas de juro, ele irá manter a inflação sob controlo. Mesmo que seja preciso "um whatever it takes" à la Draghi, a inflação na zona euro depende sobretudo daquilo que fará o BCE. A inflação veio para ficar. O colapso da atividade provocado pela pandemia, conjugado com a ação decisiva da política económica, na proteção do rendimento das famílias e dos cashflows das empresas, abriu uma enorme lacuna, entre a procura e a oferta agregada. Este desequilíbrio resultou em pressões inflacionistas, que, por serem conjunturais, se esperavam temporárias. Essa foi a leitura dos Bancos Centrais, mas não é isso que está a acontecer. Na verdade, a dinâmica em curso, representa um processo rigoroso de inflação persistente.  Como em tantos outros episódios de inflação, a subida dos preços teve origem nas matérias primas (energéticas ,industriais, alimentares), rapidamente passando para os fretes marítimos, numa escalada de preços a montante da atividade produtora global. Da conjugação destes efeitos, resultou a subida dos preços do produtor, aos preços no consumidor, bem como às expetativas de inflação ás das empresas, das famílias e dos investidores, criando uma complexa teia de mecanismos de retroalimentação. Para além disto, o protagonismo da política orçamental durante a pandemia- em contraste com a recessão anterior- contribui para estender a inflação no tempo, por implicar a infusão consistente da despesa pública na economia, sobretudo em situações de abrandamento da atividade, nas quais as tensões inflacionistas tenderão a desaparecer. A subida sustentada dos preços, tende a ser um alívio para as economias mais endividadas- como as europeias-, por favorecer a condição financeira das empresas e dos Estados, uma vez que a inflação eleva as receitas das vendas, no caso das primeiras, e dos impostos no caso dos segundos, enquanto o valor facial das dívidas se mantém inalterado. Mas este efeito positivo, só se poderá materializar, se os custos de financiamento não se agravarem substancialmente, o que poderia acontecer, se em resposta à subida generalizada dos preços, os Bancos Centrais decidissem mudar radicalmente o modo flexível da política monetária atual. Contudo, esse não é o curso de ação provável, sobretudo no caso do Banco Central Europeu, já que os elevados níveis de endividamento, constituem um entrave material à persistência agressiva das condições monetárias. Daqui resulta, que o principal risco associado à inflação, consiste num desvio descontrolado das expetativas inflacionistas dos agentes económicos, que possam provocar uma espiral de inflação, à qual os Bancos Centrais teriam de responder, de forma viva, com consequências adversas para a estabilidade financeira, para a atividade económica e para o emprego. A inflação em Portugal está a subir, segundo a tendência europeia global e medida pelo Índice de Preços no Consumidor. Mas é uma das mais baixas no espaço da moeda única europeia. O que explica a inflação baixa em Portugal? Sobretudo, o atraso na recuperação, Portugal só deve atingir o PIB, pré pandemia, em meados do ano, enquanto a zona euro já superou. Em Portugal, os impactos fiscais de alívio da pandemia, não tiveram um efeito tão direto sobre os preços. Considerando apenas gastos públicos adicionais e receita cobrada, a base de dados do FMI, sobre a resposta à crise pandémica, coloca Portugal na 18ª posição entre os 27. Como consequência de um menor apoio direto à economia, a inflação tem sido mais moderada, do que nos restantes países da zona euro, já que podemos sofrer com uma correção monetária, com subida das taxas de juro, que será reflexo das dinâmicas inflacionistas, bastante mais fortes. E, devido o acentuado nível de endividamento publico e privado, um cenário em que as taxas de juro, estão acima da taxa de crescimento da economia da economia, poderá  desencadear uma crise económica e política de difícil resolução. A inflação deve manter-se pressionada em alta, durante o primeiro semestre de 2022.  Os produtos energéticos, foram os principais responsáveis pela subida dos preços nos últimos doze meses, e, o cenário é de alto risco, fruto das tendências geopolíticas associadas ao conflito  entre a Rússia e Ucrânia. Quais os custos da inflação? O aumento dos preços em Portugal implica que os salários dos trabalhadores não lhes permitem comprar tantos bens e serviços. O poder de compra cai e as pessoas têm uma vida mais difícil, sobretudo no contexto de uma crise pandémica, com consequências graves.. A  inflação em Portugal ,está no valor mais elevado em quase 28 anos. O risco de continuarmos a registar aumentos históricos da taxa de inflação são elevados, devido aos efeitos da guerra. A variação homóloga do IPC, atingiu 5,3%, o valor mais alto desde 1994. A questão é, em que medida revisões salariais, antecipação do consumo, e outros fenómenos típicos de economias com inflações mais elevadas, e que contribuem para que a própria inflação se mantenha num nível mais elevado, se vão impondo, falando de uma inflação temporária, que se está a tornar permanente. Se os salários evoluírem, abaixo da inflação , o poder de compra das famílias será penalizado. Mas revisões salariais mais fortes, poderão levar a uma subida das expetativas da inflação, que exijam uma correção das taxas de juro por parte do BCE. Como famílias e empresas saíram da crise pandémica, com maiores dívidas. isso poderá levar a uma acentuada desaceleração do crescimento económico. A escalada dos preços tem dominado muitas  décadas, atingindo 7,4% em março. Há um risco significativo de as medidas para conter a inflação, levarem a uma recessão. Tendo em conta a política monetária altamente expansionista de 2021, vamos ter ,com elevada probabilidade, inflação alta durante o ano de 2022. Quanto mais o banco central, demorar a responder a um aumento da inflação, mais esta se torna persistente e enraizada nas expetativas dos agentes económicos. Travar a inflação é muito difícil sem causar uma recessão. Com os confinamentos de novo a intensificar -se na China, e, a incerteza sobre a guerra na Ucrânia, as causas exógenas para a inflação na zona euro, podem durar e até poderão tornar-se resistentes. Nesse caso, os salários acabarão por subir bastante na zona euro. E, se os salários começarem a estar indexados aos preços, a inflação permanecerá na zona euro. A subida dos preços penaliza as famílias com rendimentos fixos, como salários e pensões, se estes não forem atualizados ao mesmo nível da inflação. Para as família com créditos, nomeadamente para comprar casa, a inflação também é uma má notícia, já que a resposta dos bancos centrais traduz -se numa subida das taxas de juro de mercado. Os países exportadores de produtos energéticos, cujo preço disparou, ganham com a inflação. Também os aforradores, como as famílias com poupança, ganham porque, com a subida das taxas de juro de mercado, essa poupança ficará melhor remunerada. Por outro lado, a subida da inflação significa mais receitas ficais para o Estado, porque a taxa de impostos como o IVA, aplica-se sobre os preços mais elevados.  E, para países muito endividados como Portugal, a subida dos juros, agrava a fatura com o serviço da dívida.