sexta-feira, 3 de junho de 2011

As dificuldades da retoma económica

Em  Portugal, fala -se muito do défice externo e da falta de competitividade. Porquê? É certo que os países pequenos tendem a importar mais bens e serviços do que os países de maior dimensão, pois não possuem os recursos de que necessitam e, por isso Portugal não é competitivo. Nos últimos anos, as entradas de capitais e as remessas dos emigrantes em percentagem  do PIB têm vindo a decair significativamente, o que não nos tem permitido financiar adequadamente o défice da balança comercial, contribuindo assim para um agravamento do nosso défice externo e para o crescente endividamento da economia nacional. Porque é que se agravaram os défices das balanças correntes em Portugal? Porque os custos unitários do trabalho subiram mais do que na média europeia e porque a adopção de uma moeda forte como o euro, causou uma série de dificuldades às empresas exportadoras dos sectores com menor valor acrescentado tornando-as menos competitivas. Outro factor inexorável que pretende explicar os nossos défices comerciais é a emergência e a concorrência da China nos mercados exportadores internacionais. De facto, nas últimas décadas, a liberalização do comércio mundial e o alargamento da União Europeia a Leste Europeu, aumentaram consideravelmente a concorrência das nossas exportações tradicionais que perderam quota nos mercados internacionais. O que explica este acentuado decréscimo da quota de mercado das exportações nacionais? O euro? Uma subida mais acentuada dos nossos custos unitários do trabalho em relação à Zona Euro? A entrada da China e dos países do Leste nos mercados internacionais? Não há dúvida de que neste ambiente de elevada concorrência internacional, vai continuar a ser muito difícil para algumas das nossas empresas exportadoras conseguir resistir à competição que vem da Ásia e da Europa de Leste, principalmente no que diz respeito às empresas nacionais menos competitivas e menos inovadoras.O problema da competitividade nacional não se restringe às exportações que têm crescido a um ritmo significativo, nos últimos anos, pese embora, num ambiente pouco favorável, que por termos uma moeda forte , como o euro, quer pela concorrência nos mercados internacionais por parte dos países emergentes, como a China. O principal problema está sim, no excessivo crescimento das importações o que contribuíu para o agravamento do nosso défice comercial. No entanto, argumentar que as nossas exportações não são competitivas ou que o nosso sector é constituído somente por produtos de baixo valor acrescentado e de pouca intensidade tecnológica, não é verdade. Nas últimas décadas, as exportações nacionais têm crescido a taxas superiores às importações, bem como ao próprio crescimento da economia. A intensidade tecnológica das nossas exportações tem vindo igualmente a aumentar, bem como as exportações de serviços tecnológicos. Qual o nosso principal desafio para combater o défice externo? É conter o crescimento das importações, conter o crescimento dos custos unitários do trabalho. Para tal é vital melhorar o nosso capital humano e alterar as nossas arcaicas leis laborais. Por outro lado, o nosso endividamento externo cresceu a ritmos significativos. Quais as razões? O endividamento foi estimulado pela descida das taxas de juro e por um aumento das facilidades de obtenção de crédito, por parte dos bancos, empresas e famílias da Zona Euro.. As famílias endividaram-se para poderem aumentar o consumo, bem como, para adquirirem casa própria; as empresas endividaram-se para levarem a cabo os seus projectos de investimento a taxas de juro mais favoráveis, para poderem participar no processo das privatizações,bem como, para entrarem nos contratos atractivos das parcerias público-privadas. Uma vez que a nossa entrada no euro facilitou o acesso ao financiamento dos mercados externos, e, o défice da balança corrente se deteriorou na última década, o progressivo endividamento nacional foi crescentemente financiado pelo estrangeiro. Assim, acumulamos uma dívida externa elevada. Ora níveis de endividamento elevados são quase sempre reflectidos numa descida do rating das dívidas públicas e privadas, assim como no aumento dos spreads dos juros dessas mesma dívida ,crises bancárias, descida do crescimento económico e aumento do desemprego. Será que Portugal está condenado a uma situação de insolvência? Não necessariamente. Tudo irá depender do que seremos autorizados a fazer pelos mercados financeiros e pelos nosssos parceiros europeus nos próximos anos. Num futuro próximo há três cenários possíveis: o cenário "crescer para menos dever", em que a aceleração do crescimento económico possibilita uma diminuição do rácio da dívida pública e o PIB. Há o cenário da união fiscal europeia, no qual os países europeus optariam por aprofundar a união monetária, através de tranferências fiscais entre os diversos Estados - membros,e ainda, a possibilidade de reescalonarmos as dívidas com os nossos credores. Neste último caso, Portugal tentaria não só, aumentar os prazos de pagamento das suas dívidas, mas também conseguiria melhores facilidades de pagamento, quer através da redução das taxas de juro associadas às suas dívidas, quer renegociando os montantes de endividamento. Por isso, os detentores das obrigações desses Estados seriam forçados a partilhar os custos da reestruturação da dívida.

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