A crise económica , por se ter arrastado durante mais de uma década, tem enormes consequências económicas, políticas e sociais, como sejam : o aumento do desemprego, o retorno da emigração e o regresso da insolvência.
Podemos constatar que a taxa de desemprego actual é a maior dos últimos 80 anos. Os mais afectados pela subida do desmprego são os jovens e os trabalhadores menos qualificados, embora o desemprego entre os mais velhos e os mais qualificados, também tem registado um crescimento razoável.
Como resolver a situação?
É evidente que a luta por uma maior criação de emprego, e a ambição de obter uma maior competitividade para as nossas exportações, exigem reformas laborais que o FMI nos obriga a levá - las a cabo. Se não desejarmos uma flexibilização total do mercado de trabalho, porque não tentar uma flexibilização sectorial nas indústrias expostas à grande concorrência internacional? Porque não possibilitar a flexibilidade laboral em sectores como as tecnologias de informação? Porque não tornar menos rígida a legislação laboral para os nossos sectores exportadores mais dinâmicos, de forma que estes possam vencer nos mercados internacionais e tornarem-se verdadeiros motores do crescimento da economia nacional? Por outro lado é importante reformar as regras do subsídio de desemprego, tornando-as mais incentivadoras da criação de emprego e de um mais rápido regresso ao mercado de trabalho. Por que não fazer com que os beneficiários dos subsídios de desemprego efectuem um tipo de trabalho voluntário em tempo parcial? Os desempregados ao levarem a cabo um serviço social poderiam mostrar as suas potencialidades, tornando-se mais atractivos aos olhos dos empregadores.
Resumindo: o mercado de trabalho português é bastante disfuncional, gerador de precariedade e inércia na criação de emprego. Por isso, uma reforma das leis laborais devia ser uma das prioridades de um governo reformista. É certo que na última década, a estagnação da economia nacional e o prolongamento da crise económica deram origem a uma fraca criação de emprego, a um aumento do desemprego e, muitos de nós optaram por procurar oportunidades de emprego e melhores condições de vida no exterior.Com efeito, estamos actualmente a viver a grande vaga de emigração dos últimos 150 anos. O desemprego cresceu inexoravelmente, durante a última década, e, ocorreu quando muitos países europeus passavam por períodos de grande expansão económica, baseados no sector da construção. As oportunidades dos outros facilmente se tornam as nossas próprias oportunidades e, por isso, a partir dos finais da década de 1990, milhares de portugueses iniciaram o nosso maior êxodo desde a entrada na União Europeia. A emigração foi inevitável, não porque os portugueses estivessem ansiosos por partir para melhores paragens, mas porque a nossa economia não tinha criado empregos em número suficiente para absorver as necessidades da população activa. Mais: como a produtividade nacional tem crescido a taxas reduzidas, os salários médios dos portugueses permaneceram bastante mais baixos do que os salários médios de outros países, aumentando a tentação de emigrar. Na última década saíram de Portugal cerca de 700 mil portugueses. Em relação aos países de destino, a nossa vaga de emigração portuguesa tem-se fixado em países como a Suíça, a França, o Luxemburgo, a Espanha e o Reino Unido.Contrariamente ao que sucedeu nas décadas de 60-70, a emigração portuguesa já não é só de trabalhadores não qualificados. Com a melhoria das competências educacionais e técnicas da população portuguesa registada nas últimas décadas, os trabalhadores nacionais tornaram-se mais atraentes para os países com necessidade de mão -de-obra. Portugal é um dos países europeus em que o fenómeno da fuga do cérebros é mais acentuado, e, se a estagnação económica continuar nos próximos anos, a fuga dos cérebros será ainda maior. Esta é de facto, uma das tendências mais preocupantes da nossa economia, pois a fuga de cérebros não só diminui a nossa limitada oferta de trabalhadores altamente qualificados, como contraria o investimento em capital humano, nas últimas décadas.
Mas nem tudo é negativo: um aumento da emigração irá conduzir a uma nova subida das remessas de emigrantes, o que tenderá a melhorar a nossa balança de pagamentos e, assim contribuirá para uma diminuição do nosso défice externo. Quanto ao regresso da insolvência, Portugal vive actualmente uma séria crise de liquidez que poderá ter profundas consequências para a economia nacional: a crise financeira internacional e a crise da dívida soberana que assola a Europa . Ambas agravaram ainda mais os nossos desequilíbrios internos e externos, agravando a nossa dívida pública e o nosso endividamento ao exterior. Por isso, nos últimos meses os bancos, as empresas e as famílias têm sentido crescentes dificuldades para assegurarem as suas necessidades de financiamento. No entanto, o risco de bancarrota é reduzido. Qual é então a diferença entre a insolvência e uma grave crise de liquidez? A insolvência acontece quando os rendimentos de um país são insuficientes para pagar as dívidas e o seviço da dívida, isto é: os juros aos credores. Por outro lado, uma crise de liquidez pode ocorrer se um país não possui momentaneamente capacidade para financiar as suas necessidades de curto e médio prazo. Quando esta situação acontece, só restam duas alternativas: ou entramos em incumprimento, ou alguém nos ajuda a ultrapassar as nossas dificuldades de curto prazo, mesmo que, para tal, tenhamos de aceitar condições pouco favoráveis. É esta a situação que nos encontramos actualmente e é por isso que os mercados financeiros têm "apertado" tanto contra nós , através da nossa dívida soberana, nos últimos meses.
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