Temos vindo a falar de uma crise: há desafios económicos que enfrentamos Tais desafios não se refletem na explosão do desemprego ou num descontrolo das contas públicas, mas em saltos brutais dos preços, acompanhados de um aperto monetário agressivo. Mesmo sem recessão, 2023 pode ser um ano de sofrimento para as famílias portuguesas: os juros já atingiram em cheio as prestações da casa, mas ainda não serão capazes de tirar-lhe dos ombros o peso da inflação que crescerá a um ritmo mais baixo, mas ainda muito elevado. A economia em 2023 será apertada por uma tenaz: inflação muito elevada, que pressionará os orçamentos das famílias, e, as margens de muitas empresas, juros com saltos inéditos que aumentarão as prestações do crédito e desincentivarão as empresas a investir. O consumo não contribui para o crescimento da economia em 2023, e, as exportações de serviços darão um contributo seis vezes menos do que em 2022. Haverá perdas de poder de compra. A partir da 2ªmetade de 2023, a atividade acelera, refletindo a expetativa de atenuação das tensões nos mercados energéticos, a recuperação gradual do rendimento real das famílias, a melhoria da procura externa e a normalização das cadeias de abastecimento globais. Portugal não estará sozinho nas dificuldades a enfrentar no ano de 2023. O pessimismo é transversal a todo o mundo desenvolvido. O FMI estima um crescimento de 2,7% da economia mundial com a zona euro, a ficar-se pelos 0,5%. Menos afetado pela crise energética, Portugal terminou 2022 com o segundo maior crescimento da zona euro. Para 2023, mesmo a estimativa mais pessimista (0,7% da Comissão Europeia) fica muito acima da média prevista pela mesma instituição para a zona euro(o,3%). A incerteza é no entanto, enorme e, estes valores não estão assim tão longe de uma estagnação ou contração do PIB. Na conjuntura atual, em que o PIB tem tido oscilações muito significativas, devido à rigidez das políticas sanitárias, devemos pensar numa recessão apenas, se o desemprego começar a aumentar de forma rápida. Para que isto aconteça, serão necessários alguns desenvolvimentos mais negativos do que o que prevemos, principalmente na guerra a leste e no mercado da energia. O Banco de Portugal fez uma espécie de stresse à economia mundial. Este cenário adverso traduz-se num corte total no fornecimento de gás e de petróleo russos à Europa e uma maior lentidão na substituição de fontes de energia. Implicaria racionamento e cortes de produção na Europa, o que afetaria outras cadeias de produção e abastecimento. O reflexo em Portugal, chegaria sob a forma da procura externa por bens nacionais e de uma penalização do turismo. O preço do petróleo aumentaria, assim como o gás que neste cenário dispararia. A conta de supermercado voltaria a aumentar muito e os juros subiriam mais do que se prevê atualmente. O mundo atravessa aquele que é provavelmente o mais abrangente apoio monetário de sempre, As subidas devem continuar em 2023, mas há muitas dúvidas se esse caminho está ser seguido com determinação suficiente, ou se, pelo contrário há excesso de zelo dos bancos contrário para compensar a tolerância com que agiram pré- 2022. Os bancos centrais esperam conseguir executar um número de equilibrismo: controlar os preços se atirar a economia para o charco. Chamam-lhe " aterragem suave" Neste ano, os efeitos das suas ações ficarão mais evidentes, à medida que os juros apertarem as famílias com créditos, provocarem falências de empresas e o agravamento do desemprego. Para os governos, é também um ambiente difícil de geris. Têm de apoiar a população num momento de maior fragilidade, mas serão censurados se forem demasiado longe, devido às preocupações com o equilíbrio das contas públicas, ou por estarem a contribuir para manter a inflação elevada ao estimularem a procura. O combate à inflação é o momento de encruzilhada deste ano e num contexto de mercado de trabalho, a prioridade deve estar na redução da dívida. A palavra que irá marcar o mercado de trabalho em 2023, irá ser a palavra "incerteza". É cada vez mais consensual que os salários irão crescer a um ritmo inferior à inflação. Esta é quase uma certeza, dúvida é qual será o montante real de poder de compra. Este depende de dois fatores: da evolução da inflação e da capacidade negocial dos trabalhadores e dos seus representantes em pressionarem as empresas para aumentos salariais mais elevados. Porém estes fatores não são independentes: um é causa e efeito do outro.. As taxas de juro vão continuar a subir, até que o atual ciclo inflacionista mostre uma inversão "robusta". É preciso subir os níveis de confiança e aproveitar as almofadas orçamentais para reagir às adversidades da atual conjuntura. A inflação é mais negativa para a economia do que a normalização das taxas de juro. Se não houver novos choques na economia, sobretudo nos preços internacionais da energia, a inflação mensal pode descer para 3% em 2023. Centeno diz que não há nenhum cenário base, de nenhuma instituição europeia que preveja recessão, nem para Portugal ou área do euro. Há uma desaceleração do crescimento. Sobre Portugal, Centeno aponta fragilidades como a grande proporção de crédito à taxa variável, e vantagens como a enorme redução do endividamento das famílias, das empresas e do Estado. Com uma situação de pleno emprego, este é o momento de todos os setores reduzirem a sus dívida e, com o risco bancário controlado, o endividamento em queda e a poupança das famílias a crescer é de não hesitar em usar as almofadas financeiras, se o contexto económico o exigir.
Sem comentários:
Enviar um comentário