domingo, 22 de janeiro de 2012

UM RESGATE NEVITÁVEL

Em 1986, quando da adesão às Comunidades Europeias, muitos esperavam que o fosso de desenvolvimento entre Portugal e o resto da Europa fosse vencido a prazo certo. No início, a pertença às Comunidades teve um impacto positivo na economia portuguesa, na medida em que houve uma série de transformações sociais, económicas e políticas, ligadas ao novo contexto internacional, como as melhorias na qualidade de governação, o aumento do investimento em infraestruturas e em capital humano, a evolução e transformação do setor exportador, e o aumento do investimento estrangeiro no país. Entre 1986 e 1992, a economia portuguesa teve uma evolução positiva, mas, a partir de Maastricht a evolução estagnou: o rendimento médio e a produtividade do trabalho e do capital, cresceram a ritmos mais lentos, não permitindo que Portugal se aproximasse dos níveis médios europeus. A pertença ao euro fez com que Portugal se tivesse de adaptar a uma política monetária dirigida para o cumprimento de determinados objetivos, nomeadadmente , o controlo da inflação de uma vasta zona económica com características diferentes das da economia portuguesa. Nos princípios do século XXI a zona euro entrou numa fase crítica. No passado quando havia moedas nacionais, a solução podia passar por desvalorizações competitivas da moeda, o que tinha consequências na intensidade das relações económicas internacionais uma vez que a desvalorização cambial tem um efeito protecionista. Posteriormente as pessoas caíram numa ilusão com números à alemã: juros baixos e inflação mínima. No decurso dos anos 90, começamos a ter a disciplina euro, com a vantagem da queda dos juros: os particulares começaram a gastar muito e o Estado também. E, como não tínhamos uma economia interna que respondesse aos gastos do Estado e dos privados, começámos a endividar-nos lá fora. Desde 1998, que registamos grandes saldos negativos na balança de pagamentos, perdas das quotas de mercado de exportações de mercadorias e endividamento no exterior através da banca nacional. Há assim, sinais claros da nossa presente incapacidade para enfrentar com êxito, e com as políticas atuais, o processo de integração. Isto resulta a perda de competitividade, gerada pela reduzida taxa de crescimento da produtividade e pelos aumentos dos custos unitários do trabalho.O problema foi não termos preparado as políticas económicas e o quadro das finanças públicas que o euro exigia. Em resultado de um grandioso erro de política económica, o crescimento significativo da economia portuguesa até aos anos 2000 e 2001, foi essencialmente assente no crescimento da nossa procura interna. O consumo privado cresceu a taxas muito significativas durante este período. Como a produtividade não evoluíu da mesma forma e cresceu substancialmente menos, a competitividade das nossas empresas ressentiu-se. A crise persistente teve basicamente a ver com dificuldades de adaptação da sociedade e da economia portuguesa a mudanças muito profundas na Europa e no Mundo. Se não se podia desvalorizar a moeda, teria de se aumentar a competitividade, e Portugal não olhou para isso, e se não tivermos riqueza aparece -nos o endividamento. O excesso de endividamento leva ao excesso de crédito e à insustentabilidade da dívida. Não podemos viver acima das nossas possibilidades: as famílias poupam o Estado também tem de poupar.  À vulnerabilidade do endividamento em  Portugal, junta-se a perda de competitividade, traduzida na quase estagnação da década de 2000, após emergirem os problemas orçamentais.Com o aumento da dívida externa e do desemprego e com o desequilíbrio das contas públicas, podemos caminhar para uma situação explosiva. Então como pagar a dívida com mais dívida? Chegou o dia em que o Mundo mudou. O Estado português deixou de ser visto com capacidade para pagar as suas dívidas, a partir de 2010 com a descida do rating. Os portugueses vêm-se com juros mais elevados, menos crescimento e mais desemprego. A intervenção das agências de rating teve os seus efeitos na atividade financeira portuguesa, fechando a banca nacional ao financiamento privado e estrangeiro, tornando -a dependente apenas da ajuda do Banco Central Europeu. Os bancos ficaram com o acesso cortado aos mercados financeiros internacionais. A crise prvocou uma quebra de produção e criou muitas dificuldades no acesso ao crédito externo e uma mudança de comportamento dos financiamentos externos, o que até àquela data estavam dispostos a emprestar -nos dinheiro a qualquer preço. A única coisa que podemos obter são créditos a curto prazo a uma taxa muito elevada.  O pedido de ajuda era inevitável. Porquê?  Porque o nosso endividamento em relação ao exterior era muito grande e os bancos internacionais começavam a ter dificuldades em emprestar aos bancos portugueses e porque a própria capacidade de endividamento interno já estava a atingir o máximo, chegando à fase em que já não tinhamos capacidade de obter recursos do exterior. Qual o significado do resgate? Significa que estamos fora do mercado, o Estado português financia -se junto das entidades da Troika. Teremos de combater três grandes crises em Portugal: a crise do crescimento económico, a crise das finanças públicas e a crise do endividamento: é imperativo perspetivar os desafios imediatos da economia portuguesa tendo como pano de fundo, uma estratégia de desenvolvimento sustentado, isto é: num quadro consistente de políticas económicas está presente a necessidade de prosseguir simultaneamente o aumento do valor acrescentado por ativo, a criação de emprego, a sustentabilidade das finanças públicas e da dívida externa.

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