A questão mais relevante do crescimento económico português da última década, é o seu modelo de especialização. O problema consiste no facto de não termos resolvido as nossas debilidades produtivas, e, de pelo contrário, se ter acentuado a tendência de concentrarmos recursos em setores e atividade de baixa criação de valor, baixos salários, e, portanto baixa produtividade. Nas últimas quatro décadas "verifica-se que o setor dos serviços" é aquele que se expande em fase de retoma, mas que se retrai despropositadamente em fase recessiva, manifestando uma enorme volatilidade. Mais recentemente "o crescimento do PIB" entre o primeiro semestre de 2014 e o mesmo semestre de 2017, pode ser explicado pela forma como evoluíram três fatores: forte crescimento do emprego, quase estagnação do produto por trabalhador( uma das medidas da produtividade), e ligeiro receio da taxa de atividade. Ou seja: a recuperação do emprego ocorrida a partir de meados de 2013, significou mais do que uma variação quantitativa dos níveis de emprego e desemprego. Neste período, a estrutura do emprego, a sua distribuição por escalões etários, níveis de escolarização e ramos de atividade económica, alterou-se substancialmente. Concretamente, os ramos que criaram mais emprego, foram precisamente aqueles onde se pagavam salários abaixo da média nacional, enquanto se verificava a destruição de postos de trabalho em atividades com salários acima da média. A questão é clara: precisamos de política industrial e de uma estratégia para reduzir a dependência dos serviços, dos baixos salários, e, portanto dos "incentivos" à persistência de um sistema de emprego demasiado assente na baixa organização e na escassa produtividade. Não é preciso dizer que, nos dias de hoje, uma política industrial não é industrialização "à moda antiga" ; é uma estratégia organizacional produtiva, de redução de baixa qualificação das empresas, de incentivos ao uso do trabalho, no quadro das relações laborais adequadas e de estruturação não dependente da economia nacional. Há duas circunstâncias do crescimento que não podem ficar de fora, e, sem o qual este processo se degrada: a repartição dos benefícios com lugar para a melhoria da inclusão social e a quebra das dependências (incluindo a energética) e dos desequilíbrios do País (incluindo o ambiental e o territorial) Como ultrapassar a crise? A inovação e a criatividade são fatores centrais de uma nova confiança, de uma ambição global, de uma capacidade de construir soluções para novos problemas, e, de uma resposta à crise. Impõe-se por isso, uma cultura de mudança.. O nosso país desenvolveu -se nas últimas décadas abaixo das expetativas geradas pela nossa adesão à UE, apesar da importante melhoria, quer do nosso PIB per capita, quer dos nossos indicadores sociais. Isso deve-se a três razões principais: a nossa falta de escala/ em termos internacionais; o ser um país periférico do seu mercado europeu; e insucesso na atração de investimentos para o País, que apostem nas redes/cadeias de valor institucionais. Esta questão da fraca produtividade de capital externo para investimento em projetos de competitividade global, é a questão mais importante: Por algumas razões, não temos conseguido fazê-lo com sucesso, nos últimos vinte anos, e, sem uma estratégia ambiciosa que inclua esta vertente, não havia desenvolvimento sustentado no País. Depois de dois anos de pandemia, que todos os países tiveram de enfrentar, e agora com a guerra na Ucrânia, cujos efeitos a nível mundial, ainda estão por apurar(além da inflação que se sente), há que somar as dificuldades resultantes das questões climáticas e ambientais, e, ainda um grave problema; o acelerado envelhecimento da população. Não creio que a guerra na Ucrânia não seja afinal temporária, o que significa que o nosso país terá de enfrentar ainda, além dos efeitos da pandemia, que persistem, os efeitos mais prolongados da inflação. Vejamos algumas questões estratégicas, que considero determinantes para o desenvolvimento sustentado a longo prazo do país.
1- Que no mínimo se cumpram os objetivos ambiciosos já traçados, no que respeita às questões climáticas, à biodiversidade e ao fenómeno do degelo, sabendo que o nosso clima temperado, tenderá a aproximar-se ao longo do século, de um clima mais tropical do que temperado;
Que se fomentem sub-regiões ibéricas de desenvolvimento integradas para que os projetos estratégicos dos dois países se realizem, e, as empresas portuguesas ganhem escala internacional;
3- Que se implemente uma política de imigração(jovem e qualificada), para reduzir o risco de envelhecimento e diminuição da população ativa que se tem verificado no país;
4- Que se reforcem medidas de incentivo ao investimento estrangeiro, estimulando que o país se integre nas redes de cadeia de valor internacionais;
5- Que haja uma melhoria da nossa competitividade externa e eficácia organizacional pela adoção da "internet das coisas" e da inteligência artificial nas empresas e no funcionalismo público;
6- Que se aposte na economia do mar, como um setor estratégico, de que pouco se fala;
7- Que se contribua para que o projeto europeu se reforce coo um bloco, e, que o modelo democrático ocidental fortaleça a sua componente de criação de valor.
Um programa para a competitividade associado à recuperação desta crise, tem que impor dinâmicas efetivas de aposta na tecnologia, seja ao nível da conceção de ideias novas, de serviços e produtos , seja, ao nível da operacionalização de centros modernos rentáveis de produção, seja sobretudo, ao nível da construção e participação ativa em redes internacionais de comercialização de produtos e serviços O imperativo de uma nova ajuda, deverá consolidar novas perspetivas para o território. Portugal tem uma oportunidade única de potenciar um novo paradigma de cidades médias voltadas para a qualidade, a criatividade e a sustentabilidade ecológica. Este ano e os próximos irão ser decisivos para a economia e sociedade portuguesas. Está em cima da mesa, no contexto da consolidação e integração europeia, a capacidade de o nosso país conseguir efetivamente, apresentar um modelo de recuperação estratégica, sustentada para o futuro. Em tempo de crise, os recentes acontecimentos, à volta da agudização da crise, vieram uma vez mais demonstrar que existe no nosso país, uma minoria silenciosa que de há anos a esta parte, mantém o status quo do sistema paralisado, e, a pretexto de falsas dinâmicas de renovação social e reconversão económica, tenta reconciliar o caminho do futuro, com as mesmas soluções do passado, influenciáveis no contexto da mudança, como aquele em que vivemos.