quarta-feira, 2 de maio de 2012

A CHINA E O CRESCIMENTO DA EUROPA

A ideia de que, num futuro próximo a China produzirá todos os bens industriais do mundo e que a indústria ocidental, especialmente a europeia será eliminada será um erro. Devemos ter medo do domínio global da indústria da China? Não, a China não vai começar a produzir sozinha: primeiro, a China não tem interesse em produzir tudo. Segundo, o forte crescimento chinês enfraquecerá dentro em breve. A ideia de que a China não irá produzir tudo, assenta na teoria da vantagem comparativa desenvolvida por David Ricardo no início do século XIX. Imaginemos duas grandes potências: China e Europa. Suponhamos que a China é superior à Europa em todo o tipo de produção industrial, isto é. que a China consegue produzir todos os bens a um preço menor. Este facto levará a China a querer produzir tudo? Não. Diz Ricardo. A superioridade da China não é igual em todos os produtos. Embora a China possa ser melhor que a Europa para o total dos produtos, essa superiridade é maior nuns que noutros. Assim, a China tem interesse em especializar -se na gama dos produtos em que o país tem uma superioridade nítida face à Europa e deixar que os outros sejam produzidos na Europa. Desta forma, a China realiza a maior produção possível e obtém grandes lucros. A especialização serve os interesses da China e o facto desta especialização ser rentável para a China, torna possível à Europa, continuar a produzir bens industriais. Pode -se pôr em causa que a China poderia ter uma grande agenda política de dominação absoluta e, neste caso o Ocidente seria excluído do mapa industrial, mas essa estratégia não resultaria. Supondo que a China elimina toda a produção industrial do Ocidente e produz por si só tudo o que há por produzir, o problema é que, se o Ocidente nada produz, nada pode comprar à China. Nesse cenário, os produtos industriais chineses não teriam mercado no Ocidente. Terá de haver produção industrial no Ocidente suficiente, para permitir à China vender os seus produtos. Sem uma indústria ocidental próspera, a indústria chinesa não pode continuar a crescer. Por isso a China não tem interesse económico nem político em produzir tudo. Haverá, portanto nichos de mercado suficientes para os produtos ocidentais.Por outro lado, a China tem crescido nos últimos 30 anos, à taxa de 10 por cento ao ano. Outros países, como o Japão e Coreia do Sul, experimentam idênticas taxas de crescimento durante cerca de três décadas, vendo depois o seu crescimento diminuir substancialmente de ritmo. No Japão, o abrandamento começou em finais dos anos 70 e  para quase 0% nos anos 90. A China irá ter um abrandamento semelhante. Quais os motivos? Em primeiro lugar, o atual crescimento económico da China conduz o país a um aumento do nível salarial insustentável; os salários estão hoje a crescer mais de 10 por cento ao ano. Em resultado disto, a China está dentro em breve a deixar de ser um país de baixos salários.Mais: o mesmo crescimento económico, leva a pressões por parte dos trabalhadores, no sentido de obterem melhores condições sociais. O regime Chinês terá de introduzir melhores condições de segurança social para os trabalhadores, resultando daí o aumento dos custos do trabalho. Em segundo lugar,o crescimento económico chinês tem -se baseado num investimento maciço em detrimento do consumo. Os investidores atingem hoje cerca de metade do PIB. Isto conduz a um excesso de capacidade em muitos setores da economia chinesa. O mercado da construção é um exemplo. Os investimentos tornam -se menos rentáveis.  Isso leva ao colapso dos preços e à recessão. Por fim, o crescimento económico chinês é altamente lesivo para as condições ambientais: cidades onde não há sol, tornam -se inabitáveis. A pressão para fazer algo a favor do ambiente é enorme. O Governo chinês será forçado a fazer com que as empresas paguem os custos de poluição. Ora isto abrandará o ritmo de crescimento económico. Em jeito de conclusão, o crescimento económico da China vai abrandar em breve e o total domínio industrial chinês nada mais é do que uma ilusão.

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