quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A CRISE ECONÓMICA EM QUE VIVEMOS

 Será que estamos a viver perante a maior crise internacional das nossas vidas?

Habituados a viver acima das nossas possibilidades por uma significativa facilidade de acesso ao crédito, e sem dispor da competitividade e da produtividade necessárias para sustentar o nosso nível de vida, teremos de o ajustar às nossas capacidades, com todas as consequências económicas, sociais e políticas que possam daí surgir. O problema económico com que nos defrontamos - a crise nacional - provém do processo de convergência das taxas de juro decorrente da nossa entrada no euro: o facto das taxas de juro terem descido para um patamar muito inferior, aumentou a capacidade de endividamento pelo recurso ao crédito, permitindo aos agentes económicos aumentar o seu consumo de bens e serviços. A capacidade de endividamento desencadeou na economia um grande choque expansionista, estimulando a procura interna.
Consumir cada vez bens mais baratos e menos duradouros, não aumenta o estado de satisfação das pessoas. Não se trata, de suspender o consumo, mas sim de criar novos horizontes de consumo, não só ao nível dos bens, mas também da forma como eles são consumidos. Trata -se de uma nova cultura de consumo mais sofisticada, menos viciada  nas montanhas de produtos inúteis e na espiral de consumo que nos levou ao irremissível endividamento; uma cultura de consumo ambiental e socialmente motivada, que implique mais conhecimento e inovação.
Mas o problema económico português é mais complexo e tem outras vertentes: a economia portuguesa foi confrontada com a concorrência das chamadas economias emergentes, nomeadadmente a China. Estas economias surgiram a disputar os segmentos de mercado de baixa ou média tecnologia, onde Portugal se "especializou", oferecendo custos mais baixos. Portugal confronta -se com o dilema de concorrer pelos custos - tendo que empobrecer para o efeito -, ou de progredir na escala tecnológica e aumentar a sua produtividade, melhorando o seu nível de vida. Por outro lado, o País confronta-se com um considerável envelhecimento da população com efeios inevitáveis na sustentação do modelo social em que temos vivido. Por isso, a solução do nosso problema passa por ações de curto e longo prazo.
No curto prazo, será necessário estabilizar os desequilíbrios financeiros - nas contas públicas e nas contas externas - e ganhar produtividade através dos custos, para que a economia possa crescer a taxas razoáveis e reduzir o desemprego para níveis socialmente aceitáveis, No longo prazo, será necessário visar o aumento da produtividade e renegociar o contrato social, tornando - o sustentável. Para ser sustentável terá que ser capaz de, simultaneamente, promover a eficiência e o crescimento económico. Para promover a eficiência é necessário, favorecer a flexibilidade laboral e a concorrência no mercado do produto.
Tendo em conta que Portugal tem crescimentos abaixo da zona euro e elevados níveis de desemprego, deverá reduzir o seu défice: as empresas devem ser mais eficientes e as famílias devem poupar mais. Portanto será necessário aumentar significativamente as exportações e /ou substituir as importações.
Torna -se crucial aumentar a competitividade da economia, condição necessária para o equilíbrio da mesma. Ora para uma economia se manter competitiva tem que ser capaz de atrair o investimento necessário para empregar adequadamente a sua população ativa. A crise estrutural da economia portuguesa, que dura há cerca de uma década, cruza -se hoje com uma crise mais geral que afeta toda a zona euro.  Se não for possível resolver, de forma socialmente aceitável, a crise financeira, sem perspetivas de crescimento, a União Monetária poderá não conseguir sobreviver muitos mais anos. É um facto que a Europa se deixou arrastar pelo crédito fácil e barato o que provocou uma grave crise. Os que agora, reavaliando os riscos dos seus investimentos , teem feito subir as taxas de juro da dívida pública são, os mesmos que, no passado as tinham feito baixar antes e, que,  permitiram financiar modos de vida acima das posses das sociedades agora em situação financeira difícil. A saída da crise será marcada por uma nova ordem económica mundial suportada num novo paradigma de desenvolvimento que privilegie a inovação tecnológica, a produção, uma indústria de serviços eficiente e racionalizada e um sistema financeiro regulado acompanhado de confiança.
Uma agenda positiva para Portugal deve incluir:
uma melhoria da qualidade, por aumento da exigência do ensino secundário e superior e uma maior incidência nas áreas científicas e tecnológicas;
uma aposta na inovação e "up -grading" tecnológico dos equipamentos;
uma maior concentração dos investimentos públicos nas empresas exportadoras ena captação do investimento estrangeiro, tornando o equilíbrio da balança de pagamentos uma das principais prioridades da política económica;
uma utilização criteriosa dos investimentos públicos para o aumento da produtividade e da competitividade.

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