Em maio de 2014, dizia-se adeus à troika. O escrutínio periódico das despesas das contas do Estado pelos credores do resgate, o FMI, o BCE e a CE, terminava. A economia drenada de recursos do Estado e dos particulares, foi forçada a alterar-se para conseguir prosperar. Na máquina do Estado traumatizada com o "aperto" ficou marcado o ferro da quase bancarrota e nunca mais deixou de calcular cada passo na despesa pública. As gerações que viveram a idade adulta durante a troika teriam talvez dificuldades ao imaginar aqueles anos, sem o impacto do programa de assistência financeira. Mas como estaria a economia financeira agora se a troika não tivesse passado por cá? A situação talvez não fosse muito diferente, já que as principais tendências que enformem hoje a economia nacional já se faziam sentir há muito. Não penso que o programa de assistência económica, tenha tido efeitos estruturais significativos na economia portuguesa. Numa realidade alternativa, em que a troika nunca tivesse existido, não seria muito diferente do que vemos hoje: uma pequena economia aberta, altamente dependente do exterior, e, virada para serviços como o turismo. O resgate obrigou as empresas nacionais subitamente privadas do mercado interno a virarem-se para o exterior. Com as medidas que se concretizavam na altura da troika, passou a dar-se mais importância às exportações, um processo que se foi consolidando. Estamos muito menos dependentes do mercado interno do que no passado. A troika ao pesar a procura interna, obrigou as empresas a virar-se para o exterior, onde puderam encontrar mercados com mais liquidez do que em Portugal.. Essa terá sido uma das principais alterações positivas na economia portuguesa que aumentou em 81% as exportações de bens a preços correntes entre 2014 e 2023.Houve uma evolução significativa no PIB nacional, que segundo o INE aumentou de 40,2% em 2014 para os 47,$% em 2023.. O turismo, por um lado, ganhou um peso na geração da riqueza. .Portugal passou nas redes dos viajantes globais. As exportações de viagens e turismo mais doo que duplicaram entre 2014 e 2023 Há um excesso de peso do turismo na economia. Uma especialização excessiva no turismo, não é compatível com a procura de desenvolvimento económico. O turismo com todas as virtudes que tem, tem um valor acrescentado relativamente baixo. Estas situações, por terem ocorrido de forma orgânica levaram - me a concluir que a " estratégia económica" dos últimos 10anos foi muito de laisser - faire, na medida em que os Governos que sucederam ao programa de ajuda simplesmente deixaram que a economia recuperasse sem que houvesse nenhuma intervenção em nenhuma direção em particular. Em termos de grande estratégia para a economia não sei bem o que poderiam ter feito de diferente, pois no final de contas Portugal é uma economia de mercado integrada num bloco político e económico ,a União Europeia. Além do foco exportador das empresas, a herança mais duradoura do período da troika parece ter sido o foco na estabilidade das contas públicas. Nestes três anos de supervisão externa, toda a administração pública passou a ter como foco principal, não o fornecimento de serviços ao cidadão, mas o cumprimento das metas da despesa. E quando antes de 2010 o Estado apresentava défices elevados atrás de défices elevados, sem que a diapasão eleitoral reagisse, a expressão" contas certas" passou a ter peso nas urnas depois da chegada da tríade de credores, como se tem notado nos ciclos políticos mais recentes. Não há dúvida de que a gestão orçamental do período pós troika foi prudente mas é de criticar o caminho que foi adotado, que passou por um corte sem precedentes nos níveis de investimento público. Se por um lado, houve uma tendência generalizada de redução do investimento público na zona euro durante o período pós crise, esta redução foi particularmente drástica em Portugal.. O investimento público, medido em formação bruta de capital fixo, afundou-se no início da década passada e atingiu mínimos em 2015, com apenas 2,9 mil milhões atingidos pelo Estado. Em 2023, apesar da subida do investimento para cerca de 6,7 mil milhões de euros, ou 2,6% do PIB, , muito graças ao Fundo de Recuperação e Resiliência, o registo foi o terceiro menor da zona euro. É apelativo para os governos sacrificar essa rubrica. para efeitos orçamentais de curto prazo, gerando excedentes no período anual que podem ser utlizados para redução da dívida ou aumento de gastos correntes à custa da redução do capital público que só se sentirá no futuro.